terça-feira, 23 de julho de 2019

CHURCHILL - Parte 10



 CHURCHILL – Parte X [1] [2]
A questão do armamentismo alemão prosseguia e Churchill foi impedido de viajar à Alemanha, onde pretendia encontrar-se com o Almirante Tirpitz e o próprio Kaiser para costurar um acordo que reduzisse a corrida armamentista. (pg. 284)
Impedido de costurar a paz, Churchill prosseguiu preparando-se para guerra. Negociou a compra de “51% de participação nos lucros de todo o petróleo produzido pela Anglo-Persian Oil Company, assim como o direito a ser o primeiro utilizador de todo o petróleo produzido...” o que supria todas as necessidades de combustível da Marinha, bem como cobria os custos da construção naval. (pg. 286)
Tal medida mostrava, mais uma vez, a capacidade quase profética de Churchill, pois 11 dias após a aquisição do petróleo persa, o Arquiduque Franz Ferdinand [3] foi assassinado em Sarajevo juntamente com sua esposa, Sofia, Duquesa de Hohenberg.




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    Franz Ferdinand Karl Ludwig Joseph Maria von Österreich-Este; (Graz, 18/12/1863 - Sarajevo, 28/06/1914) foi um arquiduque da Áustria, chefe do ramo cadete de Áustria-Este e herdeiro presuntivo do trono do Império Austro-Húngaro. Filho mais velho do arquiduque Carlos Luís (irmão dos imperadores Francisco José I da Áustria e Maximiliano do México) e da princesa Maria Anunciata das Duas Sicílias, ele herdou de seu primo, o duque Francisco V de Módena, a chefia da Casa de Áustria-Este, tornando-se pretendente ao trono do extinto ducado quando tinha apenas 12 anos de idade. Em 1889, com a morte do arquiduque Rodolfo, único filho varão de Francisco José I, no chamado Incidente de Mayerling, seu pai tornou-se o primeiro na linha de sucessão ao trono austro-húngaro, mas renunciou aos seus direitos em seu favor. Sua morte num atentado em Sarajevo, em 28 de junho de 1914, foi um dos estopins da Primeira Guerra Mundial.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Fernando_da_%C3%81ustria-Hungria
Arquiduque Franz Ferdinand - Duquesa de Hohenberg Sofia
Mas nas primeiras semanas após o fato ninguém acreditava (nem Churchill) que pudesse haver uma guerra e a pauta da reunião do governo liberal era a Irlanda e suas questões de autonomia. (pg. 287-289)
No entanto, quando a Áustria apresentou um ultimato à Sérvia, do qual Churchill tomou conhecimento em uma reunião do Gabinete, sua impressão foi que “parecia absolutamente impossível que qualquer Estado pudesse aceitar aquele ultimato ou que essa aceitação, por mais abjeta que fosse, satisfizesse o agressor.
E, de fato, era um documento elaborado para não ser aceito mesmo pois, apesar de a Sérvia ter concordado em atender quase todas as exigências austríacas, sua resposta foi rejeitada. (<pg. 289)


Diante da possibilidade, agora quase inevitável de uma guerra, só restou a Churchill trabalhar pela proteção de sua ilha. As frotas navais foram impedidas de dispersão ou receberam ordens para retornar e permanecerem estacionadas nos portos, os depósitos de munição e combustível foram guarnecidos, a frota do Mediterrâneo foi deslocada para Malta, os aviões foram concentrados no estuário do Rio Tâmisa, para defesa aérea. 
Somente a Primeira Esquadra entrou em movimento, tendo sido enviada ao Mar do Norte. E ainda “as embarcações civis foram retiradas dos portos militares e foram enviados guardas armados para pontes e viadutos e vigias para a costa, com a ordem de informarem da presença de qualquer embarcação hostil.” (<pg. 292-294)
Os políticos britânicos, inclusive o governo, estavam divididos em relação a entrar em uma eventual guerra. Alguns defendiam, como Churchill, que a Inglaterra entrasse em guerra contra a Alemanha se esta declarasse guerra contra a França, outros argumentavam que não havia nenhum tratado assinado neste sentido, mas apenas em relação à Bélgica. E ainda havia aqueles que não queriam entrar em guerra de jeito nenhum, com ou sem tratado. (pg. 295-297)
Mas nos últimos dias de julho a situação degringolou como em um efeito dominó. A Rússia se posicionou ao lado da Sérvia contra a Áustria que, por sua vez, declarou guerra à Sérvia em 28/07 levando a Rússia a mobilizar suas tropas dois dias depois, em 30/07. Imediatamente a Alemanha exigiu que os russos voltassem atrás, ficando no aguardo da resposta do Csar Nicolau II.
Quando a França se mobilizou, a Alemanha fez o mesmo e, em 01/08, sem uma resposta do Csar, declarou guerra contra a Rússia. Em 02/08 os alemães pediram à Bélgica passagem para suas tropas e, quando esta recusou o pedido em 03/08, os alemães passaram assim mesmo.
Em 04/08 a Inglaterra declarou guerra a Alemanha. Em 06/08 foi a vez da Áustria declarar guerra contra a Rússia e, logo, Montenegro, Turquia, Itália e até o Japão estavam no conflito.

Nas primeiras semanas da guerra a “profecia” do avanço alemão de Churchill se cumpriu milimetricamente e, a despeito de alguns sucessos aqui e ali, as tropas britânicas, francesas e belgas recuavam continuamente diante do poderio das tropas do Kaiser. 
Winston atuava freneticamente, tanto na Inglaterra quanto na França para a qual viajou nada menos que quatro vezes, para inspeções e para incentivar o moral das tropas. Também viajou para a Antuérpia (Bélgica) quando esta estava prester a ser abandonada pelos defensores e cair em mãos alemãs e decidiu ficar para incentivar a resistência o máximo possível.
Nesta ocasião sua presença perto da frente de combate foi relatada por um jornalista italiano: “Fumava tranquilamente um longo charuto e via o decorrer da batalha debaixo de uma chuva de projéteis no mínimo assustadora.” (<pg. 302-309)
No regresso da Bélgica em 07/10/1914, Churchill visitou a esposa e conheceu a filha Sarah, nascida naquele mesmo dia. Ele conseguira que Antuérpia resistisse por mais uma semana e isso permitira um seguro reagrupamento das forças britânicas em Flandres. (pg. 312)
Churchill se movimentava com desenvoltura, no entanto algumas de suas ações eram deturpadas e sempre criticadas pela mídia ligada aos conservadores, por vezes transformando vitórias em derrotas ou atribuindo-lhe a culpa de erros dos outros. Faziam isso, muitas vezes, por não ter, e tampouco buscar, as informações corretas sobre os acontecimentos. (pg. 312-314)
Quando dezembro de 1914 chegou Churchill já planejava uma ação contra Galipoli, ao mesmo tempo em que planejava a tomada da Ilha de Bornholm, pertencente a Dinamarca. Uma base em Bornholm permitiria desembarques de tropas britânicas e russas que teriam acesso mais curto ao território alemão, podendo apressar o fim da guerra. (pg. 316)
Contudo, embora outros membros do comando de guerra passassem a apoiar uma ação em Galipoli, inclusive para atender a um pedido de auxílio russo, em janeiro de 1915 Churchill estava mais empenhado nas ações no Mar do Norte. (pg. 319)
Foi neste mês de janeiro que Churchill fez referência, pela primeira vez a um veículo semelhante ao tanque de guerra, que ainda não existia, mas que já povoava a imaginação dos militares britânicos como uma necessidade para romper a imobilidade da guerra de trincheiras. É muito curiosa a forma como Winston se refere àquela ideia:
Seria bastante fácil conseguir, em pouco tempo, tratores a vapor com áreas de proteção blindadas nas quais se poderiam colocar homens e metralhadoras. Usados à noite, não seriam afetados por fogo de artilharia. O sistema de esteira permitiria atravessar as trincheiras e o peso das máquinas destruiria todos os obstáculos de arame farpado. Quarenta ou cinquenta dessas máquinas, preparadas secretamente e colocadas em posição ao cair da noite, poderiam quase certamente avançar para as trincheiras inimigas, esmagando todos os obstáculos e varrendo as trincheiras com suas metralhadoras e com granadas lançadas por cima. Conseguiriam assim muitos points d’appui para que as tropas de apoio da infantaria britânica pudessem avançar e reunir-se a eles. Podem então continuar para atacar a segunda linha de trincheiras.. (<pg. 319-320)
Mas foi somente em janeiro que a denominação tanque surgiu nesta forma e por um motivo prosaico. Ele seria:
um veículo blindado que transportasse armamento e pudesse ultrapassar obstáculos, trincheiras e arame farpado. […] um “navio terrestre” [...]. Para confundir supostos espiões, chamou os veículos de “caixas d’água para a Rússia”, mas, quando foi sugerido que poderiam vir a ser conhecidos como “banheiros para a Rússia”, o nome foi mudado para “tanques de água” e abreviado para “tanques”. (<pg. 325)


CONTINUA

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