quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

DEZEMBRO NA HISTÓRIA

OS CRISTÃOS CANIBAIS DE MAARA
Em 02/06/1098, por meio da traição do fabricante de armaduras Firouz, que abriu uma passagem por onde os cruzados puderam entrar, os cristãos conquistaram Antioquia.
Uma vez dentro da cidade, as tropas cruzadas promoveram um massacre sem precedentes até aquele momento. Muçulmanos, judeus e até mesmo cristãos foram passados à espada, “Homens, mulheres e crianças tentam fugir pelas ruelas lamacentas, mas os cavaleiros os alcançam sem esforço e cortam-lhes o pescoço imediatamente. 1
Após a vitória que lhes rendeu a tomada de Antióquia, os líderes cruzados disputaram o poder político sobre a cidade e, por fim, Raimundo de Toulouse decidiu partir rumo a Jerusalém. Boemundo ficou com a cidade para si, estabelecendo o segundo estado cruzado.
Antes de partir para Jerusalém, os cruzados voltaram os olhos para a cidade de Maara al-Numan (na atual Síria), sob domínio fatímida.2
Mesmo após a tomada de cidades grandes, e o massacre de suas populações, os cruzados continuavam sofrendo com a falta de alimentos (e com uma epidemia3), de modo que passaram a enviar expedições aos arredores das cidades para saquear.4
Maara sofreu ataque antes de Antioquia (Julho/1098) mas repeliu os invasores que rumaram para o Sul, deixando-a em paz. Em Novembro eles voltaram.
Mas a cidade resistiu por duas semanas, apesar de seus defensores serem poucos , pois “Maara não possui exército, tem apenas uma simples milícia urbana a qual se juntam rapidamente centenas de jovens sem experiência militar.5
A sorte só mudou quando, em 11/12/1098, os cruzados construíram uma torre que permitiu transpor as muralhas externas.6 Os habitantes se esconderam na área interna da cidade e os saques começaram.
No dia seguinte, 12/12/1098, foram iniciadas as negociações. Os muçulmanos e Boemundo de Taranto acordaram que os primeiros se renderiam e o segundo lhes garantiria salvo-conduto. Os muçulmanos, então, se renderam aos cruzados que...os massacraram impiedosamente.7
O historiador muçulmano Ibn al-Athir, descreve em sua obra “Al-Kamil Fi tem Tarikh” (História Completa) que 100 mil muçulmanos foram mortos. Amin Maalouf discorda. Para ele “Os números de Ibn al-Athir são evidentemente fantasiosos, pois a população da cidade, na véspera de sua queda, era provavelmente inferior a dez mil habitantes.8. Contudo, sejam quantos forem, milhares de pessoas foram covardemente assassinadas.
Mas Maara não tinha recursos tantos que pudessem encerrar os problemas de alimentação dos cruzados. E, para complicar, as disputas pela posse de Antioquia fizeram a marcha para Jerusalém demorar mais que o necessário para partir.
O resultado foi que, em pleno inverno, a fome se instalou entre as tropas cruzadas. Em Maara eles literalmente devoraram os muçulmanos mortos.
Esses eventos terríveis não são fruto da imaginação de algum exagerado cronista muçulmano. O relato vem do cronista franco, portanto cristão, Raoul de Caen: “Em Maara, os nossos faziam ferver os adultos em caldeira, fincavam as crianças em espetos e as devoravam grelhadas”9
A notícia é confirmada em carta escrita ao papa, por chefes cruzados francos. Eles informaram ao sumo pontífice que “Uma terrível fome assolou o exército de Maara e o colocou na cruel necessidade de se alimentar dos cadáveres dos sarracenos”10.
Esses atos terríveis marcaram de forma indelével o inconsciente coletivo do povo muçulmano. Até os dias atuais a “Invasão Franca”, como as cruzadas são chamadas no mundo muçulmano, causam comoção por lá e, recentemente, o Estado Islâmico justificou decapitações de cristãos como uma vingança pelos massacres das cruzadas, o que é absurdo, mas ilustra o caso.
Voltando ao passado, pelo que se percebeu na época, as notícias dos eventos de Maara al-Numan correram a região e reduziram a resistência ao avanço cruzado. Cidades maiores e menores passaram a enviar suprimentos e tesouros como presentes aos invasores, visando mantê-los longe de seus muros. O caminho para Jerusalém estava aberto... 11


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1  MAALOUF, Amin. As Cruzadas vistas pelos Árabes. 4ª ed. SP: Brasiliense. 1994.  pg. 41
2  MICHAUD, Joseph-François. História das Cruzadas – Volume I. Trad.: Pe. Vicente Pedroso. SP: Editora das Américas. 1956.  pg. 348
3  Ibid. pg. 341
4  Ibid. pg. 343
5  (MAALOUF: 1994) pg. 46
6  RUNCIMAN, Seteven. Historia de las Cruzadas I. 6ª edição. Madrid: Alianza Universi-dad. 2002. pg. 246 (Tradução Livre)
7    (MAALOUF: 1994) pg. 46
8    Ibid pg. 46
9    Ibid pg. 47
10  Ibid. pg. 47
11  Ibid. pg. 48 


DEZEMBRO – MÊS DE NAPOLEÃO
Napoleão nasceu em 15 de agosto, mas Dezembro parece ter sido seu mês de sorte. Dizemos isso porque dois de seus momentos mais gloriosos ocorreram neste mês.
Em 10/11/1799 começava seu governo, chamado de Consulado, uma forma de a burguesia consolidar as conquistas da Revolução Francesa através de uma figura popular que eles acreditavam poder controlar.
Nos dias atuais, Napoleão seria italiano, pois nasceu na cidade de Ajaccio, Ilha da Córsega. Mas naquele 15/08/1769 a ilha pertencia à França, de modo que nasceu francês, filho do advogado Carlo Buonaparte e Maria Letícia Ramolino.
Aos 10 anos o menino Napoleão já era aluno da academia militar, onde se destacava em Matemática, Geografia e História. Em 1784, aos 15 anos, já estudava na Academia Militar de Paris, onde também se destacou.
Subiu na carreira após conhecer Robespierre e servir à Revolução Francesa, alcançando o posto de mais jovem general da França.
Suas vitórias militares o tornaram muito popular, a ponto de ser escolhido para governar nos moldes da República de Roma, como um Cônsul.
Assumindo o posto, o Cônsul Napoleão realizou um trabalho fabuloso: organizou o sistema de impostos, fundou o Banco da França, promulgou o novo Código Civil, assinou a Concordata com a Igreja Católica, organizou a educação, dinamizou o comércio interno e externo e implantou um programa de obras públicas que gerou emprego e renda para a população na construção de estradas, modernização de portos, drenagem de pântanos, etc.
Quando, cinco anos depois (1804), foi convocado um plebiscito, Napoleão recebeu apoio maciço do povo para se tornar Imperador, o que ocorreu no dia 02/12/1804.
Naquela ocasião, que teve lugar na Catedral de Notre-Dame, o próprio Papa Pio VII se fez presente para coroar o casal imperial francês. Mas Napoleão, em um gesto político sem precedentes, tomou a coroa das mãos do Pontífice e coroou a si mesmo, mostrando que seu reinado não dependia do apoio de Roma.
Quando a influência francesa passou a ser vista como ameaça, as principais monarquias europeias formaram coligações para combater a França e, neste contexto, Napoleão obteve, também em um 02/12, uma das mais espetaculares vitórias militares de todos os tempos.
Corria o ano de 1805 e os impérios inglês, russo e austríaco formaram a Terceira Coligação, para atacar a França.
Napoleão transferiu seu exército, chamado de Grand Armée, do Canal da Mancha para as margens do Rio Reno, que atravessou. Entre agosto e novembro Napoleão invadiu a Áustria e tomou Viena, capturando vasto equipamento militar inimigo.
Mas a distância da França tornava o abastecimento das tropas muito difícil e o tempo era adversário dos franceses, de modo que Napoleão precisava forçar um combate decisivo, o que os adversários obviamente evitavam.
Napoleão, então, colocou em prática um plano para enganar os aliados mostrando fraqueza, incentivando-os a atacá-lo. Ele dividiu suas tropas, escondeu a maior parte delas, deixando a menor parte exposta aos olhos dos espiões.
Enviou emissário aos adversários manifestando desejo de evitar a batalha e aceitou rapidamente uma proposta de paz feita pelos derrotados austríacos. Não satisfeito, simulou uma retirada desorganizada de Austerlitz, que havia conquistado recentemente, e ainda recebeu emissário do Imperador Russo, simulando ansiedade e nervosismo.
Com tantas demonstrações de fraqueza, logo quase todos os comandantes da Terceira Coligação estavam convictos de que o momento de acabar com o francês era aquele mesmo. Nunca estiveram tão enganados...
A Batalha de Austerlitz ocorreu perto da atual cidade de Brno, na República Tcheca, território que fazia parte do Império Austríaco. Napoleão tinha 72 mil soldados e 157 canhões, enquanto os aliados tinham 85 mil soldados e 318 canhões.
O plano adotado pelos aliados consistia em atacar primeiro o lado direito das tropas francesas, por considerarem esse lado mais fraco, o que de fato era, mas uma fraqueza simulada por Napoleão para enganá-los, pois quando fosse atacado, seu lado direito seria reforçado por tropas vindas de Viena.
Ele também imaginou, corretamente, que o ataque ao seu lado direito seria maciço, o que deixaria o flanco e o centro das tropas adversárias desprotegidos e seria ali que ele iria desferir o ataque com suas tropas escondidas.
Na manhã de 02/12/1805, fazendo exatamente como o Imperador francês previra, os aliados atacaram o lado direito das forças francesas, que recuaram mas resistiram. E quando o centro das linhas aliadas menos esperavam, o ataque francês se abateu sobre eles.
A partir deste momento, Napoleão foi meticulosamente distribuindo suas forças em direção aos setores chave da batalha, aniquilando um a um. Vitória da França!
Restos desta batalha ainda podem ser vistos hoje por quem visita Paris. A Coluna de Vendôme, na praça de mesmo nome, foi feita com o ferro derretido dos canhões capturados pela Grand Armée em Austerlitz.

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