Churchill
era membro do Conselho Antinazista, que contava com membros do Partido
Trabalhista e do movimento sindical, além de outras personalidades. Ele iniciou
um movimento para defender a democracia que “pretendia juntar numa única
base política todas as organizações que favorecessem a segurança coletiva e o
rearmamento.”
O
governo seguia em seu ritmo moroso, mas fontes descontentes (algumas dentro do
próprio governo), com essa morosidade continuavam a se dirigir a Winston com
informações sobre as deficiências nas Forças Armadas. (<pg. 34-35)
Em
12/11/1936 Churchill discursou no Parlamento propondo “uma emenda apontando
que as defesas britânicas, em especial aéreas, já não eram adequadas à paz, à
segurança e à liberdade do povo britânico.”
Ele
criticou a inação do governo entre 1933-35 justificada por não terem ocorrido
eleições gerais e que, portanto, não haveria um mandato dado pelo povo neste
sentido.
Para
ele a defesa nacional era um dever permanente do governo, a razão própria de sua
existência e que não era por falta de apoio no Parlamento pois “O
primeiro-ministro comanda enormes maiorias em ambas as Câmaras, prontas a votar
a favor de quaisquer medidas de defesa.”
E
essa crítica abrangeu também o próprio Parlamento: “Estou chocado com o
fracasso da Câmara dos Comuns em reagir efetivamente a esses perigos. […] A
menos que a Câmara resolva procurar a verdade por si, cometerá um ato de
abdicação do dever sem paralelo em sua longa história.”
A
resposta de Baldwin foi no sentido de que preocupara-se, no momento, com as
repercussões eleitorais de propor o rearmamento em meio a uma onda pacifista:
Recordarão que havia o mais forte sentimento pacifista
em todo o país desde a Guerra. […] Minha posição como líder de um grande
partido não era propriamente confortável. […] Não consigo imaginar nada que
teria tornado a perda das eleições, no meu ponto de vista, mais
certa.”(<<<<<pg. 36-37)
Na sequência descobrimos o que pode ser um
segundo erro no texto de Martin Gilbert. Seria um erro de sequência. Vínhamos
abordando os eventos acontecidos no ano de 1936, passando pela remilitarização
da Renânia, ocorrida em Março e o discurso de Churchill em 12 de Novembro[3] quando Gilbert
retrocede quase um ano para descrever os eventos em torno da morte do Rei
George V e a coroação de seu filho, o Rei Eduardo VIII.
Não há qualquer razão para esse lapso
temporal, mas como estamos seguindo a sequência do autor, manteremos os eventos
na ordem em que são apresentados. Saiba o leitor, contudo, que a morte do Rei
George V ocorreu quase dois meses antes da remilitarização da Renânia por
Hitler.
O Rei George V faleceu em 20/01/1936 e seu
filho mais velho assumiu o trono com o nome de Edward VIII.[4] Seria mais um
reinado comum se o rei não estivesse apaixonado por uma americana desquitada de
nome Wallis, vinda de dois casamentos fracassados anteriores e
provavelmente estéril (por conta de um suposto aborto mal feito de um filho do
Conde Galeazzo Ciano, futuro genro de Mussolini).
Seria um absurdo ver tais fatos como impeditivos
para o amor ou um casamento nos dias atuais, contudo na Inglaterra dos anos 30
do Século XX isso era escandaloso e, considerando o risco de o país ficar sem
um herdeiro direto pela esterilidade da esposa pretendida, tornou-se uma
questão de Estado.
Churchill era amigo de Edward VIII há 25 anos
e foi procurá-lo na intenção de demovê-lo da ideia de se casar. Winston não
apoiava o casamento, mas sim que se desse mais tempo para o Rei pensar,
acreditando que este acabaria desistindo de sua amada para manter a coroa já
que essas eram as únicas opções que Stanley Baldwin lhe oferecera. Assim,
Churchill escreveu a Baldwin relatando seu encontro com o Rei ocorrido no
início de Dezembro/1936:
Eu disse ao rei que, se ele apelasse a você por mais
tempo para se recobrar e para considerar, agora que as coisas tinham atingido o
caos e que graves questões constitucionais e pessoais haviam feito com que
você, no desempenho de seus deveres, fosse obrigado a confrontá-lo, eu tinha
certeza de que você não deixaria de ter amabilidade e consideração. Seria cruel
e errado tentar conseguir dele uma decisão no atual estado de coisas. (<pg.
36-39)
Winston achava que a pressão sobre o Rei seria
reduzida, mas Neville Chamberlain pressionou por uma solução antes do Natal, considerando
que a crise estava afetando as vendas! Contudo as críticas mais violentas,
tanto dos políticos, como da imprensa, recairam sobre Churchill, como se ele
quisesse convencer a todos a aceitar o casamento. Quando Edward VIII abdicou em
11/12/1936, porém, as coisas voltaram ao normal e Churchill escreveu, alguns
dias depois, que não se arrependia da própria atuação no caso:
Não creio que minha posição política tenha sido muito
afetada pelo caminho que tomei, mas, mesmo que tenha sido, não desejaria ter
atuado de outro modo. Como você sabe, sempre preferi aceitar o que me diz o
coração a fazer cálculos sobre os sentimentos públicos. (<pg. 39-40)
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Edward VIII - Wallis Simpson - George VI |
Em lugar de Edward VIII, assumiu o trono seu
irmão, George VI.[6] Para quem não sabe, George VI é o pai da Rainha
Elizabeth II e nele foi baseado o personagem do filme O Discurso do Rei de
2010, interpretado pelo ator Colin Firth, premiado com o Oscar de Melhor Ator
por sua interpretação do rei gago, embora o ator não tenha qualquer semelhança
física com o homem real.
CONTINUA