CÉSAR CRUZA O RUBICÃO
Em um dia 10/01 como hoje, no ano 49 a.C., Júlio César,
acompanhado da XIII Legião, atravessou o Riacho Rubicão, em Ariminum (atual
Rimini – Itália), cruzando assim a fronteira italiana da época e violando a lei
do Senado que proibia o ingresso de Generais e Legiões armadas na Itália.
A República Romana vivia seus momentos
finais, embora parecesse restaurada após a ditadura de Sila. Quando este
morreu, o poder retornou a um Senado desconectado do povo e incapaz de
reassumir, de fato, o comando do império que Roma já se tornara.1
Com isso, recorreu-se ao suporte de
figuras aliadas de Sila, mas capazes de reunir apoio popular, apesar de
oriundas das classes dominantes. O poder passou a se concentrar em Cneu Pompeu e Marco
Crasso.2
O Triunvirato
Pompeu conquistara fama e fortuna
vencendo a rebelião de Sertório, na Hispania, também vencera o Rei Mitridates e
eliminara os piratas do Mar Mediterrâneo.5 Contudo
os senadores estavam receosos do poder acumulado pelo general, por eles mesmos
conferido, e passaram a cerceá-lo.6
Uma vez terminadas as campanhas
militares, Pompeu e Crasso deveriam devolver os postos de comando, o que não
fizeram. E o Senado não tinha como forçá-los sem iniciar uma guerra civil.7
Para garantir o apoio do partido popular,
ambos fizeram acordo com um dos sobrinhos de Mário que conseguira escapar da
perseguição de Sila. Seu nome? Júlio César!8
O acordo político dos três garantia “assistência
mútua entre si para dividir o poder” entre eles mesmos e seus
aliados nascendo, assim, o sistema que ficou conhecido como Primeiro
Triunvirato.9
Este sistema de alianças permitiu que
César chegasse ao Consulado e conseguisse, depois, o mandato para atuar na
Gália. Esta guerra, como se sabe, lhe garantiu imensa riqueza e fama,
equiparando-o, e até superando, seus dois parceiros de poder.
Apesar dos imensos egos que suportava, o
acordo correu bem até que a morte os separou. Em 54 a.C. a esposa de Pompeu,
Júlia, morreu de parto. Ela era filha de César.10 E
no ano seguinte, 53 a.C.,
quem morreu foi Crasso, quando seu exército foi massacrado na Partia.11
Com esta morte, o equilibrio do
Triunvirato acabou pois “A graça do triunvirato residia na sua inerente
estabilidade, pois nenhum dos seus membros podia contra os outros dois”.12
O iminente retorno de César vitorioso e
super rico da Gália fez com que seus adversários do Senado instigassem Pompeu
contra ele. A estratégia consistiu, segundo Sheppard, em fazê-lo voltar a Roma
sem a imunidade do cargo de Cônsul, para poder acusá-lo e derrotá-lo, apesar de
um acordo ter sido aprovado “...por ampla maioria: 370 votos contra 22.”13
Os 22, porém, conseguiram vetar os votos
dos 370 e “O fato de os poucos senadores poderem vetar uma medida com apoio
tão amplo era apenas um dos sinais do estado de deterioração das instituições
democráticas de Roma.”14
Lissner compara Roma a uma nau sem
piloto, entregue à anarquia: “O Senado era corruptível, a Constituição
estalava por todos os lados e as tribunas dos oradores estavam muitas vezes
manchadas de sangue...”15
Quando Pompeu finalmente aderiu aos
inimigos de César, o confronto direto deixou de ser apenas uma das opções,
passando a ser a única.16
Os primeiros embates da Guerra Civil,
porém, ocorreram não nos campos de batalha, mas no piso do Senado. Uma série de
medidas legislativas, algumas apenas de fachada, outras aprovadas e depois
vetadas, resultou, por fim, na declaração de César como fora da lei.17
Com suas conquistas e a própria vida em
risco, César dirigiu-se a Ariminum, onde o Rio Rubicão marcava a fronteira da
Itália, na qual pela lei ele não poderia entrar liderando tropas.18
Plutarco descreve assim o momento
decisivo: “Havendo, pois, chegado ao Rio Rubicão, […] parou pensativo e
esteve por algum tempo meditando sobre o atrevimento de suas ações. Depois […]
sem articular mais palavras do que esta expressão […] - A sorte está
lançada...- fez com que as tropas atravessassem o rio.”19
César estava voltando pra casa!
1 SHEPPARD,
Si. Grandes Batalhas - Farsália 48 a.C. César contra Pompeu. Osprey –
Espanha 2010. pg. 10
2 Idem
3 MENDES,
Norma Musco. Roma Republicana. São Paulo: Ática,
1988. pg. 67
4 BRANDÃO,
José Luís (coord.); OLIVEIRA, Francisco de (coord.). História de Roma
Antiga volume I: das origens à morte de César. Coimbra-Portugal:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015. pg.373
5 GRIMAL,
Pierre. História de Roma. Trad. Mª L. Loureiro. São Paulo:
UNESP , 2011. pg. 106
6 (MENDES: 1988) pg.
67
7 (BRANDÃO;
OLIVEIRA: 2015). pg.373
8 (MENDES: 1988) pg.
67
9 (GRIMAL: 2011) pg.
111
10 SUETONIUS. Roma
Galante – pg. 16
11 (BRANDÃO;
OLIVEIRA: 2015). pg.384
12 (SHEPPARD:
2010) pg. 11
13 BRUNS,
Roger. Os Grandes Líderes – Júlio César. São Paulo: Nova
Cultural, 1988. pg. 64
14 Idem
15 LISSNER,
Ivar. Os Césares – Apogeu e Loucura: Tradução de Oscar Mendes.
Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. pg.79
16 (BRANDÃO;
OLIVEIRA: 2015). pg.385
17 (SHEPPARD:
2010) pg. 12-16
18 Ibid. pg.
16
19 PLUTARCO. Vidas
Paralelas - Tomo V - Pompeyo: LX
Nenhum comentário:
Postar um comentário