Em tempos de um rei que mal conseguia fazer um
simples pronunciamento público e de um governo determinado a manter a cabeça
sob a areia, até mesmo Churchill já desanimava de prosseguir fazendo denúncias
que ninguém queria ouvir: “Atualmente, os personagens não oficiais contam
muito pouco. Um pobre diabo pode esgotar-se sem criar uma simples onda na
corrente de opinião.” A despeito desse desânimo ele seguia escrevendo para
os ministros a fim de que cumprissem seus deveres na defesa nacional. (pg. 41)
Também a despeito deste desânimo, Churchill
ganhou um público internacional para seus artigos quinzenais no jornal Evening
Standard. Foi através de Emery Reves,[3] um judeu-húngaro
que, a partir de Paris, passou a divulgá-los em jornais de “Varsóvia, Praga, Belgrado, Bucareste e Helsinque,
chegando a um todo de 26 cidades.” (pg. 45)
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Emery Reves |
Stanley Baldwin deixou o governo em 28/05/1937
e em seu lugar assumiu Neville Chamberlain. Churchill lhe fez elogios na Câmara
dos Comuns por ocasião de sua indicação como líder do partido. Chamberlain, por
seu turno, não indicou Churchill para nenhum cargo no novo governo embora fosse
cada vez maior o número de apoiadores ao seu nome.
Mas ele não parecia muito entusiasmado com
essa ideia: “Não estou ansioso por integrar o governo, a não ser que haja
reais tarefas que queiram que eu cumpra. Por enquanto, estão muito satisfeitos
uns com os outros.”
No entanto era cada vez maior o número de
funcionários do próprio governo que concordavam com Churchill e o municiavam de
informações. Crescia também a quantidade de relatórios internos que davam razão
a ele demonstrando a precária situação das forças armadas britânicas.
(<<pg. 46-47)
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CHARTWELL |
Fora do governo, Churchill dedicava-se a
escrever a “biografia do primeiro duque de Marlborough”. Ficava em sua
residência de Chartwell onde trabalhava até a madrugada, com auxílio de
assistentes e com até três secretárias que se revezavam datilografando o que
ele ditava:
Ele vinha da sala de jantar por volta das 22h,
renovado e frequentemente jovial. Era óbvio que para ele esse era o melhor
período para trabalhar e que tinha prazer nessas horas. Ficava totalmente
mergulhado e ditava até as 2h ou 3h; por vezes, falava muito lentamente,
medindo sempre cada palavra e murmurando frases para si próprio até que elas o
satisfizessem, e então ditava-as, por vezes com tremenda força, olhando
penetrantemente para a pobre secretária quando conseguia o que queria. […]
Não há dúvida de que ele era um trabalhador
incansável. Impelia-nos. E elogiava poucas vezes. Mas tinha maneiras sutis de
mostrar sua aprovação, e não poderia ser de outro modo. Trabalhava tão
intensamente e dedicava-se às tarefas de modo tão absolutamente dedicado que
esperava o mesmo dos outros. Para ele, era um direito. E com o tempo, nós, que
trabalhamos para ele, percebemos que, em compensação à pressão e à inquietação,
tivemos o raro privilégio de ter conhecido a beleza do seu caráter dinâmico e
gentil. […]
Quando o patrão estava fora de Chartwell, recordou
mais tarde a sra. Hill, “tudo ficava silencioso como um rato, mas, quando
estava lá, era uma vibração”. Ela acrescentou: “Era um homem desapontado, à
espera de um telefonema para servir ao seu país.” (<<<pg. 47-48)
Enquanto Churchill esperava por um telefonema
do governo britânico, este não parava de se superar em atitudes desastrosas. Em
12/10/1937 Churchill foi avisado de que uma delegação alemã fora convidada a
visitar uma instalação da Força Aérea britânica e observar seus aviões!
E a demonstração estava sendo montada para
impressionar na verdade acabaria por revelar fragilidades. Churchill alertou
Maurice Hankey sobre a situação e a resposta deste foi mais no sentido de
preocupar-se em como
Winston conseguia essas informações do que com as alarmantes
informações em si: “estou muito preocupado com seu contato com tantas
informações confidenciais desse tipo”. (<pg. 50-51)
O governo, porém, dispunha de informações
ainda mais perturbadoras de que o poder aéreo da Alemanha já era 100% superior
ao britânico e que suas forças terrestres seriam superiores à da França em 1940. A despeito disso, e
talvez “jogando a toalha”, o governo começou a estimular uma aproximação com a
Alemanha.
Lorde Halifax visitou Hitler retornando com a
afirmação de que “Os alemães não têm uma política imediata de ação, e tudo
ficaria bem na Tchecoslováquia se ela tratasse bem os alemães que vivem no
interior de suas fronteiras”.
Segundo Halifax, Hitler acenou com a
possibilidade de um desarmamento enquanto “criticou veementemente a
difundida convicção de uma catástrofe iminente e de que o mundo estava em
perigo”.
O ditador alemão claramente dizia o que o
visitante queria ouvir para incentivar a continuidade da inação britânica.
Convenceu-os de que não violaria a integridade do território da Bélgica levando
Chamberlain a declarar “não aceitar a ideia de que a paridade aérea com a
Alemanha ainda era essencial”.
CONTINUA