quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O LIVRO DOS MORTOS EGÍPCIO III – TRIBUNAL DE OSIRIS

NO TRIBUNAL DE OSÍRIS

O Livro dos Mortos possui esse nome por conta dos historiadores. Os egípcios, porém, o chamavam de “Capítulos do Sair à Luz ou Fórmulas para Voltar à Luz (Reu nu pert em hru)1, e isso significava vencer os desafios e armadilhas que estavam colocadas em seu caminho na vida após a morte.

Testemunha da História do Egito, o livro apresentou variações ao longo dos séculos. Capítulos entraram ou saíram de sua composição de acordo com as variações culturais das épocas e a qualidade de sua feitura revela os tempos de crise ou bonança da terra dos Faraós.

Os períodos do auge das dinastias nos legaram as cópias feitas com maior esmero e beleza, enquanto os períodos de transição ou agitação social mostram-se em cópias mal feitas ou de qualidade inferior.

A caminhada, porém, era uma só e o julgamento no Tribunal de Osíris era o ponto culminante dela. Ao chegar para seu julgamento, a alma do morto é conduzida ao salão pela deusa Maat, da Justiça. 
A Balança de Anúbis. À esquerda o coração e, á direita, a pena da Verdade.
Nele já estão presentes os deuses Hórus e Osíris, este último em seu trono, portando os símbolos de seu poder, o cetro e o leque. Ele está em companhia de Ísis e Néftis, suas irmãs, posicionadas atrás do trono.

O deus Toth (direita), perante Osíris em seu trono (roupa vermelha) com uma de suas irmãs atrás (esquerda).
O júri, se é que podemos chamar assim, pois nos parece que sua deliberação é apenas confirmar o resultado já dado pela balança de Anúbis, é composto por 42 juízes, um para cada província do Egito, e também está presente.

Os Juízes, representando as províncias do Egito.
No meio do salão está a balança onde o coração da alma será pesado em comparação à pena da verdade, uma pena de avestruz. O resultado esperado deve ser um empate. O deus Anúbis (cabeça de chacal) faz a pesagem que é anotada por Toth (cabeça de ibis) em um papiro.

A pesagem também é assistida pelo esfomeado Ammut, um monstro com cabeça de crocodilo e um corpo que é parte leão, ou outros felinos, e hipopótamo. Suas refeições são garantidas por aqueles cuja balança de Anúbis revelam um coração mais pesado que a pena da verdade.

Anúbis conduz a alma e pesa seu coração. No centro o monstro Ammut espera uma refeição. À esquerda Toth anota o resultado.
Antes da pesagem, porém, a alma deve, perante os juízes, declarar que não cometeu um certo número de pecados. Essa declaração negativa traz grande semelhança com os Dez Mandamentos da Bíblia, e será tema de texto posterior.

Feita a declaração, o coração da alma é, então, pesado e, em caso de aprovação, Hórus conduzirá a alma até diante de Osíris, que vai lhe indicar seu destino no Além. O ideal de Paraíso egípcio é representado por um campo de juncos, o que significa um oásis.  
Hórus apresenta a alma aprovada a Osíris. Atrás dele as irmãs Ísis e Néftis.
Não se tem notícia de algum momento anterior na História escrita em que alguma outra civilização tenha demonstrado a preocupação com o julgamento das almas de seus mortos a partir de um código escrito de conduta ética. O Livro dos Mortos é o indício histórico que coloca os egípcios à frente na corrida rumo ao Campo dos Juncos!

O escriba Nebqed, na companhia de sua esposa Meryt, e sua mãe Amenemheb, apresentam-se, aprovados, a Osíris. No centro a mesa de oferendas.



Continua...


Imagem:
http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Judgement_of_Osiris?uselang=pt-br
http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Book_of_the_Dead?uselang=pt-br#mediaviewer/File:Egypt_bookofthedead.jpg
1http://www.tolledo.net/artigoV2/114/O_Livro_dos_Mortos_do_Antigo_Egito.html

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