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terça-feira, 29 de setembro de 2020

CHURCHILL - Parte 22

CHURCHILL – Parte XXII [1] [2]
A despeito das manobras de Hitler, ainda havia membros do Parlamento que criticavam os alertas de Churchill, taxando-os de “discurso alarmista do honorável membro por Epping, que se esforça por fazer nossa pele se arrepiar”. Mas o próprio Hitler disse, a dois emissários do governo britânico, Anthony Eden e a Sir John Simon, que “tinha atingido paridade com a Grã-Bretanha no que dizia respeito à capacidade aérea”. (pg. 17-18)
Mas Hitler estava sendo modesto ou mentindo descaradamente, pois relatórios secretos dos quais Churchill teve conhecimento através de Ralph Wigram, chefe do Departamento Central das Relações Exteriores, davam conta de que a Alemanha já possuia “oitocentos aviões contra 453 aviões britânicos.” (pg. 19)
As demais nações, contudo, pareciam menos inertes que o Reino Unido. França e Rússia assinaram, em 02/05/1935, um “pacto de cooperação mútua”. Esse acúmulo de notícias que davam plena razão a Churchill e expunham ao ridículo seus detratores, e o próprio governo, já eram do conhecimento do público. O jornal Daily Express chegou a publicar pedido de desculpas a Winston “por ter “ignorado” seus avisos sobre o poderio aéreo alemão, desculpa essa que foi lida por seus 1.857.939 leitores.”. Baldwin reconheceu estar errado mas ainda se recusava a aprofundar o debate sobre o assunto. (pg. 19)
Por motivo de doença Ramsay MacDonald deixou o cargo de Primeiro-Ministro em 07/06/1935 e Stanley Baldwin assumiu o cargo. Churchill não foi convidado para nenhum cargo e seguiu com seus alertas na Câmara dos Comuns. Do governo não vieram convites, mas ataques. O Ministro das Relações Exteriores, Samuel Hoare, disse daqueles que “parecem ter um prazer mórbido em alarmar e em divagar numa psicologia de medo e até de brutalidade”. (pg. 20)
Baldwin - Ramsey
Incapaz de se contrapor por tanto tempo aos fatos e, a nosso ver, talvez na esperança de calar críticas, Baldwin convidou Churchill para compor a Subcomissão de Investigação de Defesa Aérea. Algumas semanas depois Mussolini ameaçou de invasão a Abissínia. Winston era favorável a ação da Liga das Nações contra a Itália, bem como sanções econômicas e demonstrações de força da Marinha Britânica no Mar Mediterrâneo. Mas nada foi efetivamente feito e o Duce invadiu a Abissínia em 04/10/1935.[3] (pg. 20-21)
Invasão italiana da Abissínia
Churchill seguiu fazendo sua pregação para que o governo preparasse o país de forma a que não permanecesse belicamente inferior a Alemanha e denunciando o rearmamento alemão. E acrescentou às suas denúncias a disseminação de campos de concentração no país de Hitler e o tratamento desumano aos judeus:
...lado a lado com campos de treinamento dos novos exércitos e aeródromos maiores, os campos de concentração enxameiam o solo alemão. Nestes, milhares de alemães são coagidos e submetidos como gado ao irresistível poder do Estado totalitário.
Nenhum serviço, nenhum patriotismo e nenhuma ferida sofrida na guerra produziu imunidade em pessoas cujo único crime foi terem sido postas neste mundo por seus pais.” Mesmo as “pobres crianças judias” são perseguidas nas escolas públicas. O mundo ainda tem esperança de que o pior já tenha passado “e de que ainda viveremos o suficiente para vermos em Hitler um velhinho simpático (<pg. 21-22)
Nas eleições gerais de 14/11/1935 Churchill foi reeleito. Mas aqui descobrimos um provável erro na obra de Martin Gilbert, pois ele informa que, depois da invasão italiana na Abissínia,  “As eleições gerais deram uma vitória esmagadora aos conservadores, que conseguiram 432 lugares contra 151 para os trabalhistas e apenas 21 lugares para os liberais”. No entanto, o Election Statistics: UK 1918-2007 da Library House of Commons,[4] de autoria de Edmund Tetteh, informa 429 cadeiras para os Conservadores e 154 para os Trabalhistas.
Stanley Baldwin permaneceu como Primeiro-Ministro e fez o que Hitler mais desejava que ele fizesse: não nomeou Churchill para nenhum cargo no governo embora já soubesse que Hitler apresentaria demandas territoriais em um futuro próximo. Winston, então, viajou em férias para Maiorca e Marrocos. (pg. 22-23)
CONTINUA

[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    Segunda Guerra Italo-Etíope foi um conflito ocorrido em 1935-1936, quando a Itália fascista de Benito Mussolini invadiu a Abissínia (atual Etiópia). Apesar do protesto formal da Liga das Nações, nenhuma acção foi tomada contra a Itália, nem mesmo depois do discurso do Negus (Haile Selassie). Apesar da superioride militar, do ponto de vista tecnológico, da Itália, as forças etíopes apresentaram mais resistência do que os italianos tinham previsto, que levou-os a utilizar armas químicas, inclusive nas populações civis. Este facto que não foi noticiado na imprensa italiana da época, e muito pouco na restante. A guerra fez mais de meio milhão de mortos entre os africanos, face a cerca de 5.000 baixas do lado italiano.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_%C3%8Dtalo-Et%C3%ADope

[4]    https://researchbriefings.parliament.uk/ResearchBriefing/Summary/RP08-12