terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A ROMA DO GLADIADOR - FIM

A ROMA DO GLADIADOR – FICÇÃO E HISTÓRIA - VI
PÃO E CIRCO!
Sabe-se da importância que era dada aos jogos em Roma (como parte da política do pão e circo) pela quantidade de arenas e anfiteatros espalhados por todo o império, cujas ruínas até hoje dão testemunho.
Os jogos distraiam a atenção do povo oprimido, enquanto o pão lhes matava a fome. Alimentado e bem distraído, o povo não parava para avaliar sua situação social e política, amava os governantes que lhes proporcionavam aquela vida e, indiretamente, davam-lhes a popularidade que precisavam para manter o poder.
Distribuição de pães aos cidadãos no Coliseu
Esta prática de legitimação popular do poder é muito bem representada na obra de Ridley Scott. A necessidade de dramatização, porém, faz com que logo a História saia de cena novamente.
No filme, o Imperador se vê num dilema ao descobrir que seu grande inimigo, Máximus, está vivo e se tornara um gladiador vitorioso.

Como este conquistara o povo com suas vitórias na arena, (e vivia desafiando o imperador, virando-lhe as costas, desobedecendo suas ordens, etc), matá-lo não seria fácil. Como o próprio filme mostra, seria preciso, primeiro, matar-lhe o nome. É o que Comodus tenta fazer quando resolve enfrentar o general na arena.
É sabido que o verdadeiro Comodus venceu torneios de gladiadores, todos arranjados, é claro, pois seus oponentes portavam armas falsas. Há divergências quando a isso, pois se há quem acredite que o imperador fazia apenas algumas apresentações restritas, por outro lado há quem acredite que ele lutava no próprio Coliseu e que cada aparição do imperador custava 1 milhão de sestércios de cachê, segundo as informações extras do filme.

Fazendo jus às informações históricas de lutas arranjadas, Ridley Scott mostra o Imperador ferindo Maximus antes do confronto, para ficar em vantagem. Como o povo não estaria ciente da situação, ele espera ganhar a fama por derrotar o grande campeão na arena. Mas Maximus é tão melhor guerreiro que, mesmo ferido e desarmado, consegue matar o Imperador com a própria arma deste!
Contudo, o verdadeiro Comodus não morreu na arena. Uma conspiração, que envolveu até mesmo sua amante preferida, logrou introduzir um lutador chamado Narciso nos aposentos do Imperador onde o matou estrangulado.
Esta foi a morte real do Imperador que, se por um lado demonstrava pouco apreço pelo posto que ocupava e pela governança, por outro nomeou administradores militares e políticos competentes, garantiu o abastecimento alimentício de Roma e demonstrou inclinação pelos menos favorecidos, a exemplo dos cristãos, a quem pouco perseguiu, agindo menos contra estes do que seu pai, tão humanista.

Como se vê, uma personalidade bem diferente daquela dicotomia “bem x mal” que o filme apresenta para deleitar os expectadores.
Enfim, morto o vilão, o filme caminha rapidamente para o final, prisioneiros livres, Roma livre, pronta para a democracia. Maximus pode, então, seguir para a outra vida e reencontrar sua família, pode, finalmente, “voltar para casa”.
Na verdade, após a morte de Comodus, Roma atravessou um período de grande instabilidade que só terminou com a posse de Septimo Severo em 193 d.C. Roma jamais voltou a ser uma República.

FIM
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1 GIBBON, Edward. Declínio e queda do Império Romano. Tradução e notas suplementares de José Paulo Paes. Editora: COMPANHIA DAS LETRAS. São Paulo, 1980.
2 ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Rio de Janeiro; Zahar Editores, 1961.
3 LENDERING, Jona. Legio IIII Flavia Felix. Disp. em http://www.livius.org/le-lh/legio/iiii_flavia_felix.html - Cap. em 14/09/15

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