quinta-feira, 28 de agosto de 2014

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA II - 57 a.C.

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA II1

Quando o ano 572 chegou, César já estava decidido a conquistar a Gália inteira, ampliou seu exército em mais duas legiões e promoveu acordos com as tribos visando dividi-las e enfraquecer possíveis alianças contrárias. Era a tática de dividir para conquistar. Assim, Roma manteve a aliança com os éduos e trouxe os remos (norte) para seu lado, enquanto as tribos belgas ficaram contra, em união com os germanos.
Ciente desse fato, César logo avançou contra os belgas para evitar que se unissem aos germanos. Os belgas tentaram sem sucesso tomar a cidade de Bibrax e, então dirigiram-se ao acampamento romano às margens do Rio Aisne, devastando tudo pelo caminho.

Rio Aisne - arredores da antiga Bibrax.

Campo de Batalha - arredores de Berry au Bac - antiga Bibrax.


Mauchamp - local do Acampamento de César - arredores de Berry au Bac.

Com a iminente falta de abastecimento porém, e cientes das fortificações que César armara, os belgas dispersaram suas forças, evitando um confronto direto. Com isso César atacou a vila dos suessiões e começou a preparar as fortificações de cerco. Surpreendentemente, ao ver esses preparativos, os guerreiros renderam-se, seguidos pelos belóvacos e ambianos!
Os nérvios, porém, resistiram. Aliaram-se aos atrébates e aos viromandui e emboscaram os romanos nas margens do Rio Sambre, onde estes estavam montando acampamento e abrindo trincheiras sem a devida proteção. Os bárbaros contavam com cerca de 60.000 homens e, das tropas romanas, duas legiões de reserva ainda nem haviam chegado ao local.
Rio Sambre (ou Sabis) em Hautmont.
Mas a experiência e disciplina dos romanos fez mostrar seu valor. Logo as legiões abandonaram o trabalho e formaram-se em linha. O setor esquerdo obrigou os atrébates e os viromandui a recuar e fugir. Mas a perseguição dos romanos, apesar de tomar o acampamento inimigo, desguarneceu o próprio flanco e os nérvios tomaram o acampamento!
Com as tropas cercadas o próprio César entrou na batalha ordenando a formação de um quadrado para lutar em todas as direções. A luta foi feroz, mas quando a 10ª Legião voltou do acampamento inimigo e as duas legiões de reserva finalmente chegaram, a vitória foi de Roma.
A espetacular virada fez com que os Nérvios se rendessem e até mesmo os germanos pedissem a paz. Na sequência César enviou tropas para pacificar o litoral Atlântico e, com o restante, atacou a tribo dos aduatucos, aliados dos nérvios. 53.000 deles foram escravizados e vendidos. César estava muito rico.
O ano de 57 terminou com boas e más notícias para César, um revés militar sofrido pela 12ª legião, que foi rechaçada dos Alpes onde fora abrir uma estrada no passo Grande São Bernardo, e a inédita proposição, do Senado, de 20 dias de louvores públicos ao General pela pacificação da Gália.
Passo Grande São Bernardo - Alpes.


Região do Passo Grande São Bernardo - Alpes Italianos.
Fronteira da Itália - Inverno nos Alpes.
Quando o inverno chegou, César dirigiu-se ao Norte da Itália e deixou suas tropas no Norte da Gália, onde as tribos conquistadas tinham a obrigação de mantê-las alimentadas e guarnecidas.

Continua...

Imagens:

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http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7c/Hautmont_barrage.JPG

1Lembramos ao leitor a base para esta nossa série de textos é a obra “A Guerra das Gálias 58-50 a.C. - Roma Constrói seu Império”, de autoria de Kate Gilliver, publicada pela Editora Osprey.
2Todas as datas aqui mencionadas são a.C. (antes de Cristo).

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA I

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA I

Iniciamos mais uma série de artigos! Nesta sequência vamos tratar da conquista da Gália por Júlio César entre os anos de 58 e 50 a.C. e a base para nossa pesquisa são as obras "Comentarii De Bello Galico" de César e “A Guerra das Gálias 58-50 a.C. - Roma Constrói seu Império”, de autoria de Kate Gilliver, publicada pela Editora Osprey.
A Gália que César invadiu e que envolvia a “Aquitânia, Gália Belga e Gália Lugdunense”, englobava os atuais territórios da França, Bélgica, Luxemburgo e a parte da Alemanha a Oeste do Rio Reno.
Nela, e além, viviam diversos povos os quais os romanos chamavam de bárbaros e que tinham diversos graus de organização social indo desde tribos semi nômades até organizações sociais que poderiam ser chamadas de cidades-estado.
Estes povos viviam em constante conflito entre si, atacando-se e formando alianças de momento quando chegavam as épocas guerreiras, ocasiões nas quais formavam expedições militares para atacar outros povos, saqueando e tomando suas terras, ou mesmo deslocamentos em massa com igual objetivo.
Em muitas situações essas guerras levavam povos inteiros a migrar para outras regiões, quando derrotas tinham a expulsão como resultado. E em várias ocasiões essas migrações acabavam invadindo os limites do Império Romano.
Foi o que se verificou em 58 a.C., quando os helvécios, ráuracos, tulingos, latobrigi e bóios partiram da Helvécia (atual Suiça) em direção à Gália Ocidental, acossados pelo povo suevo e seu rei, Ariovisto. 
Eles sairam de suas terras carregando tudo que foi possível, carroças cheias de cereais, rebanhos e animais de carga, homens, mulheres e crianças, todos sob a organização de Orgetorix e em aliança secreta com Castico, dos sequanos, e Domnorix, irmão do líder dos éduos, aliados de Roma. Gilliver acredita que o plano era que os três tomassem o poder em suas tribos criando uma aliança capaz de afastar os romanos, ou os germanos, ou, ainda, dominar e dividir o restante da Gália.
Mas o plano foi descoberto antes da partida e Orgetorix se suicidou. Apesar disso os helvécios queimaram tudo que não podiam carregar, inclusive cidades e aldeias, e partiram para travessia do Rio Ródano.
Rio Rodano - vista da Pont du Mont Blanc, Genebra, saída do Lago Lemano.


Rio Rodano - vista da Pont de Sous-Terre.


Para Roma essa migração preocupava pois poderia significar desestabilização de toda região com ataques aos seus aliados e alianças com seus adversários gerando sublevações. Embaixadores romanos foram enviados pelo Senado no ano 60 (sempre que citarmos o ano, o leitor deve lembrar-se que trata-se de data antes de Cristo – a.C.) para manter a paz.
Internamente Roma vivia suas disputas de poder e os Cônsules que se sucediam ansiavam por um envolvimento militar na Gália visando a riqueza, glória pessoal e o poder político que as conquistas traziam aos comandantes vitoriosos.
Quando Júlio César, Cônsul no ano 59, tomou conhecimento da mobilização dos helvécios, teve o motivo perfeito para iniciar uma campanha em busca de seus objetivos políticos e militares.
O poder romano era dividido entre três aliados: Crasso, Pompeu e César, pois tinham costurado acordos que lhes garantia apoio majoritário no Senado e entre a plebe, o que lhes assegurava votos nas eleições aos principais cargos públicos da República.

César, Crasso e Pompeu.

Esses acordos garantiram a César a nomeação como governador das Gálias Cisalpina e Transalpina e, quando os aliados éduos pediram ajuda a Roma contra o Rei Ariovisto, a campanha começou.
Os helvécios, agora liderados por Divico, não receberam autorização para atravessar terras romanas, mudaram de rota mas foram atacados mesmo assim.

César e Divico encontram-se às margens do Rio Saône.

César reuniu seis legiões e atacou os invasores no rio Saône, massacrando a retaguarda da marcha. A maioria dos helvécios, porém, conseguiu atravessar. Organizando pontões, César conseguiu atravessar suas tropas e partiu em perseguição aos invasores, buscando o melhor momento para entrar em combate.

Rio Saône.

Localização de Bibracte, Cidade-fortaleza celta, capital do éduos.
Contudo, as provisões das forças romanas ficaram retidas pelos atoleiros das margens do Rio Saône, de modo que as tropas romanas tiveram de abandonar a perseguição e dirigir-se a Bibracte, a cidade-fortaleza celta, capital dos éduos, para se abastecer. Foi quando os helvécios atacaram a retaguarda romana.

Gilliver estima as forças romanas em no máximo 30.000 homens, mais forças auxiliares e cavalaria, enquanto os helvécios, ráuracos, tulingos, latobrigi e bóios teriam perto de 65.000 homens.
O primeiro ataque foi rechaçado pelos romanos e os helvécios retiraram-se. Mas quando os romanos os perseguiram, os outros povos atacaram pela direita, cercando as legiões. Quando César ordenou que a retaguarda desse meia-volta para combater, as legiões travaram duas frentes de batalha e venceram.
Os bóios e os tulingos foram massacrados, inclusive mulheres e crianças. Os helvécios foram obrigados a voltar para a Helvécia e reconstruir suas cidades, evitando assim uma ocupação germana da área.
Chegara a vez de cuidar de Ariovisto. 

César encontra Ariovisto.

Sob alegação de que os germanos andavam invadindo terras dos éduos, César marchou para a cidade estratégica de Vesontio (atual Bezançon).

Vista de Vesontio, atual Bezançon. Na parte superior a antiga cidadela fortificada.

Nas imagens acima e abaixo, vistas estratégicas a partir da fortaleza de Bezançon.

Como as forças de Ariovisto eram muito superiores, houve pânico entre as tropas romanas e até mesmo entre muitos oficiais. Em uma reunião tensa com seus oficiais, da qual até mesmo os centuriões participaram, César impôs a disciplina e afirmou, segundo escreveu em Comentarii de Bello Galico, que “...se ninguém o quisesse seguir, havia, nada obstante, marchar só com a décima legião, e essa lhe serviria de coorte pretoriana."
Ordem restaurada Ariovisto foi enfrentado e derrotado, o que obrigou os germanos a recuarem de volta ao Rio Reno com cerca de 80.000 baixas.


a
Mulheres e crianças germanas escravizadas pelos romanos.

Em um ano César impusera pesadas derrotas a dois dos maiores rivais de roma, os gauleses e os germanos. Com a chegada do inverno as tropas romanas foram acampadas em Vesontio e César retornou para Itália. Logo chegaria o momento de voltar-se para o Leste da Gália.

Continua...

Imagens:

Julius Caesar gestures to Ariovistus and his followers, all are on horseback. 1808 Lithograph
http://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details/collection_image_gallery.aspx?assetId=768007&objectId=3183145&partId=1

German Women Captured by Caesar's Forces
http://www.heritage-history.com/www/heritage.php?Dir=wars&FileName=wars_gallic.php

Caesar Landing in Britain.
http://www.heritage-history.com/www/heritage.php?Dir=wars&FileName=wars_gallic.php

The Campaign against Ariovistus
The Battle with Ariovistus
http://www.forumromanum.org/literature/caesar/maps.html


sábado, 16 de agosto de 2014

OS MAIAS DE HOLLYWOOD

Chichén Itza - Templo dos Guerreiros
OS MAIAS DE MEL GIBSON SOB A ÓTICA DE PEREGALLI
Peregalli, em sua obra “A America que os europeus encontraram”1, nos fala da existência de três tendências na forma de encarar as civilizações pré-colombianas: a que as despreza, destacando o papel civilizador dos europeus, a que as exalta como sociedades quase perfeitas em que a exploração do homem pelo homem não existia, e a última, na qual o próprio autor se encaixa, que as classifica como de transição, com uma classe-estado que dominava as demais por meio de tributos e onde não existia nenhuma igualdade social.
O filme “Apocalypto”, de Mel Gibson, inteiramente falado em um dialeto Maia, parece enfatizar a primeira e a terceira tendências no que elas poderiam possuir de pior.
Ruínas de Uaxactum
Acima e abaixo: ruínas de Tikal

Peregalli divide a história Maia em três fases, a primeira, por volta de 900 a.C. quando tem início a fixação do homem na terra, a descoberta do milho e a aceleração da cultura olmeca. A segunda, entre 317 e 987 d.C., quando aglutinam-se no centro da Península do Yucatán, mais ao norte, onde construíram cidades como Uaxactum e Tikal. A terceira, e última, entre 987 e 1697 d.C., com um deslocamento para o sul da península. (p.36)
 
Acima e abaixo: ruínas de Tikal

E é próximo do final desta última fase que se desenrola a história do filme, que vem nos mostrar um povo Maia extremamente agressivo, cruel e sanguinário, capaz de capturar centenas de escravos (através de ataques a tribos menores que viviam dentro das florestas) para sacrificar a maioria deles em rituais realizados no alto de suas pirâmides de degraus, ou matá-los como vítimas de jogos.
Nesse ponto, relativo à agressividade para com outros povos, parece haver concordância com o que nos diz Peregalli, segundo o qual “no final dessa última fase, os conglomerados urbanos deixaram de ser pacíficos centros religiosos para se transformar em cidades amuralhadas e belicosas, desconhecidas no período anterior.”(p. 38). Isso seria fruto da divisão do Yucatán em diversos reinos, que passaram a lutar entre si. (p.39)
Mel Gibson não entra em detalhes, mas algumas cenas, como a miséria e a epidemia mostrada nas imediações da cidade Maia, bem como a ressecada plantação de milho vizinha ao fosso cheio de cadáveres, permite visualizar a crise por que passavam os Maias.
Peregalli fornece detalhes que permitem saber as causas que levaram a esta situação, diretamente ligada à decadência daquele povo: “Guerras, pestes, ciclones, etc. podem ser arrolados para justificar o colapso, mas a causa fundamental deve ser procurada na agricultura.” (p. 39).
Acima: Pirâmide de Degraus em Chichén Itza - Abaixo: Detalhe do Templo dos Guerreiros

Acima e abaixo: ruínas dePalenque

Peregalli informa que o solo da Península do Yucatán é fino, rochoso, pobre. Informa ainda que a produção das aldeias deveria atender a si mesmas e á classe dominante através dos tributos.
Citando Léon Pomer, o autor nos diz que diante desses problemas, os Maias precisavam praticar uma rotação de culturas que lhes deixava apenas uma parcela mínima de solo livre para o cultivo. Logo, o aumento populacional na península levou a um colapso no sistema e, segundo o autor, da própria civilização Maia.
O filme de Mel Gibson não aborda essas questões, tampouco preocupa-se em mostrar os imensos avanços científicos alcançados pelos Maias, como o calendário solar de 365 dias e o religioso de 260 dias dividido em 13 meses de 20 dias, ou os livros cheios de iluminuras, como o Dresden Codex.
O Dresden Codex

O Calendário Maia e detalhe do Dresden Codex, que mostraria o fim do mundo pela água.
A engenharia Maia, capaz de construir uma pirâmide que mostra uma serpente móvel descendo à Terra no equinócio da Primavera, através de efeitos da Luz do Sol, serve apenas de cenário.
O conhecimento astronômico desta civilização, que chegou a construir um observatório para estudar o céu, aparece como se fosse usado para enganar o povo, com rituais de sacrifícios realizados justamente no dia de um eclipse.
Ruínas de Chichén Itza: A serpente desce à Terra no efeito da luz do Sol

El Caracol - "Observatório Astronômico" em Chichén Itza.
O próprio povo é mostrado apenas como um grupo de fanáticos alucinados, sedentos por sacrifícios humanos, e seus líderes como loucos deformados.
O que vimos neste filme, que tinha tanto potencial, é aquela que parece ser a visão cristã radical de seu diretor, incapaz de compreender o outro de maneira ampla e contextualizada ao abordar apenas um aspecto da vida de uma avançadíssima civilização. 
Não negamos que a civilização Maia tenha sido violenta, como, ademais, a maioria das civilizações, e que os aspectos de seus rituais, envolvendo sacrifícios humanos são, de fato, repugnantes aos nossos olhos. Mas os Maias, ao longo de sua História milenar, não foram apenas isso.
Mel Gibson perdeu uma grande oportunidade de contar uma boa história e, de quebra, livrar-se da principal marca que cresceu e dominou seus filmes, a da extrema violência.

CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. América pré-colombiana. São Paulo: Brasiliense, 2004.

Imagens

http://jingreed.typepad.com/jingreeds_musings_from_th/2008/11/ancient-apocalypse---the-maya-collapse.html
http://www.airpano.com/360Degree-VirtualTour.php?3D=Tikal-Guatemala
Tulum, Yucatan Peninsula, Mexico; Credit: Cancun CVB
http://www.globalsherpa.org/mayan-civilization-ruins-sites-culture-calendar-2012
http://blogs.datadirect.com/2011/12/the-mayan-calendar-ends-in-2012-and-what-it-means-to-technology.html
http://www.crystalinks.com/mayancalendar.html
http://monumentalloss.com/palenque/

1PEREGALLI, Enrique. A America que os europeus encontraram. 21. ed. São Paulo: Atual, 1998.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A BATALHA DE TRAFALGAR

A BATALHA DE TRAFALGAR
Simpatizei com Napoleão desde a primeira vez que li sua História lá no distante ginásio. À época me encantou sua genialidade, sua carreira vindo de baixo para o mais alto posto, sua capacidade ímpar de comandar e inspirar seus soldados, seu papel de fazer estremecer e tremer as dinastias da Europa, opressoras de seus povos. Não que ele próprio não tenha oprimido povos com suas guerras, mas os outros oprimiam há muito mais tempo.
Por consequência, antipatizei com os ingleses. Cheios de si, impositivos, narizes empinados. Tornei-os vilões da História que tanto gostava. Não queria saber deles.
Até que, neste ano, lendo a obra “Sharpe em Trafalgar” (de Bernard Cornwell, da Editora Record, Tradução de Sylvio Gonçalvez), e pesquisando a respeito depois, verifiquei que o Vice-Almirante Nelson, comandante da esquadra inglesa, era também genial, inspirava seus marinheiros, era um brilhante estrategista e corajoso lutador. Ganhou meu respeito e, para apagar meu anterior desprezo, presto ao comandante a singela homenagem do texto que segue, sobre sua última e mais importante vitória: a Batalha de Trafalgar!
Horatio Nélson
Em outubro de 1805 as frotas navais combinadas da França e Espanha, com 33 navios, sob o comando do Vice-Almirante Pierre Villeneuve, tinham a missão de juntar-se à força que deveria obter a supremacia naval no Canal da Mancha, permitindo ao exército de Napoleão atravessá-lo e invadir a Inglaterra.
Para chegar ao Canal da Mancha, a frota de Pierre Villeneuve fez manobras diversionistas que lhe permitiram escapar à perseguição movida pela esquadra inglesa, composta de 27 navios, sob comando de Nelson.
Pierre Villeneuve
Em Agosto de 1805 as frotas francesa e espanhola entraram no porto de Cádiz, onde tiveram sua rota para o Canal da Mancha bloqueada pelos ingleses, já que o reforço esperado, sob comando do Almirante Calder, não chegou fazendo com que Villeneuve provavelmente tenha pensado que a invasão fora adiada, o que depois acabou tornando-se verdadeiro, pois Napoleão deslocou suas tropas do litoral para atacar a Áustria.
O atual Porto de Cádiz - Espanha
Na letra "A" o Porto de Cádiz e no balão roxo o Cabo Trafalgar
O bloqueio inglês não era muito apertado, deixava brecha para que a frota de Napoleão escapasse de Cádiz. E esse era o desejo de Nelson, que queria forçar o combate. Diante dessa estratégia, o correto seria Villeneuve permanecer no porto, abrigado e com seus homens descansados e seguros, mas, por alegada ordem de Napoleão, ele fez exatamente o que Nelson queria. Saiu do porto em direção ao Sul, em 19 de outubro de 1805.
A esquadra inglesa imediatamente iniciou a perseguição que foi interrompida nas imediações do Cabo Trafalgar onde Villeneuve tentou regressar para o Norte em uma manobra muito controversa. Quando seus navios assumiram a posição de meia-lua, Nelson atacou.
O atual Cabo Trafalgar - Espanha

O brilhantismo de Nelson revela-se em sua estratégia oposta aos manuais das batalhas navais do período, que indicavam a colocação das frotas inimigas em posição de linhas paralelas, com os lados dos navios apontados uns aos outros, possibilitando o disparo dos canhões.
Nelson posicionou seus navios em duas linhas perpendiculares ao centro da formação franco-espanhola, visando rompê-la e, então, engajar os navios em lutas individuais. Essa formação expunha os navios ingleses a pesados bombardeios de ambos os lados no início, mas Nelson confiava que poderiam resistir. E ele estava certo!
Antes do começo da luta, quase meio-dia, a nau capitânia Victory comunicou-se com as demais (eles emitiam sinais codificados com as bandeiras) enviando a célebre mensagem: "A Inglaterra espera que cada homem cumpra com o seu dever."
Os combates navais eram muito diferentes das batalhas em terra firme, em relação as quais parecia desenvolver-se em câmera lenta, na velocidade dos navios (sem motor) deslocando-se na água.
O êxito dependia de quatro fatores principais entre vários outros: a experiência dos comandantes, a competência dos marinheiros, a rapidez/eficiência dos artilheiros e a resistência dos navios.
As embarcações era projetadas com dois, três ou quatro pisos de artilharia (cobertas), onde os canhões eram posicionados. O Victory, de Nelson, possuia 104 canhões de diversas potências (ou libras). O maior navio da esquadra franco-espanhola, o Nuestra Señora de la Santíssima Trinidad, possuia 136 canhões em quatro cobertas!
Uma das cobertas do Victory, navio de Nelson.
Acima o HMS Victory - Abaixo o Nuestra Señora de la Santíssima Trinidad

Quando posicionados lado a lado, os navios acionavam suas artilharias que varriam com pesadas bolas de metal a madeira e os homens que ficavam em seus caminhos. Os canhões também atiravam bombas que espalhavam metal em todas as direções e balas duplas acorrentadas, que saiam girando como um liquidificador capazes de derrubar mastros. Imaginem o que faziam com pessoas...

O ambiente dentro das cobertas dos canhões era terrível. Quando as bolas de metal perfuravam as paredes espalhavam lascas de madeira que se tornavam como lanças, em todas as direções. Quando os canhões disparavam a fumaça e o cheiro da pólvora substituíam o ar, o barulho fazia ouvidos sangrarem e o recuo dos canhões poderia esmagar os descuidados.
Havia também os soldados que ficavam na parte superior e atiravam com fuzis nas tripulações adversárias e invadiam seus navios quando conseguiam prender as embarcações juntas. Foi nesse fogo cruzado de fuzis que o Vice-Almirante Nelson foi atingido e morreu.
O Victory envolveu-se em combate singular com o navio Redoutable e um de seus soldados atingiu Nelson mortalmente. Ele perdeu a vida mas venceu a batalha. Os ingleses tiveram 1701 baixas (455 mortos e 1246 feridos) e os franceses e espanhóis tiveram 4500 mortos e perderam 22 navios.





A Batalha de Trafalgar foi uma das mais decisivas batalhas navais da História, pois se tivesse resultado diferente os livros hoje trariam outras informações. A vitória inglesa impediu para sempre os planos de invasão de Napoleão e deu à Inglaterra a supremacia marítima que manteve até a II Guerra Mundial.
Sua memória é mantida, principalmente, por meio de uma das mais famosas praças de Londres, a Trafalgar Square, no centro da qual uma coluna eleva aos céus dos heróis a estátua de Nelson.
Acima a Trafalgar Square em Londres e a Coluna de Nelson. Abaixo o HMS Victory, em exposição permanente.

Na doca seca da Portsmouth's Royal Naval Dockyard, o HMS Victory descansa, agora como museu, e uma placa em seu deck superior marca o exato local onde Nelson saiu da vida e entrou na História. Meus respeitos a ele. Mas ainda prefiro Napoleão!
FIM...


Imagens:
Redoutable by Ivan Berryman
http://www.cranstonmilitaryprints.com/item.php?ProdID=11726

http://marine-imperiale.pagesperso-orange.fr/chronologie/1805/trafalgar07.htm

http://www.argc-art.com/shop/index.php?route=product/manufacturer/product&manufacturer_id=12

http://mirsini99.blogspot.com.br/2010/10/old-ship.html

http://maritimo.blogspot.com.br/2005_02_01_archive.html

http://www.zephyr-flags.co.uk/resources/famous-flags-trafalgar.php

http://bibibourcefranc.fr/wa_244.html

http://www.hms-victory.com/things-to-see/lower-gun-deck

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