quarta-feira, 30 de setembro de 2015

INCONFIDENCIA MINEIRA - Parte 2

O TECER DE PENÉLOPE – A VISÃO DE JOÃO PINTO FURTADO

No trecho intitulado “Primeiras Palavras”, João Pinto Furtado7 faz uma reconstituição do que foi o movimento da Inconfidência Mineira (1788 – 1789) e, focando a figura de Tiradentes, seu integrante mais célebre, procura destacar a imagem na qual se reproduz no imaginário nacional, entre os embates intelectuais e políticos brasileiros: no campo político busca situar o movimento que supostamente procurou lançar as bases da nacionalidade brasileira; no campo intelectual afirma que foi um movimento encabeçado pela elite, de Vila Rica e abrigando, em seu interior, uma gama heterogênea de interesses; no campo do imaginário, o autor apresenta a construção de um “imaginário nacional”, partindo de Tiradentes e do desenrolar do movimento.

Para o autor as imagens que se produz da Inconfidência, principalmente de Tiradentes, relutam muito no campo do imaginário, pois são colocados como agentes que possibilitaram, e representaram, uma imposição do “Brasil” perante Portugal, oprimido ante opressor. 
Segundo o autor essas são construções que necessitam uma melhor análise, afirmando que “é preciso ir além das aparências e visões consagradas, e retomar outras possibilidades de explicação”. (p.13)

Por que Manto de Penélope? O autor recorre à mitologia, onde mostra a estória mitológica de Penélope, que desfazia e refazia seu manto para tentar manter seus votos nupciais com Ulisses”. (p.13)

E como o manto, o autor procura explicar os processos de construção, desconstrução e reconstrução colocada pela historiografia em se tratando de Inconfidência Mineira.

Com essa linha de pensamento o autor mostra que a conspiração, que teve seu desenlace em 21 de Abril de 1792, esteve ligada ao apogeu e crise de uma capitania, Minas Gerais, que sempre foi cercada pelos maiores cuidados e vigilância por parte da coroa. Ele informa que foi nessa capitania que se deu, efetivamente, “a imposição do estado no Brasil”, caracterizada no controle restrito do processo de mineração.

Furtado mostra que nas primeiras décadas do século XVIII, Minas Gerais passou por um processo de urbanização marcado pela desorganização no que concerne à ocupação das novas 14 vilas criadas no mesmo século. 
E os imigrantes e migrantes não possuíam nenhuma raiz ou relação com a terra, obrigando-os a se adaptar das maneiras mais criativas, “às vezes bastante competitivas”. (p.14)

E tal situação gerou um ambiente nada pacífico e ordeiro, no ponto de vista político. Segundo o autor nas primeiras décadas do século XVIII, a chuvosa e fria região central mineira ‘evaporava tumultos’, ‘exalava motins’, ‘trocavam desaforos’, quando não ‘vomitavam insolências’”. (p.15)

O autor coloca que a coroa portuguesa teve a necessidade de se adaptar às novas realidades, onde os novos habitantes, com o desejo de enriquecer rapidamente, tentavam fugir da ação limitadora do estado, presente na cobrança de impostos, sobre o ouro, principalmente.

E, dentro desse contexto de arrecadação, configuravam-se novas modalidades de cobranças sobre o ouro. Ele aponta três métodos de arrecadação do quinto, aplicado durante o século XVIII: A separação de 20% do peso total e a colocação do selo real; o método de captação e o método por estimativa.

O fator tributário foi o principal expoente de conflitos que ocorreram em diferentes décadas do século XVIII, mostrando também a “imposição do estado” como grande deflagrador de vibrante reação do povo da capitania: A Guerra dos Emboabas; a Revolta de Felipe dos Santos e a Inconfidência Mineira. E Furtado mostra, muito bem que as questões tributárias e fiscais foram dois motivos principais de confronto nessa época. (p.21)

Continua...

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7FURTADO, João P. O manto de Penélope; História, mito e memória da Inconfidência Mineira de 1788-9. (1ª ed.) São Paulo: Cia das Letras, 2002

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