De
volta a Inglaterra, Churchill lançou-se candidato em Oldham pelo Partido
Conservador. Neste período foi recebido por altas autoridades e discursou em
várias cidades, tudo graças à fama adquirida na África do Sul. Suas
experiências militares o faziam defender, já naquela época, uma reforma do
exército, pois identificava uma fraqueza britânica perante as demais nações
europeias que estavam se armando. (pg. 150)
A
eleição ocorreu em 01/10 e, surpreendentemente, Churchill foi eleito ficando em
segundo lugar. Seu adversário liberal foi o mais votado com 12.947 votos
enquanto Winston recebeu 12.931 votos. Apesar desta vitória apertada ele
tornara-se muito requisitado por colegas de partido para discursar em outros
distritos:
De repente, tornei-me um dos dois
ou três oradores mais populares nessas eleições”, disse ele a Cockran , “e
estou agora numa luta que você conhece: grandes audiências (5 mil ou 6 mil
pessoas), duas ou até três vezes por dia, bandas, multidões e entusiasmo de
toda a espécie. (<pg. 152)
E
logo esses discursos se tornaram uma lucrativa turnê de conferências que rodou
toda Grã Bretanha (sempre com casa cheia), os EUA e o Canadá, embora nestes
países com bem menos público. (pg. 153-155)
Em
14/02/1901, poucos dias após a morte da Rainha Vitória, Churchill iniciou seu
mandato na Câmara dos Comuns e em 28/02 fez seu primeiro discurso que foi
bastante concorrido para um estreante: “O jornal Daily Express o considerou
“arrebatador”. O Daily Telegraph escreveu que “perfeitamente à vontade, com
gestos vivos que pontuavam suas cintilantes frases, rapidamente captou o tom e
os ouvidos de uma Câmara completamente cheia”. (pg. 156)
Não
há qualquer dúvida de nossa parte que, apesar de seus meros 26 anos, Churchill
já era a grande sensação da política
inglesa e suas posições independentes irritavam os membros do próprio partido,
o Conservador, enquanto deliciava os Liberais.
Um
exemplo disso é que Winston foi contra a proposta conservadora de aumento de
gastos com o exército, afirmando que tal gasto não faria com que aquela força
ficasse a altura dos demais exércitos europeus.
Para
ele, a reforma deveria ser feita sem envolver maiores gastos e que investimentos
deveriam ser feitos na Marinha, já que qualquer ameaça à sede do Império sempre
chegaria, primeiro, pelo mar. (naquela época o avião ainda não existia). (<<pg.
159-160)
Já
naquela época Churchill demonstrava estar muito à frente na compreensão do que
a guerra moderna representaria em termos de esforços e sacrifícios:
Uma guerra europeia só poderá ser
uma luta cruel e dilacerante, e que, para saborearmos os amargos frutos da
vitória, exigirá, talvez durante vários anos, toda a coragem da nação, a suspensão
completa das indústrias de paz e a concentração de toda a energia vital da
comunidade num único objetivo. (<pg. 160)
Neste
período de irritação conservadora por seus discursos, Churchill começou a
manter muitos contatos com políticos do Partido Liberal. Ele fazia parte de um
grupo de jovens deputados, autodenominados Hooligans, que começavam a pensar em
mudanças. (pg. 161-162)
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
Churchill
se opôs muitas vezes às decisões de seu próprio partido e, cada vez mais
distanciado da orientação conservadora, começou a criar ligações de ideias e
amizades com políticos liberais e conservadores que viam com bons olhos a
formação de um partido de centro, que se ocupasse de melhorar a qualidade dos
gastos do governo, levando mais benefícios ao povo. (pg. 168-170)
A
questão crucial que determinou o afastamento de Churchill dos conservadores foi
sua oposição ferrenha à implantação de tarifas alfandegárias a produtos
estrangeiros que chegassem à Grã Bretanha. Churchill perdeu apoio inclusive em
Oldham, seu distrito. Mas foi convidado a se candidatar por outros distritos.
Suas
últimas divergências dentro do Partido Conservador foram na votação do Projeto
de Lei sobre Sindicatos e Disputas Comerciais e do Projeto sobre Estrangeiros
que “...destinava-se a reduzir drasticamente a imigração de judeus da Rússia
para a Grã-Bretanha.” Winston foi veementemente contra o governo
conservador em ambos os casos e, revendo sua posição contrária ao projeto
liberal de autonomia da Irlanda para uma aceitação parcial, em 31/05/1904 sentou-se
junto à bancada liberal na Câmara dos Comuns. (<pg. 172-184)
Clementine Hozier e Churchill |
Após
essa mudança radical, quando sofreu a reprovação até mesmo da família,
Churchill passou a frequentar os círculos sociais liberais onde encontrou-se,
pela primeira vez, com Clementine Hozier, sua futura esposa, então com 19 anos.
Já famoso por sua capacidade discursiva, Winston ficou mudo diante dela,
incapaz de articular qualquer palavra, segundo a moça:
Winston ficou simplesmente me
olhando, [...] Em nenhum momento pronunciou uma só palavra e estava muito
atrapalhado — não me convidou para dançar nem para comer com ele.” [...] Tinha
ouvido que era presunçoso, inconveniente etc. E, naquela ocasião, ele se
limitou a ficar parado e me olhar. (<pg. 187-188)
CONTINUA