quinta-feira, 10 de setembro de 2015

ÊXODO x HISTÓRIA

Foto: Munir Chatack/Record - Portal R7 / Os Dez Mandamentos*
O ÊXODO E A HISTÓRIA

Por conta da novela, e do filme de Ridley Scott, o tema Êxodo, voltou a fazer parte do cotidiano das pessoas. As opiniões vão desde o descrédito até a crença total. Muitos acham que não ocorreu e muitos outros que aconteceu exatamente como escrito na Bíblia.

Mas, dentre estes últimos, quando afirmam a exatidão do relato bíblico, o fazem com as imagens dos filmes na mente. Isso induz algumas perguntas: os filmes são fiéis à Bíblia? A Bíblia tem respaldo histórico? O Êxodo aconteceu mesmo? Ou não?

A epopéia do povo semita, que muito tempo depois foi chamado de Hebreu, começou com a vinda de José, vendido como escravo por seus próprios irmãos, segundo o relato bíblico.

Por conta de seu dom de interpretação de sonhos, José caiu nas graças do Faraó da época, chegando a ocupar o posto de ministro do reino. Através de José, seus familiares vieram, anos depois, e ganharam a permissão de se instalarem em território egípcio, na região do delta do Nilo: : “Assim habitou Israel na terra do Egito, na terra de Gósen, e nela tomaram possessão, e frutificaram, e multiplicaram-se muito”. (Gênesis 47:27)

Séculos depois, outros Faraós, principalmente por razões militares, passaram a perseguir os israelitas, cobrando-lhes impostos, promovendo massacres e obrigando-os à servidão (Êxodo 1:8-22). A tradição aponta para Seti I e Ramsés II como sendo estes faraós.

A situação só foi alterada quando Moisés, um israelita criado na corte do Faraó pela filha deste, tomou partido de seu povo e agiu de forma a libertá-lo, segundo a Bíblia com a ajuda de Deus, através de eventos milagrosos.

O que há de verdade nisso? Os estudiosos, em especial os que negam o acontecimento do Êxodo, argumentam que não há um único registro sobre essa partida de escravos do Egito, com exceção, claro, da Bíblia.

O próprio nome, Israel, só surge na pedra conhecida como Estela de Merenptah: “...Israel está destruído [ou devastado], a sua semente [ou descendência] não existe mais...1. Merenptah foi o sucessor de Ramsés II.

Essa ausência de registros, especialmente no Egito onde tudo era registrado, é um argumento poderoso a favor dos que negam o Êxodo. Contudo, de nossa parte, acreditamos que o evento ocorreu, embora seja necessário separar a fantasia, e os exageros, da realidade. Esta é nossa demanda nesta nova mini-série de textos.

http://seroword.com/reviews/exodus-gods-and-kings-film-review/

O Êxodo ocorreu? Muitos negam. Outros acreditam piamente no relato bíblico. Não nos encaixamos em nenhuma das duas vertentes. Também não acreditamos na subversão da Natureza.

Para nós, aqueles eventos ocorreram milimetricamente dentro das Leis Naturais, que são Leis de Deus. E todos possuem uma explicação totalmente lógica. Pois a Verdade não se afasta da lógica.

Isso não significa uma acusação de falsidade ao texto, pois dois fatores devem ser considerados logo de início: (1) o pensamento do homem da antiguidade atribuia os acontecimentos naturais às suas divindades; (2) o Livro do Êxodo foi compilado (e ampliado) somente vários séculos depois do acontecimento, durante ou depois do cativeiro na Babilônia.

Apesar disso, admite-se que um grupo de antigos semitas (que só foram chamados hebreus muito tempo depois) teria se estabelecido no Egito sob dominação dos Hicsos, durante a XV Dinastia.

O Faraó dessa época seria Apopi I 2, sendo ele, portanto, quem nomeou José como seu ministro. Os Hicsos, que de fato conquistaram o Egito, foram expulsos, mas os descentendes de Israel teriam permanecido.

A Bíblia informa que os supostos escravos israelitas teriam construído as “cidades-celeiros de Pitom e Ramessés.” (Êxodo 1: 11), o que posiciona o fim de sua permanência no Egito, de fato, à época dos Faraós Seti I e Ramsés II.

E sabe-se que a cidade de Ramessés, ou Pi Ramessés, ou ainda Per-Ramessés, realmente existiu, tendo sido capital do Egito durante o reinado de Ramsés II.

São constatações interessantes, que fornecem uma localização espaço-temporal para os confrontos de Moisés com o Faraó, o que é muito bom.

Contudo, para cumprir nossa tarefa auto-imposta de desmistificar o acontecimento, é preciso enfrentar as contradições existentes no relato bíblico. Quais são elas?

A tradição coloca os israelitas como escravos, embora a Bíblia3 não use a palavra “escravidão”: Assim que lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o seu serviço, em que os obrigavam com dureza.” (Êxodo 1:14)

Quando se fala em escravidão as pessoas comumente pensam na prática lastimável que existiu no Brasil. Mas aquele tipo de exploração não existia no Egito Antigo. Lá as pessoas não eram consideradas objetos sem vontade, situação que só surgiu na Grécia séculos depois.

A servidão sim, existia. Mas ela era aplicada a quase todos os trabalhadores egípcios, em especial os camponeses que, depois da época da colheita, até o plantio seguinte, trabalhavam para o Faraó nas grandes obras que erguiam desde os templos, túmulos e palácios, até os projetos de irrigação.

Para os egípcios, que acreditavam na necessidade de agradar os deuses e auxiliar o Faraó em sua tarefa de manter a Ma'at (ordem cósmica - Natureza em equilíbrio), esse trabalho talvez fosse aceitável.

Se e quando os israelitas foram incluídos nessa prática, obviamente não se agradaram, considerando que sua crença era bem diferente e sua cultura era pastoril e não agrícola nem servil.

http://www.bible.ca/archeology/bible-archeology-exodus-route-goshen-red-sea.htm

Seguindo em nossa demanda por desmistificar o Êxodo e defender sua ocorrência, também é preciso rever a quantidade de israelitas que viviam no Egito à época de Ramsés II.

Relembrando que os descendentes de Jacó, rebatizado Israel, se estabeleceram no Egito menos de 400 anos antes do reinado de Ramsés II, a Bíblia estabelece um número dos que se mudaram: “Todas as almas, pois, que procederam dos lombos de Jacó, foram setenta almas;” (Êxodo 1:5)

A quantidade dos que partiram, porém, é surreal: “...partiram os filhos de Israel de Ramessés para Sucote, cerca de seiscentos mil a pé, somente de homens, sem contar os meninos.” (Êxodo 12:37).

Bem, se atribuirmos famílias a esses homens, e se as considerarmos compostas por uma esposa e três filhos (número bem tímido), teremos cerca de três milhões de pessoas abandonando o Egito.

Não temos conhecimento de nenhum país da África, do Oriente Médio, do Mediterrâneo ou da Europa, que possuísse ao menos a metade desse número de habitantes à época. O número é obviamente super dimenssionado. O Egito ficaria vazio.

Por outro lado, comandando seiscentos mil homens adultos, com um mínimo de capacidade militar, Moisés não precisaria pedir ao Faraó para partir. Poderia tomar o Egito para si, ou qualquer outro país da região que quisesse.4

Isso porque o país de Ramsés II, que era talvez a maior potência militar da época, e que reunira sua força total para a Batalha de Kadesh, contava com efetivos que não chegavam a 50 mil soldados.

Assim, por mais que se reproduzissem, e considerando as altas taxas de mortalidade e baixa expectativa de vida da época, setenta pessoas não se transformariam em três milhões em menos de 400 anos. O mais provável é que tenham sido bem menos de 100 mil pessoas que partiram do Egito sob a liderança de Moisés.


http://pt.wahooart.com/@@/8EWRF2-Lawrence-Alma-Tadema-a-morte-de-primeiro-nascido
Outra contradição muito importante é a última das chamadas “Pragas do Egito”, a morte dos primogênitos.

A Bíblia informa que: “... aconteceu, à meia-noite, que o Senhor feriu a todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se sentava em seu trono, até ao primogênito do cativo que estava no cárcere, e todos os primogênitos dos animais.” (Êxodo 12:29)

Logo de início é preciso retirar da cabeça a ideia de que o filho do Faraó seja, como é mostrado nos filmes, um bebê. Como se vê acima, a Bíblia não usa a palavra “criança”, e considerando que o primogênito será sempre o filho mais velho, muitos dos mortos podem ter sido crianças, mas a maioria seria de jovens e adultos.

E aqui surge uma situação embaraçosa, pois o primogênito de Ramsés II de fato morreu antes dele, mas já era quase velho para os padrões antigos e a causa mortis foi bastante banal para a época.

Seu nome era Amun-herkhepeshef e sua múmia foi encontrada na tumba KV5, no Vale dos Reis. Os estudiosos que examinaram seus restos mortais com modernas técnicas concluíram que:

...o crânio de Amun-herkhepeshef apresentava as marcas de um estranho ferimento. Os exames comprovaram que na ocasião da morte deste homem, o primogênito de Ramsés II, sua idade oscilava por volta dos 30 anos e esse ferimento fora certamente causado em batalha, tendo sido inclusive uma das causas da sua morte devido a uma forte hemorragia craniana.5

https://plus.google.com/114029499980147896714/videos
http://www.dominiosfantasticos.com.br/id485.htm
Está certo que a Bíblia usa o termo “ferir”, mas não se pode imaginar que Deus saísse de casa em casa martelando as cabeças dos egípcios e de seus animais.

Uma hipótese bem plausível é a de que alimentos enterrados (para escapar dos gafanhotos) foram contaminados. Como os primeiros a comer eram os primogênitos, eles morreram.6 Mas o filho do Faraó não se encaixa nesta forma de morte.

Outra possibilidade é a ocorrência de um ataque furtivo, ou mesmo uma batalha. Bem refletido, por que Deus precisaria que os israelitas marcassem suas portas com sangue? Essa ação se coaduna muito mais como orientação a um grupo de ataque que precisasse distinguir em quais casas deveriam entrar ou não.

Por outro lado, em caso de batalha, certamente muitos primogênitos, com seus melhores animais, podem ter morrido e o episódio em que o exército do Faraó é colhido pelas águas se encaixa também nessa possibilidade.

Claro que a mente supersticiosa do homem antigo viu tudo isso como obra de Deus, muito embora não seja viável imaginar o Criador matando pessoas, principalmente crianças, e animais inocentes. 


http://www.mfa.org/collections/object/seventh-plague-of-egypt-33665

Qualquer que tenha sido o motivo para a morte de seus filhos, é possível imaginar que, após estas, os egípcios praticamente imploraram pela partida dos israelitas. Como se chegou a isso?

A Ma'at, ordem cósmica, estava completamente desequilibrada, o que evidenciava uma falha do faraó e a aparente “ira dos deuses”! O Deus dos israelitas demonstrara seu poder e algumas das principais divindades egípcias haviam sido desmoralizadas. Mas as primeiras “Pragas do Egito” podem realmente ter ocorrido?

Sem dúvida foram acontecimentos extraordinários, mas naturalmente viáveis, dentro da lógica irrefutável das Leis da Natureza, com exceção, claro, da transformação do cajado em cobra, que tanto pode ter sido uma visão, quanto uma metáfora.

Vamos, porém, partir do princípio. O episódio da sarça ardente, avistada por Moisés: “E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.” (Êxodo 3:2)
http://www.briancallart.com/?jud-gallery=moses-and-the-burning-bush
Sem dúvida deve ter sido uma visão impactante, mas sua ocorrência é perfeitamente possível. Em regiões onde o gás natural aflora à superfície, e onde o calor o faz se inflamar, alguns arbustos podem pegar fogo “espontaneamente”. Evidentemente não será qualquer arbusto.

O Dr. Harold N. Moldenke, do Jardim Botânico de Nova York, indica o arbusto Dictamnus Albus L: “uma erva grande de um metro de altura, com panículas de flores cor de púrpura. A planta toda é coberta de minúsculas glândulas oleaginosas. Esse óleo é tão volátil que se evapora continuamente, e a aproximação duma chama descoberta causa uma inflamação súbita...”7
http://www.logbia.republika.pl/dyptam.html
Já no Egito, como o faraó não aceitou liberar os israelitas, Moisés deu início à sucessão de pragas (Êxodo 7-10).

As águas do Nilo viraram sangue, peixes morreram, rãs invadiram as ruas e casas, enxames de insetos se apresentaram, doenças mataram pessoas e animais e choveu granizo incandescente! Ufa!

É muita tragédia junta não? Mas é tudo possível, mesmo concentrado, especialmente na sequência em que ocorreu.

A região onde ficava Pi-Ramsés é a foz do Rio Nilo, onde ele se divide em vários braços menores. Um destes braços, já perto do mar e sob condições especiais de baixa vazão, pode ter sido contaminado pela alga chamada Oscillatoria rubescens8, que tornou a água vermelha como sangue, e tóxica. Já aconteceu na Austrália, nos arredores de Sidney, e no Brasil, no Ceará.9
http://www.telegraph.co.uk/travel/picturegalleries/9705809/Sydneys-beaches-closed-as-algae-turns-the-sea-blood-red.html
Com a água tóxica é óbvio que os peixes morreram, pois não poderiam sair. Já as rãs e sapos, que podiam, sairam, invadindo a cidade. Ao ficar muito tempo fora da água, porém, também morreram e seus corpos em decomposição atraíram os enxames de insetos que atacaram pessoas e animais, trazendo as doenças de pele.

Uma erupção vulcânica na região do Mediterrâneo ou na Arábia certamente foi a causa da chuva de granizo incandescente, o que é comprovado pelos exemplares de pedra pomes que foram encontrados no Egito.10 Sabe-se que a pedra pomes é originada na lava vulcânica e o Egito não possui vulcões.

E, depois de tudo isso, vieram os gafanhotos para terminar o serviço, destruir o restante das plantações e trazer a consequente fome.

A Bíblia relata que, a despeito de todas essas catástrofes, os israelitas não foram atingidos e isso é a prova de que os fenômenos foram concentrados nos arredores da capital. Essa concentração está perfeitamente dentro da lógica por dois motivos:

  1. o sofrimento deveria vir sobre quem de fato tinha o poder de decisão e que mais se beneficiava do trabalho servil, ou seja, a elite egípcia residente na capital, e em última instância, o próprio Faraó;
  2. os israelitas não foram atingidos pois não moravam na capital. Certamente residiam próximos aos locais das obras que executavam, perto de outros braços da foz do Rio Nilo que não foram atingidos pela água vermelha que desencadeou quase tudo.

Que a mentalidade supersticiosa do homem antigo tenha atribuído tudo a milagres arbitrários, não é de se estranhar, pois tanto os israelitas quanto os egípcios pensavam assim. Aconteceu? Sim, acreditamos que aconteceu. Mas de forma natural, dentro das Leis da Natureza, que são as próprias Leis de Deus.

http://d4nations.com/webpubl/300-aog---the-miracle-of-crossing-the-red-sea-took-place-on-the-seventh-day-of-the-celebration-of-the-feast-of-unleavened-bread.html

Após a morte dos primogênitos, finalmente o Faraó concordou em libertar seus servos. Uma vez livres, e autorizados a sair do Egito, para onde foram?

A Bíblia descreve que a marcha era guiada por sinais: “E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para que caminhassem de dia e de noite.”(Êxodo 13:21)

Essas colunas de fumaça e fogo seriam, na verdade, sinais utilizados pelos exércitos da época para manter coesas e direcionadas as marchas de seus soldados, técnica copiada por Moisés.11.

Acima e abaixo, representações da coluna de fumaça e fogo, do documentário Batalhas a.C. - Moisés Fugindo da Morte - History

https://www.youtube.com/watch?v=SqkX3Y4YzLU
Estes sinais vinham de um recipiente contendo uma pequena fogueira, carregada por um mensageiro atrás de quem as pessoas seguiam. Conforme se depreende do relato bíblico, estes sinais foram usados para despistar os perseguidores egípcios pois antes da travessia do mar, o sinal mudou: “E o anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles.” (Êxodo 14:19).

Note-se que, primeiro a Bíblia informa que o Senhor ia à frente. Depois é o Anjo que ia. Ou um ou outro não é mesmo? E o detalhe curioso é que, conforme a tradição bíblica, anjos são mensageiros, de modo que pode ter ocorrido um erro de tradução que faz pensar em algo sobrenatural, quando, na verdade, o homem que carregava o vaso com brasas seria apenas isso mesmo, um homem.

E, então, chegou o momento mais emblemático de toda a epopéia: a travessia do Mar Vermelho. Teria sido como nos filmes?

Conforme a Bíblia, “...Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite (grifo nosso); e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas.(Êxodo 14:21) 12

Os filmes já ficam, assim, descartados, pois a abertura do mar demorou a noite toda, não foi repentina como mostrado no cinema. Mas é uma ausência o item mais gritante do versículo acima: a Biblia não fala em Mar Vermelho!

O que estamos vendo é o relato de uma região relativamente rasa, perto do litoral e sob a influência das marés. Isso exclui uma travessia nas partes mais largas dos golfos de Suez e Ácaba.

A possibilidade mais comumente aceita é que a travessia ocorreu no área do Mar de Juncos, uma região pantanosa, no Delta do Nilo, que à época também era chamada de Mar Vermelho.
http://www.biblearchaeology.org/post/2008/08/New-Evidence-from-Egypt-on-the-Location-of-the-Exodus-Sea-Crossing-Part-I.aspx
Quando a maré baixou, os israelitas tiveram tempo de atravessar, naquela mesma noite, pois os egípcios estavam enganados pelos sinais de fogo. Quando, ao amanhecer, perceberam o erro e entraram no pântano em perseguição, ficaram presos na lama com seus carros. Estavam na armadilha pois naquela manhã, as águas retornaram:

Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o mar retornou a sua força ao amanhecer, e os egípcios, ao fugirem, foram de encontro a ele, e o Senhor derrubou os egípcios no meio do mar.

Porque as águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; nenhum deles ficou. (Êxodo 14:27,28)

Essas constatações tornam muito mais verossímeis os relatos bíblicos, afastam as fantasias e os efeitos especiais do cinema, deixando os acontecimentos como eles realmente foram e como devem ser vistos.

Assim sendo, a nosso ver, tanto as pragas quanto a travessia de fato ocorreram, mas dentro da lógica e sem ferir as Leis de Deus que regem a Natureza. Como Moisés era um conhecedor da região pela qual fugira e onde fora pastor de rebanhos, não é de se estranhar que tenha seguido pelos melhores e mais rápidos caminhos.


http://www.deityandhumanity.com/12-mt-sinai--second-coming-compared.html


Depois de escapar dos soldados do Faraó, o que seria mais lógico para Moisés, que, como pastor, conhecia bem a região: Adentrar mais ainda o território que queria deixar ou tomar o caminho mais curto para fora dele?
A resposta a essa pergunta vai colocar por terra a atual localização do Monte Sinai! Porque é óbvio que Moisés buscaria sair o mais rápido possível do Egito, mas, se fosse em direção à Península do Sinai, estaria entrando mais profundamente na terra de Ramsés II.
Assim sendo, o atual Monte Sinai, não é o Monte Horebe da Bíblia! E isso se dá por dois motivos:
(1) Conforme a Bíblia “... o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente.” (Êxodo 19:18). 
Sabe-se que montanhas que tremem e soltam fumaça só podem ser de um tipo: vulcões. E o atual Monte Sinai não é um vulcão.
(2) A Península do Sinai, e o monte nela, pertenciam ao Egito na época de Ramsés II, de modo que Moisés jamais adentraria ainda mais profundamente o território egípcio quando conhecia bem os caminhos e queria justamente sair dele.
Mas, onde fica, então, o Monte Sinai mencionado na Bíblia?
É preciso lembrar que Moisés o conheceria bem, pois levava seus rebanhos a pastar em seus arredores, de modo que não poderia ficar muito longe de Midiã, onde morava com Zípora.
E a própria Bíblia confirma essa constatação em duas passagens distintas:
E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe. (Êxodo 3:1)
Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, ... (Gálatas 4:25)
Portanto, sabendo que o Monte Sinai da Bíblia fica na Arábia, qual seria o verdadeiro? Há duas opções:
(1) O monte Jebel el Lawz13, que tem pedras escuras no cume, que dão a aparência de queimadas, e em cuja região os arqueólogos encontraram muitos artefatos e símbolos israelitas e egípcios desenhados nas rochas.
http://www.cntravelre.com/sight/saudi-arabia/jabal-al-lawz
(2) O Monte Hala-'l Bedr, ou Monte Bedr14, mais distante de Pi-Ramsés, mas que é um vulcão de verdade.15
Qualquer que seja o correto, parece surgir diante de nós o provável acontecimento do Êxodo, muito mais plausível, dentro das Leis da Natureza e, mesmo assim, sem ofuscar a participação divina em todo processo.
Vemos essa participação na condução de Moisés, no uso de ocorrências simples para levar a um desfecho, na junção e no encadeamento de fenômenos naturais, na sua concentração sobre um ponto espaço-temporal específico. Só a força divina pode fazer tal coisa dentro da mais perfeita lógica e dentro das próprias Leis.
Aqui estamos colocando a nossa crença, o que é nosso direito. E construímos nossa narrativa diante dela. Escrevemos de forma a instigar os crentes e descrentes: àqueles mostramos a possibilidade, a estes questionamos a forma. E o vice-versa é igualmente válido.
Se, por um lado, acreditamos no acontecimento, por outro isso não nos impediu de questionar a fonte (Bíblia) a todo momento, até mesmo com provas contrárias, como no caso do primogênito de Ramsés II. 
É bem verdade que o Faraó do Êxodo, considerando ser um evento real, pode nem ser Ramsés II. Mas não é impossível que seja, pelo conhecimento que se tem hoje.
As chamadas “Pragas do Egito” muito provavelmente não atingiram todo o país, mas não é impossível que tenham assolado a capital. 
Não há registro de uma chuva de fogo na época, mas há pedras pomes no Egito, onde não existem vulcões.
Não há registros dos israelitas no Egito nos tempos de Ramsés II e antes, mas as cidades que os israelitas alegam ter construído existiram de fato.
Enfim, é certo que não foram encontrados registros do Êxodo no Egito. Mas não significa que eles não existam.
Isso é algo que não permite confirmar o acontecimento, mas também não permite negar. Deixa a situação em suspenso.
Por outro lado, sabe-se agora que quase todos os eventos fantásticos da narrativa bíblica são possíveis. É uma possibilidade, portanto, que o Êxodo tenha ocorrido. Acredita-se nela ou não.
Nós acreditamos em Deus e acreditamos que o Êxodo ocorreu, assim como outras passagens relatadas na Bíblia. Mas não todas e, certamente, não literalmente.
E por isso, fazemos a diferenciação de que nada pode ocorrer fora das Leis da Natureza, o que contradiz a narrativa bíblica em muitas partes. Mas isso não a torna, para nós, um tabu.
Pois é natural que o homem antigo, carente das explicações científicas que dispomos hoje, relatasse tudo como obra dos deuses.
Nosso objetivo, porém, foi alcançado. O Êxodo continua sendo um evento relatado apenas por fonte única, mas sabemos que a maior parte daquela narrativa extraordinária é fisicamente possível.
Se ocorreu ou não, é questão íntima de cada um acreditar. Para os que acreditam, porém, os textos possibilitaram uma visão mais realista do evento.
Para os que não acreditam, até que surja uma prova irrefutável, oferecemos a reflexão interessante de que, ao menos, não é impossível que tenha ocorrido.
Assim, atendemos ao objetivo que sempre move o Reino de Clio: contar uma boa História!
FIM

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* http://entretenimento.r7.com/os-dez-mandamentos/fotos/fique-por-dentro-historiador-explica-significado-de-cada-uma-das-dez-pragas-do-egito-01092015#!/foto/13

1   CONTEÚDO aberto. In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Estela_de_Mernept%C3%A1 - 04/09/15


2   Apopi (Ipepi na língua egípcia antiga) foi um faraó pertencente à linhagem dos hicsos que governou o Baixo Egito durante a dinastia XV e o final do segundo período intermediário. Apopi I governou o norte do Egito por 40 anos. Embora Apopi I tenha governado o Alto Egito, este faraó era dominante em quase todo o Egito. Apopi I como era de origem hicsa mantinha relações pacíficas com os nativos do Egito. Outro fato importante acontecido no reinado de Apopi I foi a vinda de José (filho de Jacob) para o Egito como escravo. Apopi I teve dois filhos: Príncipe Apopi e Princesa Herit. Após sua morte os hicsos foram expulsos do Egito.
CONTEÚDO aberto. In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Apopi_I - 04/09/15

3   Bíblia versão Almeida, Corrigida e Revisada Fiel. Em todas as versões de Língua Portuguesa que pesquisamos não é usado o termo “escravidão”, com exceção da Nova Versão Internacional. Todas as versões tradicionais pesquisadas, inclusive a versão do Rei James, usam a palavra “servidão” ou “servir”.

4  BRIGHT, J., História de Israel, Nova Coleção Bíblica, n°7, 2 edição, Paulinas, São Paulo 1981, pág.170-174. 

5   O Mistério da Tumba KV5 in: Nos Domínios do Realismo Fantástico.
Disp. http://www.dominiosfantasticos.com.br/id485.htm - 30/10/14
6   Maria Luciana Rincon Y Tamanini. Como a ciência explica as Dez Pragas do Egito descritas na Bíblia? In: MEGA CURIOSO. Acessado a 16/07/2015: http://www.megacurioso.com.br/religiao/37613-como-a-ciencia-explica-as-dez-pragas-do-egito-descritas-na-biblia-.htm

7  http://www.apologeticacatolica.com.br/agnusdei/livr31.htm
8  http://www.seuhistory.com/node/135506
9   http://www.feparaorapto.com.br/eventos-modernos/mar-de-sangue-praia-de-fortaleza-ce-fica-com-aguas-vermelha-e-fenomeno-despertam-curiosidades.html
10 GNotícias. As 10 pragas do Egito – Cientistas comprovam a existência, mas dizem que foram uma cadeia de coincidências. Acessado a 04/09/2015 em: http://noticias.gospelmais.com.br/as-dez-pragas-do-egito.html
11 Segundo o Dr. Richard A. Gabriel, do Royal Military College of Canadá no documentário “Batalhas a.C. Moisés Fugindo da Morte”, do History Channel, que faz uma análise do Êxodo sob o ponto de vista militar. 
12 Bíblia versão Almeida, Corrigida e Revisada Fiel. Em todas as versões de Língua Portuguesa que pesquisamos não é usado o termo “escravidão”, com exceção da Nova Versão Internacional. Todas as versões tradicionais pesquisadas, inclusive a versão do Rei James, usam a palavra “servidão” ou “servir”.
13 Conteúdo Aberto In: https://es.wikipedia.org/wiki/Hala-%27l_Badr
  
14 Redação Super. Milagres naturais - Os milagres do Êxodo sempre atraíram o interesse da ciência. E ela tem hipóteses para explicar cada um deles. Disp. e acessado em 25/06/2015 em: http://super.abril.com.br/historia/milagres-naturais
15  LOPES, Ana M. de Souza. Monte Bedr – o verdadeiro monte dos dez mandamentos - Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Disp. e acessado em 25/06/2015 em:
  http://observatoriocristao.com/monte-bedr-%E2%80%93-o-verdadeiro-monte-dos-dez-mandamentos/

Um comentário:

  1. Boa noite Marcello. Excelente suas análises e comentários sempre muito sensatos.Gostei muito e pretendo acessar mais vezes. O formato do blog é muito legal. Peço apenas que coloque letras "amarelas" como em legendas...branca atrapalha um pouco p visualizar. Bj

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