terça-feira, 2 de agosto de 2022

CHURCHILL - Parte 41

CHURCHILL – Parte XLI [1] [2]
Em meados de Maio/1943 Winston já estava melhor e de volta ao velho vigor no empurrar a preparação para a Luta. Os decifradores de Bletchley seguiam municiando-o das ultra secretas comunicações alemãs, de sorte que ele sabia que Hitler não deslocaria para a França um número de divisões que pudesse por em risco a Operação Overlord.
Ele sabia que os alemães tinham 25 divisões retidas na Iugoslávia, onde combatiam os guerrilheiros de Tito, mais 23 divisões retidas na Itália lutando contra a invasão do país e mais divisões retidas nas áreas onde Hitler pensava que seria o desembarque.
Em 04/06/1944 as tropas aliadas entraram em Roma sem encontrar resistência, pois fora declarada cidade aberta pelos alemães em retirada. Neste momento, Churchill já voltara a sofrer de fadiga pois seguia trabalhando até altas horas da madrugada como observou sua assistente Marian Holmes: “Fui ao encontro do primeiro-ministro às 22h30 e só saí às 3h45. Ele trabalha demais e quase adormeceu sobre os documentos.
A expectativa pela invasão da Normandia cresceu, pois esta teve de ser adiada por conta do mau tempo. No entanto foi justamente o mau tempo que proporcionou ainda mais sigilo ao Dia-D pois mensagens secretas decifadas davam conta de que Hitler não esperava nenhum ataque pelos próximos 5 dias, tanto que Rommel, comandante das defesas litorâneas, a Muralha do Atlântico, recebeu licença para se deslocar a Berlim.
Eisenhower aproveitou esse descuido e decidiu que o Dia-D seria o seguinte, 06/06/1944, com ou sem bom tempo. A invasão foi um sucesso enquanto contou com o efeito surpresa, mas depois teve seu ritmo muito reduzido quando as defesas alemãs se reorganizaram.
Em discursos na Câmara dos Comuns Churchill avisou que a situação era boa mas advertindo contra o excesso de otimismo pois, segundo ele, “enormes esforços se estendem diante de nós”.
Em 12/06/1944 ele embarcou em um contra-torpedeiro e atravessou o canal para visitar a Normandia, encontrou-se com Montgomery e navegou ao longo da costa observando as diversas operações.
No retorno pediu que sua embarcação também disparasse contra os alemães: “Já que estamos tão perto, por que não damos uns tiros nos alemães antes de irmos embora para casa?” Depois dos disparos, como se encontravam ao alcance da artilharia alemã, logo deram meia volta e voltaram a Inglaterra. A despeito das boas notícias, porém, no dia seguinte começava o suplício das bombas voadoras V-1.
Foram lançadas 27 bombas das quais 4 atingiram Londres. No dia seguinte foram 50 e ao final da primeira semana de bombardeios mais de 500 civis já tinham sido mortos. A despeito disso o Exército Vermelho seguia obliterando as forças alemãs em recuo e “numa única batalha perto de Bobruisk, matado 16 mil soldados alemães e feito 18 mil prisioneiros.”.
Na França o número de soldados desembarcados já ultrapassava os 750 mil e a quantidade de prisioneiros alemães já chegava a 50 mil. Winston telegrafou empolgado a Stalin: “O inimigo está sangrando em todas as frentes simultaneamente e concordo quando diz que isso tem de ir até o fim.
Para desgosto de Churchill, porém, a ampliação do avanço na Itália (que Hitler temia por ameaçar a fronteira da Áustria) foi descartada em favor de outro desembarque no Sul da França. Com o passar das semanas e a continuidade dos ataques das bombas voadoras Winston passou a pensar em uma retaliação tão ou mais cruel:
Tenho, evidentemente, de pedir-lhes que me apoiem no uso de gás venenoso. Temos de inundar as cidades do Ruhr e muitas outras cidades da Alemanha de tal modo que a maior parte da população precise de cuidados médicos permanentes. Podemos impedir a atividade nos locais de lançamento das bombas voadoras. Churchill tinha em mente gás mostarda, “do qual quase todas as pessoas se recuperam”. Usariam apenas se “for uma questão de vida ou de morte” ou se isso “encurtar a guerra em um ano”. (<<<<<<<<<<<<<pg. 192-201)
Ironicamente, nestes dias chegou a notícia de que os nazistas estavam utilizando câmaras de gás para assassinar judeus e que meio milhão de judeus-húngaros estavam para serem deportados rumo a Auschwitz.
Churchill apoiou o pedido do “líder sionista dr. Chaim Weizmann” por um bombardeio ao sistema ferroviário húngaro bem como por um protesto público: “Consiga tudo o que puder da Força Aérea e mencione meu nome, se necessário. Estou totalmente de acordo com o maior protesto possível”.
Uma intensa cobertura jornalística foi feita e os trabalhadores ferroviários da Hungria foram alertados “de que podiam ser considerados criminosos de guerra se continuassem a participar das deportações.”. Dois dias depois as deportações foram interrompidas e cem mil judeus escaparam da morte certa. A disposição de Churchill contra os genocidas nazistas era a pior possível:
Não há dúvida de que isso é provavelmente o maior e mais horrível crime alguma vez cometido na história do mundo e que foi feito com equipamentos científicos e por homens nominalmente civilizados em nome de um grande Estado e uma das raças líderes da Europa. É perfeitamente claro que todos aqueles que estão envolvidos nesse crime, que agora cai em nossas mãos, inclusive aqueles que apenas cumpriram ordens levando a cabo as chacinas, devem ser condenados à morte após ser provada sua associação com os assassinos.(<<<pg. 201-202)
Em 10/07/1944 chegou a informação de que 10 mil casas haviam sido destruidas em apenas um mês de ataques das bombas voadoras e oito dias depois soube-se que estava em fase final de preparação uma bomba foguete (a V-2) que voava a 6500 km/h, atingindo Londres 4 minutos após lançada, virtualmente impossível de interceptação.
Coronel Claus von Stauffenberg
À esquerda, uniforme claro
Por outro lado, os aliados chegavam a Caen. Em 20/07/1944 Hitler escapava milagrosamente do atentado a bomba executado pelo Coronel Claus von Stauffenberg na Toca do Lobo, QG de guerra do líder nazista. Era o último atentado contra a vida do Führer, a fracassada Operação Valquíria.[3]
Neste mesmo dia Churchill voou para Cherbourg e foi visitar as tropas em diversos pontos da frente. No início de Agosto/1944 os poloneses iniciaram o Levante de Varsóvia,[4] pois pretendiam que houvesse um governo polonês instalado na capital quando o Exército Vermelho chegasse. Stalin suspendeu os bombardeios aéreos sobre a cidade mas recusou-se a prestar auxílio aos revoltosos.
Levante de Varsóvia
Deslocando tropas da França os alemães conseguiram derrotar a rebelião mais de dois meses depois. 
Churchill com o General Tito
Ainda em agosto Churchill viajou para Argel e depois para Nápoles na Itália onde encontrou-se com o General Tito, depois visitou Capri e a Córsega.
CONTINUA 




[1]   GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2]   Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
[3]  A Operação Valquíria (em alemão: Unternehmen Walküre) era um plano alemão criado durante a Segunda Guerra Mundial com o propósito de manter o governo do país funcionando em caso de uma emergência, através da mobilização do exército reserva da Alemanha para assumir o controle da situação caso houvesse algum tipo de levante entre a população civil alemã ou uma revolta de trabalhadores estrangeiros (a esmagadora maioria escravos trazidos dos territórios ocupados) em fábricas dentro do país. Os generais do exército alemão (Heer) Friedrich Olbricht, Henning von Tresckow e o coronel Claus von Stauffenberg modificaram o plano com a intenção de usar a força de reserva alemã para tomar o controle das cidades do país, desarmar a SS e prender a liderança nazista após o assassinato do ditador Adolf Hitler no Atentado de 20 de Julho. A morte de Hitler (ao invés de simplesmente prende-lo) era necessária para desprender os soldados e oficiais alemães do seu juramento de lealdade pessoal a ele (Führereid). Em julho de 1944, a operação foi executada mas terminou em fracasso, com os conspiradores sendo presos e muitos deles executados.
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Valqu%C3%ADria
[4]  A Revolta, Levante ou Insurreição de Varsóvia (em polaco powstanie warszawskie) foi uma luta armada durante a Segunda Guerra Mundial na qual o Armia Krajowa (Exército Clandestino Polaco) tentou libertar Varsóvia do controle da Alemanha Nazi. Teve início em 1 de agosto de 1944, às 17 horas, como parte de uma revolta nacional, a "Operação Tempestade", e deveria durar apenas alguns dias, até que o Exército Soviético chegasse à cidade. O avanço soviético no entanto foi interrompido, mas a resistência polaca continuou por 63 dias, até sua rendição às forças alemãs em 2 de outubro.
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_de_Vars%C3%B3via

quinta-feira, 2 de junho de 2022

CHURCHILL - Parte 40

CHURCHILL – Parte XL [1] [2]
Churchill já saiu de Teerã esgotado e voou para o Cairo e depois para Tunísia, onde o avião pousou em aeroporto errado e ele teve que aguardar no frio. Depois do encontro com Eisenhower ele pretendia voar para a Itália, mas foi constatada uma pneumonia que o obrigou a guardar repouso por alguns dias nos quais, a despeito das recomendações médicas de descansar, seguiu tendo reuniões de trabalho.
Sem o descanso necessário, o coração de Winston começou a falhar gerando receio nos mais próximos de que estivesse morrendo. Para a filha Sarah, contudo, ele se mostrou consolado: “Se eu morrer, não se preocupe... A guerra está ganha.
A guerra pela saúde, no entanto, estava apenas começando. Em 15/10/1943 ele teve um ataque de fibrilação, que é um ritmo de batimentos rápido e irregular do coração.  No dia seguinte teve outro episódio. Mas seguia recebendo visitas e discutindo detalhes da guerra. No Natal já estava convidando comandantes para um almoço, ditando cartas, telegramas e até mesmo o próprio boletim médico.
Ao final de Dezembro/1943 Churchill voou para Marrakesh onde passaria o restante de sua recuperação. Ali recebeu a notícia de que haveria um segundo desembarque na Itália, em Anzio, e que o Exército Vermelho cruzara a fronteira da Polônia de 1939 empurrando os nazistas a marretadas.
Em Marrakesh Winston trabalhava pela manhã e fazia pick nicks no almoço nos quais recebia convidados para discussões menos formais. Quando recebeu De Gaulle em 12/01/1944 tentou persuadi-lo a evitar perseguir os colaboradores do governo de Vichy para que isso não se tornasse um cisma prejudicial e quando o francês relutou disse-lhe:
Ouça! Eu sou líder de uma nação forte e invicta. E, no entanto, todas as manhãs, quando acordo, meu primeiro pensamento é como poderei agradar ao presidente Roosevelt e meu segundo pensamento é como poderei cativar o marechal Stálin. Sua situação é muito diferente. Por que então seu primeiro pensamento ao acordar é como desafiar britânicos e americanos? (<<<<pg. 185-189)
Recuperado, Churchill voltou a Londres onde o trem especial do Rei esparava para levá-lo de Plymouth a Londres. Havia imenso alívio em todos os círculos por seu retorno vivo e saudável. Assim que chegou foi logo à Câmara dos Comuns para responder perguntas e depois foi almoçar com o Rei. (pg. 189-190)
O desembarque em Anzio não obteve o sucesso esperado pois a resistência alemã mostrou-se tenaz de modo que a operação foi assim definida por Churchill: “Esperávamos desembarcar uma fera que estriparia os alemães. Em vez disso, encalhamos uma enorme baleia com a cauda presa na água”.
Os estadunidenses pareciam dispostos a apenas manter as presentes situações na Itália, do que Winston discordava, mas não estava em posição de forçar sua opinião, até porque já estava envolvido no planejamento da Operação Overlord, a futura invasão da França pela Normandia.
E Winston o fazia com a usual energia: “Os aparentemente indolentes ou obstrutivos eram repreendidos; rivalidades eram reconciliadas; prioridades eram determinadas; dificuldades que a princípio pareciam insuperáveis eram ultrapassadas; e as decisões eram traduzidas em ações imediatas.
Foram planejadas ações de despiste que levaram os alemães a pensar que o desembarque se daria em Dieppe ou em Calais, mas não na Normandia. Em fins de Março/1944 o trabalho excessivo cobrou novamente seu preço e Churchill já estava novamente à beira de uma exaustão completa. E a situação era perceptível aos que o rodeavam como foi descrito após uma reunião do Estado-Maior:
Percebemos que ele estava excepcionalmente cansado. Receio que esteja perdendo terreno rapidamente. Parece incapaz de concentrar-se de forma duradoura e distrai-se constantemente. Estava sempre bocejando e disse que se sentia desesperadamente cansado.(<<<<pg. 190-192)
Em Abril/1944 a situação era ainda pior, apesar de o próprio Churchill garantiu que “ainda conseguia dormir bem, comer bem e, em especial, beber bem, mas já não saltava da cama como costumava e sentia que gostaria de passar todo o dia na cama”.
Sua preocupação era que os bombardeios necessários para abrir caminho no Dia-D não matassem muitos franceses, gerando um sentimento anti-aliados após a invasão da França. Temia também as baixas que suas tropas sofreriam nessa invasão pois, lembrando-se do que ocorrera durante a Primeira Guerra, “Uma geração britânica inteira de potenciais líderes havia sido dizimada e o país não podia dar-se ao luxo de perder outra geração”.
CONTINUA




[1]   GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2]   Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

sexta-feira, 1 de abril de 2022

CHURCHILL - Parte 39

CHURCHILL – Parte XXXIX [1] [2]
A invasão da Sicília começou em 09/07/1943 e terminou com sucesso em 17/08/1943. Em 25/07/1943 Mussolini foi demitido do cargo. A Itália rejeitava seu Duce prendendo-o em Gran Sasso de onde foi resgatado por forças paraquedistas alemãs. Mas o “Partido Fascista fora dissolvido e o Grande Conselho Fascista, seu instrumento de governo, abolido.
Churchill logo se prontificou a negociar com os italianos: “Agora que Mussolini se foi, devo poder ter conversações com qualquer governo italiano não fascista que possa resolver os assuntos”. 
Victorio Emanuele III - Mussolino - Pietro Badoglio
Pouco depois, ele viajou com Clementine e a filha Mary para a Conferência de Quebec.
Lá ficou decidido que o ano de 1944 seria dedicado a preparar a invasão da França pelo Canal da Mancha, com a finalidade de “atacar o coração da Alemanha e destruir suas forças militares”. Essa operação teria prioridade sobre todas as outras, também seria feito um desembarque no Sul da França, para dividir as forças defensivas dos alemães.
A invasão da Itália não ultrapassaria a linha entre as cidades de Pisa e Ancona, e as operações nos Balcãs seriam restritas a dar apoio aos guerrilheiros. Saindo do Canadá Churchill foi de trem para os EUA onde soube da rendição da Itália e do desembarque das tropas aliadas em Salerno.
Neste momento a preocupação de Winston já era com o pós-guerra, qual seria a situação da Alemanha, se, e como, seria dividida, bem como a forma de agir em relação à URSS. Ele acreditava que a URSS se tornaria uma superpotência, mas que a união dos britânicos aos estadunidenses poderia manter o equilíbrio na fase de reconstrução da Europa.
Em 06/09/1943 ele viajou a Harvard para receber um grau honorífico, retornando logo a Washington de onde partiu de regresso à Inglaterra no dia 12/09/1943. (<<<<<pg. 176-180)
Churchill em Harvard
No final de Setembro/1943 as notícias eram quase todas animadoras: o Exército Vermelho retomara Smolensk e as tropas nazistas estavam em constante retirada sendo violentamente empurradas a despeito da monótona ordem de Hitler de nunca recuar, resistir até o último homem, etc., na Itália os aliados entravam em Nápoles e as ilhas da Córsega e da Sardenha se rendiam com pouca resistência e o couraçado alemão Tirpitz foi inutilizado na Noruega por mini submarinos, facilitando mais a vida dos comboios de suprimentos, a despeito dos novos torpedos acústicos dos U-boats alemães.
O entusiasmo de Churchill era tamanho que não se conseguia mais controlar sua ânsia por atacar. De seu ponto de vista “A dificuldade não está em ganhar a guerra, e sim em tentar persuadir as pessoas a deixarem-nos ganhá-la, em tentar persuadir tolos.” (<pg. 180-181)
Em Novembro/1943 Churchill estava de volta ao Cairo onde recebeu Roosevelt e o levou para conhecer as Pirâmides e a Esfinge. 
Na chamada Conferência do Cairo não se chegou a nenhuma decisão importante e, em seguida, ambos os governantes viajaram em aviões separados para Teerã, onde se encontrariam com Stalin.
Na noite anterior aos encontros oficiais houve um jantar do qual Churchill não participou pois estava exausto. No dia do encontro, Roosevelt e Stalin conversaram por uma hora antes de se encontrar com Churchill e Stalin convenceu Roosevelt a priorizar a invasão da França em detrimento da campanha na Itália que Churchill defendia com apoio de Eisenhower.
No próprio encontro, porém, Roosevelt defendeu ampliar o avanço na Itália enquanto Churchill defendeu uma invasão ao Sul da França, com o que Stalin concordou. À noite foi a vez de Roosevelt faltar ao jantar por um mal estar de modo que Churchill e Stalin decidiram o pós-guerra na Alemanha e na Polônia. Esta última perderia territórios para a URSS a Leste e ganharia a Oeste, tomando-os da Alemanha.
No último jantar, oferecido por Churchill no dia de seu aniversário, muitos brindes o saudaram. Em dado momento, o próprio Winston ergueu sua taça: “Bebo às massas proletárias”, o que levou Stálin a erguer seu copo e dizer: “Bebo ao Partido Conservador.” Churchill disse a Stálin: “A Inglaterra está cada vez mais cor-de-rosa.” “É sinal de boa saúde”, contrapôs Stálin.” Este, ao final da conferência, saiu de Teerã tendo conseguido praticamente tudo o que queria. (<<<pg. 181-185)
E, informação não constante no livro de Gilbert, Stalin ainda recebeu das mãos de Churchill uma espada cerimonial enviada pelo Rei George VI em homenagem à extraordinária resistência do povo de Stalingrado à invasão nazista. Na espada havia, em tradução livre, a inscrição: 
Ao espírito de aço dos cidadãos de Stalingrado, o presente do Rei George VI, como símbolo da homenagem do povo britânico.” O líder soviético a recebeu e beijou com os olhos rasos d'água.
CONTINUA 



[1]   GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2]   Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

MONGÓLIA: DE GENGHIS KHAN A MARCO POLO - Parte XI

 


TOREGUENE – UMA MULHER GOVERNA A MONGÓLIA13

Se os homens governantes do Império Mongol eram os Khans, uma mulher tinha o título feminino de Khatun, ou Grã Khatum, no caso dela.

Toreguene nasceu em 1246, era uma naimanita (nascida no território Naimã) e foi dada em casamento a Cudu, o futuro Dair Usum (Líder) do clã dos merquites.

Quando Gengis Khan conquistou o cã merquita tomou a esposa de Cudu e a deu a seu filho Ogedai. Assim, Toreguene se tornou uma princesa da Mongólia.

Quando Ogedai morreu, em 1241, quem assumiu a regência foi outra mulher, Moqe, que fora uma das esposas de Gengis Khan, herdada pelo falecido Ogedai. No entanto, Toreguene teve apoio de Chagatai, outro filho de Gengis Khan, para assumir o poder regencial.

Uma vez estabelecida no poder, Toreguene afastou a maioria dos auxiliares de seu marido falecido e nomeou seu próprio ministério, por assim dizer, e fez de uma mulher xiita de nome Fátima sua principal auxiliar.

Durante cinco anos Toreguene administrou o Império Mongol com grande sabedoria, conciliando os conflitos entre os clãs e entre os muitos familiares de Gengis Khan.

O reconhecimento internacional a seu governo veio pela visita de personalidades reais como o sultão da Turquia e de Bagdá, enviados da Rússia e da Geórgia.

Toreguene direcionou os esforços do governo para fazer de seu filho, Güyük, o novo Grão Khan que, enquanto ela governava, evitou voltar à capital e viajou pelos clãs em busca de apoio para a eleição que viria, o Kurultai.

O Kurultai aconteceu em 1246, perto de Karakorum e Güyük foi eleito. Toreguene, então, partiu para seu palácio perto do Rio Emit onde morreu no mesmo ano, talvez por ordem do próprio filho.

Continua

 

 


quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

CHURCHILL - Parte 38

CHURCHILL – Parte XXXVIII [1] [2]
Em 14/01/1943 Churchill se encontrou com Roosevelt em Casablanca onde as conversações demoraram oito dias e decidiram que o desembarque aliado de 1943 seria na Sicília, que se daria após a derrota de Rommel na Tunísia, que as tropas para esse desembarque sairiam da África, e que um outro desembarque, desta vez na França, se daria em 1944 e, até lá quase um milhão de soldados estadunidenses se concentrariam na Inglaterra.
Reafirmou-se ainda a prioridade em derrotar primeiro a Alemanha, depois o Japão, com a continuidade da aliança anglo-estadunidense até a derrota do Japão: “Não haveria armistício, paz negociada ou regateio: apenas a total e absoluta rendição de ambos os exércitos.
O encontro se encerrou em Marrakesh, onde Winston e Roosevelt observaram o por-do-Sol a partir dos Montes Atlas. Churchill pintou lá seu único quadro durante a guerra.
De lá ele voou para o Cairo (de onde enviou homens para conversar com o líder da resistência iugoslava Tito), depois voou para a Turquia (onde negociou com o Presidente Ismet Inönü não conseguindo convencê-lo a entrar na guerra mas obtendo garantia de parceria caso os turcos fossem obrigados a guerrear), depois foi para o Chipre (onde falou com as tropas de seu regimento de hussardos), então voltou ao Cairo onde soube da rendição do VI Exército alemão em Stalingrado.
Presidente Ismet Inönü

No dia seguinte Winston voou para Tripoli, onde inspecionou as tropas de Montgomery e dormiu em um caminhão. Em seguida voou para Argel onde insistiu pela revogação das leis anti-semitas do extinto governo de Vichy.
Finalmente, em 07/02/1943 retornou a Inglaterra. Clementine havia-lhe escrito pedindo um momento a sós na chegada: “Por favor, deixe-me entrar no trem antes de desembarcar. Gosto de beijar meu pisco [3] em particular e não ser fotografada fazendo isso.” Depois de tantas aventuras, Winston acabou caindo doente de pneumonia, sendo obrigado a ficar em repouso por uma semana em Downing Street e assustando sua filha Mary: “Fiquei chocada quando o vi. Parecia muito velho e cansado, deitado de costas na cama.”. (<<<<<<<<pg. 166-170)
Assim que se sentiu um pouco melhor, Churchill foi para sua casa em Chequers para ler e responder telegramas recebidos. A enfermeira que o acompanhou escreveu que ele “Gostava de ver filmes, especialmente documentários, e ficava encantado se aparecia nos filmes [...]. Era muito amável comigo e mostrou interesse em saber que meu marido era tenente-médico num contratorpedeiro dos comboios russos.
Como diz o ditado “desgraça pouca é bobagem”, apesar dos avanços das forças de Montgomery, o porto de Trípoli não estava funcionando a contento e as tropas de Eisenhower estavam sofrendo pesados reveses por parte das forças de Rommel, atrasando a eventual conquista de Túnis, o que também atrasaria o desembarque previsto para 1943.
Tropas Aliadas na Tunísia
Dias depois, quando as forças americanas e britânicas completaram a junção, estando no momento em posição de expulsar definitivamente os alemães da Tunísia, Churchill foi informado que Eisenhower não queria mais invadir a Sicília pela presença de duas divisões alemãs e seis italianas na ilha. Winston ficou furioso:
Esse é um exemplo da fatuidade dos chefes de planejamento, que atiram seus medos para cima uns dos outros, apresentando as maiores dificuldades em cada serviço, fazendo americanos e ingleses rivalizarem uns com os outros na total ausência de uma mente diretora e da vontade de comandar. Não sei o que pensaria Stálin, quando ele teve 185 divisões alemãs diante dele. (<<<pg. 170-172)
Disposto a não abandonar a invasão da Sicília, Churchill viajou novamente aos EUA na companhia de Averell Harriman. No caminho foi informado da vitória das forças aliadas na Tunísia e da captura de cem mil prisioneiros, número que aumentaria para 240 mil até o final do mês. Novamente os sinos repicaram em todas as igrejas da Inglaterra.
A viagem aos EUA se deu no navio Queen Mary onde recebeu mensagem decifrada de que poderiam se encontrar com um dos submarinos alemães que patrulhava a área. Prevendo eventual afundamento do navio Winston ordenou que fosse colocada uma metralhadora no bote salva-vidas que ele usaria em caso de naufrágio.
Harriman registrou suas palavras: “Não serei capturado. A maneira mais bela de morrer é na emoção de lutar contra o inimigo. Não seria assim tão belo se eu estivesse na água quando eles tentassem me pegar.
No encontro com Roosevelt ficou decidido, de novo, que haveria imediatamente o desembarque na Sicília e depois a invasão da Itália. Quando esta estivesse completada se seguiriam operações nos Balcãs e no Sul da Europa.
Deixando os detalhes para os subordinados, Roosevelt e Churchill foram para a casa de campo do Presidente em Shangri-La-Maryland, atualmente denominada Camp-David. 
Em 19/05/1943 Winston falou novamente no Congresso alertando contra divisões que prolongassem a guerra pois “é no arrastar da guerra, a enormes custos, até que as democracias se cansem, se aborreçam ou se dividam, que residem agora as principais esperanças da Alemanha e do Japão.
Essas divisões já existiam, no entanto. Exemplo disso é que os estadunidenses pararam de compartilhar informações sobre a produção da bomba atômica, mas como eles compraram toda produção de urânio e água pesada canadense, os ingleses não tinham como prosseguir na fabricação de uma bomba própria. Em conversa com Roosevelt ficou acertada a volta do compartilhamento de informações.
Deixando os EUA, Churchill voou para Argel, conseguindo convencer Eisenhower dos benefícios de invadir logo a Itália após a tomada da Sicília.  Depois foi a Tunis, onde falou aos soldados em um antigo anfiteatro cartaginês. De volta a Inglaterra falou ao Parlamento sobre a viagem, justificando-a da seguinte forma:
Quando rumamos juntos e ponderadamente pelo difícil e áspero caminho da guerra, ocorrem todos os tipos de divergências, todos os tipos de diferenças de pontos de vista e todas as espécies de embates incômodos. Mas nada disso tem a menor influência em nossa sempre crescente união. Não há nenhuma questão que não possa ser resolvida, face a face, com conversas calorosas e argumentações pacientes. (<<<<<<<pg. 172-175)
A captura de ilhas menores ao redor da Sicília abriam caminho para a invasão. Ao mesmo tempo prosseguiam e aumentavam os bombardeios a cidades alemãs como Wuppertal em 20/06/1943 no qual morreram três mil civis. Ao assistir um filme sobre o ataque Churchill ficou abalado: “Somos animais? Estamos indo longe demais?” Dois dias depois chegou ao conhecimento dele a preparação de um tipo de míssil que poderia atingir Londres quando lançado da França. Foi ordenado, então, o bombardeio de Peenemünde, a pequena cidade onde a arma estava sendo desenvolvida. (pg. 176)
CONTINUA 



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   Não encontramos um significado exato para a palavra pisco, mas seria um termo quechua (do Peru) para ave que dá nome a uma bebida peruana.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Pisco_(bebida)