OS CRISTÃOS CANIBAIS DE MAARA
Em 02/06/1098, por meio da
traição do fabricante de armaduras Firouz, que abriu uma passagem por onde os
cruzados puderam entrar, os cristãos conquistaram Antioquia.
Uma vez dentro da cidade, as
tropas cruzadas promoveram um massacre sem precedentes até aquele momento.
Muçulmanos, judeus e até mesmo cristãos foram passados à espada, “Homens, mulheres e crianças tentam fugir
pelas ruelas lamacentas, mas os cavaleiros os alcançam sem esforço e
cortam-lhes o pescoço imediatamente.” 1
Após a vitória que lhes
rendeu a tomada de Antióquia, os líderes cruzados disputaram o poder político
sobre a cidade e, por fim, Raimundo de Toulouse decidiu partir rumo a
Jerusalém. Boemundo ficou com a cidade para si, estabelecendo o segundo estado
cruzado.
Antes de partir para
Jerusalém, os cruzados voltaram os olhos para a cidade de Maara al-Numan (na
atual Síria), sob domínio fatímida.2 Mesmo após a tomada de cidades grandes, e o massacre de suas populações, os cruzados continuavam sofrendo com a falta de alimentos (e com uma epidemia 3), de modo que passaram a enviar expedições aos arredores das cidades para saquear. 4
Maara sofreu ataque antes de
Antioquia (Julho/1098) mas repeliu os invasores que rumaram para o Sul, deixando-a
em paz. Em Novembro
eles voltaram.
Mas a cidade resistiu por
duas semanas, apesar de seus defensores serem poucos , pois “Maara não
possui exército, tem apenas uma simples milícia urbana a qual se juntam
rapidamente centenas de jovens sem experiência militar."5 A sorte só mudou quando, em 11/12/1098, os cruzados construíram uma torre que permitiu transpor as muralhas externas.6 Os habitantes se esconderam na área interna da cidade e os saques começaram.
No dia seguinte, 12/12/1098,
foram iniciadas as negociações. Os muçulmanos e Boemundo de Taranto acordaram
que os primeiros se renderiam e o segundo lhes garantiria salvo-conduto. Os
muçulmanos, então, se renderam aos cruzados que...os massacraram impiedosamente.7
O historiador muçulmano Ibn
al-Athir, descreve em sua obra “Al-Kamil Fi tem Tarikh” (História Completa) que
100 mil muçulmanos foram mortos. Amin Maalouf discorda. Para ele “Os números
de Ibn al-Athir são evidentemente fantasiosos, pois a população da cidade, na
véspera de sua queda, era provavelmente inferior a dez mil habitantes.”8.
Contudo, sejam quantos forem, milhares de pessoas foram covardemente
assassinadas.
Mas Maara não tinha recursos
tantos que pudessem encerrar os problemas de alimentação dos cruzados. E, para
complicar, as disputas pela posse de Antióquia fizeram a marcha para Jerusalém
demorar mais que o necessário para partir. O resultado foi que, em pleno inverno, a fome se instalou entre as tropas cruzadas. Em Maara eles literalmente devoraram os muçulmanos mortos.
Esses eventos terríveis não
são fruto da imaginação de algum exagerado cronista muçulmano. O relato vem do
cronista franco, portanto cristão, Raoul de Caen: “Em Maara, os nossos faziam ferver
os adultos em caldeira, fincavam as crianças em espetos e as devoravam
grelhadas"9 A notícia é confirmada em carta escrita ao papa, por chefes cruzados francos. Eles informaram ao sumo pontífice que "Uma terrível fome assolou o exército de Maara e o colocou na cruel necessidade de se alimentar dos cadáveres dos sarracenos.”10
Esses atos
terríveis marcaram de forma indelével o inconsciente coletivo do
povo muçulmano. Até os dias atuais a “Invasão Franca”, como as
cruzadas são chamadas no mundo muçulmano, causam comoção por lá
e, recentemente, o Estado Islâmico justificou decapitações de
cristãos como uma vingança pelos massacres das cruzadas, o que é
absurdo, mas ilustra o caso.
Voltando ao passado, pelo que se percebeu na época, as notícias dos eventos de Maara al-Numan correram a região e reduziram a resistência ao avanço cruzado. Cidades maiores e menores passaram a enviar suprimentos e tesouros como presentes aos invasores, visando mantê-los longe de seus muros. O caminho para Jerusalém estava aberto... 11
Voltando ao passado, pelo que se percebeu na época, as notícias dos eventos de Maara al-Numan correram a região e reduziram a resistência ao avanço cruzado. Cidades maiores e menores passaram a enviar suprimentos e tesouros como presentes aos invasores, visando mantê-los longe de seus muros. O caminho para Jerusalém estava aberto... 11
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1 MAALOUF,
Amin. As Cruzadas vistas pelos Árabes.
4ª ed. SP: Brasiliense. 1994. pg. 41
2 MICHAUD,
Joseph-François. História das Cruzadas –
Volume I. Trad.: Pe. Vicente Pedroso. SP: Editora das Américas. 1956. pg. 348
3 Ibid.
pg. 341
4 Ibid.
pg. 343
5 (MAALOUF:
1994) pg. 46
6 RUNCIMAN,
Seteven. Historia de las Cruzadas I.
6ª edição. Madrid: Alianza Universi-dad. 2002. pg. 246 (Tradução Livre)
7 (MAALOUF:
1994) pg. 46
8 Ibid
pg. 46
9 Ibid
pg. 47
10 Ibid. pg. 47
11 Ibid. pg. 48
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