terça-feira, 23 de julho de 2019

TEXTO: GRANDE SÉRIE - WINSTON CHURCHILL


CHURCHILL – Parte XLI [1] [2]
Em meados de Maio/1943 Winston já estava melhor e de volta ao velho vigor no empurrar a preparação para a Luta. Os decifradores de Bletchley seguiam municiando-o das ultra secretas comunicações alemãs, de sorte que ele sabia que Hitler não deslocaria para a França um número de divisões que pudesse por em risco a Operação Overlord.
Ele sabia que os alemães tinham 25 divisões retidas na Iugoslávia, onde combatiam os guerrilheiros de Tito, mais 23 divisões retidas na Itália lutando contra a invasão do país e mais divisões retidas nas áreas onde Hitler pensava que seria o desembarque.
Em 04/06/1944 as tropas aliadas entraram em Roma sem encontrar resistência, pois fora declarada cidade aberta pelos alemães em retirada. Neste momento, Churchill já voltara a sofrer de fadiga pois seguia trabalhando até altas horas da madrugada como observou sua assistente Marian Holmes: “Fui ao encontro do primeiro-ministro às 22h30 e só saí às 3h45. Ele trabalha demais e quase adormeceu sobre os documentos.
A expectativa pela invasão da Normandia cresceu, pois esta teve de ser adiada por conta do mau tempo. No entanto foi justamente o mau tempo que proporcionou ainda mais sigilo ao Dia-D pois mensagens secretas decifadas davam conta de que Hitler não esperava nenhum ataque pelos próximos 5 dias, tanto que Rommel, comandante das defesas litorâneas, a Muralha do Atlântico, recebeu licença para se deslocar a Berlim.
Eisenhower aproveitou esse descuido e decidiu que o Dia-D seria o seguinte, 06/06/1944, com ou sem bom tempo. A invasão foi um sucesso enquanto contou com o efeito surpresa, mas depois teve seu ritmo muito reduzido quando as defesas alemãs se reorganizaram.
Em discursos na Câmara dos Comuns Churchill avisou que a situação era boa mas advertindo contra o excesso de otimismo pois, segundo ele, “enormes esforços se estendem diante de nós”.
Em 12/06/1944 ele embarcou em um contra-torpedeiro e atravessou o canal para visitar a Normandia, encontrou-se com Montgomery e navegou ao longo da costa observando as diversas operações.
No retorno pediu que sua embarcação também disparasse contra os alemães: “Já que estamos tão perto, por que não damos uns tiros nos alemães antes de irmos embora para casa?” Depois dos disparos, como se encontravam ao alcance da artilharia alemã, logo deram meia volta e voltaram a Inglaterra. A despeito das boas notícias, porém, no dia seguinte começava o suplício das bombas voadoras V-1.
Foram lançadas 27 bombas das quais 4 atingiram Londres. No dia seguinte foram 50 e ao final da primeira semana de bombardeios mais de 500 civis já tinham sido mortos. A despeito disso o Exército Vermelho seguia obliterando as forças alemãs em recuo e “numa única batalha perto de Bobruisk, matado 16 mil soldados alemães e feito 18 mil prisioneiros.”.
Na França o número de soldados desembarcados já ultrapassava os 750 mil e a quantidade de prisioneiros alemães já chegava a 50 mil. Winston telegrafou empolgado a Stalin: “O inimigo está sangrando em todas as frentes simultaneamente e concordo quando diz que isso tem de ir até o fim.
Para desgosto de Churchill, porém, a ampliação do avanço na Itália (que Hitler temia por ameaçar a fronteira da Áustria) foi descartada em favor de outro desembarque no Sul da França. Com o passar das semanas e a continuidade dos ataques das bombas voadoras Winston passou a pensar em uma retaliação tão ou mais cruel:
Tenho, evidentemente, de pedir-lhes que me apoiem no uso de gás venenoso. Temos de inundar as cidades do Ruhr e muitas outras cidades da Alemanha de tal modo que a maior parte da população precise de cuidados médicos permanentes. Podemos impedir a atividade nos locais de lançamento das bombas voadoras. Churchill tinha em mente gás mostarda, “do qual quase todas as pessoas se recuperam”. Usariam apenas se “for uma questão de vida ou de morte” ou se isso “encurtar a guerra em um ano”. (<<<<<<<<<<<<<pg. 192-201)
Ironicamente, nestes dias chegou a notícia de que os nazistas estavam utilizando câmaras de gás para assassinar judeus e que meio milhão de judeus-húngaros estavam para serem deportados rumo a Auschwitz.
Churchill apoiou o pedido do “líder sionista dr. Chaim Weizmann” por um bombardeio ao sistema ferroviário húngaro bem como por um protesto público: “Consiga tudo o que puder da Força Aérea e mencione meu nome, se necessário. Estou totalmente de acordo com o maior protesto possível”.
Uma intensa cobertura jornalística foi feita e os trabalhadores ferroviários da Hungria foram alertados “de que podiam ser considerados criminosos de guerra se continuassem a participar das deportações.”. Dois dias depois as deportações foram interrompidas e cem mil judeus escaparam da morte certa. A disposição de Churchill contra os genocidas nazistas era a pior possível:
Não há dúvida de que isso é provavelmente o maior e mais horrível crime alguma vez cometido na história do mundo e que foi feito com equipamentos científicos e por homens nominalmente civilizados em nome de um grande Estado e uma das raças líderes da Europa. É perfeitamente claro que todos aqueles que estão envolvidos nesse crime, que agora cai em nossas mãos, inclusive aqueles que apenas cumpriram ordens levando a cabo as chacinas, devem ser condenados à morte após ser provada sua associação com os assassinos.(<<<pg. 201-202)
Em 10/07/1944 chegou a informação de que 10 mil casas haviam sido destruidas em apenas um mês de ataques das bombas voadoras e oito dias depois soube-se que estava em fase final de preparação uma bomba foguete (a V-2) que voava a 6500 km/h, atingindo Londres 4 minutos após lançada, virtualmente impossível de interceptação.
Coronel Claus von Stauffenberg
À esquerda, uniforme claro
Por outro lado, os aliados chegavam a Caen. Em 20/07/1944 Hitler escapava milagrosamente do atentado a bomba executado pelo Coronel Claus von Stauffenberg na Toca do Lobo, QG de guerra do líder nazista. Era o último atentado contra a vida do Führer, a fracassada Operação Valquíria.[3]
Neste mesmo dia Churchill voou para Cherbourg e foi visitar as tropas em diversos pontos da frente. No início de Agosto/1944 os poloneses iniciaram o Levante de Varsóvia,[4] pois pretendiam que houvesse um governo polonês instalado na capital quando o Exército Vermelho chegasse. Stalin suspendeu os bombardeios aéreos sobre a cidade mas recusou-se a prestar auxílio aos revoltosos.
Levante de Varsóvia
Deslocando tropas da França os alemães conseguiram derrotar a rebelião mais de dois meses depois. 
Churchill com o General Tito
Ainda em agosto Churchill viajou para Argel e depois para Nápoles na Itália onde encontrou-se com o General Tito, depois visitou Capri e a Córsega.
CONTINUA 





[1]   GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2]   Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
[3]  A Operação Valquíria (em alemão: Unternehmen Walküre) era um plano alemão criado durante a Segunda Guerra Mundial com o propósito de manter o governo do país funcionando em caso de uma emergência, através da mobilização do exército reserva da Alemanha para assumir o controle da situação caso houvesse algum tipo de levante entre a população civil alemã ou uma revolta de trabalhadores estrangeiros (a esmagadora maioria escravos trazidos dos territórios ocupados) em fábricas dentro do país. Os generais do exército alemão (Heer) Friedrich Olbricht, Henning von Tresckow e o coronel Claus von Stauffenberg modificaram o plano com a intenção de usar a força de reserva alemã para tomar o controle das cidades do país, desarmar a SS e prender a liderança nazista após o assassinato do ditador Adolf Hitler no Atentado de 20 de Julho. A morte de Hitler (ao invés de simplesmente prende-lo) era necessária para desprender os soldados e oficiais alemães do seu juramento de lealdade pessoal a ele (Führereid). Em julho de 1944, a operação foi executada mas terminou em fracasso, com os conspiradores sendo presos e muitos deles executados.
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Valqu%C3%ADria
[4]  A Revolta, Levante ou Insurreição de Varsóvia (em polaco powstanie warszawskie) foi uma luta armada durante a Segunda Guerra Mundial na qual o Armia Krajowa (Exército Clandestino Polaco) tentou libertar Varsóvia do controle da Alemanha Nazi. Teve início em 1 de agosto de 1944, às 17 horas, como parte de uma revolta nacional, a "Operação Tempestade", e deveria durar apenas alguns dias, até que o Exército Soviético chegasse à cidade. O avanço soviético no entanto foi interrompido, mas a resistência polaca continuou por 63 dias, até sua rendição às forças alemãs em 2 de outubro.
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_de_Vars%C3%B3via


CHURCHILL – Parte XL [1] [2]
Churchill já saiu de Teerã esgotado e voou para o Cairo e depois para Tunísia, onde o avião pousou em aeroporto errado e ele teve que aguardar no frio. Depois do encontro com Eisenhower ele pretendia voar para a Itália, mas foi constatada uma pneumonia que o obrigou a guardar repouso por alguns dias nos quais, a despeito das recomendações médicas de descansar, seguiu tendo reuniões de trabalho.
Sem o descanso necessário, o coração de Winston começou a falhar gerando receio nos mais próximos de que estivesse morrendo. Para a filha Sarah, contudo, ele se mostrou consolado: “Se eu morrer, não se preocupe... A guerra está ganha.
A guerra pela saúde, no entanto, estava apenas começando. Em 15/10/1943 ele teve um ataque de fibrilação, que é um ritmo de batimentos rápido e irregular do coração.  No dia seguinte teve outro episódio. Mas seguia recebendo visitas e discutindo detalhes da guerra. No Natal já estava convidando comandantes para um almoço, ditando cartas, telegramas e até mesmo o próprio boletim médico.
Ao final de Dezembro/1943 Churchill voou para Marrakesh onde passaria o restante de sua recuperação. Ali recebeu a notícia de que haveria um segundo desembarque na Itália, em Anzio, e que o Exército Vermelho cruzara a fronteira da Polônia de 1939 empurrando os nazistas a marretadas.
Em Marrakesh Winston trabalhava pela manhã e fazia pick nicks no almoço nos quais recebia convidados para discussões menos formais. Quando recebeu De Gaulle em 12/01/1944 tentou persuadi-lo a evitar perseguir os colaboradores do governo de Vichy para que isso não se tornasse um cisma prejudicial e quando o francês relutou disse-lhe:
Ouça! Eu sou líder de uma nação forte e invicta. E, no entanto, todas as manhãs, quando acordo, meu primeiro pensamento é como poderei agradar ao presidente Roosevelt e meu segundo pensamento é como poderei cativar o marechal Stálin. Sua situação é muito diferente. Por que então seu primeiro pensamento ao acordar é como desafiar britânicos e americanos? (<<<<pg. 185-189)
Recuperado, Churchill voltou a Londres onde o trem especial do Rei esperava para levá-lo de Plymouth a Londres. Havia imenso alívio em todos os círculos por seu retorno vivo e saudável. Assim que chegou foi logo à Câmara dos Comuns para responder perguntas e depois foi almoçar com o Rei. (pg. 189-190)
O desembarque em Anzio não obteve o sucesso esperado pois a resistência alemã mostrou-se tenaz de modo que a operação foi assim definida por Churchill: “Esperávamos desembarcar uma fera que estriparia os alemães. Em vez disso, encalhamos uma enorme baleia com a cauda presa na água”.
Os estadunidenses pareciam dispostos a apenas manter as presentes situações na Itália, do que Winston discordava, mas não estava em posição de forçar sua opinião, até porque já estava envolvido no planejamento da Operação Overlord, a futura invasão da França pela Normandia.
E Winston o fazia com a usual energia: “Os aparentemente indolentes ou obstrutivos eram repreendidos; rivalidades eram reconciliadas; prioridades eram determinadas; dificuldades que a princípio pareciam insuperáveis eram ultrapassadas; e as decisões eram traduzidas em ações imediatas.
Foram planejadas ações de despiste que levaram os alemães a pensar que o desembarque se daria em Dieppe ou em Calais, mas não na Normandia. Em fins de Março/1944 o trabalho excessivo cobrou novamente seu preço e Churchill já estava novamente à beira de uma exaustão completa. E a situação era perceptível aos que o rodeavam como foi descrito após uma reunião do Estado-Maior:
Percebemos que ele estava excepcionalmente cansado. Receio que esteja perdendo terreno rapidamente. Parece incapaz de concentrar-se de forma duradoura e distrai-se constantemente. Estava sempre bocejando e disse que se sentia desesperadamente cansado.(<<<<pg. 190-192)
Em Abril/1944 a situação era ainda pior, apesar de o próprio Churchill garantiu que “ainda conseguia dormir bem, comer bem e, em especial, beber bem, mas já não saltava da cama como costumava e sentia que gostaria de passar todo o dia na cama”.
Sua preocupação era que os bombardeios necessários para abrir caminho no Dia-D não matassem muitos franceses, gerando um sentimento anti-aliados após a invasão da França. Temia também as baixas que suas tropas sofreriam nessa invasão pois, lembrando-se do que ocorrera durante a Primeira Guerra, “Uma geração britânica inteira de potenciais líderes havia sido dizimada e o país não podia dar-se ao luxo de perder outra geração”.
CONTINUA




[1]   GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2]   Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

CHURCHILL – Parte XXXIX [1] [2]
A invasão da Sicília começou em 09/07/1943 e terminou com sucesso em 17/08/1943. Em 25/07/1943 Mussolini foi demitido do cargo. A Itália rejeitava seu Duce prendendo-o em Gran Sasso de onde foi resgatado por forças paraquedistas alemãs. Mas o “Partido Fascista fora dissolvido e o Grande Conselho Fascista, seu instrumento de governo, abolido.
Churchill logo se prontificou a negociar com os italianos: “Agora que Mussolini se foi, devo poder ter conversações com qualquer governo italiano não fascista que possa resolver os assuntos”. 
Victorio Emanuele III - Mussolino - Pietro Badoglio
Pouco depois, ele viajou com Clementine e a filha Mary para a Conferência de Quebec.
Lá ficou decidido que o ano de 1944 seria dedicado a preparar a invasão da França pelo Canal da Mancha, com a finalidade de “atacar o coração da Alemanha e destruir suas forças militares”. Essa operação teria prioridade sobre todas as outras, também seria feito um desembarque no Sul da França, para dividir as forças defensivas dos alemães.
A invasão da Itália não ultrapassaria a linha entre as cidades de Pisa e Ancona, e as operações nos Balcãs seriam restritas a dar apoio aos guerrilheiros. Saindo do Canadá Churchill foi de trem para os EUA onde soube da rendição da Itália e do desembarque das tropas aliadas em Salerno.
Neste momento a preocupação de Winston já era com o pós-guerra, qual seria a situação da Alemanha, se, e como, seria dividida, bem como a forma de agir em relação à URSS. Ele acreditava que a URSS se tornaria uma superpotência, mas que a união dos britânicos aos estadunidenses poderia manter o equilíbrio na fase de reconstrução da Europa.
Em 06/09/1943 ele viajou a Harvard para receber um grau honorífico, retornando logo a Washington de onde partiu de regresso à Inglaterra no dia 12/09/1943. (<<<<<pg. 176-180)
Churchill em Harvard
No final de Setembro/1943 as notícias eram quase todas animadoras: o Exército Vermelho retomara Smolensk e as tropas nazistas estavam em constante retirada sendo violentamente empurradas a despeito da monótona ordem de Hitler de nunca recuar, resistir até o último homem, etc., na Itália os aliados entravam em Nápoles e as ilhas da Córsega e da Sardenha se rendiam com pouca resistência e o couraçado alemão Tirpitz foi inutilizado na Noruega por mini submarinos, facilitando mais a vida dos comboios de suprimentos, a despeito dos novos torpedos acústicos dos U-boats alemães.
O entusiasmo de Churchill era tamanho que não se conseguia mais controlar sua ânsia por atacar. De seu ponto de vista “A dificuldade não está em ganhar a guerra, e sim em tentar persuadir as pessoas a deixarem-nos ganhá-la, em tentar persuadir tolos.” (<pg. 180-181)
Em Novembro/1943 Churchill estava de volta ao Cairo onde recebeu Roosevelt e o levou para conhecer as Pirâmides e a Esfinge. 
Na chamada Conferência do Cairo não se chegou a nenhuma decisão importante e, em seguida, ambos os governantes viajaram em aviões separados para Teerã, onde se encontrariam com Stalin.
Na noite anterior aos encontros oficiais houve um jantar do qual Churchill não participou pois estava exausto. No dia do encontro, Roosevelt e Stalin conversaram por uma hora antes de se encontrar com Churchill e Stalin convenceu Roosevelt a priorizar a invasão da França em detrimento da campanha na Itália que Churchill defendia com apoio de Eisenhower.
No próprio encontro, porém, Roosevelt defendeu ampliar o avanço na Itália enquanto Churchill defendeu uma invasão ao Sul da França, com o que Stalin concordou. À noite foi a vez de Roosevelt faltar ao jantar por um mal estar de modo que Churchill e Stalin decidiram o pós-guerra na Alemanha e na Polônia. Esta última perderia territórios para a URSS a Leste e ganharia a Oeste, tomando-os da Alemanha.
No último jantar, oferecido por Churchill no dia de seu aniversário, muitos brindes o saudaram. Em dado momento, o próprio Winston ergueu sua taça: “Bebo às massas proletárias”, o que levou Stálin a erguer seu copo e dizer: “Bebo ao Partido Conservador.” Churchill disse a Stálin: “A Inglaterra está cada vez mais cor-de-rosa.” “É sinal de boa saúde”, contrapôs Stálin.” Este, ao final da conferência, saiu de Teerã tendo conseguido praticamente tudo o que queria. (<<<pg. 181-185)
E, informação não constante no livro de Gilbert, Stalin ainda recebeu das mãos de Churchill uma espada cerimonial enviada pelo Rei George VI em homenagem à extraordinária resistência do povo de Stalingrado à invasão nazista. Na espada havia, em tradução livre, a inscrição: 
Ao espírito de aço dos cidadãos de Stalingrado, o presente do Rei George VI, como símbolo da homenagem do povo britânico.” O líder soviético a recebeu e beijou com os olhos rasos d'água.
CONTINUA 




[1]   GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2]   Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).



CHURCHILL – Parte XXXVIII [1] [2]
Em 14/01/1943 Churchill se encontrou com Roosevelt em Casablanca onde as conversações demoraram oito dias e decidiram que o desembarque aliado de 1943 seria na Sicília, que se daria após a derrota de Rommel na Tunísia, que as tropas para esse desembarque sairiam da África, e que um outro desembarque, desta vez na França, se daria em 1944 e, até lá quase um milhão de soldados estadunidenses se concentrariam na Inglaterra.
Reafirmou-se ainda a prioridade em derrotar primeiro a Alemanha, depois o Japão, com a continuidade da aliança anglo-estadunidense até a derrota do Japão: “Não haveria armistício, paz negociada ou regateio: apenas a total e absoluta rendição de ambos os exércitos.
O encontro se encerrou em Marrakesh, onde Winston e Roosevelt observaram o por-do-Sol a partir dos Montes Atlas. Churchill pintou lá seu único quadro durante a guerra.
De lá ele voou para o Cairo (de onde enviou homens para conversar com o líder da resistência iugoslava Tito), depois voou para a Turquia (onde negociou com o Presidente Ismet Inönü não conseguindo convencê-lo a entrar na guerra mas obtendo garantia de parceria caso os turcos fossem obrigados a guerrear), depois foi para o Chipre (onde falou com as tropas de seu regimento de hussardos), então voltou ao Cairo onde soube da rendição do VI Exército alemão em Stalingrado.
Presidente Ismet Inönü

No dia seguinte Winston voou para Tripoli, onde inspecionou as tropas de Montgomery e dormiu em um caminhão. Em seguida voou para Argel onde insistiu pela revogação das leis anti-semitas do extinto governo de Vichy.
Finalmente, em 07/02/1943 retornou a Inglaterra. Clementine havia-lhe escrito pedindo um momento a sós na chegada: “Por favor, deixe-me entrar no trem antes de desembarcar. Gosto de beijar meu pisco [3] em particular e não ser fotografada fazendo isso.” Depois de tantas aventuras, Winston acabou caindo doente de pneumonia, sendo obrigado a ficar em repouso por uma semana em Downing Street e assustando sua filha Mary: “Fiquei chocada quando o vi. Parecia muito velho e cansado, deitado de costas na cama.”. (<<<<<<<<pg. 166-170)
Assim que se sentiu um pouco melhor, Churchill foi para sua casa em Chequers para ler e responder telegramas recebidos. A enfermeira que o acompanhou escreveu que ele “Gostava de ver filmes, especialmente documentários, e ficava encantado se aparecia nos filmes [...]. Era muito amável comigo e mostrou interesse em saber que meu marido era tenente-médico num contratorpedeiro dos comboios russos.
Como diz o ditado “desgraça pouca é bobagem”, apesar dos avanços das forças de Montgomery, o porto de Trípoli não estava funcionando a contento e as tropas de Eisenhower estavam sofrendo pesados reveses por parte das forças de Rommel, atrasando a eventual conquista de Túnis, o que também atrasaria o desembarque previsto para 1943.
Tropas Aliadas na Tunísia
Dias depois, quando as forças americanas e britânicas completaram a junção, estando no momento em posição de expulsar definitivamente os alemães da Tunísia, Churchill foi informado que Eisenhower não queria mais invadir a Sicília pela presença de duas divisões alemãs e seis italianas na ilha. Winston ficou furioso:
Esse é um exemplo da fatuidade dos chefes de planejamento, que atiram seus medos para cima uns dos outros, apresentando as maiores dificuldades em cada serviço, fazendo americanos e ingleses rivalizarem uns com os outros na total ausência de uma mente diretora e da vontade de comandar. Não sei o que pensaria Stálin, quando ele teve 185 divisões alemãs diante dele. (<<<pg. 170-172)
Disposto a não abandonar a invasão da Sicília, Churchill viajou novamente aos EUA na companhia de Averell Harriman. No caminho foi informado da vitória das forças aliadas na Tunísia e da captura de cem mil prisioneiros, número que aumentaria para 240 mil até o final do mês. Novamente os sinos repicaram em todas as igrejas da Inglaterra.
A viagem aos EUA se deu no navio Queen Mary onde recebeu mensagem decifrada de que poderiam se encontrar com um dos submarinos alemães que patrulhava a área. Prevendo eventual afundamento do navio Winston ordenou que fosse colocada uma metralhadora no bote salva-vidas que ele usaria em caso de naufrágio.
Harriman registrou suas palavras: “Não serei capturado. A maneira mais bela de morrer é na emoção de lutar contra o inimigo. Não seria assim tão belo se eu estivesse na água quando eles tentassem me pegar.
No encontro com Roosevelt ficou decidido, de novo, que haveria imediatamente o desembarque na Sicília e depois a invasão da Itália. Quando esta estivesse completada se seguiriam operações nos Balcãs e no Sul da Europa.
Deixando os detalhes para os subordinados, Roosevelt e Churchill foram para a casa de campo do Presidente em Shangri-La-Maryland, atualmente denominada Camp-David. 
Em 19/05/1943 Winston falou novamente no Congresso alertando contra divisões que prolongassem a guerra pois “é no arrastar da guerra, a enormes custos, até que as democracias se cansem, se aborreçam ou se dividam, que residem agora as principais esperanças da Alemanha e do Japão.
Essas divisões já existiam, no entanto. Exemplo disso é que os estadunidenses pararam de compartilhar informações sobre a produção da bomba atômica, mas como eles compraram toda produção de urânio e água pesada canadense, os ingleses não tinham como prosseguir na fabricação de uma bomba própria. Em conversa com Roosevelt ficou acertada a volta do compartilhamento de informações.
Deixando os EUA, Churchill voou para Argel, conseguindo convencer Eisenhower dos benefícios de invadir logo a Itália após a tomada da Sicília.  Depois foi a Tunis, onde falou aos soldados em um antigo anfiteatro cartaginês. De volta a Inglaterra falou ao Parlamento sobre a viagem, justificando-a da seguinte forma:
Quando rumamos juntos e ponderadamente pelo difícil e áspero caminho da guerra, ocorrem todos os tipos de divergências, todos os tipos de diferenças de pontos de vista e todas as espécies de embates incômodos. Mas nada disso tem a menor influência em nossa sempre crescente união. Não há nenhuma questão que não possa ser resolvida, face a face, com conversas calorosas e argumentações pacientes. (<<<<<<<pg. 172-175)
A captura de ilhas menores ao redor da Sicília abriam caminho para a invasão. Ao mesmo tempo prosseguiam e aumentavam os bombardeios a cidades alemãs como Wuppertal em 20/06/1943 no qual morreram três mil civis. Ao assistir um filme sobre o ataque Churchill ficou abalado: “Somos animais? Estamos indo longe demais?” Dois dias depois chegou ao conhecimento dele a preparação de um tipo de míssil que poderia atingir Londres quando lançado da França. Foi ordenado, então, o bombardeio de Peenemünde, a pequena cidade onde a arma estava sendo desenvolvida. (pg. 176)
CONTINUA 



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   Não encontramos um significado exato para a palavra pisco, mas seria um termo quechua (do Peru) para ave que dá nome a uma bebida peruana.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Pisco_(bebida)








CHURCHILL – Parte XXXVII [1] [2]
O encontro com Stalin começou tenso, com este chateado, pois Churchill não podia atender a solicitação de um desembarque aliado na Europa que desviasse forças alemãs da URSS.
Mas Stalin ficou mais satisfeito com a promessa de que os bombardeios às cidades e instalações militares alemãs prosse-guiriam. E ainda mais feliz quando Winston detalhou os planos para um desembarque na África.
Na verdade, comentário nosso, naquele momento Stalin estava na difícil situação de defender-se do avanço alemão no Cáucaso onde a Batalha de Stalingrado já havia começado e a cidade parecia prester a cair, o que seria uma catástrofe de relações públicas considerando ser ela a Cidade de Stalin. E nada mais haveria no caminho para tomada dos campos petrolíferos de Maikop, o que garantiria abaste-cimento para a máquina de guerra alemã.
No dia 15/08/1942 ambos os líderes se encontraram novamente e Churchill avisou que haveria um “sério” ataque de reconhecimento em Dieppe (Normandia) em 17/08, o que deixaria a Alemanha “mais ansiosa acerca de um ataque através do canal”. Stalin ficou satisfeito e convidou Churchill ao seu aparta- mento no Kremlin para um drink que acabou se transformando em um banquete de seis horas. Despediram-se quase amigos, por assim dizer.
O ataque a Dieppe foi um sucesso, assim como a resistência das defesas de Stalin no Cáucaso seguiam resistindo. Churchill voltou ao Egito onde ficou mais alguns dias inspecionando as tropas nas quais sentiu o espírito revigorado após a posse de Montgomery.
Mensagens secretas deci- fradas em Bletchley permitiram o afundamento de mais navios que levavam combustível a Rommel, obrigando-o a antecipar o ataque visando El-Alamein. Mas ele fracassou justamente pela falta de combustível. Não havia mais como chegar ao Cairo ou Alexandria. (<<<<<<<<<<<<pg. 155-162)
Um ataque fracassado estimulava um contra-ataque e foi o que Montgomery fez em 23/10/1942. De posse de informações precisas sobre a localização e as deficiências das tropas de Rommel, que estava na Alemanha, os britânicos avançaram capturando milhares de soldados alemães e italianos. Quando Rommel voltou e tentou um contra-ataque, suas posições de reunião de forças foram bombardeadas pelo ar fazendo com que sequer pudessem começar.
A mensagem enviada por Rommel a Berlim, devidamente decifrada em Bletchley, informava o alto comando alemão de que as tropas italo-germânicas não tinham mais como resistir aos tanques britânicos e nem poderiam se retirar combatendo pela “falta de veículos motorizados e baixas reservas de combustível.”.
Saber dessa informação levou os britânicos a desencadear o ataque final. No dia 08/11/1942 “soldados britânicos e americanos desembarca- ram em força em Argel, Orã e Casablanca.”. Essas cidades, e portos, que eram possessões da França sob governo de Vichy, foram defendidas pelos franceses, mas o Almirante Darlan, francês, que estava em visita ao filho em Argel ordenou a entrega das armas aos aliados. Foi uma vitória extremamente importante.
A maré da guerra começava a virar pois também em Stalingrado, pouco mais de dez dias depois, seria desencadeada a Operação Urano, que cercaria o VI Exército alemão dentro de Stalingrado, isolando-o do restante das forças no Cáucaso.
A iminente derrota de Rommel na África abria a possibilidade de um desembarque aliado na Europa já em 1943, o que abriria a segunda frente europeia pela qual Stalin tanto pedira. Espirituoso como sempre, Churchil definiu aquele momento da seguinte forma: “Não é o fim. Não é sequer o princípio do fim. Mas é, talvez, o fim do princípio.
Em 13/11/1942 as tropas de Montgomery entraram em Tobruk e dois dias depois, por ordem de Churchill, todos os sinos da Inglaterra repicaram para celebrar a vitória. Por seu lado, as forças alemãs ocuparam o restante da França e o governo fantoche de Vichy deixou de existir na prática. (<<<<<pg. 162-165)
Em 22/11/1942 o Exército Vermelho completou o cerco ao VI Exército alemão, sob comando do General Von Paulus. Ele solicitou permissão para forçar uma retirada, o que Hitler negou, ordenando que resistisse e garantindo, com a palavra de Göring, que a Luftwaffe manteria o abastecimento. Contudo, Churchill soube que 400 dos aviões que fariam esse abastecimento (eram necessárias 800 toneladas periódicas de suprimentos) foram desviados para ajudar Rommel no deserto.
Este, por sua vez, concentrava muitas tropas na Tunísia, o que, certamente, adiaria a vitória final dos aliados na África, fato que também colocaria em suspense o desembarque aliado previsto para 1943. Os ataques de submarinos a comboios de suprimentos aliados para Inglaterra e a URSS seguiam aumentan- do chegando à astronômica cifra de quase 722 mil toneladas de navios afundados apenas em Novembro.
Somente em meados de Dezembro a cifra secreta alemã foi decodificada e os comboios puderam evitar as rotas dos submarinos. Em 17/12/1942 foi emitida uma declaração conjunta dos aliados denunciando o massacre de judeus e avisando que os perpetradores desses crimes seriam caçados depois da guerra.
CONTINUA 



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).




CHURCHILL – Parte XXXVI [1] [2]
Apesar da recomendação médica de repouso absoluto, Churchill viajou para Ottawa, no Canadá, onde discursou no Parlamento relembrando a previsão furada do francês Weygand de que logo a Grã-Bretanha estaria com o pescoço torcido como de uma galinha. Winston falou, para delírio dos presentes: “E que galinha!” Quando as gargalhadas cessaram, acrescentou: “E que pescoço!
Só após retornar do Canadá ele tirou alguns dias de folga na Flórida. No retorno seu avião, pouco antes de pousar em Plymouth, foi confundido com um avião alemão e seis caças ordenados a decolar para abatê-lo. Felizmente o erro foi corrigido a tempo e ele pousou em segurança. (<<<<<<pg. 149-151)
Tropas Japonesas em Cingapura
No final de janeiro, com os japoneses avançando sobre Cingapura, Churchill pediu um voto de confiança no Parlamento, vencendo por 464 x 1. Mas as más notícias de 1942 estavam começando.
Os alemães mudaram seus códigos da máquina enigma que só foram decifrados no final do ano, ao mesmo tempo, os nazistas conseguiram decifrar os códigos britânicos para os comboios de carga do Atlântico Norte.
Em meados de fevereiro as forças que combatiam em Cingapura foram autorizadas à rendição: “Entre aqueles que foram feitos prisioneiros dos japoneses, havia 16 mil britânicos, 14 mil australianos e 32 mil indianos.
Em transmissão radiofônica Churchill conclamou a seguirem firmas na travessia da tempestade, no entanto os soldados em luta na Ásia não pareciam imbuídos do mesmo espírito, conforme relatou um dos comandantes britânicos na região: “nem os ingleses, nem os australianos nem os indianos demonstram verdadeira dureza de espírito e corpo”.
E, falando em corpo, o de Churchill parecia fraquejar com o peso que carregava sobre os ombros, a sucessão de más notícias e as críticas que já surgiam internamente, até mesmo da parte do Rei. Clementine temia por ele e a filha Mary escreveu que “Papai está muito deprimido. Não está muito bem fisicamente e está desgastado pela contínua pressão dos acontecimentos.” Enquanto isso os japoneses avançavam na Birmânia e em Java.
Tropas Japonesas na Birmânia

Tropas Japonesas em Java
No teatro de operações europeu Stálin pedia uma invasão aliada em 1942 para aliviar a pressão sobre a URSS, mas os EUA só estariam prontos para uma operação de tal envergadura em 1944. O que podiam fazer até lá seria prosseguir bombardeando as cidades alemãs.
Cidade alemã de Colônia devastada
Em 30/05/1942 a cidade de Colônia foi atacada por 1000 aviões bombardeiros sendo reduzida a ruínas fumegantes. Ao mesmo tempo o código secreto de comunicações do Japão foi decifrado e a frota a caminho de Midway foi interceptada com a destruição de quatro porta-aviões japoneses. (<<<<<<pg. 151-155)
Batalha de Midway
Em meados de Junho Churchill viajou novamente aos EUA para se encontrar com Roosevelt, desta vez na casa deste às margens do Rio Hudson. O próprio Roosevelt dirigia uma carro adaptado e deixou Winston meio assustado “confesso que em várias ocasiões, quando o carro se desequilibrou e resvalou nas bermas cheias de mato dos precipícios à beira do Hudson, desejei que os aparelhos mecânicos e os freios não tivessem nenhum defeito.
Neste encontro ambos concordaram em uma parceria nas investigações sobre a construção de uma bomba atômica. Também juntos receberam a notícia da queda de Tobruk, o que deixava Rommel na possibilidade de invadir o Egito. Roosevelt se comprometeu em enviar “trezentos tanques e cem canhões autopropulsionados”.
De volta a Inglaterra Churchill enfrentou uma moção de censura no Parlamento. No dia do início dos debates Rommel invadiu El Alamein, o que não foi nada bom para Winston assim acusado por um deputado trabalhista: “O primeiro-ministro vence debate após debate e perde batalhas atrás de batalhas. O país começa a dizer que ele luta nos debates como numa guerra e luta na guerra como nos debates.” Mas a moção de censura “foi derrotada por 475 votos contra 25.
Contudo, como que para lembrar que as más notícias sempre predominavam, um comboio de armas e suprimentos a caminho da URSS foi atacado e “Dos seus 34 navios mercantes, 23 foram afundados e apenas 11 chegaram à Rússia. De quase seiscentos tanques que o comboio transportava para a Rússia, quinhentos foram perdidos.
Em Agosto/1942 Churchill voou para o Cairo, onde constatou o desânimo reinante entre as forças britânicas. Então ele decidiu substituir o comandante do 8º Exército General Auchinleck pelo General Gott, cujo posto de Comandante em Chefe do Oriente Médio seria assumido pelo General Alexander.
Mas Gott foi morto quando seu avião foi derrubado pelos alemães e o escolhido para o posto foi o General Montgomery, que era considerado uma pessoa desagradável e sobre isso Winston escreveu a Clementine: “Se ele é desagradável com aqueles que trabalham com ele, é também desagradável com o inimigo”.
Do Cairo Churchill voou para Teerã e de lá para Moscou de onde foi levado a uma dacha (tipo de casa de campo) na qual esperavam por ele um banho quente e bebidas “muito além de nossas capacidades de consumo”.
Pouco depois ele foi levado ao Kremlin onde se encontrou com Stalin.
CONTINUA




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).


CHURCHILL – Parte XXXV [1] [2]
No dia 22/06/1941, em transmissão pela BBC à noite, Churchill disse que todos sabiam que ele havia feito oposição ao bolchevismo durante muito tempo, mas que, naquele momento em que Hitler esperava derrotar os russos antes do inverno e depois voltar toda sua força contra a Inglaterra, “O perigo que a Rússia enfrenta é doravante nosso perigo...” que “a causa de qualquer luta dos russos por sua terra e por seu lar é a causa dos homens e dos povos livres em todos os cantos do mundo” e, portanto, “devemos dar à Rússia toda a ajuda que pudermos”.
E Winston agiu rapidamente para transformar em ações suas palavras ordenando uma série de grandes ataques às instalações militares alemãs na França e na Alemanha com intuito de obrigar Hitler a desviar recursos e tropas para defesa própria, aliviando assim o fardo russo.
Aos poucos o número de cidades alemãs bombardeadas foi aumentando, “Frankfurt foi bombardeada na noite de 7 de julho, Wilhelmshaven em 11 de julho e Hannover, em 14 de julho.
Em pronunciamento, Churchill avisou: “Infligiremos aos alemães o mesmo que, e mais ainda, do que eles infligiram a nós.” e ainda desafiou Hitler: “Você faz seu pior, e nós faremos nosso melhor.” Hamburgo foi o próximo alvo.
Ao mesmo tempo Winston enviava a Stalin todas as informações sobre a URSS que eram decifradas em Bletchley e avisava que daria toda ajuda possível: “...esperamos obrigar Hitler a devolver parte de seu poderio aéreo ao ocidente e gradualmente aliviá-lo de algumas de suas preocupações.
Parece-nos que, finalmente, Churchill estava planejando muito mais ataques do que operações defensivas. A isso soma-se a queda considerável de ataques aéreos sobre a Grã-Bretanha e a redução significativa da perda de comboios de suprimentos vindos da América pois agora eles conseguiam desviar e se esconder dos submarinos graças, mais uma vez, à decifração feita em Bletchley. (<<<<<<pg. 139-142)
No início de Agosto/1941 Churchill viajo a Placentia, na Terra Nova e Labrador - Canadá, para se encontrar com Roosevelt. 
Neste encontro foi decidido que os EUA ajudariam a URSS em coordenação com Churchill, aumentariam os comboios de suprimentos e suas escoltas para a Grã-Bretanha, também fariam entregas de aviões bombardeiros na África com pilotos-treinadores americanos e fariam patrulhamento marítimo até a Islândia.
Os dois países também firmaram um tratado com disposições sobre o pós-guerra que foi denominado Carta do Atlântico.[3]. Quando soube que os próprios alemães já não acreditavam em uma vitória na URSS antes do inverno, Churchill reforçou o envio de suprimentos, tanques e aviões para Stalin e os EUA fizeram o mesmo. 
Clementine lançou uma campanha que arrecadou medicamentos e um novo pacote de ajuda militar acertou o envio de “1.800 caças britânicos, novecentos caças americanos e novecentos bombardeiros para os próximos nove meses, bem como canhões navais, equipamentos de detecção de submarinos, armas antiaéreas e carros blindados.
Winston ordenou, ainda, ataques anfíbios à Noruega e a Sicília, operações que foram vetadas pelos chefes do Estado-Maior. (<<<pg. 142-146)
As boas notícias se multiplicavam. A URSS resistia muito além do que os mais pessimistas alemães poderiam ter previsto. 
Na Líbia as mensagens secretas decifradas em Bletchley davam conta de que Rommel enfrentava uma séria falta de recursos e até de combustível. Dois navios que trariam alívio na falta desse material foram afundados. As tropas britânicas romperam o cerco alemão e retornaram a Tobruk.
Em 07/12/1941 as forças navais do Império do Japão atacaram a base americana de Pearl Harbour. Os EUA não poderiam mais se esquivar de entrar na guerra. Contudo o ataque viera do Japão e o inimigo principal era a Alemanha. Como os EUA fariam guerra contra a Alemanha se esta não lhe atacara?
Quem solucionou a questão foi o próprio Hitler quando, após a declaração de guerra dos estadunidenses contra o Japão, declarou guerra da Alemanha contra os EUA.
Hitler tomou esta atitude fatal esperando que o Japão declarasse guerra a URSS, o que não ocorreu. O Exército Vermelho não só imperida a conquista de Moscou pelos nazistas, como contra-atacava fazendo recuar a Werhmacht pela primeira vez na guerra. (<<<pg. 146-149) Sobre esse tema, sugerimos uma pausa para leitura de nosso texto “A Mãe de Todas as Batalhas” que pode ser acessado AQUI.
Após a entrada dos EUA na guerra Churchill viajou a Washington onde foi hóspede de Roosevelt na Casa Branca. 
Ele permaneceu na capital estadunidense por três semanas e nas conversações ficou decidida a invasão do Norte da África bem como a necessidade de derrotar primeiro a Alemanha e depois o Japão que avançava sobre toda Ásia.
Também acordaram que os aviões americanos usariam as bases britânicas para atacar a Alemanha, que enviariam tropas para a Irlanda, substituindo os soldados do Reino Unido que poderiam ser enviados à África. Tropas americanas seriam deslocadas das Filipinas para Cingapura e mais tropas iriam compor a defesa da Austrália.
No dia 26/12/1941 Churchill discursou no Congresso dos EUA e, à noite, sofreu um pequeno ataque cardíaco na Casa Branca quando tentou abrir uma janela: “Tive de usar uma força considerável e, de repente, notei que tinha dificuldade para respirar. Senti uma forte dor no coração. Deixei de sentir meu braço esquerdo.
Mas o médico, Dr. Charles Wilson não revelou este fato nem mesmo ao paciente, recomendando apenas repouso e evitar esforço físico ao invés das seis semanas na cama que seriam recomendáveis.
CONTINUA



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   A Carta do Atlântico (Atlantic Charter) foi negociada na Conferência do Atlântico (codinome Riviera) pelo primeiro-ministro britânico Winston Churchill e pelo presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, a bordo do HMS Prince of Wales, na Argentia, em Terra Nova e foi emitida como declaração no dia 14 de Agosto de 1941. A Carta do Atlântico estabeleceu uma visão Pós-Segunda Guerra Mundial, apesar dos Estados Unidos ainda não estarem na guerra. Os participantes esperaram, em vão, a adesão da União Soviética, que tinha sido invadida pela Alemanha Nazista em 1941. Em resumo, os oito pontos eram:
1. Nenhum ganho territorial seria buscado pelos Estados Unidos ou pelo Reino Unido;
2. Os ajustes territoriais devem estar de acordo com os desejos do pessoal interessado;
3. As pessoas têm direito à auto-determinação;
4. Barreiras comerciais devem ser excluídas;
5. Há de ser uma cooperação econômica global e avanço do bem-estar social;
6. A liberdade de desejo e medo seria executada;
7. Há de ter a liberdade dos mares;
8. Desarmamento das nações agressoras em comum após a guerra seria feito.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Carta_do_Atl%C3%A2ntico


CHURCHILL – Parte XXXIV [1] [2]
Em 14/11/1940, após o funeral de Neville Chamberlain, Winston recebeu o informe de que um grande ataque era iminente e, segundo Martin Gilbert, havia informações anteriores de que o alvo provavelmente seria Londres, para onde Churchill retornou apressadamente.
Essas informações também apontavam outros possíveis alvos como “o vale do Tâmisa, as costas de Kent e de Essex, Coventry e Birmingham”, de modo que não se podia ter certeza de onde seria o ataque.
Somente às 15:50hs houve informação de que o alvo era Coventry, para onde foram deslocados cem caças ao mesmo tempo em que bombardeiros foram enviados para bombardear os campos de onde decolariam os aviões alemães. Apesar disso, Coventry foi atacada com o resultado de 568 civis mortos.
Nos dias seguintes os ataques prosseguiram “tendo sido mortos 484 civis em Londres e 228 civis em Birmingham.” A retaliação britânica foi rápida: “Berlim foi bombardeada em 16 de novembro e Hamburgo foi atingida dois dias depois, matando 233 civis alemães.” (<<<<pg. 126-127)
Em 08/12/1940 outro ataque destruiu parte da Câmara dos Comuns e mais 85 pessoas morreram. 
Câmara dos Comuns atingida
Dois dias depois, finalmente, mais uma boa notícia: as tropas britânicas estavam arrasando os italianos no deserto e “o número de prisioneiros tinha subido para sete mil, entre eles três generais.” Os italianos também não estavam se dando bem na Grécia e, em ambos os casos, logo receberiam ajuda alemã.
Mas a situação financeira da Inglaterra estava rapidamente se transformando em um problema quase tão ruim quanto os aviões de Hitler. Roosevelt estava negando quase todos os pedidos de armas e suprimentos de Churchill e estava exigindo praticamente pagamento à vista.
Porém, “As compras de armas em dezembro, janeiro e fevereiro ascendiam a 1 bilhão de dólares, mas as reservas de ouro e dólares tinham sido tão esvaziadas por um ano de despesas de guerra que o total era de apenas 574 milhões de dólares.” Desse total, Roosevelt queria a metade pagos adiantados para poder seguir as entregas e chegou “ao ponto de enviar um navio de guerra à base naval de Simonstown, perto da Cidade do Cabo, para recolher 50 milhões de dólares de reservas de ouro britânicas guardadas na África do Sul.
A despeito disso as tropas britânicas no Egito avançaram até Tobruk, na Líbia. Esses avanços tinham data para acabar, pois com o conhecimento prévio (adquirido pelos decifradores de Bletchley) de que Hitler enviaria tropas para ajudar os italianos na Grécia, Churchill decidira que o exército na Líbia seria desfalcado para reforçar a resistência grega. (<<<pg. 128-129)
No início de Janeiro/1941 uma solução para o comércio de guerra entre os EUA e a Inglaterra  finalmente foi desenhada pelo Presidente estadunidense. O contrato chamado Acordo de Empréstimo e Arrendamento (Lend-Leasing) previa que “os Estados Unidos fabricariam o que a Grã-Bretanha necessitava e alugariam esse material, numa base de arrendamento, sendo o pagamento efetuado no final da guerra.”.
Antes, porém, “a Grã-Bretanha tinha de pagar todas as dívidas que pudesse em ouro e por meio da venda dos bens comerciais britânicos nos Estados Unidos.” o que significaria praticamente zerar os cofres britânicos.
Contudo, significava também que os problemas de suprimentos estavam solucionados. Isso, somado à notícia decifrada em Bletchley de que Hitler não planejava mais invadir a Grã-Bretanha, representaram um grande alívio para Churchill.
A partir dai a cooperação entre os dois países tornou-se também militar com a formação de um grupo que reunia os Estados Maiores na preparação de planos para o caso de os EUA entrarem na guerra. Aqui sugerimos ao leitor outra pausa em nossa série para ler um texto paralelo relacionado. Trata-se de “Bastidores da II Guerra”, que conta a participação de heróis quase esquecidos e também sobre os dias sombrios da Inglaterra sob ataque nazista. Para ler clique AQUI.
E aqui vai um indício a mais que alimenta teorias de conspiração de que os EUA sabiam que seriam atacados pelo Japão: “mesmo na eventualidade de uma guerra no Pacífico, o teatro de operações Atlântico-Europa continuará a ser o decisivo, se a Alemanha e os Estados Unidos entrarem diretamente em guerra.” (<<<<pg. 129-130)
No início de fevereiro as tropas britânicas seguiam avançando sobre os italianos no deserto da Líbia e fazendo prisioneiros às dezenas de milhares. No dia 12, porém, desembarcou em Trípoli o homem que se tornaria um pesadelo para os britânicos: Erwin Rommel. Em abril ele já havia feito os britânicos recuarem de volta ao Egito.
Na Grécia a situação era semelhante, os alemães avançavam rapidamente e a Iugoslávia também se tornara um alvo levando toda região dos balcãs a cair sob domínio de Hitler. Ao mesmo tempo, no Atlântico, os submarinos alemães causavam uma devastação sem precedentes no já minguado fornecimento de suprimentos vindos da América, os ataques aéreos às cidades inglesas seguiam e o número de civis mortos chegou à casa dos 30 mil.
Churchill atuava, com base nas informações decifradas em Bletchley, tentando convencer o Japão a não atacar as possessões britânicas na Ásia, bem como municiar Stalin de informações sobre as concentrações de tropas alemãs na fronteira com a URSS.
Em 10/05/1941 ocorreu o pior ataque a Londres até aquele momento, 1400 civis morreram e a cidade ardeu por três dias. O prédio da Câmara dos Comuns foi atingido novamente e Churchill disse ao filho que “Os hunos, amavelmente, escolheram um momento em que nenhum de nós estaria lá”. 
Em meio a esse tsunami de más notícias, o afundamento do encouraçado alemão Bismarck foi um pequeno bálsamo nas inúmeras feridas britânicas. As retiradas sangrentas da Grécia e da África, porém, trouxeram a dura realidade de volta. Mas, em 22/06/1941 as forças alemãs invadiram a URSS. (<<<<pg. 130-138)
Todos os conselheiros e amigos com quem Churchill conversou eram da opinião de que a URSS não resistiria nem por dois meses à invasão alemã. Então Winston fez mais uma de suas “profecias”: “Aposto um monkey contra uma mousetrap em como os russos ainda estarão lutando vitoriosamente daqui a dois anos.” o que significava 500 libras contra 1 na linguagem das corridas de cavalos.
CONTINUA


[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).



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