quarta-feira, 3 de abril de 2019

CHURCHILL - Parte 6



CHURCHILL – Parte VI [1] [2]
Mudo diante da futura esposa, eloquente diante de multidões. Sobre os dotes discursivos de Churchill, Alexander MacCallum Scott, autor da primeira biografia do político, escreveu:
Ele toma a atitude inevitável na qual ninguém ainda pensara, tem a ideia original que é tão simples e óbvia uma vez proferida e diz a frase feliz que exprime o que todos os homens ansiavam por dizer e que subsequentemente surge de forma tão conveniente na linguagem de todo mundo. (pg. 191)
E todo esse potencial era usado em críticas severas ao governo do Partido Conservador, que à época tinha como Primeiro Ministro Arthur Balfour[3], e na defesa do livre comércio, contra as taxações protecionistas defendidas pelos conservadores.
Tais ataques, desferidos principalmente da tribuna da Câmara dos Comuns chegaram a ser razão de severa repreensão do próprio Rei Eduardo VII.[4] (pg. 192) Churchill acreditava que tais medidas iriam isolar o Reino Unido, conforme um de seus discursos:
Não queremos ver o império britânico degenerar numa confederação insociável, como uma cidade medieval separada por muralhas das regiões circundantes, abastecida de víveres para um cerco e contendo dentro do círculo de suas ameias tudo o que é necessário para a guerra. Nós queremos que nosso país e os estados associados a nós participem livremente e com imparcialidade no intercâmbio geral entre nações comerciais. (<<pg. 190-192) 


[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    Arthur James Balfour, 1.º Conde de Balfour (Whittingehame, 25/07/1848 – Woking, 19/03/1930) foi um político e estadista britânico, Primeiro-ministro do Reino Unido entre 1902-1905. É conhecido internacionalmente por ter dado seu nome, quando ministro do Exterior, à "Declaração de Balfour" através da qual o Governo britânico apoiou em 1917 as aspirações sionistas de criação de um estado nacional judeu na Palestina. Eduardo VII (Londres, 9 de novembro de 1841 – Londres, 6 de maio de 1910) foi rei do Reino Unido e dos domínios britânicos e imperador da Índia de 22 de janeiro de 1901 até sua morte, sendo o primeiro monarca britânico da Casa de Saxe-Coburgo-Gota.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Balfour

[4]    Eduardo VII nasceu em 09/11/1841 no Palácio de Buckingham, Londres, Reino Unido, e faleceu no mesmo local em 06/05/1910. Filho da rainha Vitória e do príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, ele foi o segundo herdeiro aparente que por mais tempo sustentou o título de Príncipe de Gales em toda a história, superado em 11 de agosto de 2017 pelo Príncipe Carlos. Durante o longo reinado de sua mãe, ele foi afastado dos assuntos de Estado e personificou a elite ociosa, tão em voga na época. Eduardo viajou pelo reino realizando vários deveres cerimoniais e representou o Reino Unido no exterior. Suas viagens pela América do Norte em 1860 e pela Índia em 1875 foram grandes sucessos, porém sua reputação de príncipe libertino corroeu a relação com sua mãe.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_VII_do_Reino_Unido
Primeiro Ministro Arthur Balfour - Rei Eduardo VII - Primeiro Ministro Henry Campbell-Bannerman
A despeito disso, Churchill tinha, surpreenden-temente, admiradores entre os mais improváveis conservadores como o próprio Primeiro Ministro Balfour e Hugh Arnold-Forster, autor da proposta de gastos do Exército. (pg. 190/192).
Quando Balfour renunciou ao cargo, quem assumiu o governo foi Henry Campbell-Bannerman.[5] Chegava a hora de os liberais mostrarem seu valor. Churchill foi nomeado Secretário de Estado no Ministério das Colônias. Para garantir maioria no parlamento o novo gabinete convocou eleições gerais e Churchill, lançou-se candidato, com a plataforma anti sistema tarifário e:
a favor de “uma redução de gastos em armamento” e da aplicação de impostos sobre o valor das terras. Quanto à Irlanda, […] veria de bom grado que fosse concedido ao povo irlandês o poder de decidir seu próprio orçamento, sua própria educação e suas próprias obras públicas de acordo com ideias irlandesas. (<pg. 194)


[5]    Henry Campbell-Bannerman (Glasgow, 07/09/1836 — Londres, 22/04/1908) foi um político britânico, Primeiro-ministro do Reino Unido pelo Partido Liberal. Foi Secretário de Guerra e Secretário para a Irlanda no Gabinete de William Ewart Gladstone. Campbell-Bannerman não era um exímio orador, mas tinha uma boa reputação por ser um grande operador político, sendo bem articulado e em 1898, se transformou no líder liberal da Câmara dos Comuns. Opôs-se a Primeira Guerra dos Bôeres e lutou por reformas sociais, tornando-se uma das figuras mais importantes na ala progressiva do partido. Assumiu o Gabinete com a renúncia de Arthur Balfour, a convite de Eduardo VII. Em seu governo, realizou um acordo com a Rússia, introduziu diversas reformas liberais e aprovou o "Trades Disputes Act" (Lei das disputas no Comércio) e o " Provision of School Meals Act" (Lei para a Provisão das Refeições nas Escolas). Faleceu logo após renunciar, ainda na residência oficial dos primeiros-ministros britânicos, em 10 Downing Street.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Campbell-Bannerman
Churchill concorreu por Manchester e venceu. O resultado geral foi uma vitória devastadora dos liberais:
Os liberais conquistaram 377 lugares, seus aliados do Partido Trabalhista ficaram com 53 e os nacionalistas irlandeses, com 83, em um total “ministerialista” de 513 lugares. Contra esse grupo formidável havia apenas 157 tories, 11 dos quais antigos aliados de Churchill, os Unionistas pelo Comércio Livre . (<pg. 195)
Como  Secretário de Estado no Ministério das Colônias Churchill voltou sua atenção especialmente para a África do Sul, onde trabalhou para igualar ingleses e bôeres, elaborar uma constituição e um governo eleito para o Transvaal e o Estado Livre de Orange e encerrar os contratos de trabalho semiescravos a que trabalhadores chineses eram submetidos nas minas daquele território. (pg. 196-202)
Infelizmente o fim da administração direta britânica deixou a maioria negra a mercê dos governos bôeres, o que terminaria por resultar no Apartheid. Obviamente Churchill não tinha como saber disso, nem que seu evidente prazer em caçadas no Quênia iria ferir o sentimento do politicamente correto atual (pg. 208), embora o liberal Churchill defendesse causas que hoje seriam vistas como esquerdistas:
A causa dos pobres e dos fracos em todo o mundo […] precisa ser apoiada; assim, em toda a parte os povos pequenos terão mais espaço para respirar e em toda a parte os impérios serão encorajados por nosso exemplo a avançar em direção ao brilho de uma era mais afável e mais generosa. (pg. 202)
Em 1907 Churchill aproveitou uma longa viagem de férias para visitar várias algumas colônias e planejar melhorias de caráter econômico, notadamente a construção de estradas de ferro para ampliar o domínio britânico e, consequentemente, as possibilidades de comércio.
Em suas cartas Winston também defendia a adoção de uma lesgislação de proteção social semelhante ao que fora adotado na Alemanha, pois nele “existem determinações uniformes e simétricas para assegurar os trabalhadores contra acidentes e doenças, providências em favor dos idosos e vários serviços contra o desemprego”. (<pg. 211)


CONTINUA

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