domingo, 22 de dezembro de 2019

CHURCHILL - Parte 15


CHURCHILL – Parte XV [1] [2]
A guerra civil na Rússia terminou com a vitória dos bolcheviques. Churchill trabalhou intensamente para conseguir enviar ajuda aos anti-bolcheviques, mas foi sempre tolhido pela inabalável determinação do governo britânico em envolver-se o mínimo possível e, embora tenha havido momentos em que o exército branco chegou mesmo a se aproximar de Moscou, no final o Exército Vermelho empurrou os inimigos para fora da Rússia, vencendo a guerra.
Ao final dela a disposição mundial era de negociar com os bolchevistas vitoriosos, fato que Winston acabou apoiando. Ele teve pouco poder de decisão na questão da guerra, mas seu empenho em apoiar o lado que acabou derrotado fez com que a derrota fosse atribúida a ele dentro da Inglaterra, quase como uma nova Galipoli. (<pg. 445-460)
Já praticamente afastado das questões da Rússia, inclusive no que diz respeito a invasão da Polônia, Churchill passou a se preocupar com os atentados praticados na Irlanda por pessoas ligadas ao Sinn Fein [3] e a uma revolta na Mesopotâmia, atual Iraque.




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   Sinn Féin é um dos movimentos políticos mais antigos da Irlanda. Fundado em 1905 por Arthur Griffith para unir os grupos informais nacionalistas de resistência pacífica ao domínio britânico, seu objetivo era restaurar a monarquia irlandesa, fora do poder desde o século XVIII. Em gaélico irlandês, a expressão significa "Nós mesmos". Em tempos passados os próprios integrantes afirmavam ser o braço político do Exército Republicano Irlandês, o IRA. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinn_F%C3%A9in
Ele defendia uma retirada britânica daquela área do Crescente Fértil, posição derrotada dentro do governo. Defendia, também, a repressão contra os terroristas irlandeses até o momento em que se dispusessem a conversar.
A despeito dessa posição conciliadora, tornou-se um dos alvos de futuros sequestros de autoridades planejados pelos terroristas. Aos poucos o ciclo de atentados e represálias tornou-se uma bola de neve. (<<pg. 461-467)
Vendo um inevitável aumento das despesas militares por conta de tantos conflitos, Churchill sugeriu a criação de um departamento para cuidar exclusivamente da questão do Oriente Médio. Nesta época, sempre com uma visão décadas antecipada, ele defendia a criação de um estado judeu nas margens do Rio Jordão:
Se, como é bastante possível que aconteça, for criado um Estado judaico nas margens do Jordão, sob a proteção da Coroa Britânica, que pode incluir três ou quatro milhões de judeus, terá ocorrido na história do mundo um evento benéfico sob todos os pontos de vista, que estará especialmente em harmonia com os mais autênticos interesses do império britânico. (<pg. 469)

Quando Lloyd George se convenceu da necessidade de economizar, chamou Churchill para ocupar o cargo de Ministro das Colônias, o que ele aceitou em 07/01/1921, assumindo o posto oficialmente em 13/02/1921. (pg. 468-469)
Lawrence da Arábia
Churchill trabalhou para reduzir os gastos da Inglaterra na administração do Iraque conferindo autonomia administrativa à região. Ele nomeou o general Thomas Edward Lawrence (o Lawrence da Arábia [4]) como seu conselheiro e, através dele, costurou um acordo com o Emir Faiçal e seu irmão Abdullah para que estes ocupassem os tronos do Iraque e da Transjordânia respectivamente e garantissem a existência de um futuro estado judeu e não atacassem os franceses na Síria.
Uma conferência realizada no Cairo (março/1921) resultou em acordo que foi sacramentado no documento intitulado Tratado Anglo-Iraquiano.[4] Mais uma vez demonstrando sua visão muito à frente de seu tempo, Winston propôs autonomia aos curdos que viviam no norte do Iraque. (<pg. 471-473)




[4]   Thomas Edward Lawrence (16/08/1888 - 19/05/1935), também conhecido como Lawrence da Arábia, e (aparentemente entre os seus aliados árabes) Aurens ou El Aurens, foi um arqueólogo, militar, agente secreto, diplomata e escritor britânico. Tornou-se famoso pelo seu papel como oficial britânico de ligação durante a Revolta Árabe de 1916-1918. A sua fama como herói militar foi largamente promovida pela reportagem da revolta feita pelo viajante e jornalista estadunidense Lowell Thomas, e ainda devido ao livro autobiográfico de Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria.  
https://pt.wikipedia.org/wiki/T._E._Lawrence

[5]   O Tratado Anglo-Iraquiano de 1922 foi um acordo assinado entre os governos do Reino Unido e do Iraque. O tratado foi planejado para permitir aos habitantes locais uma participação limitada na divisão do poder, dando aos britânicos o controle da política militar e exterior. Tinha a intenção de concluir um acordo feito na Conferência do Cairo para estabelecer um governo haxemita no Iraque.  O Tratado Anglo-Iraquiano foi assinado principalmente devido aos esforços revolucionários dos cidadãos do Iraque, uma coligação de ambos os árabes, xiitas e sunitas. Os maiores centros de insurreição durante a Grande Revolução Iraquiana de 1920 incluíram Moçul, Bagdá, Najafe e Carbala. O esforço de rebelião em Carbala foi inflamado por uma fatwa emitida pelo grande mujtahid Imame Xirazi. A fatwa fazia uma observação que era anti-islâmico ser governado pelos britânicos, que não praticavam o islamismo. A fatwa ordenou um Jihad contra a ocupação britânica. O tratado foi assinado em nome dos britânicos por Sir Percy Cox em 10 de outubro de 1922. Não foi ratificado pelo governo iraquiano até 1924, quando o Alto Comissário Britânico ameaçou impor sua autoridade para desfazer a constituição, elaborada pela assembleia constituinte do Iraque. Foi visto com desdém por muitos iraquianos, tanto xiitas quanto sunitas. De qualquer forma, foi o primeiro passo para um Iraque mais independente.   
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_Anglo-Iraquiano
Os Reis Faiçal e Abdullah
Mas, se Faiçal e Abdullah aceitavam a imigração dos judeus, a maioria dos árabes não estava disposta a permitir a existência de um enclave judeu na Palestina e fizeram Churchill saber disso, solicitando a suspensão da vinda de mais judeus para a região até a criação de um Estado Palestino. Ele, porém, não podia e nem queria atender tal desejo, defendia direitos iguais a ambos os povos.
Cada passo que se dê deverá ser para o benefício moral e material de todos os habitantes da Palestina, judeus e árabes por igual. Se isso for feito, a Palestina será feliz e próspera: a paz e a harmonia reinarão sempre e essa terra se converterá num paraíso, numa terra de leite e mel onde os sofredores de todas as raças e religiões encontrarão o descanso depois de suas provações. (<pg. 475)
Mas não foi possível conciliar os interesses judeus e árabes, de modo que a economia que Churchill pretendia, e que motivara todas aquelas negociações, não se concretizou. Motins árabes levaram à suspensão temporária da imigração. (pg. 476-477)

CONTINUA

sábado, 30 de novembro de 2019

CHURCHILL - Parte 14


CHURCHILL – Parte XIV [1] [2]
No início de setembro/1918 já se ouviam comentários sobre uma iminente derrota alemã, otimismo que Churchill só veio compartilhar alguns dias depois. Nesta época ele trabalhava pelo emprego cada vez maior dos tanques como forma de proteger a infantaria e conseguir avanços maiores, bem como o uso do gás mostarda, mas suas previsões apontavam para o final da guerra apenas em 1919.[3]
Contudo, em 26/09/1918 um grande ataque com gás foi feito sobre as tropas alemãs. No dia seguinte a Bulgária se rendeu e em 15/10/1918 a Alemanha fez seu primeiro pedido de armistício, que foi recusado pelo Presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson [4] afirmando que apenas a rendição seria aceita.
Portanto “o bombardeio britânico de fábricas, depósitos de armamentos e aeródromos alemães intensificou-se.” (<pg. 435)
Em 30/10/1918 o Império Turco-Otomano se rendeu. O Império Austro-Húngaro se rendeu em 03/11/1918.




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   O gás mostarda ou iperita, é um composto químico representado pela fórmula química C4H8Cl2S, em temperatura ambiente é um líquido oleoso, em estado puro, não tem cor e nem cheiro, em estado impuro possui uma cor amarelada e  um cheiro que lembra o de mostarda. Foi desenvolvido em 1822 por Cesar Mansuete Depretz e a partir de então, notou-se que na forma de gás, possui características extremamente perigosas para a saúde humana, pois provoca irritação nos olhos e feridas na pele e nas mucosas internas do sistema respiratório. As queimaduras provocadas pela exposição ao gás podem ser tão graves como as de terceiro grau e podem causar a morte em alguns dias. Em relação aos pulmões, o gás pode causar vesículas e até mesmo edema pulmonar.
      https://osabicao.com.br/o-que-e-o-gas-mostarda-2/.

[4]   Thomas Woodrow Wilson (Staunton, 28/12/1856 — Washington, D.C., 03/02/1924) foi um político e acadêmico americano que serviu como o 28º Presidente dos Estados Unidos de 1913 a 1921.  Em abril de 1917, quando a Alemanha iniciou uma guerra submarina irrestrita e o Telegrama Zimmermann foi enviado, Wilson pediu para o Congresso declarar guerra para "tornar o mundo seguro para a democracia". No começo de 1918, ele divulgou seus princípios para a paz chamados de Quatorze Pontos, e em 1919, após o armistício, ele viajou para Paris, e promoveu a criação da Liga das Nações, e participou da conclusão do Tratado de Versalhes. Após retornar da Europa, Wilson embarcou em uma turnê pelos Estados Unidos em 1919, fazendo campanha pelo tratado, sofrendo um derrame no caminho. Os republicanos no Senado se opunham ao tratado e Wilson se recusava a negociar com Henry Cabot Lodge, o que levou ao fracasso da ratificação do Tratado de Versalhes no Congresso.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Woodrow_Wilson
Sozinha, a Alemanha enviou o segundo pedido de armistício em 07/11/1918. Três dias depois o Gabinete se reuniu em Londres para discutir as negociações:
Às 5h da manhã seguinte, os alemães aceitaram as condições dos Aliados. O combate cessaria às 11h dessa manhã. Dentro de quinze dias, as tropas alemãs evacuariam a França, a Bélgica, Luxemburgo e a Alsácia-Lorena. Todas as tropas alemãs sairiam da Renânia. As tropas aliadas e americanas ocupariam a parte da Alemanha a oeste do Reno. (<pg. 437)
No dia 11/11/1918, em seu escritório, Churchill pensava no que fazer com as fábricas e milhares de operários da indústria bélica cuja produção agora tornara-se desnecessária. Ele descreveu assim o momento em que o Big-Ben deu a badalada das 11 horas, que marcavam o fim da guerra:

Olhei novamente para a avenida. Estava deserta. Das portas de um dos grandes hotéis ocupados por departamentos do governo surgiu a figura frágil de uma funcionária, que gesticulava enquanto soava outra badalada do Big Ben. E, então, de todos os lados, homens e mulheres saíram à rua. Torrentes de pessoas saíram dos edifícios. Todos se levantaram das mesas e deixaram de lado papel e caneta. Bandeiras apareciam como que por encanto. (<pg. 438)
Quatro dias depois, 15/11/1918, nascia o quarto filho de Churchill, uma menina de nome Marigold Frances. A despeito da gravidez, Clementine enfrentava as longas ausências do marido atuando sempre que possível em favor de sua carreira política e, “durante mais de três anos tinha trabalhado para organizar refeitórios para as operárias das fábricas de munição”. (pg. 435/440)
Terminada a guerra Lloyd George convocou eleições gerais para decidir de vez a disputa com os liberais apoiadores de Asquith. Foi uma vitória consagradora da coligação e o Primeiro Ministro se manteve no cargo com ampla maioria no Parlamento.
Churchill também foi reeleito e, neste período, era um dos poucos que defendia uma paz moderada com a Alemanha, para evitar que o bolchevismo se instalasse naquele país.
Também defendia altos impostos sobre os lucros de guerra das empresas, nacionalização das estradas de ferro, controle dos monopólios e a criação da Liga das Nações, para dirimir conflitos futuros e evitar novas guerras. (<<pg. 440-441)
Em 09/01/1919 Churchill foi nomeado para o novo Ministério da Guerra e da Aviação onde tinha a tarefa de atuar dentro do contexto da Guerra Civil na Rússia,[5] na qual a Inglaterra apoiava os anti-bolcheviques inclusive com tropas e armas. Winston, ao contrário, advogava que fosse feito um acordo com eles (ainda que à força) desde que levasse a eleições democráticas no país e o consequente (achava ele) fim do domínio bolchevista pois, pela força, ele não acreditava ser possível vencer.
Apesar disso, defendia o auxílio com armas, suprimentos e voluntários para que os próprios russos anti-bolcheviques pudessem vencer. O Primeiro-ministro Lloyd George, porém, aceitava enviar apoio desde que não fosse muito custoso. As nações estavam cansadas da guerra e não queriam prolongar os combates agora na Rússia, não queriam se envolver e nem davam a mesma importância que Churchill ao perigo do bolchevismo se espalhar. Acreditavam que esse perigo aumentaria se enviassem muitos soldados à Rússia e eles tivessem contato com a ideologia marxista. (<pg. 445-450)




[5]   A Guerra Civil Russa foi um conflito armado múltiplo que eclodiu no território do já dissolvido Império Russo, envolvendo o novo governo bolchevique, alçado ao poder desde a Revolução de Outubro de 1917, e seus opositores, incluindo militares do antigo exército tsarista, conservadores e liberais favoráveis à monarquia, além de grupos ligados à Igreja Ortodoxa Russa e a correntes socialistas minoritárias (mencheviques). A data exata do início do conflito é controversa entre os historiadores: alguns defendem que teria ocorrido logo após a Revolução de Outubro (em 7 de novembro de 1917, segundo o calendário gregoriano), enquanto que, para outros, teria sido na primavera de 1918. A guerra civil perdurou até 1923, embora a maior parte dos combates já tivesse cessado em 1921, com a vitória dos bolcheviques. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_Russa
Cabia a ele, ainda, a gigantesca tarefa de desmobilizar e trazer para casa os quase quatro milhões de soldados que haviam lutado na guerra e sobrevivido e que estavam muito insatisfeitos, começando a provocar distúrbios. Poucos dias depois ele já possuia um plano justo de desmobilizações no qual os soldados que tinham estado na guerra por mais tempo, bem como os feridos e os mais velhos, poderiam voltar para casa imediatamente. Ao mesmo tempo ele conseguiu manter um exército de um milhão de homens como força de ocupação na região do Rio Reno.  (pg. 441-445)

CONTINUA

sábado, 2 de novembro de 2019

CHURCHILL - Parte 13

CHURCHILL – Parte XIII [1] [2]
Em oposição a esta atividade frenética os adversários de Churchill gastavam o tempo em atacá-lo. Os Conservadores e a imprensa atacavam publicamente. Os liberais e até mesmo membros do governo procuravam o Primeiro Ministro Lloyd George com reclamações e picuinhas.
Alguns reclamavam por Winston falar nas reuniões do Gabinete, das quais ele só participava quando eram tratados assuntos relativos ao seu Ministério das Munições. (<pg. 421)
Enquanto isso os alemães planejavam ganhar a guerra depois da saída da Rússia do conflito, por decisão do novo governo bolchevique, após a Revolução de 1917.
Os alemães planejaram vencer na primavera-verão de 1918 com uma grande ofensiva que visava romper as linhas defensivas dos aliados e tomar o rumo de Paris.
Essa ofensiva foi dividida em etapas que levaram a batalhas menores, fruto de partes específicas do plano geral, e que foram travadas ao longo da frente ocidental.
Entre 21/03 a 05/04/1918 o Plano Michael deslocou 700 mil soldados, “...6.600 canhões e quase 1.100 aeronaves, contra um setor de 113 km entre Arras e o rio Oise.[3]  para enfrentar um terço disso na Segunda Batalha do Somme.
Utilizando apenas um bombardeio prévio, e  aproveitando-se do nevoeiro, os alemães conseguiram expulsar os britânicos e avançar “...até 50km em seis dias...[4].
Diante da catástrofe iminente, os comandantes ingleses e franceses se reuniram em 26/03 e mudaram o comandante geral, nomeando o General Foch para o posto. E ele logo começou a agir.
Foch deslocou tropas francesas e da reserva para reforçar a linha. Os alemães, contudo, seguiam avançando e haviam conquistado, até 05/04, mais terreno, chegando a apenas 110km de Paris.
O custo desse avanço foi que “...eles sofreram 239 mil baixas, mas infligiram 248 mil (178 mil à Grã-Bretanha e seu império, 70 mil à França), enquanto faziam 90 mil prisioneiros...[5]. O butim veio na forma de nada menos que “1.300 canhões.”.
Na sequência do Plano Michael, os alemães colocaram em ação o Plano Georgette, que levou à Quarta Batalha de Ypres, entre 09 e 29/04/1918.
Também se valendo da concentração de efetivos muito superiores em um local específico, as forças do Kaiser conseguiram avançar 20km em cinco dias. A linha defensiva aliada não foi rompida, mas Passchendaele e Ypres foram retomadas.
Menos de um mês depois nova etapa do plano alemão começou. Entre 27/05 e 06/06/1918 foi executado o Plano Blücher-Yorck, com a Terceira Batalha do Aisne.
Desta vez não houve segredo e os alemães pulverizaram as defesas aliadas quando nada menos que “...3.700 canhões dispararam dois milhões de projéteis em apenas quatro horas e meia...[6]. O avanço foi de espetaculares 20km em um único dia, crescendo para 50km oito dias depois. Estavam novamente no Marne e, agora, a 90km de Paris.
A desesperada resposta do comando aliado foi colocar boa parte da capacidade de navegação aliada na tarefa de transportar tropas americanas para a Europa e no final de junho“...mais de 250.000 soldados estadonidenses […] haviam chegado...[7].
Cada vez mais divisões norte-americanas começavam a participar dos combates retomando áreas conquistadas pelos alemães.
Em 09/06 começou a quarta etapa do avanço alemão, o Plano Gneisenau que conseguiu avançar 10 km no primeiro dia. Mas desta vez os defensores franceses conseguiram bloquear o avanço e contra-atacar. A batalha decisiva estava prestes a começar.
A Segunda Batalha do Marne foi o ponto culminante da tentativa alemã de obter a vitória final na guerra. Quando o momento finalmente chegou, porém, as condições das forças opositoras eram bem diferentes das iniciais.
Do lado aliado, o General Foch deslocara tropas de várias frentes para reforçar a região do Marne, contando também com as divisões norte-americanas, que possuiam muito mais soldados que o usual na Europa.
Do lado alemão, a Gripe Espanhola dizimava as tropas, exaustas e mal alimentadas. A despeito disso o comandante alemão, Ludendorff, ordenou novo ataque.
Em 15/07 tropas alemãs avançaram em Champagne, enfrentando os franceses e os americanos. Também avançaram em Reims, onde atacaram tropas francesas.
Na Quarta Batalha de Champagne os aliados conseguiram barrar o avanço, mas em Reims os alemães conseguiram cruzar o Rio Marne em vários pontos utilizando barcos e conquistaram várias áreas, iniciando a construção de pontes.
Somente em 17/07 as forças francesas e americanas combinadas conseguiram deter o ataque. Em 18/07 os aliados contra-atacaram pesadamente.
O General Foch mobilizou “...quatro exércitos franceses [...] reforçados por oito grandes divisões da AEF (americanos – inserção nossa), quatro divisões britânicas e duas italianas.[8] e mais 350 tanques que avançaram sobre os alemães em Château-Thierry,  obrigando-os a recuar.
A retirada alemã começou em 20/07 e uma linha defensiva foi estabelecida entre Ourcq e Marfaux. Novo recuo, em 27/07 trouxe a frente até Fère-en-Tardenois. Em 06/08 o contra-ataque foi detido e os alemães se estabeleceram entre Soissons e Reims.
A batalha terminou em 08/08/1918 e as perdas dos aliados, embora muito superiores às alemãs, bloquearam o último grande avanço inimigo e salvaram Paris. Em números, “...os franceses tiveram mais baixas, com 433 mil, seguidos pelas forças britânicas e seu império, com 418 mil...[9].
A despeito disso, o lado aliado comemorou uma grande vitória, apesar de não decisiva. O General Foch foi promovido a Marechal da França.

[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial – História Completa. Trad. Roberto Cataldo. Editora Contexto, 2011. pg. 522.

[4]   Ibidem.

[5]   Ibid. pg. 526.

[6]   SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial – História Completa. Trad. Roberto Cataldo. Editora Contexto, 2011. pg. 527.

[7]   PIMLOTT, John. A Primeira Guerra Mundial. Bogotá, Colômbia: Editora Norma. pg. 31. Tradução livre.

[8]   SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial – História Completa. Trad. Roberto Cataldo. Editora Contexto, 2011. pg. 529.


[9]   Ibid. pg. 530.

Do lado alemão o ânimo foi abatido e a derrota já era visível no horizonte. A partir do Marne, só haveria recuos para os Exércitos do Kaiser.
Neste período Churchill atuou vivamente na articulação com as forças aliadas onde passou a ser companhia constante do Primeiro Ministro Francês Clemenceau [10] bem como dos Marechais Foch [11] e Pétain.[12]
Quando em Londres ele passou a praticamente viver em seu gabinete no ministério, visando manter a produção de munições para suprir as necessidades das forças armadas, atuou contra as greves nas fábricas de armas por conta do constante envio de operários para lutar na frente de batalha, causando assim uma queda na produção.
A essa atividade ele intercalava seguidas viagens à França e visitas às frentes de combate. Também incentivava o uso de bombardeios aéreos sobre cidades alemãs como forma de forçar uma rendição.   (<<pg. 426-431)
CONTINUA

[10]   Georges Benjamin Clemenceau (Mouilleron-en-Pareds, 28/09/1841 — Paris, 24/11/1929) foi um estadista, jornalista e médico francês. Formado em medicina, ciência que cedo trocou pelas actividades políticas. Entre 1902 e 1920 Clemenceau foi eleito senador. Ocupou o cargo de primeiro-ministro da França nos períodos 1906-1909 e 1917-1920. Neste último, chefiou o país durante a Primeira Guerra Mundial e foi um dos principais autores da conferência de paz de Paris, que resultou no tratado de Versalhes, dentre outros.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Georges_Clemenceau

[11]   Ferdinand Jean Marie Foch (Tarbes, 02/10/1851 – Paris, 20/03/1929) foi um General e Acadêmico francês, Marechal da França, da Grã-Bretanha e da Polônia. Ele foi o Comandante-em-Chefe das forças aliadas no fronte Oeste durante a Primeira Guerra Mundial. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ferdinand_Foch

[12]   Henri Philippe Benoni Omer Joseph Pétain (Cauchy-à-la-Tour, 24/04/1856 – Île d'Yeu, 23/07/1951), geralmente apelidado de Marechal Pétain, foi um oficial general francês que alcançou a distinção de Marechal da França e posteriormente atuou como chefe de estado da França de Vichy de 1940 a 1944. Pétain, que tinha 84 anos em 1940, classifica-se como o mais velho chefe de estado da França. Hoje, ele é considerado por muitos como um colaborador nazista, o equivalente francês de seu contemporâneo Vidkun Quisling na Noruega. Ele às vezes era apelidado de Leão de Verdun. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Philippe_P%C3%A9tain

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sexta-feira, 11 de outubro de 2019

CORINGA – UM NOVO PARADIGMA DE ATUAÇÃO


Eis que, contra minhas expectativas, volto a escrever sobre um filme pouco tempo depois de IT – Parte II.
Mas era inevitável, considerando nosso critério de só escrever sobre filmes realmente marcantes. E Coringa é um filme absolutamente marcante, chocante, triste, que obriga a reflexão.
Coringa é um filme de origem que não traz novidade neste aspecto, trata-se de um comediante fracassado, tema que já tinha sido levantado em A Piada Mortal, uma das melhores revistas em quadrinhos de todos os tempos.
A relação criada com a origem do Batman é uma novidade, embora já tenha sido feito algo semelhante no primeiro filme do Homem Morcego com Michael Keaton, de 1989.
Coringa inova ao ser uma crítica à sociedade de consumo e do individualismo, que torna o outro invisível, enquanto não está dentro do círculo de interesses dos que o cercam.
Ninguém está lá, nunca, quando Arthur mais precisa, ninguém liga, ninguém oferece a mão, ninguém parece estar minimamente preocupado. E este é, assustadoramente, um retrato fiel do mundo em que vivemos, inclusive no Brasil.
Mas esqueça tudo isso, pois tudo isso é absolutamente ofuscado pela atuação indescritível de Joachim Phoenix. Não me lembro de ter visto nada mais soberbo.
A angústia e o sofrimento do personagem escorrem pela tela e nos pegam pelo pescoço, aperta, sufoca. O abismo da solidão de Arthur, o protótipo pronto e acabado do Looser (perdedor) como os estadunidenses concebem, é palpável em cada respiração, cada gesto e cada olhar de Phoenix.
O ator merece o Oscar e todos os demais prêmios de interpretação existentes em cada segundo de atuação. Como pode uma gargalhada transmitir   sofrimento? É simplesmente de partir o coração.
E a sua transformação? É uma libertação das amarras sociais, dos sistemas de pesos e contrapesos, representados pelas convenções sociais e pela lei, que é também o mergulho na psicopatia. Ele fez sua escolha. E obviamente escolheu errado.
Este momento é como se ele simplesmente desistisse de nadar e afundasse, mas não parasse de respirar. Ele se descobre um peixe, um tubarão com todas as demais pessoas sendo reveladas como presas potenciais.
Mas se nada disso tivesse ocorrido, ele ainda mereceria o Oscar e demais prêmios apenas pelo olhar que dirige para o personagem de Robert De Niro, pois ali não vemos mais Arthur. A nosso ver, ali já está o Coringa, plenamente estabelecido e dominante naquela personalidade perturbada.
E é ali que, também a nosso ver, o Coringa de Phoenix se encontra com o Coringa de Heath Ledger. Não é só na caracterização física, bastante semelhante, mas nas concepções de mundo. 
Em outras palavras, podemos ver que o Coringa de Phoenix vai ser o Coringa de Ledger no futuro, após anos de crimes, quando, então, vai conhecer e se defrontar com seu histórico inimigo, o Batman, então um homem adulto.
Joachim Phoenix estabelece um novo paradigma, paralelo ao estabelecido por Heath Ledger, com quem empata, a nosso ver. Ninguém mais, nos próximos séculos, poderá interpretar o personagem sem ser comparado com ambos, e perder. 
O mais icônico dos vilões da DC, que parecia fadado a fracassos como o de Jared Leto, ganha um novo intérprete definitivo, a altura do saudoso Heath Ledger. Que venha o próximo confronto com o Batman. Se a DC não estragar tudo, como parece ser sua prática recorrente.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

CHURCHILL - Parte 12


CHURCHILL – Parte XII [1] [2]
Uma vez na frente de batalha Churchill alternava, como todos, dias nas trincheiras intercalados por dias na retaguarda. No início se empolgou com as novidades e chegou a ser nomeado comandante de batalhão. Era comum que fosse recebido com desconfiança pelos veteranos da frente, mas depois de algum tempo seu carisma e sua coragem conquistavam a todos.
Enquanto comandante de batalhão, sua prioridade foi a segurança dos homens, garantir que não ficassem sob disciplina rígida demais e tivessem momentos de lazer quando na reserva.
Mas os acontecimentos em Londres não deixavam de atrair sua atenção e ele queria retornar ao centro das decisões tanto quanto se via cada vez mais um opositor da forma como o governo Asquith conduzia a guerra.
Neste período sua esposa, Clementine, teve papel fundamental em representá-lo junto a todos os contatos políticos. Mas ela tentava demovê-lo da ideia de retornar logo pois temia que seu pouco tempo na frente de batalha fosse visto como um mero oportunismo. (<<<pg. 359-390)




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
Churchill chegou à França para combater em 18/11/1915 e retornou definitivamente a Londres em 07/05/1916. Quando partiu, sobre a despedida de seus comandados, um deles escreveu: “acredito que cada homem naquela sala sentiu sua partida como uma verdadeira perda pessoal”. (pg. 393)

Em seu regresso, como não possuísse qualquer cargo no governo, Churchill só podia fazer discursos na Câmara dos Comuns e lá ele passou a defender o recrutamento de irlandeses bem como o fim de operações inúteis, que só serviam para levar milhares de soldados à morte. 
Também trabalhou em sua defesa tentando publicar todos os documentos referentes ao planejamento e execução da Batalha de Galipoli, mas o Primeiro Ministro Asquith impediu a publicação pois eles apontavam sua própria culpa no episódio.
Sem poder se defender corretamente Winston não podia limpar seu nome e sem limpar seu nome não tinha condições políticas de ser nomeado para qualquer cargo importante. (<<pg. 393-396)
No início de dezembro de 1916 Asquith deixou o governo e em seu lugar assumiu, dois dias depois, Lloyd George,[1] amigo de Churchill. Entretanto, essa amizade não rendeu, de início, a nomeação de Winston para qualquer cargo, embora ele aceitasse qualquer nomeação, desde que pudesse ajudar no esforço de guerra.



[1]   David Lloyd George, 1.º Conde Lloyd-George de Dwyfor (Chorlton-upon-Medlock, 17/01/1863 — Llanystumdwy, 26/03/1945) foi um estadista britânico e o último membro do Partido Liberal a ser Primeiro-ministro do Reino Unido. Ele está enterrado na Abadia de Westminster.  Embora nascido em Manchester em 1863, David Lloyd George falava galês, e foi o único galês a ocupar o cargo de Primeiro Ministro no governo britânico. Substituiu Asquith como primeiro-ministro de um novo governo de coalizão em tempo de guerra entre os liberais e os conservadores. Este foi um movimento que dividiu seu Partido Liberal em duas facções; os que apoiavam Asquith e os que apoiavam o governo de coalizão. Apesar desta oposição, Lloyd George guiou o país politicamente pela guerra, e representou a Inglaterra na Conferência de Paz de Versalhes, não concordando com o Premier francês Georges Clemenceau e com o Presidente americano Woodrow Wilson. Lloyd George queria punir a Alemanha politicamente e economicamente pela devastação da Europa durante a guerra, mas não queria destruir totalmente o sistema econômico e político alemão do modo que Clemenceau e muitas outras pessoas da França queriam fazer.
https://pt.wikipedia.org/wiki/David_Lloyd_George
O Ex Asquith e o novo Primeiro Ministro Lloyd George
O Partido Liberal estava dividido entre os partidários do ex Primeiro-ministro Asquith e os apoiadores do novo governo.
O grupo de Asquith era frontalmente contra a nomeação de Churchill para qualquer cargo, assim como o Partido Conservador e a imprensa a esse ligada. Assim Winston foi sendo escanteado com a desculpa de que deveria esperar a publicação do relatório da Comissão de Dardanelos, que investigava a Batalha de Galipoli, a qual ele já apresentara um monte de documentos. (<pg. 400-403)
Quando o relatório da Comissão de Dardanelos finalmente saiu, não respondia a muitas das acusações que vinham sendo feitas contra Churchill de forma sistemática. Ele se defendeu perante o parlamento quando do debate sobre o relatório e como a verdade mostrasse que Asquith fora um entusiasta do ataque, seus correligionários passaram a apoiar a operação. A situação começava a mudar. (pg. 403-404)
Livre das acusações, Churchill passou a advogar, junto às autoridades e no Parlamento, que nenhuma ofensiva nova fosse posta em prática em 1917, aguardando a chegada das tropas estadunidenses cujo pais tinha entrado na guerra.
Ele queria evitar um novo banho de sangue como a Batalha do Somme, na qual dezenas de milhares haviam morrido sem qualquer avanço. Ao mesmo tempo começou a colaborar extra-oficialmente com o Primeiro Ministro Lloyd George que o enviou para visitar as tropas na linha de frente. 
A oposição à nomeação de Winston para qualquer cargo, contudo, crescia e agora contava com pessoas muito próximas a Lloyd George. Este, no entanto, contra tudo e contra todos, nomeou Churchill para Ministro das Munições. E silenciou os opositores próximos com a ameaça de demitir-se. (<<pg. 405-408)
Nem mesmo os funcionários do Ministério da Guerra estavam satisfeitos com o novo ministro, e pareciam dispostos a demonstrar isso quando este fosse apresentado em seu primeiro dia de trabalho. Mas, como observou um dos presentes, em seu discurso Churchill:

iniciou suas observações mencionando que “sabia que estava partindo ‘da estaca zero em questão de popularidade’. Continuou afoitamente, mencionando sua política para uma produção ainda mais rápida de munições. À medida que elaborava seus planos, a atmosfera foi mudando perceptivelmente. Aquilo não era um pedido de desculpas, e sim um desafio. Aqueles que tinham vindo para insultá-lo ficaram para aplaudi-lo”. (<pg. 409)
Poucos dias depois, Churchill já tinha negociado o encerramento de uma greve no setor de produção de munições e esboçado um projeto de Lei das Munições de Guerra, que beneficiava e protegia os trabalhadores deste setor, como parte importante do esforço de guerra.
Embora fosse criticado pelo acordo que costurou, os trabalhadores que deixaram a greve logo tinham subido a produção para o nível mais alto do país. (<pg. 410-411)
Sempre em movimento, Churchill reestruturou internamente seu ministério, criando equipes de trabalho na qual empresários do ramo da produção bélica também colaboravam, viajou à França para coordenar a produção, inclusive com os EUA, e atender melhor as necessidades da frente de combate, ouviu e abraçou as reivindicações das mulheres que trabalhavam nas fábricas, preparou a instalação de uma fábrica de munições na França, articulou a implantação de uma fábrica de tanques perto de Paris e iniciou a compra dos materiais de que precisariam as tropas americanas ao chegar na Europa. (pg. 410-415)

CONTINUA