domingo, 22 de dezembro de 2019

CHURCHILL - Parte 15


CHURCHILL – Parte XV [1] [2]
A guerra civil na Rússia terminou com a vitória dos bolcheviques. Churchill trabalhou intensamente para conseguir enviar ajuda aos anti-bolcheviques, mas foi sempre tolhido pela inabalável determinação do governo britânico em envolver-se o mínimo possível e, embora tenha havido momentos em que o exército branco chegou mesmo a se aproximar de Moscou, no final o Exército Vermelho empurrou os inimigos para fora da Rússia, vencendo a guerra.
Ao final dela a disposição mundial era de negociar com os bolchevistas vitoriosos, fato que Winston acabou apoiando. Ele teve pouco poder de decisão na questão da guerra, mas seu empenho em apoiar o lado que acabou derrotado fez com que a derrota fosse atribúida a ele dentro da Inglaterra, quase como uma nova Galipoli. (<pg. 445-460)
Já praticamente afastado das questões da Rússia, inclusive no que diz respeito a invasão da Polônia, Churchill passou a se preocupar com os atentados praticados na Irlanda por pessoas ligadas ao Sinn Fein [3] e a uma revolta na Mesopotâmia, atual Iraque.




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   Sinn Féin é um dos movimentos políticos mais antigos da Irlanda. Fundado em 1905 por Arthur Griffith para unir os grupos informais nacionalistas de resistência pacífica ao domínio britânico, seu objetivo era restaurar a monarquia irlandesa, fora do poder desde o século XVIII. Em gaélico irlandês, a expressão significa "Nós mesmos". Em tempos passados os próprios integrantes afirmavam ser o braço político do Exército Republicano Irlandês, o IRA. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinn_F%C3%A9in
Ele defendia uma retirada britânica daquela área do Crescente Fértil, posição derrotada dentro do governo. Defendia, também, a repressão contra os terroristas irlandeses até o momento em que se dispusessem a conversar.
A despeito dessa posição conciliadora, tornou-se um dos alvos de futuros sequestros de autoridades planejados pelos terroristas. Aos poucos o ciclo de atentados e represálias tornou-se uma bola de neve. (<<pg. 461-467)
Vendo um inevitável aumento das despesas militares por conta de tantos conflitos, Churchill sugeriu a criação de um departamento para cuidar exclusivamente da questão do Oriente Médio. Nesta época, sempre com uma visão décadas antecipada, ele defendia a criação de um estado judeu nas margens do Rio Jordão:
Se, como é bastante possível que aconteça, for criado um Estado judaico nas margens do Jordão, sob a proteção da Coroa Britânica, que pode incluir três ou quatro milhões de judeus, terá ocorrido na história do mundo um evento benéfico sob todos os pontos de vista, que estará especialmente em harmonia com os mais autênticos interesses do império britânico. (<pg. 469)

Quando Lloyd George se convenceu da necessidade de economizar, chamou Churchill para ocupar o cargo de Ministro das Colônias, o que ele aceitou em 07/01/1921, assumindo o posto oficialmente em 13/02/1921. (pg. 468-469)
Lawrence da Arábia
Churchill trabalhou para reduzir os gastos da Inglaterra na administração do Iraque conferindo autonomia administrativa à região. Ele nomeou o general Thomas Edward Lawrence (o Lawrence da Arábia [4]) como seu conselheiro e, através dele, costurou um acordo com o Emir Faiçal e seu irmão Abdullah para que estes ocupassem os tronos do Iraque e da Transjordânia respectivamente e garantissem a existência de um futuro estado judeu e não atacassem os franceses na Síria.
Uma conferência realizada no Cairo (março/1921) resultou em acordo que foi sacramentado no documento intitulado Tratado Anglo-Iraquiano.[4] Mais uma vez demonstrando sua visão muito à frente de seu tempo, Winston propôs autonomia aos curdos que viviam no norte do Iraque. (<pg. 471-473)




[4]   Thomas Edward Lawrence (16/08/1888 - 19/05/1935), também conhecido como Lawrence da Arábia, e (aparentemente entre os seus aliados árabes) Aurens ou El Aurens, foi um arqueólogo, militar, agente secreto, diplomata e escritor britânico. Tornou-se famoso pelo seu papel como oficial britânico de ligação durante a Revolta Árabe de 1916-1918. A sua fama como herói militar foi largamente promovida pela reportagem da revolta feita pelo viajante e jornalista estadunidense Lowell Thomas, e ainda devido ao livro autobiográfico de Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria.  
https://pt.wikipedia.org/wiki/T._E._Lawrence

[5]   O Tratado Anglo-Iraquiano de 1922 foi um acordo assinado entre os governos do Reino Unido e do Iraque. O tratado foi planejado para permitir aos habitantes locais uma participação limitada na divisão do poder, dando aos britânicos o controle da política militar e exterior. Tinha a intenção de concluir um acordo feito na Conferência do Cairo para estabelecer um governo haxemita no Iraque.  O Tratado Anglo-Iraquiano foi assinado principalmente devido aos esforços revolucionários dos cidadãos do Iraque, uma coligação de ambos os árabes, xiitas e sunitas. Os maiores centros de insurreição durante a Grande Revolução Iraquiana de 1920 incluíram Moçul, Bagdá, Najafe e Carbala. O esforço de rebelião em Carbala foi inflamado por uma fatwa emitida pelo grande mujtahid Imame Xirazi. A fatwa fazia uma observação que era anti-islâmico ser governado pelos britânicos, que não praticavam o islamismo. A fatwa ordenou um Jihad contra a ocupação britânica. O tratado foi assinado em nome dos britânicos por Sir Percy Cox em 10 de outubro de 1922. Não foi ratificado pelo governo iraquiano até 1924, quando o Alto Comissário Britânico ameaçou impor sua autoridade para desfazer a constituição, elaborada pela assembleia constituinte do Iraque. Foi visto com desdém por muitos iraquianos, tanto xiitas quanto sunitas. De qualquer forma, foi o primeiro passo para um Iraque mais independente.   
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_Anglo-Iraquiano
Os Reis Faiçal e Abdullah
Mas, se Faiçal e Abdullah aceitavam a imigração dos judeus, a maioria dos árabes não estava disposta a permitir a existência de um enclave judeu na Palestina e fizeram Churchill saber disso, solicitando a suspensão da vinda de mais judeus para a região até a criação de um Estado Palestino. Ele, porém, não podia e nem queria atender tal desejo, defendia direitos iguais a ambos os povos.
Cada passo que se dê deverá ser para o benefício moral e material de todos os habitantes da Palestina, judeus e árabes por igual. Se isso for feito, a Palestina será feliz e próspera: a paz e a harmonia reinarão sempre e essa terra se converterá num paraíso, numa terra de leite e mel onde os sofredores de todas as raças e religiões encontrarão o descanso depois de suas provações. (<pg. 475)
Mas não foi possível conciliar os interesses judeus e árabes, de modo que a economia que Churchill pretendia, e que motivara todas aquelas negociações, não se concretizou. Motins árabes levaram à suspensão temporária da imigração. (pg. 476-477)

CONTINUA