segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

DEUSES EGÍPCIOS - GEB


Olá caro leitor! Nunca é demais renovar nossos votos de um Feliz 2016 para você e todos aqueles a quem ama. Iniciamos hoje uma nova mini série, componente da grande série "O Reino de Clio no Egito Antigo": Os Deuses do Egito Antigo!
Para esta etapa, convidamos nossa amiga e colega de universidade, Carla Oliveira, para pesquisar e escrever sobre alguns dos principais deuses do panteão egípcio.
Pedimos a ela algo bem simples, considerando que nossa intenção primeira é apenas contar boas histórias e não cansar nossos leitores com um conhecimento acadêmico profundo, escrito naquela linguagem iniciática.
Para nossa felicidade, e com sacrifício pessoal, Carla Oliveira aceitou pesquisar e escrever. Os textos que se seguirão são da autoria dela, com pequena colaboração nossa na transformação da escrita acadêmica para a linguagem do blog.

OS DEUSES DO EGITO ANTIGO
 GEB

Por Carla Oliveira Santos

Diferente do que alguns possam acreditar, no Egito Antigo não havia um sistema religioso simples, o que existia era uma delicada e complexa teia, formada por vários deuses e deusas, que representavam, em sua maioria, as forças da natureza, e que eram os legítimos donos do solo e de tudo o que nele havia.
Desde o princípio da civilização egípcia, esse sistema passou por diversas evoluções e foi se enquadrando em muitas categorias; politeísta, henoteísta, monoteísta, politeísta novamente.
Cada cidade egípcia se dedicava ao culto de um ou vários deuses e para adorá-los vários templos e santuários públicos e particulares foram erguidos. Alguns ainda são encontrados hoje em áreas remotas do Egito, a exemplo do Templo de Luxor.
Esses templos eram encarados pela população como a casa dessas divindades e serão tema da próxima etapa de textos.
Uma das divindades mais antigas é GEB. Esse é o deus da terra egípcia, pai de outros quatros deuses. Sabe-se muito pouco a seu respeito.
O conhecimento que chegou até nós foi a imagem de um deus que cuidava de tudo relacionado a agricultura, pois a terra era seu maior domínio. Era ele quem assegurava uma colheita farta, pois tornava o solo fértil com as enchentes do rio Nilo.
Geb era representado como um homem com a cabeça de uma cobra, embora seu animal fosse um ganso e esse o representasse muitas vezes também. As cores que o definiam eram o verde que representava a vida e o preto que representava a lama do Nilo.
Nossa escrita sobre esse deus é, obviamente, limitada ao que foi produzido sobre ele. Seus filhos se tornaram muito mais conhecidos e cultuados.
Enquanto Geb foi um deus primitivo, que parece não ter sobrevivido muito além no tempo, sua prole formou os pilares fundamentais da religião do antigo Egito.

Referência Bibliográfica:
Imagens:
http://en.wikipedia.org/wiki/Geb

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A HISTÓRIA POR TRÁS DO NATAL

UMA FESTA CRISTÃ EMBRULHADA EM PAGANISMO

A celebração ocidental do nascimento de Jesus é uma construção cultural milenar que envolveu uma festa cristã em elementos pagãos.

Vamos verificar os mais importantes elementos componentes dessa comemoração e encontrar a História de cada um deles:

A Data Natalícia:

Se a nosso ver não há dúvidas da existência de Jesus, considerando como fonte o que o insuspeito Flavio Josefo1 escreveu sobre Ele2, por outro lado, sobre Seu nascimento em 25 de dezembro há certeza em contrário por pelo menos três motivos, um bíblico, outro Histórico e, por fim, a palavra de um Papa.

O rigoroso inverno de Israel
Na Bíblia, em Lucas 2:8, afirma-se que pastores “estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho”. Considerando a época de inverno no Hemisfério Norte, os pastores não estariam no frio guardando rebanho algum, de modo que Jesus deve ter nascido em outra estação do ano.

A celebração tinha datas diferentes ao longo do ano3 até que foi estabelecida para a época do início do inverno romano e da festa pagã do Sol Invictus. Os responsáveis por isso foram o Papa Júlio I, que estabeleceu a data no ano 350 d.C. e o Imperador Justiniano, que instituiu o feriado em 529 d.C.4

Papa Julius I - Imperador Justiniano - Papa João Paulo II
Em 22/12/1993 o Papa João Paulo II admitiu que a data de nascimento de Jesus não era conhecida e que a escolha do 25/12 tinha relação com a festa do Sol Invictus5.

A Árvore de Natal:

Embora seja muito bonita a teoria de que Martinho Lutero foi o instituidor do uso do pinheiro enfeitado, que ele teria visto coberto de neve com o céu estrelado ao fundo, inspirando o desejo de ter árvore igual dentro de casa6, povos muito mais antigos que os alemães já usavam as árvores com uma simbologia própria, ligando-as às suas divindades:

Na Assíria a deusa Semiramis havia feito uma promessa aos assírios, de que quem montasse uma árvore com enfeites e presentes em casa no dia do nascimento dela, ela iria abençoar aquela casa para sempre.

Entre os egípcios, o cedro se associava a Osíris. Os gregos ligavam o loureiro a Apolo, o abeto a Átis, a azinheira a Zeus. Os germânicos colocavam presente para as crianças sob o carvalho sagrado de Odin.

Nas vésperas do solstício de inverno, os povos pagãos da região dos países bálticos cortavam pinheiros, levavam para seus lares e os enfeitavam de forma muito semelhante ao que faz nas atuais árvores de Natal. Essa tradição passou aos povos Germânicos.7

O Presépio Natalino:

Um dos poucos símbolos natalinos de origem realmente cristã, o presépio teria sido criado por Francisco de Assis, em 1223, na floresta de Greccio, na Itália, fazendo uso de figuras de argila com o intuito de mostrar às pessoas como fora o nascimento de Jesus.8

Com o tempo a prática foi copiada nas igrejas e catedrais, depois passou a ser adotada pelos nobres e, por fim, foi popularizada, espalhando-se pela Europa e o restante do mundo.9

O Papai Noel:

Há duas pessoas reais por trás da figura do bom velhinho que traz presentes no fim de cada ano.

Um deles é o Bispo Basílio de Cesaréia (na Capadócia – atual Turquia), conhecido como São Basílio Magno. Influente teólogo, apoiador do Credo de Niceia, adversário do arianismo e das ideias de Apolinário de Laodiceia.10, consta que era muito dedicado a cuidar dos pobres e no dia dedicado a ele, 01/01, é momento de trocar presentes na Grécia.

Bispo Basílio - Bispo Nicolau
O segundo, e que parece ser a maior inspiração para a figura do Papai Noel, é o Bispo Nicolau de Mira, ou Nicolau de Bari, benemerente e especialmente dedicado às crianças, ele é o padroeiro “...da Rússia, da Grécia e da Noruega. É o patrono dos guardas noturnos na Armênia e dos coroinhas na cidade de Bari, na Itália, onde estariam sepultados seus restos.11

Sua associação ao Papai Noel, que ocorreu na Alemanha e depois se espalhou pelo mundo, viria da suposta prática sigilosa que adotava para ajudar os necessitados, colocando sacos de moedas nas chaminés das casas.12

Mas, a imagem de São Nicolau, que sempre foi retratado como um bispo católico, não guarda semelhança com o Papai Noel que vemos nas lojas e enfeites natalinos.

Essa imagem foi criada, “...na segunda metade do século 19 pelo ilustrador e cartunista americano Thomas Nast.13

Thomas Nast e sua criação
Em 1915 a primeira campanha publicitária utilizando a imagem criada por Nast foi produzida pela Companhia de Água Mineral White Rock Beverages, e repetida em 1923.13

O Papai Noel levando sua carga de água mineral
Contudo, foi somente em 1931 que a imagem se tornou mundial, através de uma campanha publicitária da Coca-Cola que mostrava o barbudinho “...tomando uma garrafa de Coca-Cola na casa das crianças bondosas.13

A peça publicitária foi criada a partir de uma agência que, a pedido da Coca-Cola, criou o bom velhinho “...caloroso, amigável, agradavelmente gordo e humano, pintado pelo artista Haddon Sundblom.13

Conclusão

Essas constatações servem, além da óbvia informação, para mostrar o quanto a celebração natalina cristã se afastou se seu verdadeiro objetivo, que é celebrar o nascimento de Jesus Cristo.

Qualquer olhar minimamente crítico vai constatar que há muito Jesus deixou de ser o centro das atenções na Própria festa, substituído pelo Papai Noel, o consumismo, a comilança e a bebedeira, as falsidades em muitas reuniões familiares, enfim, uma deturpação avassaladora. Lamentamos isso.

Assim sendo, o Reino de Clio conclama todos a que, neste Natal, Nosso Senhor Jesus Cristo seja lembrado em profunda reflexão e que Seu exemplo, e sua determinação de Amor ao Próximo, possam prevalecer nos corações, por um mundo melhor, mais inclusivo e mais pacífico em 2016.

E recomendamos relembrar um texto do ano passado, que relata um momento maravilhoso da História, no qual a paz prevaleceu entre os homens que tiveram Boa Vontade. Clique aqui e leia, no final da página, o texto “Trégua de Natal”.

Desejamos a todos os nossos leitores, e suas famílias, um Natal cheio de paz, alegria e Amor. Tudo de bom a todos!

Marcello Eduardo

1Flávio Josefo, ou apenas Josefo (em latim: Flavius Josephus; 37 ou 38 — ca. 100 ), também conhecido pelo seu nome hebraico Yosef ben Mattityahu (יוסף בן מתתיהו, "José, filho de Matias [Matias é variante de Mateus]") e, após se tornar um cidadão romano, como Tito Flávio Josefo (latim: Titus Flavius Josephus), foi um historiador e apologista judaico-romano, descendente de uma linhagem de importantes sacerdotes e reis, que registrou in loco a destruição de Jerusalém, em 70 d.C., pelas tropas do imperador romano Vespasiano, comandadas por seu filho Tito, futuro imperador. As obras de Josefo fornecem um importante panorama do judaísmo no século I.

CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disp.: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A1vio_Josefo

2Nessa época havia um homem sábio chamado Jesus. Seu comportamento era bom, e sabe-se que era uma pessoa de virtudes. Muitos dentre os judeus e de outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos condenou-o à crucificação e à morte.

3http://www.suapesquisa.com/historiadonatal.htm

4https://pt.wikipedia.org/wiki/Natal

5http://www.paralerepensar.com.br/josevalgode_aorigemdonatal.htm

6http://www.suapesquisa.com/historiadonatal.htm

7https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rvore_de_Natal

8www.suapesquisa.com/natal/presepio_natal.htm

9https://pt.wikipedia.org/wiki/Pres%C3%A9pio

10https://pt.wikipedia.org/wiki/Bas%C3%ADlio_de_Cesareia

11https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_de_Mira

12https://pt.wikipedia.org/wiki/Papai_Noel


13http://noticias.terra.com.br/coca-cola-e-papai-noel-saiba-como-a-lenda-se-tornou-simbolo,cac46b1cad17a410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html

Imagens:
http://imperfectlyhappy.com/wp-content/uploads/2014/11/the-nativity.jpg
http://www.globallightminds.com/wp-content/uploads/2011/12/birth-of-jesus.jpg
http://morroporcristo.blogspot.com.br/2014/11/35-papa-sao-julio-ano-337-352.html
https://es.wikipedia.org/wiki/Justiniano_I
http://www.acidigital.com/joaopauloii/
http://marldonchristmastrees.co.uk/about-us/
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rajecka_Lesna_Christmas_crib_detail.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_de_Mira
http://catholikblog.blogspot.com.br/2014/01/oficio-de-lectura-tenemos-depositada-en.html
http://mikelynchcartoons.blogspot.com.br/2011/12/thomas-nast-cartoonist-icon-and-bigot.html
http://www.history.com/topics/christmas/history-of-christmas/pictures/history-of-santa-claus/by-thomas-nast-3
http://itthing.com/the-history-of-santa-claus
http://allgodwallpaper.com/?titile=jesus-christ-wallpaper
https://forum.ableton.com/viewtopic.php?f=40&t=200541


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

VISÕES DA INCONFIDÊNCIA - 4



O TECER DE PENÉLOPE – A VISÃO DE JOÃO PINTO FURTADO - Cont...
Dentro das características colocadas por Furtado1 vamos mostrar as que mais se destacam em alguns inconfidentes. Inácio José de Alvarenga Peixoto, poeta sensível, bacharel ilustrado e homem de hábitos refinados, possuía vários escravos e não deixava de instigar alguns homens com os quais ele negociava, pois, segundo o autor, “sistematicamente empregava várias desculpas na hora de arrolar os pagamentos”. (p. 40)
Francisco Antônio de Oliveira Lopes, estava na contramão dos inconfidentes, pois apesar de possuir grande riqueza, não tinha o perfil erudito, “era semi-analfabeto e não possuía um único livro”. (p.41)
O Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade só tinha em mente os próprios interesses pessoais, com expectativa de alcançar status ainda maior na possível nova ordem. 
Inácio Correa Pamplona era chefe de jagunços que combatiam índios e caçavam negros fugitivos cortando pares de orelhas para demonstrar êxito na empreitada.
Joaquim Silvério dos Reis, traidor, que passou para história como referência de corrupção moral e de costumes, conseguiu um prodigioso enriquecimento ao chegar à América Portuguesa, utilizando a denúncia do levante como uma estratégia de obtenção de lucro. (p. 42)
Tomás Antônio Gonzaga tinha ligações diretas com Luís da Cunha Meneses, o fanfarrão Minésio, que tanto criticava, em suas Cartas Chilenas.
Para Tiradentes, Furtado separou um compartimento especial: recebeu queixas do padre Domingos Vital Barbosa Lage, por usar violência, tirania e arbitrariedade contra um clérigo a mando de Luís da Cunha Meneses.
Tinha também como projeto abandonar a carreira militar, (que oferecia baixo soldo) para se tornar empregador de obras e dono de moinhos, que ofereciam expectativas de lucros, mostrando que os inconfidentes, e seus interesses, estavam ligados à sua própria ascensão no plano econômico.
Em outro sub-tópico, intitulado “Diálogo com a Historiografia”, Furtado confronta as proposições de quatro historiadores, de diferentes épocas, com o objetivo de mostrar como a questão relacionada com a Inconfidência Mineira é colocada de maneira insuficiente e superficial, e “como esses textos delimitaram (limitaram) um campo de discussão do qual a maior parte dos historiadores que se seguiram foram tributários”. (p. 49)
Procura mostrar como em diferentes períodos a historiografia se apropriou de questões sobre a Inconfidência Mineira. Analisa o problema da crítica documental e as interpretações presentes em algumas dessas obras historiográficas, tomando como ponto de partida um diálogo crítico. Os teóricos relacionados são: Joaquim Norberto de Souza e Silva (1820-91); Lúcio José dos Santos (1875-1944); Kenneth Maxwell (1941); e Márcio Jardim (1952).
Inicialmente Furtado analisa o processo de obscurecimento em torno dos aspectos importantes da Inconfidência Mineira. 
Com Joaquim Norberto e Lúcio Santos inaugura-se o tema, preservando um tipo de construção narrativa baseado nos procedimentos instituídos do processo judicial: estabelecem os antecedentes (o contexto do crime); a prioridades das idéias (o principal culpado); a conspiração (planos e ações imediatas); a natureza da transformação (a natureza do crime); os agentes (os cúmplices); a traição (a denúncia e o indiciamento); e a repressão (a prisão, o inquérito, e a condenação). 
Para Furtado esses autores se tornaram tributários, e não dão conta da diversidade de interesses e concepções possivelmente presentes no movimento.
Para confrontar esses autores, Furtado levanta a questão acerca do destino dado ao Visconde de Barbacena, governador de Minas Gerais na época do levante. 
Segundo Furtado, Joaquim Norberto defende a hipótese que Barbacena é simplesmente expulso de Minas Gerais. 
Lúcio dos Santos mostra que Barbacena seria morto se oferecesse alguma resistência. Márcio Jardim, baseado em depoimentos de os Autos da devassa Inconfidência Mineira, conclui que provavelmente “a decisão penderia para sua morte”. (p, 51)
Kenneth Maxwell também menciona em seus textos os planos de execução como o fim mais provável.
Furtado coloca que discussões acerca da natureza e o sentido do levante não ocorreram entre os debates historiográficos. 
A denominação de reformistas ou regenerados, revolucionários e liberais, afirma que não é possível decidir essa “natureza-sentido” sem um novo exame da Inconfidência Mineira de 1788-9. Propõe uma leitura “extremamente seletiva, e bem orientada para ação, acerca das transformações que passava o mundo”. (p. 54)
Continua...
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1FURTADO, João P. O manto de Penélope; História, mito e memória da Inconfidência Mineira de 1788-9. (1ª ed.) São Paulo: Cia das Letras, 2002

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A ROMA DO GLADIADOR - V

A ROMA DO GLADIADOR – FICÇÃO E HISTÓRIA - V
COMODUS – À SOMBRA DO PAI

Até que ponto as faltas de um filho são as falhas de um pai?
Busto do verdadeiro Imperador Comodus
 O Filho do Imperador

"Gladiador” apresenta Comodus como um jovem que não vê a hora de ser nomeado sucessor de seu pai, que mal pode esperar para exercer o poder e fazer dele um uso que, acredita, deveria ser feito por seu pai. 
Mas, como já foi dito no texto anterior desta série, ele não matou Marcus Aurelius e já era co-Imperador quando seu pai morreu.
Fica patente, desde o início, o desprezo que sente pela instituição do Senado, e que não reconhece nos senadores os intermediários entre o Imperador e o povo de Roma.
Demonstrando o histórico gosto de Comodus pelos espetáculos, o filme o apresenta, logo no início, planejando jogos e sacrifícios em honra do pai, não ficando claro se com isso rendia realmente homenagens a Aurelius ou se satisfazia os próprios desejos, uma vez que o próprio pai rejeita o sacrifício dos touros que o filho lhe oferece e lhe conclama a honrar Maximus, o verdadeiro vitorioso sobre os germanos.
Sim, Comodus lutava na arena. Mas fazia isso dentro de estritas normas de segurança pessoal, considerando que seus oponentes não receberiam armas reais e dificilmente algum gladiador teria ímpetos de matar o Imperador de quem poderia receber a liberdade e boas recompensas.
O Governo
O filme nos faz imaginar que Comodus teve uma passagem relâmpago pelo poder, que na realidade durou 12 longos anos.
Porém, Ridley Scott apresenta um imperador bastante convincente, muito bem interpretado pelo jovem ator Joaquin Phoenix, que alterna momentos de uma energia furiosa com fragilidade, típicas da idade e da pressão de assumir tão imensa responsabilidade ainda muito jovem.
Mas o roteiro corteja perigosamente o ridículo ao mostrar o Imperador de Roma reconhecendo que tem medo do escuro.
O filme está correto quando demonstra, logo no início do reinado, os problemas do jovem imperador com o Senado e sua irmã, mas não encontramos qualquer indício de que Comodus nutrisse uma paixão incestuosa por Lucila. 
O que se sabe é que ela esteve envolvida na primeira conspiração para matá-lo, no que fracassou e acabou sendo exilada e, depois, executada.
Também é pouco provável a cena que mostra o imperador armado dentro do Senado e uma mulher, no caso sua irmã Lucila, participando da sessão e intervindo nos debates.
Os Jogos
No filme, conforme prometera fazer, Comodus abre uma grande temporada de jogos no Coliseu. Ele justifica sua decisão com duas motivações: uma pública, homenagear o pai; e outra privada, conquistar o povo dando-lhe uma visão da glória de Roma através das lutas no Coliseu, já que a população apenas ouve falar das glórias romanas conquistadas nos campos de batalha, pelas legiões.

Organizar estes jogos custava muito caro aos cofres romanos, e o filme explica que os estoques de cereais estavam sendo vendidos para pagá-los, o que ocasionaria uma temporada de fome mais à frente.
Isso, segundo o filme, justificaria o golpe planejado pelo Senado e por Lucila contra seu irmão. Na verdade, Comodus usava os impostos do Senado para pagar pelos jogos, por isso era bastante impopular entre os ricos, mas popular entre os pobres!
Seu reinado também foi, por paradoxal que pareça, um período de descanso para os cristãos, contra quem as perseguições do império diminuíram bastante!
Enfim, pode-se até dizer que Comodus foi morto por conta das lutas de gladiadores, mas não participando de uma delas.
Seu fim veio por meio de outra conspiração, que envolveu sua amante Márcia e altos personagens do império, auxiliares próximos do Imperador.
A amante de Comodus pediu ao gladiador Narciso que o matasse, o que este fez estrangulando-o durante o banho.
Ou seja, sua morte veio pelas mãos de um gladiador, mas o campo de batalha foi uma banheira, e não as areias do Coliseu.
Continua...

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1 GIBBON, Edward. Declínio e queda do Império Romano. Tradução e notas suplementares de José Paulo Paes. Editora: COMPANHIA DAS LETRAS. São Paulo, 1980.
2 ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Rio de Janeiro; Zahar Editores, 1961.
3 LENDERING, Jona. Legio IIII Flavia Felix. Disp. em http://www.livius.org/le-lh/legio/iiii_flavia_felix.html - Cap. em 14/09/15

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

CÓDIGO DRÁCULA

O CÓDIGO DRÁCULA – I
Este texto nasceu a partir da pesquisa feita para um seminário de História Moderna II da UFS, apresentado em grupo no ano de 20101.
Revisitando velhos arquivos, descobri os slides daquela apresentação que, agora, transformo em um artigo.
Não quero entregar logo a conclusão a que chegamos no decorrer da pesquisa, mas posso dizer, de saída, que acreditamos na hipótese de que Bram Stoker escreveu sua obra fantástica como uma metáfora um pouco diferente das teorias já levantadas.
Assim sendo, claramente nosso primeiro foco deve ser o autor da obra. Quem foi Bram Stoker?
Abraham Stoker2 nasceu em 08/11/1847 em Dublin, Irlanda. Em 1863, aos 16 anos, ingressou no Trinity College, também em Dublin e três anos depois foi trabalhar no Castelo de Dublin, onde escreveu sua primeira obra, “Deveres dos Amanuenses e Escrivães nas Audiências para Julgamento de Pequenas Causas e Delitos na Irlanda”, um manual.
Em 1870 formou-se em Matemática, casou-se oito anos depois com Florence Balcombe, mesmo ano em que se tornou administrador do Royal Lyceum Theater.
No ano seguinte, 1879, nasceu seu único filho, Noel, e foi publicado seu primeiro livro, “The Duties of Clerks of Petty Sessions in Ireland”3.
Em 1882 publicou os contos Under the Sunset e somente oito anos depois, em 1890, começou a explorar o tema que o tornaria famoso: o vampirismo.
No ano seguinte publicou “O Castelo da Serpente”, em 1894 lançou The Watter´s Mou e Croken Sands e um ano depois foi a vez de The Shoulder of Shasta.
Finalmente, em 26/05/1897, foi publicada sua obra prima “Drácula”. Nos anos seguintes foram lançados “Miss Betty” (1898), “Os Sete Dedos da Morte” (1903), The Man (1904), “ Personal Reminiscences of Henry Irving” (1906), “ O Caixão da Mulher-Vampiro” (1909) e “O Monstro Branco” (1911).
Em 1905 Bram Stoker sofreu um derrame cerebral que, contudo, não impediu sua produção. No ano seguinte ao lançamento de “O Monstro Branco” porém, o autor faleceu, em 20/04/1912.
Assim, temos as primeiras pistas de nossa demanda: Bram Stoker nasceu na Irlanda, durante o período em que o país fazia parte do Reino Unido da Gran Bretanha e Irlanda, mais especificamente na época da Grande Fome, (1845-1849), período em que a população diminuiu 30%.
Foi educado em um colégio tradicionalíssimo, de origem inglesa. Muito jovem ingressou no ambiente politizado do funcionalismo público.
Na fase adulta, certamente pôde observar a atuação de Charles Stewart Parnell, político irlandês que foi membro do Parlamento Britânico, e organizou a resistência irlandesa contra o tratamento dispensado ao país pela Inglaterra.
Portanto, de posse dos primeiros indícios do nosso quebra-cabeças, vamos em frente, na busca da solução deste enigma. Esperamos ainda ter sangue correndo nas veias ao fim da jornada!

A ROMÊNIA
Seguimos em nossa jornada para desvendar o Código Drácula. Conhecemos o autor e agora nossos caminhos vão nos levar das agitadas ruas de Dublin, passando pela enevoada Londres, até as misteriosas montanhas dos Cárpatos.
A Inglaterra, a quem a provável maioria dos irlandeses via como opressora, vivia sob o reinado da Rainha Vitória, na chamada Era Vitoriana, um período de expansão e enriquecimento do Império, aumento da população, sucesso da Revolução Industrial e grandes avanços tecnológicos.
Assumindo a posição de superpotência global, a Inglaterra regulava e influenciava o mundo levando sua cultura, seus produtos e seus interesses a todos os continentes.
Dentro do círculo vermelho a Inglaterra. Do outro lado da Europa, a Romênia.
A Romênia, por outro lado, era uma terra ainda semi medieval, desconhecida da maioria dos europeus, mas que provavelmente chamara a atenção dos meios mais bem informados, no qual Bram Stoker estava certamente inserido, ao conquistar o reconhecimento de sua independência em 1878, nos tratados de San Stefano4 e de Berlim5, após a guerra Russo-Turca.
É possível imaginar que foram esses eventos que chamaram a atenção de Bram Stoker sobre a Romênia e não é absurdo imaginar que este tenha tido a curiosidade de saber mais a respeito do misterioso novo país.
É, portanto, plausível crer que foi nessa pesquisa despretensiosa que os dois personagens mais importantes de nossa investigação se cruzaram. Bram Stoker finalmente encontrou o Drácula!
Mas quem era esse desconhecido príncipe valaquio que chamou a atenção do irlandês?
O VERDADEIRO CONDE DRÁCULA
Vlad Draculea (Filho do Dragão), também conhecido como Vlad III ou Vlad Tepes (empalador), era filho de Vlad II Dracul e da Princesa Cneajna da Moldávia.
Nasceu em Sighisoara – Transilvânia, no ano de 1431. Como herdeiro de seu pai, foi o Voivoda (Príncipe) da Valáquia em três ocasiões: 1448, de 1456 a 1462 e em 1476.
Seu caminho até o trono, porém, foi tortuoso. Seu pai se tornou governante em 1436, quando o menino Vlad contava com cinco anos.
Oito anos depois foi entregue aos turcos como refém, passando a ser criado na corte do sultão, mas como uma espécie mais branda de prisioneiro.
Seu pai e seu irmão (Mircea) foram mortos em 1447 e no ano seguinte, com apoio turco, Vlad assumiu o trono.

Seu governo, contudo, foi curto pois no mesmo ano (1448), os húngaros o obrigaram a renunciar e fugir. Três anos depois ele aceitou se tornar um duque vassalo.
Em 1456 conseguiu reunir forças para invadir e dominar a Valaquia, passando a governar com apoio turco.
As ruínas do castelo de Tirgoviste e o Rio Arges.

Vlad estabeleceu sua sede em Tirgoviste, em um castelo às margens do Rio Arges, local onde cometia terríveis atrocidades como ferver as pessoas ou empalá-las vivas.
Em 1462 os aliados turcos tornaram-se inimigos e a guerra começou, obrigando Vlad a fugir para Transilvânia onde acabou sendo preso. Sua esposa cometeu suicídio.
Após oito anos, novamente casado, Vlad foi libertado. Dois anos depois conseguiu voltar ao poder, mas terminou morto, em combate contra os turcos.

PERSONAGENS
Após termos conhecido, no texto anterior, quem foi o verdadeiro Drácula, Bram Stoker se apossou dessa fugira histórica de Vlad Draculea e passou a moldá-la, transformando-a em um ser sobrenatural maléfico.
Muitos teóricos concordam, e nós também, que essa transformação criou um personagem metafórico, cercado por outros de semelhante importância na representação do tempo vivido pelo autor. As supostas metáforas são variadas, diferentes, assim como a que estamos tentando demonstrar.
Entretanto, para essa demonstração, precisamos analisar a obra em busca das pistas necessárias à nossa demanda.
O livro “Drácula” é um romance da chamada Literatura Gótica6, apresentado em forma de fictícias correspondências e transcrições dos diários dos personagens.
Destes, os que nos interessam mais detidamente, e em ordem de importância, são:
CONDE DRÁCULA – Vampiro da Transilvânia que compra terras em Londres.
QUINCEY P. MORRIS – Milionário Texano, pretendente de Lucy.
MINA MURRAY HARKER – Noiva/esposa de Jonathan, vítima de Dracula.
Os demais são:
LUCY WESTENRA – Vítima do vampiro em Londres, amiga de Mina.
ABRAHAM VAN HELSING – Medico chamado para ajudar Lucy.
JONATHAN HARKER – Advogado, noivo/esposo de Mina, vai à Romênia vender terras à Dracula e torna-se seu prisioneiro.
ARTHUR HOLMWOOD – Milionário, escolhido noivo por Lucy.
JOHN SEWARD – Psiquiatra de Carfax, pretendente de Lucy.
RENFIELD – Primeiro advogado a visitar Dracula na Romênia, ele enlouquece à espera de seu mestre em Londres.
No enredo, bem resumidamente, o Conde Drácula compra terras em Londres, começa a atacar pessoas e dá o próprio sangue para Mina, a quem deseja como companheira, iniciando um processo de transformação desta em vampira.
Para combatê-lo e auxiliar o casal Mina/Jonathan Harker, unem-se os amigos John Seward, Quincey Morris e Arthur Holmwood, auxiliados pelo Dr. Abraham Van Helsing.
A leitura da obra vai suscitar algumas perguntas cruciais para nossas investigações:
Por que Vlad Tepes foi a figura escolhida para encarnar o Vampiro, considerando que Stoker jamais esteve na Romênia?
Por que um cientista como Van Helsing valoriza tanto o poder religioso?
Por que somente as mulheres são transformadas em vampiras?
O que faz um típico cowboy americano neste romance gótico da Era Vitoriana?

PRIMEIRAS PISTAS
Apesar das modificações, a essência do personagem histórico Vlad Tepes é mantida por Bram Stoker: alguém que persegue seu direito de governar, sanguinário, conquistador.
Isso demonstra, a nosso ver, que essas características eram buscadas especificamente pelo autor. A peculiaridade excêntrica do personagem, assim como a distância espaço temporal da realidade vitoriana também serviriam para camuflar a natureza metafórica do vampiro.
Selecionamos alguns trechos nos quais o autor define seu personagem pela “voz” do próprio:
"Anseio por percorrer as populosas ruas de sua fabulosa metrópole (…) compartilhar sua vida, suas mudanças, também sua morte…” (pg. 28)

Por acaso é de causar surpresa o fato de termos sido uma raça de conquistadores e sabido sempre exibir todo o nosso orgulho?” (pg. 37)
nós, os szekes, temos toda a razão de ser orgulhosos, pois em nossas veias corre o sangue de muitas raças audazes, que souberam lutar com fúria de leões na conquista da supremacia.” (L&PM. 2009. pg. 47)
E também porque ali dificilmente poderá haver um único metro quadrado de terreno que não tenha sido profusamente regado com o mais heterogêneo sangue humano” (pg. 37)
Um desses trechos contém, a nosso ver, uma tentativa de despiste sobre a verdadeira identidade do Vampiro:
...minha terra não é a Inglaterra. Os caminhos de nossos respectivos países nunca foram sequer semelhantes.” (Nova Cultural. 2003. pg. 29)
A presença do vampiro também insere a dicotomia Bem x Mal na obra, uma vez que representa o mal total. Por outro lado seus adversários, cheios de virtudes, seriam o bem.
Diversos autores também identificam várias outras dicotomias no decorrer da obra tais como Cristianismo x Paganismo, Anglicanismo x Catolicismo, Ciência x Superstição, Racional x Irracional, Modernidade x Tradição, Moralidade x Imoralidade, etc.
As duas principais personagens femininas são, a nosso ver, os pilares opostos da dicotomia Moralidade x Imoralidade.
A noiva/esposa de Jonathan Harker, Wilhelmina Murray Harker, é apresentada como a personificação da moral e da virtude. Professora, trabalhadora empenhada e estudiosa, planeja ser uma esposa útil para o marido.
João Bosco de Almeida Rezende, em seu TCC7, também identifica as dicotomias do Nacionalismo Inglês x Nacionalismo Irlandês no vampiro e a Emancipação Feminina x Resistência Masculina a ela em Mina, a virtuosa e avançada.

Sua melhor amiga, Lucy Westenra, porém, é retratada como uma rica fútil, dedicada às diversões, namoricos e mexericos da alta sociedade.
As demais personagens femininas de interesse são as noivas do vampiro, que vivem em seu castelo e são descritas como fisicamente diferentes:
Duas delas tinham a tez de um moreno dourado, narizes aquilinos (…) olhos grandes, profundos e penetrantes…” (pg. 45 – Nova Cultural 2003)
Mas a terceira era dotada de rara beleza (...) cabeleira de cachos dourados e olhos magníficos, da cor e com o brilho das safiras.” (Idem. pg. 45)
Em resumo, os personagens femininos são etnicamente variados, o que demonstra diferentes nacionalidades, apresentam comportamentos que vão do pudico ao devasso mas são, a despeito de tudo isso, as únicas a serem realmente transformadas em servas do vampiro.
Essa transformação se dá pela inoculação do sangue do vampiro nas vítimas.



O CÓDIGO DRÁCULA – VI
As dicotomias são presentes em toda obra, como vimos anteriormente. Esses limites ficam tênues, porém, na figura do Dr. Van Helsing, um cientista apresentado por Stoker como “...um dos mais destacados cientistas da atualidade.8 que pesquisa o ocultismo e acredita no poder dos símbolos religiosos católicos, como a cruz, a hóstia, e no poder do alho, o que não deixaria de ser um conflito do próprio autor e isso não é novidade, já foi aventado por muitos autores, Rezende7 entre eles.
Também temos o exemplo bem explorado por Rezende, do anglicano Harker, que inicialmente não sabe o que fazer com o crucifixo que lhe foi presenteado para, algum tempo depois, encontrar nele o conforto de um católico devoto:
Ela então levantou-se e, enxugando as lágrimas dos olhos, retirou um crucifixo que trazia no pescoço e estendeu-o em minha direção. De pronto, eu não soube o que fazer, pois como adepto da Igreja Anglicana fora instruído a considerar tais objetos de certa forma como símbolo de um credo da idolatria.” (p. 13 - L&PM 2009)
Que Deus abençoe aquela boa, boníssima mulher que pendurou o crucifixo sobre o meu pescoço, pois sua simples presença material já é para mim um consolo e um refúgio de segurança...” (p. 46 - L&PM 2009)
Contudo, o que surpreende mesmo é, como já foi escrito antes, a presença de um texano, um legítimo cowboy, pretendente à mão de Lucy, no conto gótico vitoriano de Stoker.
O autor lhe atribui virtudes como força e determinação, disposição para ajudar as mulheres e presença em vários lugares do mundo, ao mesmo tempo que relaciona sua postura ao futuro de seu país de origem, os EUA:
Sou um sujeito duro na queda e, mesmo sendo derrubado, sempre caio de pé (...) Sua coragem e sua honestidade fizeram de mim um amigo seu...” (pg. 66 – Nova Cultural 2003)
Que bom sujeito é o Quincey! (...) suportou tudo como um grande herói. Se a América continuar a produzir homens assim, tornar-se-á certamente muito poderosa...” (Martin Claret, pg. 200)
É um sujeito muito bonzinho, um americano do texas, e parece tão jovem e inexperiente que mal podemos acreditar que já conhece tantos lugares. ” (pg. 75 – Martin Claret)
Creio que cheguei exatamente na hora. Basta apenas me dizerem o que terei de fazer ... O sangue de um homem bravo é a melhor coisa na terra para uma mulher em dificuldade.” (Idem, pg. 175)
E, a nosso ver o mais significativo: é o americano quem corta o pescoço do vampiro!

O CÓDIGO DRÁCULA – FINAL
Chegou o momento de apresentar nossas conclusões. Não descartamos as outras teorias existentes, como as questões da sociedade da Era Moderna, a importância do sangue no imaginário do XIX, as transformações culturais e científicas, etc.
Mas acreditamos na plausibilidade de nossa conclusão, ao mesmo tempo em que não encontramos visão semelhante, com exceção do que já foi mencionado.
Vimos que Bram Stoker era um irlandês que nasceu e cresceu durante movimentos que opunham os interesses de seu povo aos ingleses, senhores das ilhas britânicas, o opressor Império onde o Sol jamais se punha.
A fala de Drácula, impregnada de nacionalismo, reivindica seu direito à conquista e à dominação. Sua escolha como personagem demonstra, a nosso ver, que ele não é apenas o “cara mau” desta obra, mas é o grande vilão da vida do irlandês Bram Stoker.
Drácula vampiriza, escraviza com seu sangue, conquista, domina, em cada lugar que vai sua terra impregnada de sangue vai com ele. Por quê?
Porque ele não é apenas uma representação do nacionalismo inglês, ele é a própria Inglaterra, a nação guerreira, conquistadora e opressora, que vampiriza a Irlanda, que a dominava quando esta definhava de fome, que virou as costas à Igreja, que engana, conspira, que faz uso dos mares e dos ventos que impelem sua força naval!
Drácula/Inglaterra miscigena seu sangue em suas colônias, tornando-as suas escravas. Esses domínios jamais vêem o pôr-do-Sol, o que Stoker subverte, fazendo do vampiro um inimigo da Luz.
As mulheres da obra de Stoker são as vítimas preferidas de Drácula. Ele quer sangue e escravas.
Mina, enquanto mocinha virtuosa, trabalhadora e pobre, é a Irlanda de Bram Stoker. As demais mulheres, tão diferenciadas entre si, são as outras colônias inglesas.
O ato de contaminar essas mulheres, tornando-as suas escravas, representa a miscigenação, já mencionada, mas também a influência cultural inglesa que se espalha corrompendo os valores caros ao autor.
Mina, que resiste, auxiliando os amigos, é a esperança de Stoker. O autor coloca seu país na vanguarda da luta contra o “mal”.
A fé católica, mostrando sua força perante o anglicanismo, age como força de salvação, como ponto de união dos irlandeses contra a vampirização inglesa, contra aqueles que adotaram uma nova religião.
Do irlandês Stoker, não poderíamos esperar nada diferente, embora possamos notar seus desejos de uma união com a ciência, o que certamente demonstra seu encanto e cuidado com os avanços de seu tempo.
O cowboy americano é jovem, viril, ainda puro e destemido. Suas andanças fazem dele um cidadão do mundo que não teme oferecer o próprio sangue em auxílio às mulheres.
É ele quem transpassa o coração do vampiro e liberta o mundo do opressor. É o herói de Bram Stoker.
Rezende defende que Stoker percebe a "...crescente relevância dos Estados Unidos no cenário mundial..."7 (pg. 42), e concordamos com ele. Para nós o cowboy é os Estados Unidos, que venceu os ingleses, terra da liberdade para onde acorrem levas de irlandeses em busca de paz, em quem Stoker deposita a fé em uma contraposição aos ingleses no mundo. Fé na Liberdade.
Sua morte, ao final, para nós representa apenas um desfecho heroico. O que importa, contudo, é a projeção dos EUA como uma nação poderosa no futuro, já citada antes.
Esta é, portanto, nossa visão a respeito do que pode estar por trás da obra de Bram Stoker.
Discordamos de Rezende quando coloca a obra como um estímulo aos “...irlandeses de todas as partes do mundo, principalmente os da América, para lutar pela libertação de sua terra natal.7(pg. 42)

Seria uma linguagem tão cifrada que a maioria de seus compatriotas não conseguiria decifrar.

A nosso ver a obra é uma crítica refinada e muito camuflada à superpotência britânica. Como funcionário público Stoker talvez não tenha intentado ir tão longe a ponto de se arriscar pessoalmente.

A despeito disso, porém, admitindo a veracidade de nossa tese, isso faria de nosso autor um nacionalista irlandês criticando a Inglaterra de dentro da própria sociedade inglesa e, ironia fina, sendo aplaudido por ela!
FIM

REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO
FIGUEIRA, Divalte Garcia. História. São Paulo: Editora Ática,2002
STOKER, Bram. Drácula. Trad. Vera M. Renoldi. São Paulo: Nova Cultural, 2002.
_____________. Drácula. In: Os três maiores clássicos da literatura de terros. Org. Stephen King. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
_____________. Drácula. Trad. Theobaldo de Souza. Porto Alegre: L&PM Editora, 2009.
_____________. Drácula. Martin Claret.
1Componentes: Carla Oliveira, Valéria Maria, Antônio Éverton, Gerson Alves, Robson Castro e Marcello Eduardo.
2https://pt.wikipedia.org/wiki/Bram_Stoker
3Os Deveres dos Oficiais de Seções Petty na Irlanda (tradução livre).
4O Tratado Preliminar de Santo Estêvão (3 de março de 1878) foi o acordo que o Império Russo impôs ao Império Otomano após vencer os turcos na guerra russo-turca de 1877-1878. Foi assinado em Santo Estêvão (grego: Agios Stephanos, atualmente Yeşilköy), vilarejo ao oeste de Istambul, na Turquia, pelo conde Nicolau Pavlovitch Ignatiev e Alexandre Nelidov por parte do Império Russo e pelo ministro de assuntos exteriores Safvet Paxá e o embaixador na Alemanha Sadullah Bey por parte do Império Otomano.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Santo_Est%C3%AAv%C3%A3o

5O Tratado de Berlim, concluído em 13 de julho de 1878, foi acordado entre as principais potências da Europa e o Império Otomano, e determinou o estabelecimento de um verdadeiro regime de controle permanente sobre a administração interna do império, de maneira a garantir o que os europeus invocavam como um mínimo aceitável de direitos, em particular a "liberdade religiosa" para os cidadãos submetidos à lei turca[1] .

Assinado no final do Congresso de Berlim, modificou o Tratado de Santo Estêvão, ao qual se opunham o Reino Unido e o Império Austro-Húngaro, e que instituía a "Bulgária Maior".

Tratado de Berlim reconheceu a independência dos reinos da Roménia, em 1881, da Sérvia, em 1882, de Montenegro, em 1910 e a autonomia da Bulgária, embora esta última permanecesse sob tutela formal do Império Otomano e fosse dividida em três partes: o Principado da Bulgária, a província autónoma da Rumélia Oriental e a Macedónia, devolvida aos otomanos, impedindo os planos russos para uma Bulgária Maior russófila[2] . A província otomana da Bósnia e Herzegovina, bem como o antigo Sanjak de Novi Pazar, foram colocados sob ocupação austro-húngara, embora formalmente continuassem a integrar o Império Otomano.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Berlim_%281878%29

6A literatura gótica inicia-se no século XVIII, na Inglaterra, com a obra O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole. Costuma-se destacar, como algumas das principais características desse tipo de literatura, os cenários medievais (castelos, igrejas, florestas, ruínas), os personagens melodramáticos (donzelas, cavaleiros, vilões, os criados), os temas e símbolos recorrentes (segredos do passado, manuscritos escondidos, profecias, maldições).

Outras leituras possíveis da literatura gótica envolvem destacar nos romances o uso da psicologia do terror (o medo, a loucura, a devassidão sexual, a deformação do corpo), do imaginário sobrenatural (fantasmas, demônios, espectros, monstros), das reflexões sobre o Poder (colonialismo, o papel da mulher, sexualidade), da discussão política (monarquismo, republicanismo, as Revoluções, a industrialização), dos aspectos religiosos (catolicismo, protestantismo, a Inquisição, as Cruzadas), das concepções estéticas (neoclassicismo, romantismo, o Sublime) e filosóficas (a Natureza, Platão, Aristóteles, Rousseau), além de outras possíveis chaves interpretativas.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_g%C3%B3tica

7(p. 119 – L&PM 2009)

8REZENDE, João Bosco de Almeida. Por trás das sombras: uma análise das representações em Drácula. UFS, São Cristóvão, 2007




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1Componentes: Carla Oliveira, Valéria Maria, Antônio Éverton, Gerson Alves, Robson Castro e Marcello Eduardo.
2https://pt.wikipedia.org/wiki/Bram_Stoker
3Os Deveres dos Oficiais de Seções Petty na Irlanda (tradução livre).
4O Tratado Preliminar de Santo Estêvão (3 de março de 1878) foi o acordo que o Império Russo impôs ao Império Otomano após vencer os turcos na guerra russo-turca de 1877-1878. Foi assinado em Santo Estêvão (grego: Agios Stephanos, atualmente Yeşilköy), vilarejo ao oeste de Istambul, na Turquia, pelo conde Nicolau Pavlovitch Ignatiev e Alexandre Nelidov por parte do Império Russo e pelo ministro de assuntos exteriores Safvet Paxá e o embaixador na Alemanha Sadullah Bey por parte do Império Otomano.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Santo_Est%C3%AAv%C3%A3o

5O Tratado de Berlim, concluído em 13 de julho de 1878, foi acordado entre as principais potências da Europa e o Império Otomano, e determinou o estabelecimento de um verdadeiro regime de controle permanente sobre a administração interna do império, de maneira a garantir o que os europeus invocavam como um mínimo aceitável de direitos, em particular a "liberdade religiosa" para os cidadãos submetidos à lei turca[1] .

Assinado no final do Congresso de Berlim, modificou o Tratado de Santo Estêvão, ao qual se opunham o Reino Unido e o Império Austro-Húngaro, e que instituía a "Bulgária Maior".

Tratado de Berlim reconheceu a independência dos reinos da Roménia, em 1881, da Sérvia, em 1882, de Montenegro, em 1910 e a autonomia da Bulgária, embora esta última permanecesse sob tutela formal do Império Otomano e fosse dividida em três partes: o Principado da Bulgária, a província autónoma da Rumélia Oriental e a Macedónia, devolvida aos otomanos, impedindo os planos russos para uma Bulgária Maior russófila[2] . A província otomana da Bósnia e Herzegovina, bem como o antigo Sanjak de Novi Pazar, foram colocados sob ocupação austro-húngara, embora formalmente continuassem a integrar o Império Otomano.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Berlim_%281878%29

6A literatura gótica inicia-se no século XVIII, na Inglaterra, com a obra O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole. Costuma-se destacar, como algumas das principais características desse tipo de literatura, os cenários medievais (castelos, igrejas, florestas, ruínas), os personagens melodramáticos (donzelas, cavaleiros, vilões, os criados), os temas e símbolos recorrentes (segredos do passado, manuscritos escondidos, profecias, maldições).

Outras leituras possíveis da literatura gótica envolvem destacar nos romances o uso da psicologia do terror (o medo, a loucura, a devassidão sexual, a deformação do corpo), do imaginário sobrenatural (fantasmas, demônios, espectros, monstros), das reflexões sobre o Poder (colonialismo, o papel da mulher, sexualidade), da discussão política (monarquismo, republicanismo, as Revoluções, a industrialização), dos aspectos religiosos (catolicismo, protestantismo, a Inquisição, as Cruzadas), das concepções estéticas (neoclassicismo, romantismo, o Sublime) e filosóficas (a Natureza, Platão, Aristóteles, Rousseau), além de outras possíveis chaves interpretativas.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_g%C3%B3tica

7REZENDE, João Bosco de Almeida. Por trás das sombras: uma análise das representações em Drácula. UFS, São Cristóvão, 2007

8(p. 119 – L&PM 2009)

REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO
FIGUEIRA, Divalte Garcia. História. São Paulo: Editora Ática,2002
STOKER, Bram. Drácula. Trad. Vera M. Renoldi. São Paulo: Nova Cultural, 2002.
_____________. Drácula. In: Os três maiores clássicos da literatura de terros. Org. Stephen King. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
_____________. Drácula. Trad. Theobaldo de Souza. Porto Alegre: L&PM Editora, 2009.
_____________. Drácula. Martin Claret.