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sábado, 31 de julho de 2021

CHURCHILL - Parte 33

CHURCHILL – Parte XXXIII [1] [2]
Os britânicos estavam na defensiva, resistindo ao imenso poderio aéreo alemão contra o qual Churchill tanto alertara anos antes. Mas os britânicos tinham uma vantagem de organização que já começava a mostrar resultados. Churchill, com todo seu ímpeto a ação, não decidia tudo ao seu bel prazer, por mais que fosse capacitado.
Havia uma estrutura ao seu redor a partir da qual as coisas aconteciam. Primeiro vinha o Estado Maior “Todas as decisões de política de guerra tinham de ser aprovadas pelos três chefes de Estado-Maior; se eles não estivessem de acordo com uma proposta de Churchill, ela não teria seguimento.” Eram eles que adequavam os planos aos recursos e faziam isso com competência. Era um pequeno grupo no qual reinava o respeito mútuo mesmo na discordância.
Depois foi criada a “Comissão Conjunta de Planejamento, composta por oficiais superiores e chefes dos serviços de informação, faria sugestões para operações militares, aéreas e navais.” Cabia a eles, também, detalhar os planos apresentados por Churchill.
Depois de detalhados os planos eram apresentados à Comissão de Chefes de Estado-Maior onde, se aprovados, iam à prática e em caso de dúvidas, iam para exame da Comissão de Defesa do Gabinete de Guerra, com participação dos chefes do Estado-Maior. É claro que isso não impedia a frustração de Churchill muitas vezes: “São sempre apresentados argumentos magníficos para não se fazer nada.”(<<<pg. 117-119)
Enquanto isso, pelo outro lado, os alemães tinham apenas a vontade de Hitler, apesar de disporem de alguns dos melhores generais do mundo, os quais tinham as mãos atadas se suas observações fossem contrárias à soberana vontade do Führer.
Mas, no início, a guerra corria muito bem para os alemães, apesar de Hitler. Em 07/09/1940 Londres sofreu o mais terrível dos bombardeios até aquele momento. 200 aviões da Luftwaffe despejaram suas bombas sobre a capital britânica. 300 pessoas morreram e Churchill ficou arrasado ao visitar os locais devastados.
Mas esse era só o começo pois em pouco tempo o número de mortos chegaria a cerca de 1000 por semana. Em 12/09/1940 o próprio Palácio de Buckingham foi bombardeado. 
No dia 15 de setembro a batalha chegou ao auge. Nada menos que 230 bombardeiros e 700 caças alemães atravessaram o Canal da Mancha para atacar a Inglaterra. Churcill acompanhou a batalha no “quartel-general do 11º Comando de Caça, em Uxbridge” onde podia ver em quadros a disposição das aeronaves e viu que, em dado momento, todos os aviões disponíveis estavam empenhados no combate.
Ao final os alemães tinham perdido quase um quarto de seus bombardeiros, 59 aviões. Mas em outubro o número de civis mortos chegou a 10.000 e pressionado a fazer uma represália, Churchill respondeu:
Essa não é uma guerra civil, e, sim, militar. Talvez o senhor e outros queiram matar mulheres e crianças. Nós queremos [...] destruir objetivos militares alemães. Aprecio sem dúvida seu ponto de vista, mas meu lema é ‘primeiro os negócios, depois o prazer. (<<<pg. 119-124)
Os ataques prosseguiram mas foram diminuindo de intensidade até que em 06/11/1940 nenhum avião alemão sobrevoou Londres e uma mensagem secreta foi decodificada pelos decifradores de Bletchley Park: “o quartel-general do 16o Exército alemão enviou instruções ultrassecretas para os comandos relevantes, ordenando que parte dos dispositivos que equipavam as barcaças de invasão na Bélgica e no norte da França fossem armazenados”. Em outras palavras, o perigo de invasão da ilha estava afastado indefinidamente. Os ingleses tinham vencido a Batalha da Inglaterra e, finalmente, poderiam deixar sua posição defensiva e tomar a iniciativa. (pg. 125)
O Egito e a Grécia estavam sob ataque italiano pois Mussolini queria reviver as glórias do Império Romano. Com inveja dos sucessos de Hitler, tomava iniciativas sem consultar ou combinar com os aliados alemães e, geralmente sem levar em conta sua verdadeira capacidade militar, atolava seus exércitos mal preparados em situações vexatórias.
Sem ter nada a ver com as diatribes do Duce, Churchill tentava providenciar auxílio militar e de suprimentos para a Grécia e o Egito. Ao mesmo tempo foi preparado e executado um ataque de torpedos aéreos (lançados por aviões) contra a frota naval italiana ancorada em Taranto quando metade dos couraçados presentes foi afundada.
Catedral de Coventry destruída
Apesar de afastada a ameaça de invasão, os bombardeios sobre a Inglaterra continuaram. E Churchill foi posteriormente acusado de permitir o bombardeio da cidade de Coventry apenas para não revelar aos alemães que havia decifrado o código das máquinas enigma.
CONTINUA



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

sexta-feira, 9 de julho de 2021

CHURCHILL - Parte 32

CHURCHILL – Parte XXXII [1] [2]
Os franceses aceitaram tudo que Hitler impôs, inclusive a entrega da frota, o que Churchill não tinha a menor intenção de permitir.
Parte da frota francesa estava em Alexandria, no Egito, onde poderia ser facilmente capturada pelos britânicos de lá. Parte estava em Toulon e em Dacar, fora de alcance. Mas havia outra parte que estava em Mers-el-Kebir, em Orã.
Churchill enviou emissários a essa última base propondo algumas alternativas ao comandante local:
levar os navios para um porto inglês e juntarem-se à Marinha britânica como aliados contra a Alemanha; levar os navios para um porto britânico e entregá-los a tripulações britânicas ou irem para um porto das Índias Ocidentais Francesas e aceitarem a desmilitarização, com imediata repatriação das tripulações para a França, se assim desejassem. Foi acrescentada uma quarta possibilidade quando se provou que as três primeiras eram inaceitáveis: afundar voluntariamente os navios no porto de Mers-el-Kebir. (<<<<pg. 113)
Os comandantes franceses, entretanto, recusaram todas as alternativas em honra dos termos do armistício e, no dia 03/07/1940, Sir James Somerville ordenou a seus navios que abrissem fogo contra os navios franceses. Ao final do ataque “1.200 marinheiros franceses estavam mortos.

Para Churchill esse gesto terrível mostrou ao mundo o tamanho da determinação britânica. Por outro lado ele já atuava na preparação das ações a serem tomadas em caso de invasão. “Londres seria defendida rua por rua, bairro por bairro...” Os depósitos de combustível na costa leste deveriam ser destruídos, policiais, soldados e membros da guarda não deveriam prestar qualquer ajuda ao inimigo, somente à população civil e até as mulheres deveriam ser autorizadas a combater.
E um ataque maciço ao território da Alemanha deveria ser planejado pois seria o único caminho para derrotar Hitler, tornando inúteis suas conquistas: “Mesmo que Aquele Homem atinja o mar Cáspio, terá fogo em seu quintal quando regressar. Não adiantará nada atingir nem mesmo a Grande Muralha da China.” (<<pg. 114)
No dia 19/07/1940 veio o ultimato de Hitler: “Acabem com a guerra ou pereçam![3] 
E ele falava sério pois os bombardeios aéreos alemães prosseguiam e o número de mortos nos ataques cresciam, embora raramente fossem divulgados. Churchill admitiu estar odiando os alemães: “Nunca odiei os hunos durante a última guerra, mas agora os odeio como a uma barata.” 
Porém os pilotos da RAF já vinham se destacando na defesa aérea. Winston, porém, prosseguia procurando manter a moral elevada sem descuidar do alerta:
Esperamos sem medo o ataque iminente. Talvez chegue essa noite. Talvez chegue na próxima semana. Talvez nunca chegue. Devemos estar preparados tanto para sofrer um súbito e violento choque quanto — o que é talvez o teste mais difícil — para uma prolongada vigília. Seja a provação aguda ou prolongada, não aceitaremos condições e não toleraremos negociações; poderemos mostrar clemência, mas não a pediremos. Não apenas na Inglaterra, mas por todos os lados havia muitas pessoas “que prestarão serviços úteis nessa guerra, mas cujos nomes nunca serão recordados. Essa é uma Guerra do Soldado Desconhecido, mas esforcemo-nos sem desfalecimentos na fé ou no dever e veremos o sombrio percurso de Hitler ser banido dos nossos tempos”. (<pg. 114-115)
A ajuda americana continuava extremamente lenta, levando Churchill a ceder cada vez mais a Roosevelt como, por exemplo, o uso das bases britânicas em Terra Nova, Bermudas, Bahamas  Índias ocidentais em troca daqueles malfadados contratorpedeiros.
Mas era uma necessidade urgente pois no mar as alcateias de submarinos nazistas continuavam infligindo pesadas baixas militares e civis. No ar, porém, a despeito da perda de 526 pilotos em dois meses, a RAF estava causando, algumas vezes, o triplo de baixas à Luftwaffe:
Em 16 de agosto, Churchill acompanhou a batalha da sala de operações do 11o Comando de Caça em Uxbridge. Nesse dia, quase todas as esquadrilhas de caças estavam no ar, em combate, mas os alemães destruíram 47 aviões britânicos ainda no solo. Ao sair da sala de operações, Churchill voltou-se para Ismay: “Não fale comigo; nunca me senti tão comovido.” Depois de cerca de cinco minutos, inclinou-se para Ismay e disse-lhe: “Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos.” (<<pg. 116)
Churchill repetiu essa última frase em seu discurso no Parlamento. Concordamos com a filha do falecido Ex Primeiro-Ministro Asquith, Violet: “são palavras que viverão por todo o tempo que houver palavras”, (pg. 116)
CONTINUA 




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   Journal New York and American – 19/07/1940