Quando
as previsões de Churchill começaram a se mostrar verídicas, o governo britânico
começou a pensar que ele tinha fontes secretas especiais e chegou a lhe indagar
sobre isso através de Maurice Hankey.[3] Winston
respondeu que suas afirmações eram “fruto do meu julgamento”.
Quando
o alerta veio de dentro do próprio governo e começou a encontrar eco no
parlamento e na imprensa, o Gabinete aceitou, por fim, aumentar o pedido de
aviões para 1939(!) e pensar na nomeação de um Ministro da Defesa que Sir
Warren Fisher,[4]
um dos funcionários mais graduados, definiu que deveria “...ser um homem
desinteressado. Sem um machado para destruir e sem o desejo de conseguir um
lugar para si.”.
Austen - Fisher - Halifax |
Em
outras palavras, não poderia ser Churchill. Fisher queria Lorde Halifax[5] no posto.
No entanto, Austen Chamberlain,[6] setores da
imprensa e do Parlamento acreditavam que só poderia ser Churchill. Enquanto
eles discutiam, Hitler remilitarizou a Renânia em 07/03/1936.[7]
(<<pg.24-26)
Inativo
quanto aos movimentos de Hitler na Renânia, o governo finalmente criou o Ministério
da Coordenação da Defesa, mas o nomeado para o posto foi “o procurador-geral
Sir Thomas Inskip”, nomeação bem ao gosto de Sir Fisher e classificada como
“a coisa mais cínica desde que Calígula nomeou seu cavalo como cônsul”.
Remilitarização da Renânia |
Enquanto
isso Hitler colocou em prática sua tática de negociar após ter colocado o
elefante na sala, ou seja, depois de invadir a Renânia, se ofereceu para
negociar, ao que o governo de Baldwin prontamente respondeu de forma bastante
encantada: “nossa atitude baseou-se no desejo do governo de utilizar as
ofertas de Herr Hitler para conseguir um acordo permanente”.
Por
seu turno, Churchill “O Profeta” começou a denunciar que após retomar a
Renânia, Hitler poderia atacar “a França pela Bélgica e pela Holanda” e
denunciou também o risco em que se encontrariam a “Polônia, a
Tchecoslováquia, a Iugoslávia, a Romênia, a Áustria e os países bálticos”.
(<<pg. 27-28)
Apesar
da inação do governo, crescia na sociedade o apoio às ideias de Churchill, em
especial entre dissidentes das posições dos partidos políticos. E ele seguia
sua pregação quase profética:
Se prevejo corretamente o futuro, o governo de Hitler
confrontará a Europa com uma série de acontecimentos ultrajantes e um poderio
militar crescente. São acontecimentos que mostrarão os perigos que nos ameaçam,
mas para alguns a lição virá tarde demais. (<pg. 28-29)
Mas a
morosidade, ou inação mesmo, do governo começava a preocupar os próprios
membros do governo que passaram a se aconselhar com quem? Sim, ele mesmo,
Winston Churchill. E ele lhes escrevia com conselhos precisos. Mas mantinha a
pressão sobre o governo através de artigos publicados quinzenalmente no jornal
Evening Standard “que só em Londres tinha uma circulação de mais de 3
milhões de exemplares.” (pg. 31-34)
Basicamente
Churchill, como falou na reunião de 28/07/1936 em que “Baldwin concordou em
receber um grupo de conservadores seniores, incluindo Churchill, Austen
Chamberlain e Amery, para discutir secretamente a política de defesa.”,
advogava pela preparação de parte da indústria civil nacional em indústria de
guerra, com as fábricas prontas a serem transformadas para produzir armamentos.
Pregava, ainda, a necessidade das seguintes providências:
a necessidade de acelerar e melhorar o treinamento de
pilotos, de tomar mais providências para a defesa de Londres e outras cidades,
de proteger contra ataques aéreos germânicos os depósitos das reservas
britânicas de petróleo e de prosseguir mais vigorosamente do que até então o
desenvolvimento do sistema de radar, essa “poderosa descoberta”. (<pg. 32)
Mas o
Primeiro-Ministro Stanley Baldwin, com apoio de Neville Chamberlain, eram
contra essas medidas pois “perturbar a produção em tempo de paz poderá
prejudicar o comércio normal do país, talvez durante muitos anos, e
prejudicá-lo seriamente numa altura em que temos de ter todo o crédito do país”.
Baldwin
acreditava no livro de Hitler, Mein Kampf, no qual o ditador alemão falava de
expansão territorial para o Leste, não ao Oeste e declarou: “Não conduzirei
este país para a guerra pela Liga das Nações ou por alguém ou por qualquer
coisa. [...] Se houver uma guerra na Europa, quero ver os bolcheviques e os
nazistas a fazê-la.”
Mas
já naquele momento, até relatórios do Ministério da Guerra já concordavam com
Churchill:
o sr. Churchill acredita que a enorme preparação para
a guerra por parte da Alemanha permitirá que desencadeiem uma primeira ofensiva
numa escala equivalente às ações de 1918, que isso pode evitar o beco sem saída
da guerra de trincheiras e que, por isso, teremos muito pouco tempo para
organizar a nação, como sucedeu em 1915. Apesar de ninguém saber se essa
profecia vai ou não se concretizar, o perigo de que possa concretizar-se é
suficientemente grande para levá-la seriamente em conta. (<<<pg.
33-34)
CONTINUA
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
[3] Maurice Pascal
Alers Hankey, 1º Barão Hankey (01/04/1877 - 26/01/1963) foi um funcionário
público britânico que ganhou destaque como o primeiro Secretário de Gabinete e
que mais tarde fez a rara transição do serviço civil ao gabinete ministerial.
Ele é mais conhecido como o assessor altamente eficiente do primeiro-ministro
David Lloyd George e do Gabinete de Guerra que dirigiu a Grã-Bretanha na
Primeira Guerra Mundial.
https://en.wikipedia.org/wiki/Maurice_Hankey,_1st_Baron_Hankey
[4] Sir Norman
Fenwick Warren Fisher KCB (22 de setembro de 1879 - 1948) foi um funcionário
público britânico. Fisher deu ao Serviço Civil uma coesão que antes não tinha e
fez mais para reformá-lo do que qualquer homem nos cinquenta anos anteriores.
Ele aumentou a importância do Tesouro. Ele avançou os interesses das mulheres
no serviço civil e em um ponto descreveu-se como uma feminista. No entanto, ele
também era uma figura controversa: seu colega Maurice Hankey , com quem ele às
vezes cooperava e às vezes competia em questões de política de defesa imperial,
certa vez o descreveu como "bastante louco", e foi criticado por suas
tentativas de controlar Nomeações de altos funcionários públicos em Whitehall.
https://en.wikipedia.org/wiki/Warren_Fisher
[5] Edward
Frederick Lindley Wood, 1º Conde de Halifax, (16/04/1881 - 23/12/1959),
denominado Lord Irwin de 1925 até 1934 e Visconde Halifax de 1934 até 1944, foi
um dos mais altos políticos conservadores britânicos dos anos 1930. Ele ocupou
vários cargos ministeriais durante esse período, mais notavelmente os do
vice-rei da Índia de 1925 a
1931 e do secretário de Relações Exteriores entre 1938 e 1940. Ele foi um dos
arquitetos da política de apaziguamento de Adolf Hitler em 1936-38, trabalhando
em estreita colaboração com o primeiro-ministro Neville Chamberlain . No
entanto, após a ocupação alemã da Tchecoslováquia em março de 1939, ele foi um
dos que pressionaram por uma nova política de tentar impedir mais agressões
alemãs, prometendo ir à guerra para defender a Polônia.
https://en.wikipedia.org/wiki/Edward_Wood,_1st_Earl_of_Halifax
[6] Joseph Austen
Chamberlain (Birmingham, 16/10/1863 — Londres, 17/03/1937) foi um político
britânico. Foi agraciado com a ordem da jarreteira e o Nobel da Paz em 1925,
pelos Tratados de Locarno. Irmão de Neville Chamberlain. O filho mais velho do
estadista Joseph Chamberlain.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Austen_Chamberlain
[7] A Crise da
Renânia (ou também remilitarização Renânia ou ocupação da Renânia) foi uma
crise diplomática provocada pela remilitarização dessa região da Alemanha, por
ordem de Adolf Hitler em 7 de março de 1936. A Renânia é composta de parte da Alemanha
principalmente a oeste do Rio Reno, mas também partes na margem direita. Em
1919 com o Tratado de Versalhes, a região foi desmilitarizada. Durante o
governo de Hitler, o tratado foi violado e o exército alemão voltou à região.
Não houve reação imediata por parte da França e do Reino Unido. Em resposta à
ratificação do apoio franco-soviético, em 27 de fevereiro de 1936, Hitler
reocupa a zona desmilitarizada da Renânia para restaurar a soberania do III
Reich na fronteira ocidental da Alemanha, continuando a violar as disposições
do Tratado de Versalhes. O destacamento militar foi escasso, médio e até mesmo
ridículo, mas o fato consistia numa violação do Tratado de Versalhes e do mais
recente Tratados de Locarno. A área da Renânia, a leste do Rio Reno, era de
importância estratégica diante de qualquer possível invasão da França pela
Alemanha (e vice-versa) ao constituir uma barreira natural do rio dentro do
território da Alemanha.[2] A região foi ocupada pelas tropas aliadas no final
da Primeira Guerra Mundial, que se retiraram em 1930, cinco anos antes do
acordo, em uma demonstração de reconciliação para a República de Weimar, não
sem deixar um ressentimento na população local que saudou com entusiasmo a
remilitarização de Hitler.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Remilitariza%C3%A7%C3%A3o_da_Ren%C3%A2nia
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