CHURCHILL – Parte X [1]
[2]
A
questão do armamentismo alemão prosseguia e Churchill foi impedido de viajar à
Alemanha, onde pretendia encontrar-se com o Almirante Tirpitz e o próprio
Kaiser para costurar um acordo que reduzisse a corrida armamentista. (pg. 284)
Impedido
de costurar a paz, Churchill prosseguiu preparando-se para guerra. Negociou a
compra de “51% de participação nos lucros de todo o petróleo produzido pela
Anglo-Persian Oil Company, assim como o direito a ser o primeiro utilizador de
todo o petróleo produzido...” o que supria todas as necessidades de
combustível da Marinha, bem como cobria os custos da construção naval. (pg.
286)
Tal
medida mostrava, mais uma vez, a capacidade quase profética de Churchill, pois
11 dias após a aquisição do petróleo persa, o Arquiduque Franz Ferdinand [3] foi
assassinado em Sarajevo juntamente com sua esposa, Sofia, Duquesa de Hohenberg.
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
[3] Franz
Ferdinand Karl Ludwig Joseph Maria von Österreich-Este; (Graz, 18/12/1863 -
Sarajevo, 28/06/1914) foi um arquiduque da Áustria, chefe do ramo cadete de
Áustria-Este e herdeiro presuntivo do trono do Império Austro-Húngaro. Filho
mais velho do arquiduque Carlos Luís (irmão dos imperadores Francisco José I da
Áustria e Maximiliano do México) e da princesa Maria Anunciata das Duas
Sicílias, ele herdou de seu primo, o duque Francisco V de Módena, a chefia da
Casa de Áustria-Este, tornando-se pretendente ao trono do extinto ducado quando
tinha apenas 12 anos de idade. Em 1889, com a morte do arquiduque Rodolfo,
único filho varão de Francisco José I, no chamado Incidente de Mayerling, seu
pai tornou-se o primeiro na linha de sucessão ao trono austro-húngaro, mas
renunciou aos seus direitos em seu favor. Sua morte num atentado em Sarajevo,
em 28 de junho de 1914, foi um dos estopins da Primeira Guerra Mundial.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Fernando_da_%C3%81ustria-Hungria
Arquiduque Franz Ferdinand - Duquesa de Hohenberg Sofia |
Mas
nas primeiras semanas após o fato ninguém acreditava (nem Churchill) que
pudesse haver uma guerra e a pauta da reunião do governo liberal era a Irlanda
e suas questões de autonomia. (pg. 287-289)
No
entanto, quando a Áustria apresentou um ultimato à Sérvia, do qual Churchill
tomou conhecimento em uma reunião do Gabinete, sua impressão foi que “parecia
absolutamente impossível que qualquer Estado pudesse aceitar aquele ultimato ou
que essa aceitação, por mais abjeta que fosse, satisfizesse o agressor.”
E, de
fato, era um documento elaborado para não ser aceito mesmo pois, apesar de a
Sérvia ter concordado em atender quase todas as exigências austríacas, sua
resposta foi rejeitada. (<pg. 289)
Diante
da possibilidade, agora quase inevitável de uma guerra, só restou a Churchill
trabalhar pela proteção de sua ilha. As frotas navais foram impedidas de
dispersão ou receberam ordens para retornar e permanecerem estacionadas nos
portos, os depósitos de munição e combustível foram guarnecidos, a frota do
Mediterrâneo foi deslocada para Malta, os aviões foram concentrados no estuário
do Rio Tâmisa, para defesa aérea.
Somente
a Primeira Esquadra entrou em movimento, tendo sido enviada ao Mar do Norte. E
ainda “as embarcações civis foram retiradas dos portos militares e foram
enviados guardas armados para pontes e viadutos e vigias para a costa, com a
ordem de informarem da presença de qualquer embarcação hostil.” (<pg.
292-294)
Os
políticos britânicos, inclusive o governo, estavam divididos em relação a
entrar em uma eventual guerra. Alguns defendiam, como Churchill, que a
Inglaterra entrasse em guerra contra a Alemanha se esta declarasse guerra contra
a França, outros argumentavam que não havia nenhum tratado assinado neste
sentido, mas apenas em relação à Bélgica. E ainda havia aqueles que não queriam
entrar em guerra de jeito nenhum, com ou sem tratado. (pg. 295-297)
Mas
nos últimos dias de julho a situação degringolou como em um efeito dominó. A
Rússia se posicionou ao lado da Sérvia contra a Áustria que, por sua vez,
declarou guerra à Sérvia em 28/07 levando a Rússia a mobilizar suas tropas dois
dias depois, em 30/07. Imediatamente a Alemanha exigiu que os russos voltassem
atrás, ficando no aguardo da resposta do Csar Nicolau II.
Quando
a França se mobilizou, a Alemanha fez o mesmo e, em 01/08, sem uma resposta do
Csar, declarou guerra contra a Rússia. Em 02/08 os alemães pediram à Bélgica
passagem para suas tropas e, quando esta recusou o pedido em 03/08, os alemães
passaram assim mesmo.
Em
04/08 a Inglaterra declarou guerra a Alemanha. Em 06/08 foi a vez da Áustria
declarar guerra contra a Rússia e, logo, Montenegro, Turquia, Itália e até o
Japão estavam no conflito.
Nas
primeiras semanas da guerra a “profecia” do avanço alemão de Churchill se
cumpriu milimetricamente e, a despeito de alguns sucessos aqui e ali, as tropas
britânicas, francesas e belgas recuavam continuamente diante do poderio das tropas
do Kaiser.
Winston
atuava freneticamente, tanto na Inglaterra quanto na França para a qual viajou
nada menos que quatro vezes, para inspeções e para incentivar o moral das
tropas. Também viajou para a Antuérpia (Bélgica) quando esta estava prester a
ser abandonada pelos defensores e cair em mãos alemãs e decidiu ficar para
incentivar a resistência o máximo possível.
Nesta
ocasião sua presença perto da frente de combate foi relatada por um jornalista
italiano: “Fumava tranquilamente um longo charuto e via o decorrer da
batalha debaixo de uma chuva de projéteis no mínimo assustadora.” (<pg.
302-309)
No
regresso da Bélgica em 07/10/1914, Churchill visitou a esposa e conheceu a
filha Sarah, nascida naquele mesmo dia. Ele conseguira que Antuérpia resistisse
por mais uma semana e isso permitira um seguro reagrupamento das forças
britânicas em Flandres. (pg. 312)
Churchill
se movimentava com desenvoltura, no entanto algumas de suas ações eram
deturpadas e sempre criticadas pela mídia ligada aos conservadores, por vezes
transformando vitórias em derrotas ou atribuindo-lhe a culpa de erros dos
outros. Faziam isso, muitas vezes, por não ter, e tampouco buscar, as
informações corretas sobre os acontecimentos. (pg. 312-314)
Quando
dezembro de 1914 chegou Churchill já planejava uma ação contra Galipoli, ao
mesmo tempo em que planejava a tomada da Ilha de Bornholm, pertencente a
Dinamarca. Uma base em Bornholm permitiria desembarques de tropas britânicas e
russas que teriam acesso mais curto ao território alemão, podendo apressar o
fim da guerra. (pg. 316)
Contudo,
embora outros membros do comando de guerra passassem a apoiar uma ação em
Galipoli, inclusive para atender a um pedido de auxílio russo, em janeiro de
1915 Churchill estava mais empenhado nas ações no Mar do Norte. (pg. 319)
Foi
neste mês de janeiro que Churchill fez referência, pela primeira vez a um
veículo semelhante ao tanque de guerra, que ainda não existia, mas que já
povoava a imaginação dos militares britânicos como uma necessidade para romper
a imobilidade da guerra de trincheiras. É muito curiosa a forma como Winston se
refere àquela ideia:
Seria bastante fácil conseguir, em
pouco tempo, tratores a vapor com áreas de proteção blindadas nas quais se
poderiam colocar homens e metralhadoras. Usados à noite, não seriam afetados
por fogo de artilharia. O sistema de esteira permitiria atravessar as
trincheiras e o peso das máquinas destruiria todos os obstáculos de arame
farpado. Quarenta ou cinquenta dessas máquinas, preparadas secretamente e
colocadas em posição ao cair da noite, poderiam quase certamente avançar para
as trincheiras inimigas, esmagando todos os obstáculos e varrendo as
trincheiras com suas metralhadoras e com granadas lançadas por cima.
Conseguiriam assim muitos points d’appui para que as tropas de apoio da
infantaria britânica pudessem avançar e reunir-se a eles. Podem então continuar
para atacar a segunda linha de trincheiras.. (<pg. 319-320)
Mas
foi somente em janeiro que a denominação tanque surgiu nesta forma e por um
motivo prosaico. Ele seria:
um veículo blindado que
transportasse armamento e pudesse ultrapassar obstáculos, trincheiras e arame
farpado. […] um “navio terrestre” [...]. Para confundir supostos espiões,
chamou os veículos de “caixas d’água para a Rússia”, mas, quando foi sugerido
que poderiam vir a ser conhecidos como “banheiros para a Rússia”, o nome foi
mudado para “tanques de água” e abreviado para “tanques”. (<pg. 325)
CONTINUA