|
Jerusalem-Israel. Taken by Anabelle Harari. Return to Jerusalém.
Disp.: http://www.abitoffthetop.com/slider/2932/
|
Não há como negar que, na Judeia sob domínio romano, entre
os reinados de Augusto e Tibério, viveu um judeu chamado Jesus. Que foi um bom
homem, virtuoso, considerado sábio e seguido por muitos. Que foi condenado à
morte na cruz pelo representante de Roma, Pôncio Pilatos, e que rumores sobre
sua volta dos mortos circularam alguns dias depois da execução. Isso é Histórica e a fonte é o
historiador judeu Flavio Josefo
(não-cristão, segundo Orígenes, e
pró-romano, segundo Harold Bloom, logo insuspeito
de apologia cristã, a meu ver), em texto traduzido de uma versão árabe,
portanto sem os supostos enxertos cristãos posteriores:
Nessa época havia um homem sábio
chamado Jesus. Seu comportamento era bom, e sabe-se que era uma pessoa de
virtudes. Muitos dentre os judeus e de outras nações tornaram-se seus
discípulos. Pilatos condenou-o à crucificação e à morte. E aqueles que haviam
sido seus discípulos não deixaram de segui-lo. Eles relataram que ele lhes
havia aparecido três dias depois da crucificação e que ele estava vivo [...]
talvez ele fosse o Messias, sobre o qual os profetas relatavam maravilhas.
Os detalhes de sua vida, porém, narrados pelos
evangelistas, ou acrescentados pela tradição católica, apresentam controvérsias
que geram conflitos há séculos. Vamos, aqui, abordar algumas delas, à luz de
fontes e da lógica, procurando deixar de lado a mistificação religiosa.
Portanto, em frente:
Jesus era Filho de uma Virgem?
Não. Na escrita dos evangelhos, em língua grega, a palavra
utilizada para definir Maria, mãe de Jesus, é “parthénos”, que significa
“virgem”. Mateus escreve “Ora tudo isto aconteceu, para que
se cumprisse o que dissera o Senhor pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e
dará à luz um filho...”. E, quando
Mateus fala de um “profeta”, faz referência
a Isaías, que escrevera: “Portanto o Senhor mesmo vos dará um
sinal; eis que uma donzela conceberá e dará à luz um filho...”.
|
O Livro de Isaias, exposto
no Museu de Israel. Imagem do Sal's Blog. Disp.:
http://saldangelo.blogspot.com.br/2010_09_01_archive.html |
A questão é que Isaias, que escreveu em hebraico, usou o
termo “Almah”, que significa “donzela”, ou jovem em idade de se casar mas não necessariamente intocada sexualmente,
enquanto a palavra “virgem”, traduzida para o hebraico, escreve-se “Bethulah”.
Assim
sendo, quando Mateus escreveu seu evangelho em grego, mencionando o
profeta
Isaias, escolheu a palavra errada para traduzir a referência à mulher
que
conceberia o prometido. E, por fim, a profecia nem fazia referência à
Jesus, mas ao Filho do Homem, a vir no final dos tempos, conforme
descrito no Capítulo 12 do Apocalipse.
Isso sem contar as várias passagens nas quais são feitas referências aos irmãos de Jesus, inclusive por Flávio Josefo.
Nos seis primeiros séculos do cristianismo não havia
consenso em torno do assunto. As vozes discordantes só foram silenciadas a
partir do ano 649 d.C., quando o Concílio Ecumênico do Latrão criou o dogma da
virgindade perpétua de Maria, no qual a Igreja passou a considerar que ela era
virgem antes, durante e depois da concepção de Jesus?!
|
The first seven Ecumenical
Councils. Século XIX. Autor anônimo. Disp.:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ecumenical_Councils.jpg
|
Vê-se, portanto, que somente por volta de 600 anos depois
de sua morte, homens reuniram-se e decidiram que Maria jamais teve uma relação
sexual.
Jesus nasceu em 25 de Dezembro do Ano Zero?
Não. 25 de Dezembro é tempo de inverno na Judeia, o que
contrasta com a afirmação de Lucas de que “...
pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu
rebanho.”. É muito difícil encontrar pasto para as
ovelhas no inverno, de modo que, encontrar os pastores no campo seria uma tarefa
penosa em 25 de dezembro do tempo de Augusto. Para não dizer, impossível.
|
Para quem duvida. Jerusalem coberta de neve no inverno. Imagem: Nahost Schnee Jerusalem. http://dw.de/p/17Gxh
|
A escolha desta data para o Natal remonta a séculos depois,
nos anos 350 d.C., por determinação do Papa Júlio I. O feriado surgiu por ordem
do Imperador Justiniano, em 529 d.C., substituindo a festa “Dies Natalis
Solis Invicti”, ou “Aniversário do Sol Invicto”, celebração pagã. João
Paulo II admitiu a discrepância de datas em 1993.
Sobre o chamado Ano 0, até a Igreja Católica, na pessoa do
conservador Papa Bento XVI, reconheceu
que Jesus nasceu antes do chamado ano 0, ou Anno Domini.
A fixação do Anno Domini foi feita, de forma errada,
por Dionísio, o Exíguo.
Considerando-se que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, O Grande, e que
este morreu em 4 a.C., Jesus só pode ter nascido, no mínimo, 4 anos antes do
que a cristandade prega.
E os registros históricos mostram que o recenseamento da
população por ordem do Imperador Augusto, que teria obrigado a viagem de José e
Maria (grávida) a Belém, ocorreu, muito provavelmente, em 8 a.C., considerando
que Augusto ordenou essas contagens em 3 ocasiões, em 28 e 8 a.C. e 14 d.C.
Jesus foi crucificado onde hoje fica a Igreja do Santo Sepulcro?
Quase com certeza não. O local da Igreja do Santo Sepulcro foi estabelecido por
Helena de Constantinopla, mãe do Imperador Constantino, em 325 d.C., durante
sua estada na Palestina. O local “encontrado” em nada se parecia com uma
caveira, apenas tinha uma plataforma que lembrava vagamente o topo de um crânio.
|
Reconstituição da colina apontada por Helena como sendo o Gólgota. James Tissot (French, 1836-1902). Reconstruction of Golgotha and the Holy Sepulchre, Seen from the Walls of Herod's Palace |
Charles George Gordon, porém,
nos parece mais digno de crédito. No século XIX ele descobriu um local, perto
do Portão de Damasco, no qual buracos na rocha formam o desenho de uma caveira,
por isso mesmo chamado pela população de “olhos da caveira”. Considerando que
os evangelhos denominam o Gólgota como Lugar da Caveira, as imagens são muito
sugestivas.
|
O "Local da Caveira". Golgotha Hill, Garden Tomb,
East Jerusalem.
Taken with Nikon D100,
Jerusalem 03/2005 by Wayne McLean |
|
Jerusalem.
Damascus Gate
section. Clo - Date Created/Published: [1931] - Library of
Congress,
Prints
& Photographs Division, Matson (G. Eric and Edith) Photograph
Collection -
Reproduction number: LC-DIG-matpc-22143 Disp.:
http://luirig.altervista.org/naturaitaliana/viewpics.php?title=Air+views+of+Palestine.+Jerusalem+from+the+air+%28the+Old+City%29...
|
É dever mencionar, porém, que Shimon Gibson, arqueólogo
israelense,
descarta o local baseado no fato de que o sepulcro próximo é bem anterior ao
novo, que Jose de Arimatéia teria escavado, segundo os evangelhos.
Jesus ressuscitou dos Mortos em Carne e Osso?
Não. Considerando que Maria Madalena, Apóstolos e Discípulos
estiveram frente a frente com Ele e não o reconheceram, é impossível que tenha
ressuscitado com o mesmo corpo. O leitor coloque-se na mesma situação de
Madalena, por exemplo. Alguém que ama mais que tudo morre na sexta-feira. No
domingo o leitor vai ao cemitério e vê seu túmulo aberto, sem o corpo. Se, de
repente, a pessoa querida aparece em sua frente, como é possível que não a
reconheça de imediato?
|
Jesus e Madalena - Noli me tangere by Anton Raphael Mengs, originally one of four in a cycle on the Passion of Christ as supraportas for the bedroom of King Carlos III,
now in the Palacio Real, Madrid. Oil on canvas, 185 x 185 cm. Disp.:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mengs,_Noli_me_tangere_-_Madrid.jpg |
Certamente Madalena viu Jesus, mas em sua forma Astral e não
em carne e osso. Carne e osso não atravessam paredes e nem sobem aos céus. Atribuir
tais arbitrariedades a Deus ou Jesus é o mesmo que dizer que ambos subvertem as
leis da Física. Mas por que Deus subverteria as leis perfeitas que Ele mesmo
criou? Com qual finalidade? Convencer aos Apóstolos e Discípulos? Eles que,
aliás, já estavam plenamente convencidos? Desnecessário.
Conclusão
Este artigo, certamente, incomodou os mais tradicionalistas
e pessoas acostumadas a não questionar dogmas e ensinamentos comumente aceitos.
Mas essa não é a prática que se espera de quem busca o Reino de Deus. As
questões abordadas acima já geraram grandes discussões, inclusive disputas
mortais. A pergunta que fazemos é: o que isso importa diante da missão de
Jesus? De Sua Mensagem? Qual a importância espiritual dessas controvérsias?
Jesus não veio à Terra para que a humanidade ficasse
discutindo quando e onde nasceu, se Sua mãe era virgem ou não, onde morreu e
foi sepultado, se é certo comer carne ou peixe na sexta-feira, etc. Jesus veio
para trazer uma Mensagem, diretamente de Deus: amar ao próximo como a si
mesmo.
Bem refletido, fica patente que o conturbado mundo de hoje
não precisa mais do que isso. Convém refletir: qual o problema, individual ou
coletivo, que incomoda o ser humano de hoje, que não seria solucionado se ambos
os lados da contenda tivessem em mente essa sentença: “amar ao próximo como a
si mesmo.”? Em outras palavras, fazer ao outro apenas aquilo que queremos que o
outro faça para nós?
Essa é a reflexão que cumpre a cada um fazer em mais uma
“Semana Santa”. E, para auxiliar, indicamos um tema que possui muito mais relevância
espiritual, e sobre o qual poucos refletem:
Jesus vai voltar?
Não. Jesus não vai voltar.
Absurdo! Quem disse isso?
O próprio Jesus!
O Mestre jamais disse textualmente que voltaria, antes, porém,
disse claramente que não o faria:
“Mas eu vos digo a verdade:
convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós
outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier, convencerá o
mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim; da
justiça, porque vou para o Pai, e
não me vereis mais.” (João
16:7-10).
Como nunca vi isso antes? Quem, então, virá, segundo Jesus?
Não Ele próprio, mas um segundo Filho, enviado por Deus,
vindo de Deus, conforme o Evangelho de João: “Quando
vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade,
que do Pai procede, esse dará testemunho de mim;” (João 15:26).
Para saber mais, sugerimos o link abaixo:
http://destinoereflexoes.blogspot.com.br/2013/07/jesus-cristo-voltara.html
|
Reconstituição
da Jerusalem antiga. O Templo de Herodes e a Torre Antônia (construção com 4
torres, anexa ao Templo), onde Jesus foi julgado por Pilatos. Disp.: Second Temple Model
of Jerusalem. Disp.:
http://www.bible-history.com/jerusalem/firstcenturyjerusalem_aerial_view.html
|