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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

DEUSES EGÍPCIOS - GEB


Olá caro leitor! Nunca é demais renovar nossos votos de um Feliz 2016 para você e todos aqueles a quem ama. Iniciamos hoje uma nova mini série, componente da grande série "O Reino de Clio no Egito Antigo": Os Deuses do Egito Antigo!
Para esta etapa, convidamos nossa amiga e colega de universidade, Carla Oliveira, para pesquisar e escrever sobre alguns dos principais deuses do panteão egípcio.
Pedimos a ela algo bem simples, considerando que nossa intenção primeira é apenas contar boas histórias e não cansar nossos leitores com um conhecimento acadêmico profundo, escrito naquela linguagem iniciática.
Para nossa felicidade, e com sacrifício pessoal, Carla Oliveira aceitou pesquisar e escrever. Os textos que se seguirão são da autoria dela, com pequena colaboração nossa na transformação da escrita acadêmica para a linguagem do blog.

OS DEUSES DO EGITO ANTIGO
 GEB

Por Carla Oliveira Santos

Diferente do que alguns possam acreditar, no Egito Antigo não havia um sistema religioso simples, o que existia era uma delicada e complexa teia, formada por vários deuses e deusas, que representavam, em sua maioria, as forças da natureza, e que eram os legítimos donos do solo e de tudo o que nele havia.
Desde o princípio da civilização egípcia, esse sistema passou por diversas evoluções e foi se enquadrando em muitas categorias; politeísta, henoteísta, monoteísta, politeísta novamente.
Cada cidade egípcia se dedicava ao culto de um ou vários deuses e para adorá-los vários templos e santuários públicos e particulares foram erguidos. Alguns ainda são encontrados hoje em áreas remotas do Egito, a exemplo do Templo de Luxor.
Esses templos eram encarados pela população como a casa dessas divindades e serão tema da próxima etapa de textos.
Uma das divindades mais antigas é GEB. Esse é o deus da terra egípcia, pai de outros quatros deuses. Sabe-se muito pouco a seu respeito.
O conhecimento que chegou até nós foi a imagem de um deus que cuidava de tudo relacionado a agricultura, pois a terra era seu maior domínio. Era ele quem assegurava uma colheita farta, pois tornava o solo fértil com as enchentes do rio Nilo.
Geb era representado como um homem com a cabeça de uma cobra, embora seu animal fosse um ganso e esse o representasse muitas vezes também. As cores que o definiam eram o verde que representava a vida e o preto que representava a lama do Nilo.
Nossa escrita sobre esse deus é, obviamente, limitada ao que foi produzido sobre ele. Seus filhos se tornaram muito mais conhecidos e cultuados.
Enquanto Geb foi um deus primitivo, que parece não ter sobrevivido muito além no tempo, sua prole formou os pilares fundamentais da religião do antigo Egito.

Referência Bibliográfica:
Imagens:
http://en.wikipedia.org/wiki/Geb

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A HISTÓRIA POR TRÁS DO NATAL

UMA FESTA CRISTÃ EMBRULHADA EM PAGANISMO

A celebração ocidental do nascimento de Jesus é uma construção cultural milenar que envolveu uma festa cristã em elementos pagãos.

Vamos verificar os mais importantes elementos componentes dessa comemoração e encontrar a História de cada um deles:

A Data Natalícia:

Se a nosso ver não há dúvidas da existência de Jesus, considerando como fonte o que o insuspeito Flavio Josefo1 escreveu sobre Ele2, por outro lado, sobre Seu nascimento em 25 de dezembro há certeza em contrário por pelo menos três motivos, um bíblico, outro Histórico e, por fim, a palavra de um Papa.

O rigoroso inverno de Israel
Na Bíblia, em Lucas 2:8, afirma-se que pastores “estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho”. Considerando a época de inverno no Hemisfério Norte, os pastores não estariam no frio guardando rebanho algum, de modo que Jesus deve ter nascido em outra estação do ano.

A celebração tinha datas diferentes ao longo do ano3 até que foi estabelecida para a época do início do inverno romano e da festa pagã do Sol Invictus. Os responsáveis por isso foram o Papa Júlio I, que estabeleceu a data no ano 350 d.C. e o Imperador Justiniano, que instituiu o feriado em 529 d.C.4

Papa Julius I - Imperador Justiniano - Papa João Paulo II
Em 22/12/1993 o Papa João Paulo II admitiu que a data de nascimento de Jesus não era conhecida e que a escolha do 25/12 tinha relação com a festa do Sol Invictus5.

A Árvore de Natal:

Embora seja muito bonita a teoria de que Martinho Lutero foi o instituidor do uso do pinheiro enfeitado, que ele teria visto coberto de neve com o céu estrelado ao fundo, inspirando o desejo de ter árvore igual dentro de casa6, povos muito mais antigos que os alemães já usavam as árvores com uma simbologia própria, ligando-as às suas divindades:

Na Assíria a deusa Semiramis havia feito uma promessa aos assírios, de que quem montasse uma árvore com enfeites e presentes em casa no dia do nascimento dela, ela iria abençoar aquela casa para sempre.

Entre os egípcios, o cedro se associava a Osíris. Os gregos ligavam o loureiro a Apolo, o abeto a Átis, a azinheira a Zeus. Os germânicos colocavam presente para as crianças sob o carvalho sagrado de Odin.

Nas vésperas do solstício de inverno, os povos pagãos da região dos países bálticos cortavam pinheiros, levavam para seus lares e os enfeitavam de forma muito semelhante ao que faz nas atuais árvores de Natal. Essa tradição passou aos povos Germânicos.7

O Presépio Natalino:

Um dos poucos símbolos natalinos de origem realmente cristã, o presépio teria sido criado por Francisco de Assis, em 1223, na floresta de Greccio, na Itália, fazendo uso de figuras de argila com o intuito de mostrar às pessoas como fora o nascimento de Jesus.8

Com o tempo a prática foi copiada nas igrejas e catedrais, depois passou a ser adotada pelos nobres e, por fim, foi popularizada, espalhando-se pela Europa e o restante do mundo.9

O Papai Noel:

Há duas pessoas reais por trás da figura do bom velhinho que traz presentes no fim de cada ano.

Um deles é o Bispo Basílio de Cesaréia (na Capadócia – atual Turquia), conhecido como São Basílio Magno. Influente teólogo, apoiador do Credo de Niceia, adversário do arianismo e das ideias de Apolinário de Laodiceia.10, consta que era muito dedicado a cuidar dos pobres e no dia dedicado a ele, 01/01, é momento de trocar presentes na Grécia.

Bispo Basílio - Bispo Nicolau
O segundo, e que parece ser a maior inspiração para a figura do Papai Noel, é o Bispo Nicolau de Mira, ou Nicolau de Bari, benemerente e especialmente dedicado às crianças, ele é o padroeiro “...da Rússia, da Grécia e da Noruega. É o patrono dos guardas noturnos na Armênia e dos coroinhas na cidade de Bari, na Itália, onde estariam sepultados seus restos.11

Sua associação ao Papai Noel, que ocorreu na Alemanha e depois se espalhou pelo mundo, viria da suposta prática sigilosa que adotava para ajudar os necessitados, colocando sacos de moedas nas chaminés das casas.12

Mas, a imagem de São Nicolau, que sempre foi retratado como um bispo católico, não guarda semelhança com o Papai Noel que vemos nas lojas e enfeites natalinos.

Essa imagem foi criada, “...na segunda metade do século 19 pelo ilustrador e cartunista americano Thomas Nast.13

Thomas Nast e sua criação
Em 1915 a primeira campanha publicitária utilizando a imagem criada por Nast foi produzida pela Companhia de Água Mineral White Rock Beverages, e repetida em 1923.13

O Papai Noel levando sua carga de água mineral
Contudo, foi somente em 1931 que a imagem se tornou mundial, através de uma campanha publicitária da Coca-Cola que mostrava o barbudinho “...tomando uma garrafa de Coca-Cola na casa das crianças bondosas.13

A peça publicitária foi criada a partir de uma agência que, a pedido da Coca-Cola, criou o bom velhinho “...caloroso, amigável, agradavelmente gordo e humano, pintado pelo artista Haddon Sundblom.13

Conclusão

Essas constatações servem, além da óbvia informação, para mostrar o quanto a celebração natalina cristã se afastou se seu verdadeiro objetivo, que é celebrar o nascimento de Jesus Cristo.

Qualquer olhar minimamente crítico vai constatar que há muito Jesus deixou de ser o centro das atenções na Própria festa, substituído pelo Papai Noel, o consumismo, a comilança e a bebedeira, as falsidades em muitas reuniões familiares, enfim, uma deturpação avassaladora. Lamentamos isso.

Assim sendo, o Reino de Clio conclama todos a que, neste Natal, Nosso Senhor Jesus Cristo seja lembrado em profunda reflexão e que Seu exemplo, e sua determinação de Amor ao Próximo, possam prevalecer nos corações, por um mundo melhor, mais inclusivo e mais pacífico em 2016.

E recomendamos relembrar um texto do ano passado, que relata um momento maravilhoso da História, no qual a paz prevaleceu entre os homens que tiveram Boa Vontade. Clique aqui e leia, no final da página, o texto “Trégua de Natal”.

Desejamos a todos os nossos leitores, e suas famílias, um Natal cheio de paz, alegria e Amor. Tudo de bom a todos!

Marcello Eduardo

1Flávio Josefo, ou apenas Josefo (em latim: Flavius Josephus; 37 ou 38 — ca. 100 ), também conhecido pelo seu nome hebraico Yosef ben Mattityahu (יוסף בן מתתיהו, "José, filho de Matias [Matias é variante de Mateus]") e, após se tornar um cidadão romano, como Tito Flávio Josefo (latim: Titus Flavius Josephus), foi um historiador e apologista judaico-romano, descendente de uma linhagem de importantes sacerdotes e reis, que registrou in loco a destruição de Jerusalém, em 70 d.C., pelas tropas do imperador romano Vespasiano, comandadas por seu filho Tito, futuro imperador. As obras de Josefo fornecem um importante panorama do judaísmo no século I.

CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disp.: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A1vio_Josefo

2Nessa época havia um homem sábio chamado Jesus. Seu comportamento era bom, e sabe-se que era uma pessoa de virtudes. Muitos dentre os judeus e de outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos condenou-o à crucificação e à morte.

3http://www.suapesquisa.com/historiadonatal.htm

4https://pt.wikipedia.org/wiki/Natal

5http://www.paralerepensar.com.br/josevalgode_aorigemdonatal.htm

6http://www.suapesquisa.com/historiadonatal.htm

7https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rvore_de_Natal

8www.suapesquisa.com/natal/presepio_natal.htm

9https://pt.wikipedia.org/wiki/Pres%C3%A9pio

10https://pt.wikipedia.org/wiki/Bas%C3%ADlio_de_Cesareia

11https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_de_Mira

12https://pt.wikipedia.org/wiki/Papai_Noel


13http://noticias.terra.com.br/coca-cola-e-papai-noel-saiba-como-a-lenda-se-tornou-simbolo,cac46b1cad17a410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html

Imagens:
http://imperfectlyhappy.com/wp-content/uploads/2014/11/the-nativity.jpg
http://www.globallightminds.com/wp-content/uploads/2011/12/birth-of-jesus.jpg
http://morroporcristo.blogspot.com.br/2014/11/35-papa-sao-julio-ano-337-352.html
https://es.wikipedia.org/wiki/Justiniano_I
http://www.acidigital.com/joaopauloii/
http://marldonchristmastrees.co.uk/about-us/
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rajecka_Lesna_Christmas_crib_detail.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_de_Mira
http://catholikblog.blogspot.com.br/2014/01/oficio-de-lectura-tenemos-depositada-en.html
http://mikelynchcartoons.blogspot.com.br/2011/12/thomas-nast-cartoonist-icon-and-bigot.html
http://www.history.com/topics/christmas/history-of-christmas/pictures/history-of-santa-claus/by-thomas-nast-3
http://itthing.com/the-history-of-santa-claus
http://allgodwallpaper.com/?titile=jesus-christ-wallpaper
https://forum.ableton.com/viewtopic.php?f=40&t=200541


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

VISÕES DA INCONFIDÊNCIA - 4



O TECER DE PENÉLOPE – A VISÃO DE JOÃO PINTO FURTADO - Cont...
Dentro das características colocadas por Furtado1 vamos mostrar as que mais se destacam em alguns inconfidentes. Inácio José de Alvarenga Peixoto, poeta sensível, bacharel ilustrado e homem de hábitos refinados, possuía vários escravos e não deixava de instigar alguns homens com os quais ele negociava, pois, segundo o autor, “sistematicamente empregava várias desculpas na hora de arrolar os pagamentos”. (p. 40)
Francisco Antônio de Oliveira Lopes, estava na contramão dos inconfidentes, pois apesar de possuir grande riqueza, não tinha o perfil erudito, “era semi-analfabeto e não possuía um único livro”. (p.41)
O Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade só tinha em mente os próprios interesses pessoais, com expectativa de alcançar status ainda maior na possível nova ordem. 
Inácio Correa Pamplona era chefe de jagunços que combatiam índios e caçavam negros fugitivos cortando pares de orelhas para demonstrar êxito na empreitada.
Joaquim Silvério dos Reis, traidor, que passou para história como referência de corrupção moral e de costumes, conseguiu um prodigioso enriquecimento ao chegar à América Portuguesa, utilizando a denúncia do levante como uma estratégia de obtenção de lucro. (p. 42)
Tomás Antônio Gonzaga tinha ligações diretas com Luís da Cunha Meneses, o fanfarrão Minésio, que tanto criticava, em suas Cartas Chilenas.
Para Tiradentes, Furtado separou um compartimento especial: recebeu queixas do padre Domingos Vital Barbosa Lage, por usar violência, tirania e arbitrariedade contra um clérigo a mando de Luís da Cunha Meneses.
Tinha também como projeto abandonar a carreira militar, (que oferecia baixo soldo) para se tornar empregador de obras e dono de moinhos, que ofereciam expectativas de lucros, mostrando que os inconfidentes, e seus interesses, estavam ligados à sua própria ascensão no plano econômico.
Em outro sub-tópico, intitulado “Diálogo com a Historiografia”, Furtado confronta as proposições de quatro historiadores, de diferentes épocas, com o objetivo de mostrar como a questão relacionada com a Inconfidência Mineira é colocada de maneira insuficiente e superficial, e “como esses textos delimitaram (limitaram) um campo de discussão do qual a maior parte dos historiadores que se seguiram foram tributários”. (p. 49)
Procura mostrar como em diferentes períodos a historiografia se apropriou de questões sobre a Inconfidência Mineira. Analisa o problema da crítica documental e as interpretações presentes em algumas dessas obras historiográficas, tomando como ponto de partida um diálogo crítico. Os teóricos relacionados são: Joaquim Norberto de Souza e Silva (1820-91); Lúcio José dos Santos (1875-1944); Kenneth Maxwell (1941); e Márcio Jardim (1952).
Inicialmente Furtado analisa o processo de obscurecimento em torno dos aspectos importantes da Inconfidência Mineira. 
Com Joaquim Norberto e Lúcio Santos inaugura-se o tema, preservando um tipo de construção narrativa baseado nos procedimentos instituídos do processo judicial: estabelecem os antecedentes (o contexto do crime); a prioridades das idéias (o principal culpado); a conspiração (planos e ações imediatas); a natureza da transformação (a natureza do crime); os agentes (os cúmplices); a traição (a denúncia e o indiciamento); e a repressão (a prisão, o inquérito, e a condenação). 
Para Furtado esses autores se tornaram tributários, e não dão conta da diversidade de interesses e concepções possivelmente presentes no movimento.
Para confrontar esses autores, Furtado levanta a questão acerca do destino dado ao Visconde de Barbacena, governador de Minas Gerais na época do levante. 
Segundo Furtado, Joaquim Norberto defende a hipótese que Barbacena é simplesmente expulso de Minas Gerais. 
Lúcio dos Santos mostra que Barbacena seria morto se oferecesse alguma resistência. Márcio Jardim, baseado em depoimentos de os Autos da devassa Inconfidência Mineira, conclui que provavelmente “a decisão penderia para sua morte”. (p, 51)
Kenneth Maxwell também menciona em seus textos os planos de execução como o fim mais provável.
Furtado coloca que discussões acerca da natureza e o sentido do levante não ocorreram entre os debates historiográficos. 
A denominação de reformistas ou regenerados, revolucionários e liberais, afirma que não é possível decidir essa “natureza-sentido” sem um novo exame da Inconfidência Mineira de 1788-9. Propõe uma leitura “extremamente seletiva, e bem orientada para ação, acerca das transformações que passava o mundo”. (p. 54)
Continua...
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1FURTADO, João P. O manto de Penélope; História, mito e memória da Inconfidência Mineira de 1788-9. (1ª ed.) São Paulo: Cia das Letras, 2002

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A ROMA DO GLADIADOR - V

A ROMA DO GLADIADOR – FICÇÃO E HISTÓRIA - V
COMODUS – À SOMBRA DO PAI

Até que ponto as faltas de um filho são as falhas de um pai?
Busto do verdadeiro Imperador Comodus
 O Filho do Imperador

"Gladiador” apresenta Comodus como um jovem que não vê a hora de ser nomeado sucessor de seu pai, que mal pode esperar para exercer o poder e fazer dele um uso que, acredita, deveria ser feito por seu pai. 
Mas, como já foi dito no texto anterior desta série, ele não matou Marcus Aurelius e já era co-Imperador quando seu pai morreu.
Fica patente, desde o início, o desprezo que sente pela instituição do Senado, e que não reconhece nos senadores os intermediários entre o Imperador e o povo de Roma.
Demonstrando o histórico gosto de Comodus pelos espetáculos, o filme o apresenta, logo no início, planejando jogos e sacrifícios em honra do pai, não ficando claro se com isso rendia realmente homenagens a Aurelius ou se satisfazia os próprios desejos, uma vez que o próprio pai rejeita o sacrifício dos touros que o filho lhe oferece e lhe conclama a honrar Maximus, o verdadeiro vitorioso sobre os germanos.
Sim, Comodus lutava na arena. Mas fazia isso dentro de estritas normas de segurança pessoal, considerando que seus oponentes não receberiam armas reais e dificilmente algum gladiador teria ímpetos de matar o Imperador de quem poderia receber a liberdade e boas recompensas.
O Governo
O filme nos faz imaginar que Comodus teve uma passagem relâmpago pelo poder, que na realidade durou 12 longos anos.
Porém, Ridley Scott apresenta um imperador bastante convincente, muito bem interpretado pelo jovem ator Joaquin Phoenix, que alterna momentos de uma energia furiosa com fragilidade, típicas da idade e da pressão de assumir tão imensa responsabilidade ainda muito jovem.
Mas o roteiro corteja perigosamente o ridículo ao mostrar o Imperador de Roma reconhecendo que tem medo do escuro.
O filme está correto quando demonstra, logo no início do reinado, os problemas do jovem imperador com o Senado e sua irmã, mas não encontramos qualquer indício de que Comodus nutrisse uma paixão incestuosa por Lucila. 
O que se sabe é que ela esteve envolvida na primeira conspiração para matá-lo, no que fracassou e acabou sendo exilada e, depois, executada.
Também é pouco provável a cena que mostra o imperador armado dentro do Senado e uma mulher, no caso sua irmã Lucila, participando da sessão e intervindo nos debates.
Os Jogos
No filme, conforme prometera fazer, Comodus abre uma grande temporada de jogos no Coliseu. Ele justifica sua decisão com duas motivações: uma pública, homenagear o pai; e outra privada, conquistar o povo dando-lhe uma visão da glória de Roma através das lutas no Coliseu, já que a população apenas ouve falar das glórias romanas conquistadas nos campos de batalha, pelas legiões.

Organizar estes jogos custava muito caro aos cofres romanos, e o filme explica que os estoques de cereais estavam sendo vendidos para pagá-los, o que ocasionaria uma temporada de fome mais à frente.
Isso, segundo o filme, justificaria o golpe planejado pelo Senado e por Lucila contra seu irmão. Na verdade, Comodus usava os impostos do Senado para pagar pelos jogos, por isso era bastante impopular entre os ricos, mas popular entre os pobres!
Seu reinado também foi, por paradoxal que pareça, um período de descanso para os cristãos, contra quem as perseguições do império diminuíram bastante!
Enfim, pode-se até dizer que Comodus foi morto por conta das lutas de gladiadores, mas não participando de uma delas.
Seu fim veio por meio de outra conspiração, que envolveu sua amante Márcia e altos personagens do império, auxiliares próximos do Imperador.
A amante de Comodus pediu ao gladiador Narciso que o matasse, o que este fez estrangulando-o durante o banho.
Ou seja, sua morte veio pelas mãos de um gladiador, mas o campo de batalha foi uma banheira, e não as areias do Coliseu.
Continua...

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1 GIBBON, Edward. Declínio e queda do Império Romano. Tradução e notas suplementares de José Paulo Paes. Editora: COMPANHIA DAS LETRAS. São Paulo, 1980.
2 ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Rio de Janeiro; Zahar Editores, 1961.
3 LENDERING, Jona. Legio IIII Flavia Felix. Disp. em http://www.livius.org/le-lh/legio/iiii_flavia_felix.html - Cap. em 14/09/15