quinta-feira, 30 de abril de 2015

AS CRUZADAS - I

A CRUZADA DOS POBRES
A tragédia humana que foram as Cruzadas começou a se desenvolver no Concílio de Placência, Itália. Realizado entre os dias 01 e 05 de março de 1095, ele foi convocado pelo Papa Urbano II após o conflito entre Roma e o Imperador Henrique IV, do Sacro Império Romano-Germânico.
Durante a reunião foi apresentado o pedido de socorro do Imperador Bizantino Aleixo I Comneno, que lutava contra os turcos. Ele pretendia o envio de mercenários, mas o que Roma lhe enviou superou suas melhores e piores expectativas.
Diante do pedido de socorro bizantino, o Papa Urbano II vislumbrou a chance de, a partir de uma causa comum, reunir toda a cristandade em torno de um comando único: o dele, é claro!
O Papa, então, convocou outro concílio, marcado para 27 de novembro daquele mesmo ano na cidade de Clermont, atual Clermont-Ferrand, França.
Acima e abaixo, Urbano II em Clermont

Na ocasião Urbano II prometeu o perdão de todos os pecados para os que pegassem em armas e fossem à Terra Santa combater os pagãos. Foi estrondosamente aclamado por ricos e pobres e, a partir dali, ele próprios e as demais autoridades da Igreja passaram a pregar a Guerra “Santa” pela Europa.
Mas, os primeiros a atender o chamado papal e se colocar a caminho de Jerusalém não foram os reis, príncipes e nem mesmo os mercenários. Foram os pobres quem primeiro se colocaram a caminho do Oriente.
Nobres e pobres exultam pela Cruzada
Vários grupos de cruzados foram formados na Europa. Eles ganharam esse nome porque costuravam uma cruz na roupa e muitos venderam tudo que tinham para comprar as armas e demais materiais necessários à viagem.
O pregador mais famoso foi Pedro, o Eremita, um monge de Amiens, França, que reuniu uma multidão de pobres e partiu, sem qualquer planejamento, rumo à Jerusalém através da Hungria e dos Balcãs.
Pedro, o Eremita, arregimenta seu exército
Os problemas começaram já nas estradas pois várias cidades não tinham condições ou recusavam-se a alimentar aquela multidão de peregrinos que, por sua vez, acreditavam ser obrigação das cidades suprir suas necessidades, já que viajavam para cumprir a vontade de Deus.
As primeiras e mais constantes vítimas dessa turba foram os judeus. Em muitas cidades eles foram roubados, atacados, mortos ou convertidos à força. Se a Cruzada era contra os inimigos da cristandade, por que não atacar logo aqueles que estavam mais próximos, no caso os judeus das cidades no caminho da Cruzada? E foi o que fizeram sempre que possível.
Logo, judeus de vários locais da Europa, inclusive nos quais a tropa do Eremita nem passou, sofreram a perseguição de fanáticos e de oportunistas, estes últimos compostos de devedores dos judeus e de quem não lhes devia mas cobiçava as riquezas.
Massacre de Judeus em Metz, França
Rota dos Cruzados Pobres
Tal procedimento resultou em inúmeros conflitos e combates mas, também, no pagamento de grandes somas de riqueza da parte daqueles que preferiam pagar do que arriscar-se a um confronto com os fanáticos cruzados.
Constantinopla e o Estreito de Bósforo
Quando chegaram a Constantinopla a multidão de pobres já tinha perdido cerca de dez mil combatentes. Desapontado por pedir soldados e receber mendigos, Aleixo I Comneno logo providenciou a travessia dos cruzados pelo estrito de Bósforo para a Ásia Menor. Lá, porém, eles ficariam a mercê dos experientes guerreiros turcos, que já os aguardavam.
Pedro, o Eremita, diante de Aleixo I Comneno
A despeito de todos os avisos, os cruzados decidiram atacar logo, mas estavam divididos em dois grupos, por conta de desentendimentos. Um grupo, formado por francos, era comandado por Godofredo Burel e o outro, formado por alemães e italianos, eram comandados por Reinaldo.
Os alemães e italianos tomaram a fortaleza de Xerigordo onde, contudo, foram cercados e, sem água, obrigados a se render, sendo mortos ou escravizados.
Ruínas de Nicéia, atual Iznik
Os demais, que se dirigiram a Nicéia também não tiveram sorte diferente. Foram emboscados e massacrados. Quem se rendeu, mais as crianças, foram poupados. Quem resistiu morreu.
Os pouco mais de 3000 sobreviventes conseguiram retornar a Constantinopla onde foram absorvidos pelos guerreiros de verdade, comandados por Godofredo de Bulhão, comandante da Cruzada dos Nobres.
A Cruzada dos Nobres encontra a Cruzada dos Pobres...


Imagens da Wikicommons.

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