Fora
do governo Churchill passou a trabalhar na escrita de outros livros bem como na
formação de uma aliança liberal-conservadora que garantisse a saída dos
Trabalhistas do governo. Sem sucesso, viajou ao Canadá e EUA com os filhos.
Clementine não estava bem e preferiu ficar em casa.
No
Canadá ele fez discursos nas principais cidades, cruzou o país no trem
particular do magnata do aço americano Charles Schwab,[3] conheceu e foi
hospedado por William Randolph Hearst [4] (que o contratou
como colunista de seus jornais), conheceu Charles Chaplin, esteve no deserto de
Mojave e no Gran Canyon, Chicago e nos campos de batalha da Guerra Civil
estadunidense.
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
[3] Charles Michael Schwab (18/02/1862 -
18/10/1939) foi um magnata do aço americano. Sob sua liderança, a empresa
Bethlehem Steel tornou-se a segunda maior fabricante de aço dos Estados Unidos
e um dos expoentes mais importantes da indústria pesada no mundo. Em seu tempo,
ele era tão popular por suas realizações comerciais óbvias quanto por seu
estilo de vida perdulário, que acabou levando à ruína.
https://es.wikipedia.org/wiki/Charles_M._Schwab
[4] William Randolph Hearst (29/04/1863 –
14/08/1951) foi um empresário americano do ramo de editoras que criou uma
enorme rede de jornais. Seus métodos influenciaram a indústria do jornalismo
nos Estados Unidos.
https://pt.wikipedia.org/wiki/William_Randolph_Hearst
Churchill e Charles Chaplin |
Winston
estava em Nova York
no dia da Quebra da Bolsa de Valores, na qual teve prejuízos na casa de dez mil
libras onde quase presenciou um suicídio e visitou a Bolsa. (<pg. 536-537)
Lá encontrou um cenário de caos ordenado:
Eu
esperava ver um pandemônio, mas havia uma surpreendente calma e ordem perante
os meus olhos. Os membros da Bolsa andavam para lá e para cá como uma cena em
câmara lenta de uma formiga tonta, propondo uns aos outros enormes maços de
títulos por um terço de seu valor anterior e não encontrando, durante muitos
minutos, alguém com coragem suficiente para adquirir as fortunas garantidas que
eles se viam obrigados a oferecer. (<<<pg. 538)
Neste
período, sem consultar sua opinião, os Conservadores apoiaram o governo trabalhista
na proposta de dar certa autonomia à Índia que “seria, dentro de poucos
anos, governada por indianos, tanto a nível nacional quanto provincial.”.
Churchill
considerava de hindus e muçulmanos não estavam preparados para terem um governo
central devido às disputas religiosas e criticava duramente a discriminação
contra os dalits,[5] ou intocáveis,
por parte dos hindus.
Tal
posicionamento o colocou em rota de colisão, mais uma vez, com os cabeças do
Partido Conservador mas angariou-lhe muito apoio com os demais membros.
A
separação entre ambos, que resultou na criação do Paquistão tempos depois,
prova que, mais uma vêz, o “clarividente” Winston tinha certa razão. (<<<pg.
538-546)
Quando
chegou o período de novas eleições os Conservadores voltaram à ribalta, subindo
de 260 para 470 cadeiras, as vertentes Trabalhistas caíram de 287 para 65, as
tendências liberais subiram de 59 para 65 cadeiras. Apesar disso o governo era
de coalizão e Ramsay MacDonald seguiu como Primeiro-Ministro.
Churchill
não foi convidado para nenhum cargo e suas atenções estavam voltadas para o
lançamento do “último volume das memórias de guerra de Churchill, The World
Crisis : The Eastern Front”.
Então
Winston voltou aos EUA para uma série de palestras remuneradas e artigos de jornal.
Desta vez Clementine foi com ele. Mas o pléripo novaiorquino não durou muito,
em 11/12/1931 ele foi atropelado por um carro indo se restabelecer nas Bahamas.
Somente no final de janeiro de 1932 voltou aos EUA para proferir suas
palestras. (<<pg. 547-549)
Apesar
de estar fora do governo, Churchill seguia com seus artigos e discursos. Neste
período defendia a cooperação entre os países de língua inglesa, basicamente
EUA e Inglaterra, contra a Rússia, defendia cooperação mundial contra a crise
econômica e contra as pretensões da Alemanha que demonstrava interesse na
recuperação de territórios perdidos em 1918.
Em
março de 1932 as eleições naquele país resultaram em 11 milhões de votos para o
Partido Nazista que posteriormente, em abril, conquistou 40% do Parlamento.
[5] O termo dalit foi utilizado pela primeira vez
em finais do século XIX pelo ativista Jyotirao Phule para designar o que, no
sistema de castas do hinduísmo, são designados como "shudras", grupo
formado por trabalhadores braçais, considerados pelos escritos bramânicos,
sobretudo o Manava Dharmashastra, como "intocáveis" e impuros. O
termo deriva de uma palavra em sânscrito que significa tanto "chão"
quanto "feito aos pedaços". Desse modo, conota que a condição dos
"dalits" é de oprimido e, portanto, não podem reverter essa situação.
O termo, assim, é considerado preferível, pelos ativistas e intelectuais dalits,
aos mais pejorativos "shudra" e "intocáveis".
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dalit
Churchill em Munique quando tentou se encontrar com Hitler. |
Neste
ambiente, Churchill era contra um acordo de desarmamento que igualasse as
forças alemãs ao exército da França. Em viagem à Alemanha (entre fins de agosto
e setembro) esteve em Munique onde tentou se encontrar com Hitler, que recusou.
De
volta à Inglaterra Churchill adoeceu e aproveitou a convalescença para seguir
viajando e enriquecendo com os contratos pelos livros que ia escrevendo. (<<<pg.
550-554)
Mas o
ambiente político na Europa não relaxava e nem tirava férias. O novo Chanceler
da Alemanha, Franz von Papen,[6] exigiu “igualdade
de estatuto para os armamentos germânicos”, em outras palavras, poder armar
o país ao mesmo nível da França.
[6] Franz
Joseph Hermann Michael Maria von Papen zu Köningen (Werl, 29/10/1879 — Sasbach,
02/05/1969) foi um político alemão. Ocupou o cargo de Reichskanzler
(Chanceler da República de Weimar), de 1 de junho de 1932 a 17 de novembro de
1932. Foi um político erroneamente apresentado com um caráter dúbio. Lutou com
unhas e dentes contra os nazistas. Durante a época em que ocupou a chancelaria,
para poupar a própria vida e da sua família, em um governo ditatorial e
assassino, se disfarçou como um dos seus aliados incondicionais.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_von_Papen
Franz von Papen e o General Kurt von Schleicher |
Sir
John Simon, Ministro das Relações Exteriores britânico emitiu nota reafirmando
os termos do Tratado de Versalhes de modo que, em protesto, Papen se retirou da
Conferência Mundial para o Desarmamento.[7]
Churchill
apoiou vigorosamente a declaração de Simon, pois significava um alerta em
defesa da paz, considerando que o apaziguamento não adiantava já que O Ministro
da Defesa alemão, General Kurt von Schleicher,[8] declarara que “o
que quer que as potências decidam, a Alemanha fará o que considerar apropriado
em relação ao armamento”.
A
despeito disso, porém, o governo britânico estava disposto a satisfazer a
Alemanha. Winston previu, então, o fracasso das negociações e já clamava por
investimentos maciços na Força Aérea.
Em
discurso no Parlamento Churchill avisou que permitir o rearmamento alemão
levaria, necessariamente à exigência da devolução de territórios. Segundo ele,
as multidões de jovens que ele vira marchando na Alemanha “Querem armas, e,
quando as tiverem, acreditem, exigirão a devolução de seus territórios
perdidos.”
Mas,
a despeito de todos os avisos, o governo inglês seguiu apoiando o desarmamento
chegando mesmo a reduzir a própria Força Aérea! Em 30/01/1933 Hitler foi
escolhido Chanceler da Alemanha. (<<<<<pg. 554-558)
CONTINUA
[7] A Conferência para o Desarmamento em Genebra
foi uma conferencia da Liga das Nações em 1932 para a redução e limitação do
armamento de todas as nações que nela participavam. Todas as grandes potências,
Alemanha, Grã-Bretanha, França, e também os Estados Unidos e a URSS
participaram, embora não fossem membros da Liga das Nações. Esta conferencia
tomou lugar na cidade de Genebra, na Suiça, entre 1932 e 1934, mas terminando
de facto apenas a Maio de 1937. Esta conferência provou que ainda era cedo para
diversas nações trabalharem conjuntamente pela paz global, pois estavam todos
demasiado preocupados com os seus próprios interesses. Em 1935 Hitler iniciou o
rearmamento da Alemanha, construindo a partir do nada a Wehrmacht, a
Kriegsmarine e a Luftwaffe. A conferência foi terminou oficialmente a Maio de
1937, quando o desarmamento na Europa já era um sonho do passado.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_para_o_Desarmamento_em_Genebra
[8] Kurt Ferdinand Friedrich Hermann von
Schleicher (07/04/1882 a 30/06/1934) era um general alemão e o último chanceler
da Alemanha durante a República de Weimar. Um importante ator nos esforços do exército
alemão para evitar as restrições do Tratado de Versalhes, Schleicher subiu ao
poder como conselheiro próximo do presidente Paul von Hindenburg. Em 1930, ele
foi fundamental na derrubada do governo de Hermann Müller e na nomeação de
Heinrich Brüning como chanceler.
https://en.wikipedia.org/wiki/Kurt_von_Schleicher
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