sexta-feira, 26 de setembro de 2014

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA VI - 53 a.C.

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA VI1

No ano 532 o plano de César era punir os revoltosos do ano anterior, assim como seus aliados, e submetê-los todos ao domínio de Roma. Ele recrutou duas legiões novas e pediu mais uma a Pompeu, atingindo um total de dez legiões, o que perfazia um número entre 40 e 50 mil legionários.
Tal contingente permitiu ao general atacar pontos distintos, por vezes simultaneamente. O primeiro alvo foram os nérvios com objetivo de tomar ou destruir seus pertences e apreender gado e pessoas.
Ruínas em Bavay, antiga Bavaco, capital dos Nérvios.
O segundo alvo foram os senones, atacados de surpresa antes de poderem refuriar-se em sua fortaleza, atual cidade de Sens – França. Sem outra alternativa diante da situação, eles renderam-se.
Sens - Rio Yonne - Antiga Capital dos Senones.

Sens - Rue de la Republic. O leitor pensa que só no Brasil tem feira da sulanca?
O próximo objetivo, as tribos dos menápios, já se revelara difícil antes, pois o delta do Rio Reno era região pantanosa e conhecida dos menápios, que para ela se retiravam sempre que em perigo. César mobilizou, então, nada menos que sete legiões e conseguiu chegar ao alvo, pois os legionários construíram passagens sobre as terras úmidas dos pântanos.
Gante, Bélgica - Região das tribos dos Menápios.
Os menápios foram derrotados, seus bens foram destruídos, seu gado aprisionado, assim como muitas pessoas, o que obrigou-os à rendição. Os gauleses iam descobrindo, às custas de muito sangue, que não havia lugar onde se esconder dos romanos e sua engenharia.
Os treviros foram derrotados por Labieno que os enganou com uma estratégica simulação de fuga, aparentando ser um alvo fácil. Quando os treviros atacaram, antes da chegada dos reforços germânicos que esperavam, estavam em terreno muito desfavorável sendo logo rechaçados, perseguidos pela cavalaria e obrigados à rendição.
Trier, Alemanha - Antiga Treveroro, capital dos Treviros.

Trier, Alemanha - Termas Imperiais de Constantino.
Após tantas vitórias César atravessou novamente o Rio Reno para punir os germanos que enviavam ajuda aos gauleses e para desencorajar futuras invasões. Outra ponte foi construída e as legiões passaram.
Contudo, problemas com a logística do abastecimento abreviaram a permanência dos romanos que, desta forma, preferiram evitar um confronto com os povos suevos.
Urmitz, Alemanha - Provável região da segunda ponte de César sobre o Rio Reno.

Na sequência César dividiu seis legiões em dois grupos de três e as enviou para a área da floresta das Ardenas, onde elas tinham a missão de semear destruição e fazer prisioneiros. Por conta dessa ação as tribos daquela região renderam-se, inclusive os rebeldes eburões.
Floresta das Ardenas.
Com a aproximação de mais um inverno, chegava ao fim mais um ano militar de campanhas vitoriosas para César, mas... nada como uma primavera depois de um inverno...

Continua...

Imagens:

http://www.dualshockers.com/2013/12/02/caesar-travels-conquers-gaul-in-new-total-war-rome-ii-dlc-campaign-pack/
http://www.panoramio.com/photo/10453617
http://www.emersonkent.com/map_archive/gallic_revolt_53_52_bc.htm
http://www.panoramio.com/photo/52300292
http://www.urmitz.de/unser-urmitz/sehen-und-erleben/rheinbruecke/?id=10785

1Lembramos ao leitor a base para esta nossa série de textos é a obra “A Guerra das Gálias 58-50 a.C. - Roma Constrói seu Império”, de autoria de Kate Gilliver, publicada pela Editora Osprey.
2Todas as datas aqui mencionadas são a.C. (antes de Cristo).

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A CONQUISTA DA GÁLIA V - 54 a.C.

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA V1

Quando o ano 552 chegou e o inverno terminou, César estava preparado para uma invasão de verdade à Britânia. Com cerca de 800 barcos, cinco legiões e 2000 cavaleiros ele atravessou o Canal da Mancha novamente.
Acima Boulogne sur Mer Nord, Pais de Calais. Abaixo Wissant, mesma região. Locais cogitados como porto utilizado por César e seus 800 navios para a invasão da Britânia.
Logo ao desembarcar ele marchou, com quatro legiões, ao encontro dos bretões, mas estes não concediam um combate decisivo, mantendo uma tática de guerrilha, com ataques surpresa seguidos de fuga. Quando uma tempestade danificou vários dos barcos romanos, César retornou à praia para consertá-los e fortificar sua posição.
Ao mesmo tempo os bretões aproveitaram a oportunidade para aumentar ainda mais suas tropas, entregues ao comando de Cassivelauno, da tribo dos Catuvellauni.
Rio Stour, Kent, Inglaterra. Região dos primeiros confrontos entre César e Cassivelauno.
Com os reparos assegurados, César marchou novamente para o interior da ilha. Cassivelauno agora tinha mais cavalaria e carros de combate e seus ataques obrigaram os romanos a uma marcha cerrada, para evitar serem isolados e destruídos. Mas quando ele atacou um pequeno destacamento romano que colhia cereais e, mesmo assim, foi repelido, fugiu, sendo perseguido pela cavalaria romana.
Em seguida as tropas de César atravessaram o Rio Tâmisa e tomaram a própria sede dos Catuvellauni, que Gilliver localiza provavelmente na atual Wheathampstead.
Rio Tãmisa - Vista da Ponte de Londres.

Wheathampstead, Inglaterra - Provável sede da tribo dos Catuvellauni.
Quando perceberam que os romanos não podiam ser batidos em campo aberto e que tinham tomado a própria cidade dos Catuvellauni, os outros povos bretões começaram a se render em massa, o que Cassivelauno acabou por fazer também. César aceitou a rendição de todos eles e recebeu seus reféns e os cereais que lhe trouxeram os vencidos.
Antes da chegada do tempo frio César preparou-se para voltar à Gália novamente. Lá os problemas que o inverno e colheitas fracas trouxeram iriam trazer aborrecimentos sérios ao general.
As forças romanas foram divididas e enviadas a diferentes regiões da Gália, onde sofreram ataques coordenados. As tropas sob comando de Cota, sediadas junto ao povo dos eburões, foram atacadas por estes, comandados por Ambiorix.
Estátua de Ambiorix - Grote Markt, Tongeren - Belgica - Provável localização do acampamento romano.
O líder eburão prometeu salvo conduto aos legionários que abandonassem a fortificação, mas quando eles saíram foram massacrados.  
Rio Meuse, Liege - Belgica - Norte das Ardenas - Região dos Eburões.
Mais a leste, no território dos nérvios, as tropas romanas sob comando de Quintus Cicero foram atacadas pelos nérvios e aduáticos, mas não aceitaram a rendição e nem a retirada, ao contrário, reforçaram as defesas e tentaram contato com César.  
Os nérvios, então, construíram uma muralha e um fosso ao redor do acampamento romano, cercando-o totalmente. Também construíram torres de cerco para tentar a invasão. Mas os romanos resistiram de forma desesperada por duas semanas aos ataques diurnos e noturnos.

Praça van Zeeland - Soignies, região de Hainaut, lar dos Nérvios.
Quando César soube da situação reuniu duas legiões e uma pequena cavalaria e partiu para o local. Em marcha forçada as legiões chegaram a percorrer 30km por dia. Ao chegar, César atacou os nérvios e destruiu seu exército de cerca de 60.000 homens, libertando as tropas de Cícero que, contudo, perderam 90% de seus efetivos.
O ano começou muito bem para César, mas terminou com reveses sérios, apesar de contornados. Quando o inverno terminasse, uma resposta dura deveria ser aplicada.

Continua...

Imagens:
http://www.forumromanum.org/literature/caesar/map14.jpg
 
1Lembramos ao leitor a base para esta nossa série de textos é a obra “A Guerra das Gálias 58-50 a.C. - Roma Constrói seu Império”, de autoria de Kate Gilliver, publicada pela Editora Osprey.
2Todas as datas aqui mencionadas são a.C. (antes de Cristo).

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA IV - 55 a.C.

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA IV1

No ano 552 César dedicou-se a aumentar ainda mais seu prestígio junto ao povo de Roma. Crassus e Pompeu eram cônsules e detinham os principais meios de distribuição de favores entre patrícios e plebeus, o que lhes garantia a manutenção do poder pelo controle dos votos nas eleições que escolhiam os ocupantes dos cargos públicos.
Para que César igualasse tal influência, precisava de feitos militares de grande impacto, considerando que estava distante de Roma. Assim, ele elaborou duas estratégias de ação que lhe garantiriam celebridade por muitos anos. Seria o primeiro general romano a adentrar o território germano a leste do Rio Reno com suas tropas e o primeiro a cruzar o Canal da Mancha e invadir a Britânia, atual Inglaterra.
O pretexto para invadir a Germânia foi a invasão de usípetes e tencteros que cruzaram o rio para a Gália, fugindo dos suevos que lhes tomaram o território. A cavalaria romana enviada para impedir-lhes o caminho foi rechaçada com a perda de 74 homens.
A resposta de César foi terrível. Atacou o acampamento dos invasores e massacrou a maior parte deles. Kate Gilliver sugere dezenas de milhares de mortos, contra as mais de 400.000 anunciadas por César. Tal carnificina serviu de pretexto aos inimigos de César, em Roma, para atacá-lo, ameaçando com um processo por crimes de guerra. Mas só poderiam fazer isso quando seu mandato de governador terminasse.
Deutches Eck - Esquina Alemã - Encontro dos Rios Mosella e Reno - Cidade de Koblens, região pouco abaixo do local da travessia de César.
Então César completou seus planos para a Germânia. Decidiu cruzar o Rio Reno a pé, não de barco. Para isso seus soldados contruíram, em espantosos 10 dias, uma ponte com mais de 300 metros, primor da engenharia romana do período.
Acima Andernach. Abaixo Neuwied - Alemanha. A ponte de César foi feita entre essas duas cidades.
A ponte era feita de estacas de madeira posicionadas de modo a resistir à pressão da correnteza e a ataques por meio de troncos lançados na água. Acompanhe, na sequência de imagens abaixo, a reconstituição das etapas de construção.
Cruzando o rio, César marchou Germânia adentro, queimou algumas aldeias vazias e permaneceu 18 dias, mostrando a ousadia e a capacidade romanas. Depois disso retornou e mandou queimar a ponte.
Para invadir a Britânia, César usou como pretexto o apoio das tribos desta a seus adversários na Gália. Para Gilliver o vulto da operação a torna mais uma expedição do que uma invasão. Participaram da aventura duas legiões, transportadas de barco.
Falésias de Dover - Inglaterra.
 O desembarque, na região de Dover (Kent), onde a praia terminava em altas falésias, não foi possível, pois os bretôes os receberam com um ataque de cavalaria e carros de combate. César então mudou o local para as imediações da atual Walmer, onde a praia é mais aberta.
Praia de Deal - Walmer - Inglaterra - região do desembarque de César e das tropas romanas.
A maioria dos legionários, porém, recusou-se a desembarcar até que o porta-estandarte da 10ª Legião saltou sozinho para a água. Como era uma desonra terrível para uma legião perder seu estandarte, os demais desembarcaram.
O Porta Estandarte da 10ª Legião desembarca na Britânia.
Aos poucos uma defesa foi formada e nos combates seguintes os bretões foram derrotados e fugiram, mas, sem a cavalaria, os romanos não puderam perseguí-los e terminar o trabalho. Os ataques seguintes ao acampamento romano também foram rechaçados.

Contudo, danos sofridos por vários barcos e a falta de suprimentos na iminente chegada do inverno obrigou César a ordenar a partida de suas forças de volta ao continente.
Apesar da breve estada, a façanha de cruzar o canal até a misteriosa Britânia teve um impacto fenomenal no inconsciente coletivo do povo de Roma.
Escultura do rosto de César marca o local da conquista romana - Walmer - Inglaterra.
César conquistou uma vitória lendária sobre a popularidade de seus colegas de triunvirato, Crassus e Pompeu. Mas suas aventuras na Britânia não haviam terminado...

Continua...


1Lembramos ao leitor a base para esta nossa série de textos é a obra “A Guerra das Gálias 58-50 a.C. - Roma Constrói seu Império”, de autoria de Kate Gilliver, publicada pela Editora Osprey.
2Todas as datas aqui mencionadas são a.C. (antes de Cristo).

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA III - 56 a.C.

AVE CESAR! – A CONQUISTA DA GÁLIA III1

Com a chegada do ano 562 as tribos gaulesas encarregadas de alimentar as tropas romanas já estavam revoltadas com a situação. Não tardou para que oficiais romanos fossem presos pelos vênetos, no Noroeste da Gália. Tal ofensa, se tolerada por Roma, poderia levar a uma sublevação em massa.
Assim, considerando a característica naval dos vênetos, César encomendou barcos para combater os revoltosos, enviou tropas para a Aquitânia e a Normandia e foi, ele próprio, assumir o comando de quatro legiões e da frota naval na região da foz do Rio Loire.

Foz do Rio Loire.
 O ataque aos vênetos começou por terra, já que o clima não permitiu a partida da frota romana. Mas as vilas marítimas do adversário eram facilmente abandonadas pela população por via marítima assim que o cerco romano se estabelecia. César então suspendeu as atividades até que sua frota pudesse se mover.
Quando isso ocorreu as duas forças navais se enfrentaram. Em princípio os vênetos levaram vantagem pois suas embarcações eram mais robustas, mais altas e mais preparadas para o Oceâno Atlântico que as naus romanas.

Oceâno Atlântico visto de Le Croisic - França - Local da batalha naval contra os Vênetos.
 Mas os romanos passaram a usar a mesma tática da I Guerra Púnica, prendiam e abordavam as naus inimigas, cortavam as cordas das velas deixando-as à deriva. Quando os vênetos tentaram fugir, faltou vento e então, como os barcos romanos possuiam remos, foi fácil cercar os inimigos e destruí-los.
Sem sua frota os vênetos não podiam mais fugir do cerco terrestre. Foram capturados, os mais velhos executados e a população restante foi escravizada.
Na Normandia, Sabino derrotou facilmente uma coligação de venelli, coriosolites e lexóvios que atacaram seu acampamento. Como a fortificação romana estava localizada em terreno muito alto, os atacantes chegaram cansados ao topo e não resistiram ao contra-ataque romano.

Atual cidade de Gwened - França Baia Morbihan, antiga capital dos Venelli.
 Já na Aquitânia, Publius Crassus enfrentou os vocates e tarusates, auxiliados por tribos da Espanha e passou por muitas dificuldades. Utilizando táticas de guerrilha os rebeldes atacavam as colunas em marcha e bloqueavam as linhas de suprimento.
Para forçar um combate aberto, Crassus atacou o acampamento dos inimigos e encontrou-o parcialmente desprotegido. Chegando pela retaguarda, os romanos cercaram 50.000 gauleses dos quais apenas cerca de 12.000 escaparam.
Já perto do inverno César atacou os mórinos e menápios, aliados dos vênetos. Mas esses povos não lhe concediam combate aberto, fugindo sempre que possível. 

Zeeland - Holanda - Região dos Menapios.
 Com a chegada do inverno, César aquartelou suas tropas no vale dos rios Loire e Saône, onde as tribos recém-conquistadas ficaram com a obrigação de abastecer os soldados.

Continua...
1Lembramos ao leitor a base para esta nossa série de textos é a obra “A Guerra das Gálias 58-50 a.C. - Roma Constrói seu Império”, de autoria de Kate Gilliver, publicada pela Editora Osprey.
2Todas as datas aqui mencionadas são a.C. (antes de Cristo).