A
guerra civil na Rússia terminou com a vitória dos bolcheviques. Churchill
trabalhou intensamente para conseguir enviar ajuda aos anti-bolcheviques, mas
foi sempre tolhido pela inabalável determinação do governo britânico em
envolver-se o mínimo possível e, embora tenha havido momentos em que o exército
branco chegou mesmo a se aproximar de Moscou, no final o Exército Vermelho
empurrou os inimigos para fora da Rússia, vencendo a guerra.
Ao
final dela a disposição mundial era de negociar com os bolchevistas vitoriosos,
fato que Winston acabou apoiando. Ele teve pouco poder de decisão na questão da
guerra, mas seu empenho em apoiar o lado que acabou derrotado fez com que a
derrota fosse atribúida a ele dentro da Inglaterra, quase como uma nova
Galipoli. (<pg. 445-460)
Já
praticamente afastado das questões da Rússia, inclusive no que diz respeito a
invasão da Polônia, Churchill passou a se preocupar com os atentados praticados
na Irlanda por pessoas ligadas ao Sinn Fein [3] e a uma revolta
na Mesopotâmia, atual Iraque.
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
[3] Sinn Féin é um dos movimentos políticos mais
antigos da Irlanda. Fundado em 1905 por Arthur Griffith para unir os grupos
informais nacionalistas de resistência pacífica ao domínio britânico, seu
objetivo era restaurar a monarquia irlandesa, fora do poder desde o século
XVIII. Em gaélico irlandês, a expressão significa "Nós mesmos". Em
tempos passados os próprios integrantes afirmavam ser o braço político do
Exército Republicano Irlandês, o IRA.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinn_F%C3%A9in
Ele
defendia uma retirada britânica daquela área do Crescente Fértil, posição
derrotada dentro do governo. Defendia, também, a repressão contra os
terroristas irlandeses até o momento em que se dispusessem a conversar.
A
despeito dessa posição conciliadora, tornou-se um dos alvos de futuros
sequestros de autoridades planejados pelos terroristas. Aos poucos o ciclo de
atentados e represálias tornou-se uma bola de neve. (<<pg. 461-467)
Vendo
um inevitável aumento das despesas militares por conta de tantos conflitos,
Churchill sugeriu a criação de um departamento para cuidar exclusivamente da
questão do Oriente Médio. Nesta época, sempre com uma visão décadas antecipada,
ele defendia a criação de um estado judeu nas margens do Rio Jordão:
Se,
como é bastante possível que aconteça, for criado um Estado judaico nas margens
do Jordão, sob a proteção da Coroa Britânica, que pode incluir três ou quatro
milhões de judeus, terá ocorrido na história do mundo um evento benéfico sob
todos os pontos de vista, que estará especialmente em harmonia com os mais
autênticos interesses do império britânico. (<pg. 469)
Quando
Lloyd George se convenceu da necessidade de economizar, chamou Churchill para
ocupar o cargo de Ministro das Colônias, o que ele aceitou em 07/01/1921,
assumindo o posto oficialmente em 13/02/1921. (pg. 468-469)
Lawrence da Arábia |
Churchill
trabalhou para reduzir os gastos da Inglaterra na administração do Iraque
conferindo autonomia administrativa à região. Ele nomeou o general Thomas
Edward Lawrence (o Lawrence da Arábia [4]) como seu
conselheiro e, através dele, costurou um acordo com o Emir Faiçal e seu irmão
Abdullah para que estes ocupassem os tronos do Iraque e da Transjordânia
respectivamente e garantissem a existência de um futuro estado judeu e não
atacassem os franceses na Síria.
Uma
conferência realizada no Cairo (março/1921) resultou em acordo que foi
sacramentado no documento intitulado Tratado Anglo-Iraquiano.[4] Mais uma vez
demonstrando sua visão muito à frente de seu tempo, Winston propôs autonomia
aos curdos que viviam no norte do Iraque. (<pg. 471-473)
[4] Thomas Edward Lawrence (16/08/1888 -
19/05/1935), também conhecido como Lawrence da Arábia, e (aparentemente entre
os seus aliados árabes) Aurens ou El Aurens, foi um arqueólogo, militar, agente
secreto, diplomata e escritor britânico. Tornou-se famoso pelo seu papel como
oficial britânico de ligação durante a Revolta Árabe de 1916-1918. A sua fama como herói
militar foi largamente promovida pela reportagem da revolta feita pelo viajante
e jornalista estadunidense Lowell Thomas, e ainda devido ao livro
autobiográfico de Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria.
https://pt.wikipedia.org/wiki/T._E._Lawrence
[5] O Tratado Anglo-Iraquiano de 1922 foi um
acordo assinado entre os governos do Reino Unido e do Iraque. O tratado foi
planejado para permitir aos habitantes locais uma participação limitada na
divisão do poder, dando aos britânicos o controle da política militar e
exterior. Tinha a intenção de concluir um acordo feito na Conferência do Cairo
para estabelecer um governo haxemita no Iraque. O Tratado Anglo-Iraquiano foi assinado
principalmente devido aos esforços revolucionários dos cidadãos do Iraque, uma
coligação de ambos os árabes, xiitas e sunitas. Os maiores centros de
insurreição durante a Grande Revolução Iraquiana de 1920 incluíram Moçul,
Bagdá, Najafe e Carbala. O esforço de rebelião em Carbala foi inflamado por uma
fatwa emitida pelo grande mujtahid Imame Xirazi. A fatwa fazia uma observação
que era anti-islâmico ser governado pelos britânicos, que não praticavam o
islamismo. A fatwa ordenou um Jihad contra a ocupação britânica. O tratado foi
assinado em nome dos britânicos por Sir Percy Cox em 10 de outubro de 1922. Não
foi ratificado pelo governo iraquiano até 1924, quando o Alto Comissário
Britânico ameaçou impor sua autoridade para desfazer a constituição, elaborada
pela assembleia constituinte do Iraque. Foi visto com desdém por muitos
iraquianos, tanto xiitas quanto sunitas. De qualquer forma, foi o primeiro
passo para um Iraque mais independente.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_Anglo-Iraquiano
Os Reis Faiçal e Abdullah |
Mas,
se Faiçal e Abdullah aceitavam a imigração dos judeus, a maioria dos árabes não
estava disposta a permitir a existência de um enclave judeu na Palestina e
fizeram Churchill saber disso, solicitando a suspensão da vinda de mais judeus
para a região até a criação de um Estado Palestino. Ele, porém, não podia e nem
queria atender tal desejo, defendia direitos iguais a ambos os povos.
Cada
passo que se dê deverá ser para o benefício moral e material de todos os
habitantes da Palestina, judeus e árabes por igual. Se isso for feito, a
Palestina será feliz e próspera: a paz e a harmonia reinarão sempre e essa
terra se converterá num paraíso, numa terra de leite e mel onde os sofredores
de todas as raças e religiões encontrarão o descanso depois de suas provações.
(<pg. 475)
Mas
não foi possível conciliar os interesses judeus e árabes, de modo que a
economia que Churchill pretendia, e que motivara todas aquelas negociações, não
se concretizou. Motins árabes levaram à suspensão temporária da imigração. (pg.
476-477)
CONTINUA