Os franceses aceitaram tudo que Hitler impôs,
inclusive a entrega da frota, o que Churchill não tinha a menor intenção de
permitir.
Parte da frota francesa estava em Alexandria,
no Egito, onde poderia ser facilmente capturada pelos britânicos de lá. Parte
estava em Toulon e em Dacar, fora de alcance. Mas havia outra parte que estava
em Mers-el-Kebir, em Orã.
Churchill enviou emissários a essa última base
propondo algumas alternativas ao comandante local:
levar os navios para um porto inglês e juntarem-se à
Marinha britânica como aliados contra a Alemanha; levar os navios para um porto
britânico e entregá-los a tripulações britânicas ou irem para um porto das
Índias Ocidentais Francesas e aceitarem a desmilitarização, com imediata
repatriação das tripulações para a França, se assim desejassem. Foi
acrescentada uma quarta possibilidade quando se provou que as três primeiras
eram inaceitáveis: afundar voluntariamente os navios no porto de Mers-el-Kebir.
(<<<<pg. 113)
Os comandantes franceses, entretanto, recusaram
todas as alternativas em honra dos termos do armistício e, no dia 03/07/1940,
Sir James Somerville ordenou a seus navios que abrissem fogo contra os navios
franceses. Ao final do ataque “1.200 marinheiros franceses estavam mortos.”
Para Churchill esse gesto terrível mostrou ao
mundo o tamanho da determinação britânica. Por outro lado ele já atuava na
preparação das ações a serem tomadas em caso de invasão. “Londres seria
defendida rua por rua, bairro por bairro...” Os depósitos de combustível na
costa leste deveriam ser destruídos, policiais, soldados e membros da guarda
não deveriam prestar qualquer ajuda ao inimigo, somente à população civil e até
as mulheres deveriam ser autorizadas a combater.
E um ataque maciço ao território da Alemanha
deveria ser planejado pois seria o único caminho para derrotar Hitler, tornando
inúteis suas conquistas: “Mesmo que Aquele Homem atinja o mar Cáspio, terá
fogo em seu quintal quando regressar. Não adiantará nada atingir nem mesmo a
Grande Muralha da China.” (<<pg. 114)
No dia 19/07/1940 veio o ultimato de Hitler: “Acabem
com a guerra ou pereçam!”[3]
E ele falava sério pois os bombardeios aéreos alemães
prosseguiam e o número de mortos nos ataques cresciam, embora raramente fossem
divulgados. Churchill admitiu estar odiando os alemães: “Nunca odiei os
hunos durante a última guerra, mas agora os odeio como a uma barata.”
Porém
os pilotos da RAF já vinham se destacando na defesa aérea. Winston, porém,
prosseguia procurando manter a moral elevada sem descuidar do alerta:
Esperamos sem medo o ataque iminente. Talvez chegue
essa noite. Talvez chegue na próxima semana. Talvez nunca chegue. Devemos estar
preparados tanto para sofrer um súbito e violento choque quanto — o que é
talvez o teste mais difícil — para uma prolongada vigília. Seja a provação
aguda ou prolongada, não aceitaremos condições e não toleraremos negociações;
poderemos mostrar clemência, mas não a pediremos. Não apenas na Inglaterra, mas
por todos os lados havia muitas pessoas “que prestarão serviços úteis nessa
guerra, mas cujos nomes nunca serão recordados. Essa é uma Guerra do Soldado
Desconhecido, mas esforcemo-nos sem desfalecimentos na fé ou no dever e veremos
o sombrio percurso de Hitler ser banido dos nossos tempos”. (<pg. 114-115)
A ajuda americana continuava extremamente
lenta, levando Churchill a ceder cada vez mais a Roosevelt como, por exemplo, o
uso das bases britânicas em
Terra Nova , Bermudas, Bahamas
Índias ocidentais em troca daqueles malfadados contratorpedeiros.
Mas era uma necessidade urgente pois no mar as
alcateias de submarinos nazistas continuavam infligindo pesadas baixas
militares e civis. No ar, porém, a despeito da perda de 526 pilotos em dois
meses, a RAF estava causando, algumas vezes, o triplo de baixas à Luftwaffe:
Em 16 de agosto, Churchill acompanhou a batalha da
sala de operações do 11o Comando de Caça em Uxbridge. Nesse
dia, quase todas as esquadrilhas de caças estavam no ar, em combate, mas os
alemães destruíram 47 aviões britânicos ainda no solo. Ao sair da sala de
operações, Churchill voltou-se para Ismay: “Não fale comigo; nunca me senti tão
comovido.” Depois de cerca de cinco minutos, inclinou-se para Ismay e
disse-lhe: “Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão
poucos.” (<<pg. 116)
Churchill repetiu essa última frase em seu
discurso no Parlamento. Concordamos com a filha do falecido Ex
Primeiro-Ministro Asquith, Violet: “são palavras que viverão por todo o
tempo que houver palavras”, (pg. 116)
CONTINUA
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
[3] Journal
New York and
American – 19/07/1940
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