O CÓDIGO DRÁCULA –
VI
As dicotomias são
presentes em toda obra, como vimos anteriormente. Esses limites ficam
tênues, porém, na figura do Dr. Van Helsing, um cientista
apresentado por Stoker como “...um
dos mais destacados cientistas da atualidade.”8
que pesquisa o ocultismo e acredita no poder dos símbolos religiosos
católicos, como a cruz, a hóstia, e no poder do alho, o que não deixaria
de ser um conflito do próprio autor e isso não é novidade, já foi
aventado por muitos autores, Rezende7 entre eles.
Também temos o exemplo
bem explorado por Rezende, do anglicano Harker, que inicialmente não sabe o que fazer com o
crucifixo que lhe foi presenteado para, algum tempo depois, encontrar
nele o conforto de um católico devoto:
“Ela então
levantou-se e, enxugando as lágrimas dos olhos, retirou um crucifixo
que trazia no pescoço e estendeu-o em minha direção. De pronto, eu
não soube o que fazer, pois como adepto da Igreja Anglicana fora
instruído a considerar tais objetos de certa forma como símbolo de
um credo da idolatria.”
(p. 13 - L&PM 2009)
“Que Deus abençoe
aquela boa, boníssima mulher que pendurou o crucifixo sobre o meu
pescoço, pois sua simples presença material já é para mim um
consolo e um refúgio de segurança...”
(p. 46 - L&PM 2009)
Contudo, o que surpreende mesmo é,
como já foi escrito antes, a presença de um texano, um legítimo
cowboy, pretendente à mão de Lucy, no conto gótico vitoriano de
Stoker.
O autor lhe atribui virtudes como
força e determinação, disposição para ajudar as mulheres e
presença em vários lugares do mundo, ao mesmo tempo que relaciona
sua postura ao futuro de seu país de origem, os EUA:
“Sou um sujeito duro na queda
e, mesmo sendo derrubado, sempre caio de pé (...) Sua coragem e sua
honestidade fizeram de mim um amigo seu...” (pg.
66 – Nova Cultural 2003)
“Que bom sujeito é o Quincey!
(...) suportou tudo como um grande herói. Se a América continuar a
produzir homens assim, tornar-se-á certamente muito poderosa...”
(Martin Claret, pg. 200)
“É um sujeito muito bonzinho,
um americano do texas, e parece tão jovem e inexperiente que mal
podemos acreditar que já conhece tantos lugares. ”
(pg. 75 – Martin Claret)
“Creio que cheguei exatamente
na hora. Basta apenas me dizerem o que terei de fazer ... O sangue de
um homem bravo é a melhor coisa na terra para uma mulher em
dificuldade.” (Idem,
pg. 175)
E, a nosso ver o mais significativo:
é o americano quem corta o pescoço do vampiro!
Continua...
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