Em
29/05/1921 Lady Randolph, mãe de Churchill, caiu de uma escada e teve que
amputar a perna por conta de uma gangrena. Ela faleceu em 09/06/1921 aos 67
anos. Winston escreveu que sentia a perda, mas não de forma trágica, pois sua
mãe tivera “...uma vida repleta. O vinho da vida corria em suas veias.
Mágoas e tempestades eram conquistadas por sua natureza e, no fim das contas,
foi uma vida cheia de luz.” (pg. 478)
Alguns
dias depois do funeral, em discurso na Conferência Imperial, Churchill alertou
para a necessidade de promover a reconciliação entre a França e a Alemanha, sob
o risco de ocorrer “em pouco mais que uma geração, um recrudescer da luta
que terminara havia tão pouco tempo”. (pg. 478)
Em
23/08/1921 Churchill sofreu a segunda perda pessoal naquele ano. Sua filha mais
nova, Marigold, faleceu vítima de meningite. Winston escreveu de sua
devastadora tristeza por “essa pequena vida se extinguir quando parecia vir
a ser tão bela e tão feliz, exatamente quando tudo estava começando”. (pg.
479)
No
restante daquele ano trágico, Churchill se dedicou a costurar um acordo sobre a
autonomia da Irlanda que resultou no Tratado Anglo-Irlandês.[3] Depois foi
nomeado para presidir a Comissão Ministerial de Orçamento de Defesa onde
deveria promover cortes de despesas que atendessem aos críticos dos gastos sem
prejudicar as forças armadas. (PG. 480-483)
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
[3] O Tratado Anglo-Irlandês foi um acordo
firmado entre a Irlanda e o Reino Unido com o objetivo de dividir territórios
no então Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Estabelecido em 1921, instituiu
o Estado Livre Irlandês e separou a Irlanda do Norte da República
Irlandesa.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_Anglo-Irland%C3%AAs
Na
Irlanda os extremistas não aceitaram o acordo e a violência recomeçou, apesar
da produtiva conversa (promovida por Churchill) em que os líderes irlandeses
adversários Sir James Craig [1]
e
Michael Collins [2]
terem
chegado a entendimento, bem como da aprovação do Tratado e da Lei do Estado
Livre Irlandês por parte do parlamento britânico. A facção republicana liderada
por Eamon de Valera [3]
iniciou
ações violentas que acabaram em uma guerra civil que foi vencida pelo governo.[4] (pg. 484-491)
[1] James Craig, 1º Visconde Craigavon,
(08/01/1871 - 24/11/1940), foi um proeminente político unionista irlandês, líder
do Partido Unionista do Ulster e primeiro Primeiro Ministro da Irlanda do
Norte. Ele foi criado um baronete em 1918 e elevado ao Pariato em 1927.
https://en.wikipedia.org/wiki/James_Craig,_1st_Viscount_Craigavon
[2] Michael John "Mick" Collins (Cloich
na Coillte, 16/10/1890 — Béal na mBláth, 22/08/1922) foi um líder
revolucionário irlandês, que agiu como Ministro das Finanças da República
Irlandesa, Director dos Serviços Secretos do Exército Republicano Irlandês
(IRA) e membro da delegação irlandesa que negociou o Tratado anglo-irlandês,
tendo sido também Presidente do Governo Provisório da Irlanda do Sul e
Comandante-Chefe do Exército Nacional. Foi uma das figuras centrais da luta
irlandesa por independência no começo do século XX.
https://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Collins_(Irish_leader)
[3] Éamon de Valera (nascido Edward George de
Valera; Nova York, 14/10/1882 - Dublin, 29/08/1975) foi uma das figuras
políticas dominantes do século XX, na Irlanda. Entre 1917 e 1973, ocupou vários
cargos públicos proeminentes, servindo várias vezes como Chefe de Estado e
governo. De Valera foi um dos líderes na luta contra o Reino Unido pela
independência da Irlanda e um dos responsáveis pela criação da atual
Constituição da Irlanda. Mais tarde, ele também liderou a facção anti-tratado
do movimento republicano irlandês durante a violenta guerra civil de
1922–1923.
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89amon_de_Valera
[4] A Guerra Civil Irlandesa (28/06/1922 —
24/05/1923) foi um conflito que acompanhou a criação do Estado Livre Irlandês
como uma entidade independente do Reino Unido dentro do Império Britânico. O
conflito foi travado entre dois grupos opostos de nacionalistas irlandeses: as
forças do novo governo do Estado Livre, apoiantes do Tratado anglo-irlandês, e
os republicanos, para quem o Tratado representava uma traição da República da
Irlanda. A guerra foi ganha pelas forças governistas. Segundo historiadores, a
guerra civil na Irlanda pode ter levado mais vidas do que a guerra da
independência contra a Grã-Bretanha, que a precedeu, e deixou a sociedade
irlandesa dividida e ressentida nas décadas seguintes. Atualmente, os dois
principais partidos políticos da República Irlandesa, a Fianna Fáil e a Fine
Gael, são os descendentes diretos dos lados opostos desta guerra.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_Irlandesa
Sir James Craig - Michael Collins - Eamon de Valera |
Quase
ao mesmo tempo, Churchill passou a trabalhar por conferir os estatutos legais
para garantir a permanência dos judeus na Palestina. Em 15/09/1922, pouco mais
de um ano após a morte da pequena Maringold, Clementine deu a luz a Mary
Spencer-Churchill, a última filha do casal. (pg. 489-491)
Durante
este período, uma crise militar entre a Grécia e a Turquia fez com que os olhos
de Churchill se voltassem novamente para o Estreito de Dardanelos. Winston era
francamente favorável a fazer as pazes com a Turquia, mas Lloyd George apoiava
entusiasticamente os gregos quando, no início do conflito eles avançavam na
Ásia Menor.
Mas
em Setembro a situação já tinha se invertido quando o avanço turco retomou a
região. Churchill defendia que as tropas britânicas (sediadas em Chanak e em franca
desvantagem) também se retirassem da Ásia Menor, concentrando-se para defesa de
Galípoli, o que o Primeiro-Ministro não aceitava. (<pg. 467-468 / 473 / 478 / 491-495)
Afinal
a guerra não aconteceu pois um acordo foi costurado. A despeito disso os conservadores,
liderados por Bonar Law, decidiram se retirar do governo de coalização, levando
à queda de Lloyd George e de seu gabinete. Neste episódio, no qual perdeu o
emprego, Churchill não pode atuar pois teve uma crise de apendicite e precisou
ser operado declarando, depois, que “Num piscar de olhos, encontrei-me sem
ministérios, sem lugar no Parlamento, sem partido e sem apêndice”. (pg.
493-495)
Lloyd George - Bonar Law |
Em 23
de outubro de 1922 Bonar Law assumiu como Primeiro-Ministro e logo dissolveu o
Parlamento, convocando eleições. Em Dundee (Escócia), o distrito pelo qual
Churchill disputava a eleição, os Conservadores não lançaram candidato, mas a
facção Liberal correligionária de Asquith o fez. Outro candidato liberal foi
lançado (E.D. Morei), bem como um independente (Edwin Scrymgeour) ligado aos
trabalhistas.
Recém
operado, Winston não podia viajar para fazer campanha, de modo que a sempre
atuante Clementine fazia discursos em seu lugar, mas a popularidade dos
Churchill estava em
queda. Clementine escreveu ao marido relatando a vilania da
imprensa e a forma como ela o apresentava:
Acho
que aquilo de que as pessoas mais gostam é a solução da questão irlandesa, de
modo que trouxe isso à tona, bem como sua parte em ser dado governo próprio aos
bôeres. A ideia contra você parece ser que é um “fazedor de guerra”, mas eu o
exibo como um querubim pacificador, com asinhas de plumas ao redor de seu rosto
rechonchudo. (<<pg. 496)
O
resultado das urnas revelou a vitória de
Scrymgeour e Morei. Churchill ficou apenas na quarta colocação. Após a
derrota ele recebeu várias manifestações de amigos lastimando a decisão do povo
de Dundee. Lawrence da Arábia escreveu “Que merdas devem ser as pessoas de
Dundee”.
A um
outro amigo, porém, Churchill respondeu “Se visse o tipo de vida que as pessoas
de Dundee levam, você admitiria que elas têm muitas razões.” (<pg. 498)
Um dos quadros pintador por Churchill |
A
vitória dos Conservadores foi arrasadora. Conseguiram 354 cadeiras no
Parlamento, os trabalhistas ficaram com 142, os liberais de Lloyd George 62, os
liberais de Asquith 54. Churchill estava bastante desanimado e viajou com a
família para férias de seis meses na França, para descansar, pintar e escrever
os volumes da obra A Crise Mundial. (pg. 498)
No
segundo volume desta obra Churchill apresentou muitos documentos sobre sua verdadeira
parcela de participação na campanha de Galípoli.
CONTINUA
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