NO TRIBUNAL DE OSÍRIS
O
Livro dos Mortos possui esse nome por conta dos historiadores. Os
egípcios, porém, o chamavam de “Capítulos do
Sair à Luz ou Fórmulas para Voltar à Luz (Reu nu pert em hru)”1,
e isso significava vencer os desafios e armadilhas que estavam
colocadas em seu caminho na vida após a morte.
Testemunha
da História do Egito, o livro apresentou variações ao longo dos
séculos. Capítulos entraram ou saíram de sua composição de
acordo com as variações culturais das épocas e a qualidade de sua
feitura revela os tempos de crise ou bonança da terra dos Faraós.
Os
períodos do auge das dinastias nos legaram as cópias feitas com
maior esmero e beleza, enquanto os períodos de transição ou
agitação social mostram-se em cópias mal feitas ou de qualidade
inferior.
A
caminhada, porém, era uma só e o julgamento no Tribunal de Osíris
era o ponto culminante dela. Ao chegar para seu julgamento, a alma do
morto é conduzida ao salão pela deusa Maat, da Justiça.
A Balança de Anúbis. À esquerda o coração e, á direita, a pena da Verdade. |
Nele já
estão presentes os deuses Hórus e Osíris, este último em seu
trono, portando os símbolos de seu poder, o cetro e o leque. Ele
está em companhia de Ísis e Néftis, suas irmãs, posicionadas
atrás do trono.
O deus Toth (direita), perante Osíris em seu trono (roupa vermelha) com uma de suas irmãs atrás (esquerda). |
O
júri, se é que podemos chamar assim, pois nos parece que sua
deliberação é apenas confirmar o resultado já dado pela balança
de Anúbis, é composto por 42 juízes, um para cada província do
Egito, e também está presente.
Os Juízes, representando as províncias do Egito. |
No
meio do salão está a balança onde o coração da alma será pesado
em comparação à pena da verdade, uma pena de avestruz. O resultado
esperado deve ser um empate. O deus Anúbis (cabeça de chacal) faz a pesagem
que é anotada por Toth (cabeça de ibis) em um papiro.
A
pesagem também é assistida pelo esfomeado Ammut, um monstro com
cabeça de crocodilo e um corpo que é parte leão, ou outros felinos, e hipopótamo. Suas refeições são
garantidas por aqueles cuja balança de Anúbis revelam um coração mais
pesado que a pena da verdade.
Anúbis conduz a alma e pesa seu coração. No centro o monstro Ammut espera uma refeição. À esquerda Toth anota o resultado. |
Antes
da pesagem, porém, a alma deve, perante os juízes, declarar que não
cometeu um certo número de pecados. Essa declaração negativa traz
grande semelhança com os Dez Mandamentos da Bíblia, e será tema de
texto posterior.
Feita
a declaração, o coração da alma é, então, pesado e, em caso de
aprovação, Hórus conduzirá a alma até diante de Osíris, que vai
lhe indicar seu destino no Além. O ideal de Paraíso egípcio é
representado por um campo de juncos, o que significa um oásis.
Hórus apresenta a alma aprovada a Osíris. Atrás dele as irmãs Ísis e Néftis. |
Não
se tem notícia de algum momento anterior na História escrita em que
alguma outra civilização tenha demonstrado a preocupação com o
julgamento das almas de seus mortos a partir de um código escrito de conduta
ética. O Livro dos Mortos é o indício histórico que coloca os
egípcios à frente na corrida rumo ao Campo dos Juncos!
O escriba Nebqed, na companhia de sua esposa Meryt, e sua mãe Amenemheb, apresentam-se, aprovados, a Osíris. No centro a mesa de oferendas. |
Continua...
Imagem:
http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Judgement_of_Osiris?uselang=pt-br
http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Book_of_the_Dead?uselang=pt-br#mediaviewer/File:Egypt_bookofthedead.jpg
1http://www.tolledo.net/artigoV2/114/O_Livro_dos_Mortos_do_Antigo_Egito.html
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