terça-feira, 19 de julho de 2016

O CÓDIGO DRÁCULA – V

O CÓDIGO DRÁCULA – V
Apesar das modificações, a essência do personagem histórico Vlad Tepes é mantida por Bram Stoker: alguém que persegue seu direito de governar, sanguinário, conquistador.
Isso demonstra, a nosso ver, que essas características eram buscadas especificamente pelo autor. A peculiaridade excêntrica do personagem, assim como a distância espaço temporal da realidade vitoriana também serviriam para camuflar a natureza metafórica do vampiro.
Selecionamos alguns trechos nos quais o autor define seu personagem pela “voz” do próprio:
"Anseio por percorrer as populosas ruas de sua fabulosa metrópole (…) compartilhar sua vida, suas mudanças, também sua morte…” (pg. 28)

Por acaso é de causar surpresa o fato de termos sido uma raça de conquistadores e sabido sempre exibir todo o nosso orgulho?” (pg. 37)
nós, os szekes, temos toda a razão de ser orgulhosos, pois em nossas veias corre o sangue de muitas raças audazes, que souberam lutar com fúria de leões na conquista da supremacia.” (L&PM. 2009. pg. 47)
E também porque ali dificilmente poderá haver um único metro quadrado de terreno que não tenha sido profusamente regado com o mais heterogêneo sangue humano” (pg. 37)
Um desses trechos contém, a nosso ver, uma tentativa de despiste sobre a verdadeira identidade do Vampiro:
...minha terra não é a Inglaterra. Os caminhos de nossos respectivos países nunca foram sequer semelhantes.” (Nova Cultural. 2003. pg. 29)
A presença do vampiro também insere a dicotomia Bem x Mal na obra, uma vez que representa o mal total. Por outro lado seus adversários, cheios de virtudes, seriam o bem.
Diversos autores também identificam várias outras dicotomias no decorrer da obra tais como Cristianismo x Paganismo, Anglicanismo x Catolicismo, Ciência x Superstição, Racional x Irracional, Modernidade x Tradição, Moralidade x Imoralidade, etc.
As duas principais personagens femininas são, a nosso ver, os pilares opostos da dicotomia Moralidade x Imoralidade.
A noiva/esposa de Jonathan Harker, Wilhelmina Murray Harker, é apresentada como a personificação da moral e da virtude. Professora, trabalhadora empenhada e estudiosa, planeja ser uma esposa útil para o marido.
João Bosco de Almeida Rezende, em seu TCC7, também identifica as dicotomias do Nacionalismo Inglês x Nacionalismo Irlandês no vampiro e a Emancipação Feminina x Resistência Masculina a ela em Mina, a virtuosa e avançada.

Sua melhor amiga, Lucy Westenra, porém, é retratada como uma rica fútil, dedicada às diversões, namoricos e mexericos da alta sociedade.
As demais personagens femininas de interesse são as noivas do vampiro, que vivem em seu castelo e são descritas como fisicamente diferentes:
Duas delas tinham a tez de um moreno dourado, narizes aquilinos (…) olhos grandes, profundos e penetrantes…” (pg. 45 – Nova Cultural 2003)
Mas a terceira era dotada de rara beleza (...) cabeleira de cachos dourados e olhos magníficos, da cor e com o brilho das safiras.” (Idem. pg. 45)
Em resumo, os personagens femininos são etnicamente variados, o que demonstra diferentes nacionalidades, apresentam comportamentos que vão do pudico ao devasso mas são, a despeito de tudo isso, as únicas a serem realmente transformadas em servas do vampiro.
Essa transformação se dá pela inoculação do sangue do vampiro nas vítimas.
Continua...
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1Componentes: Carla Oliveira, Valéria Maria, Antônio Éverton, Gerson Alves, Robson Castro e Marcello Eduardo.

2https://pt.wikipedia.org/wiki/Bram_Stoker

7REZENDE, João Bosco de Almeida. Por trás das sombras: uma análise das representações em Drácula. UFS, São Cristóvão, 2007

8(p. 119 – L&PM 2009)

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