sexta-feira, 20 de novembro de 2020

CHURCHILL - Parte 25

CHURCHILL – Parte XXV [1] [2]
Em tempos de um rei que mal conseguia fazer um simples pronunciamento público e de um governo determinado a manter a cabeça sob a areia, até mesmo Churchill já desanimava de prosseguir fazendo denúncias que ninguém queria ouvir: “Atualmente, os personagens não oficiais contam muito pouco. Um pobre diabo pode esgotar-se sem criar uma simples onda na corrente de opinião.” A despeito desse desânimo ele seguia escrevendo para os ministros a fim de que cumprissem seus deveres na defesa nacional. (pg. 41)
Também a despeito deste desânimo, Churchill ganhou um público internacional para seus artigos quinzenais no jornal Evening Standard. Foi através de Emery Reves,[3] um judeu-húngaro que, a partir de Paris, passou a divulgá-los em jornais de “Varsóvia, Praga, Belgrado, Bucareste e Helsinque, chegando a um todo de 26 cidades.” (pg. 45)
Emery Reves
Stanley Baldwin deixou o governo em 28/05/1937 e em seu lugar assumiu Neville Chamberlain. Churchill lhe fez elogios na Câmara dos Comuns por ocasião de sua indicação como líder do partido. Chamberlain, por seu turno, não indicou Churchill para nenhum cargo no novo governo embora fosse cada vez maior o número de apoiadores ao seu nome.
Mas ele não parecia muito entusiasmado com essa ideia: “Não estou ansioso por integrar o governo, a não ser que haja reais tarefas que queiram que eu cumpra. Por enquanto, estão muito satisfeitos uns com os outros.
No entanto era cada vez maior o número de funcionários do próprio governo que concordavam com Churchill e o municiavam de informações. Crescia também a quantidade de relatórios internos que davam razão a ele demonstrando a precária situação das forças armadas britânicas. (<<pg. 46-47)
CHARTWELL
Fora do governo, Churchill dedicava-se a escrever a “biografia do primeiro duque de Marlborough”. Ficava em sua residência de Chartwell onde trabalhava até a madrugada, com auxílio de assistentes e com até três secretárias que se revezavam datilografando o que ele ditava:
Ele vinha da sala de jantar por volta das 22h, renovado e frequentemente jovial. Era óbvio que para ele esse era o melhor período para trabalhar e que tinha prazer nessas horas. Ficava totalmente mergulhado e ditava até as 2h ou 3h; por vezes, falava muito lentamente, medindo sempre cada palavra e murmurando frases para si próprio até que elas o satisfizessem, e então ditava-as, por vezes com tremenda força, olhando penetrantemente para a pobre secretária quando conseguia o que queria. […]
Não há dúvida de que ele era um trabalhador incansável. Impelia-nos. E elogiava poucas vezes. Mas tinha maneiras sutis de mostrar sua aprovação, e não poderia ser de outro modo. Trabalhava tão intensamente e dedicava-se às tarefas de modo tão absolutamente dedicado que esperava o mesmo dos outros. Para ele, era um direito. E com o tempo, nós, que trabalhamos para ele, percebemos que, em compensação à pressão e à inquietação, tivemos o raro privilégio de ter conhecido a beleza do seu caráter dinâmico e gentil. […]
Quando o patrão estava fora de Chartwell, recordou mais tarde a sra. Hill, “tudo ficava silencioso como um rato, mas, quando estava lá, era uma vibração”. Ela acrescentou: “Era um homem desapontado, à espera de um telefonema para servir ao seu país.” (<<<pg. 47-48)
Enquanto Churchill esperava por um telefonema do governo britânico, este não parava de se superar em atitudes desastrosas. Em 12/10/1937 Churchill foi avisado de que uma delegação alemã fora convidada a visitar uma instalação da Força Aérea britânica e observar seus aviões!
E a demonstração estava sendo montada para impressionar na verdade acabaria por revelar fragilidades. Churchill alertou Maurice Hankey sobre a situação e a resposta deste foi mais no sentido de preocupar-se em como Winston conseguia essas informações do que com as alarmantes informações em si: “estou muito preocupado com seu contato com tantas informações confidenciais desse tipo”. (<pg. 50-51)
O governo, porém, dispunha de informações ainda mais perturbadoras de que o poder aéreo da Alemanha já era 100% superior ao britânico e que suas forças terrestres seriam superiores à da França em 1940. A despeito disso, e talvez “jogando a toalha”, o governo começou a estimular uma aproximação com a Alemanha.
Lorde Halifax visitou Hitler retornando com a afirmação de que “Os alemães não têm uma política imediata de ação, e tudo ficaria bem na Tchecoslováquia se ela tratasse bem os alemães que vivem no interior de suas fronteiras”.
Segundo Halifax, Hitler acenou com a possibilidade de um desarmamento enquanto “criticou veementemente a difundida convicção de uma catástrofe iminente e de que o mundo estava em perigo”.
O ditador alemão claramente dizia o que o visitante queria ouvir para incentivar a continuidade da inação britânica. Convenceu-os de que não violaria a integridade do território da Bélgica levando Chamberlain a declarar “não aceitar a ideia de que a paridade aérea com a Alemanha ainda era essencial”.
CONTINUA 



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    Emery Reves (Húngaro: Révész Imre) (16/02/1904 - 04/10/1981) foi escritor, editor, agente literário e defensor do federalismo mundial. Reves nasceu em Bácsföldvár , na Hungria , filho de pais judeus e estudou em Berlim , Zurique e Paris. Em 1933, ele fundou uma editora, o "Serviço de Publicação de Cooperação", que era conhecida por sua forte postura anti-nazista. Em 1937, ele fez amizade com Winston Churchill , tornando-se seu agente literário. Quando Churchill foi eleito primeiro-ministro, Reves foi enviado a Nova York para ajudar a construir a organização de propaganda britânica nas Américas do Norte e do Sul. Em 1940 ele foi naturalizado como um sujeito britânico. Depois da guerra, ele comprou os direitos de publicar as memórias de guerra de Churchill fora do Reino Unido e também a História dos Povos de Língua Inglesa de Churchill.
      https://en.wikipedia.org/wiki/Emery_Reves

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