Churchill já saiu de Teerã esgotado e voou para o Cairo e depois para
Tunísia, onde o avião pousou em aeroporto errado e ele teve que aguardar no
frio. Depois do encontro com Eisenhower ele pretendia voar para a Itália, mas
foi constatada uma pneumonia que o obrigou a guardar repouso por alguns dias
nos quais, a despeito das recomendações médicas de descansar, seguiu tendo
reuniões de trabalho.
Sem o descanso necessário, o coração de Winston começou a falhar
gerando receio nos mais próximos de que estivesse morrendo. Para a filha Sarah,
contudo, ele se mostrou consolado: “Se eu morrer, não se preocupe... A
guerra está ganha.”
A guerra pela saúde, no entanto, estava apenas começando. Em
15/10/1943 ele teve um ataque de fibrilação, que é um ritmo de batimentos rápido
e irregular do coração. No dia seguinte
teve outro episódio. Mas seguia recebendo visitas e discutindo detalhes da
guerra. No Natal já estava convidando comandantes para um almoço, ditando
cartas, telegramas e até mesmo o próprio boletim médico.
Ao final de Dezembro/1943 Churchill voou para Marrakesh onde passaria
o restante de sua recuperação. Ali recebeu a notícia de que haveria um segundo
desembarque na Itália, em Anzio, e que o Exército Vermelho cruzara a fronteira
da Polônia de 1939 empurrando os nazistas a marretadas.
Ouça!
Eu sou líder de uma nação forte e invicta. E, no entanto, todas as manhãs,
quando acordo, meu primeiro pensamento é como poderei agradar ao presidente
Roosevelt e meu segundo pensamento é como poderei cativar o marechal Stálin.
Sua situação é muito diferente. Por que então seu primeiro pensamento ao
acordar é como desafiar britânicos e americanos? (<<<<pg. 185-189)
Recuperado, Churchill voltou a Londres onde o trem especial do Rei
esparava para levá-lo de Plymouth a Londres. Havia imenso alívio em todos os
círculos por seu retorno vivo e saudável. Assim que chegou foi logo à Câmara
dos Comuns para responder perguntas e depois foi almoçar com o Rei. (pg.
189-190)
O desembarque em Anzio não obteve o sucesso esperado pois a
resistência alemã mostrou-se tenaz de modo que a operação foi assim definida
por Churchill: “Esperávamos desembarcar uma fera que estriparia os alemães.
Em vez disso, encalhamos uma enorme baleia com a cauda presa na água”.
Os estadunidenses pareciam dispostos a apenas manter as presentes
situações na Itália, do que Winston discordava, mas não estava em posição de
forçar sua opinião, até porque já estava envolvido no planejamento da Operação
Overlord, a futura invasão da França pela Normandia.
E Winston o fazia com a usual energia: “Os aparentemente indolentes
ou obstrutivos eram repreendidos; rivalidades eram reconciliadas; prioridades
eram determinadas; dificuldades que a princípio pareciam insuperáveis eram
ultrapassadas; e as decisões eram traduzidas em ações imediatas.”
Foram planejadas ações de despiste que levaram os alemães a pensar que
o desembarque se daria em Dieppe ou em Calais, mas não na Normandia. Em fins de
Março/1944 o trabalho excessivo cobrou novamente seu preço e Churchill já
estava novamente à beira de uma exaustão completa. E a situação era perceptível
aos que o rodeavam como foi descrito após uma reunião do Estado-Maior:
Percebemos
que ele estava excepcionalmente cansado. Receio que esteja perdendo terreno
rapidamente. Parece incapaz de concentrar-se de forma duradoura e distrai-se
constantemente. Estava sempre bocejando e disse que se sentia desesperadamente
cansado.(<<<<pg. 190-192)
Em Abril/1944 a situação era ainda pior, apesar de o próprio Churchill
garantiu que “ainda conseguia dormir bem, comer bem e, em especial, beber
bem, mas já não saltava da cama como costumava e sentia que gostaria de passar
todo o dia na cama”.
Sua preocupação era que os bombardeios necessários para abrir caminho
no Dia-D não matassem muitos franceses, gerando um sentimento anti-aliados após
a invasão da França. Temia também as baixas que suas tropas sofreriam nessa
invasão pois, lembrando-se do que ocorrera durante a Primeira Guerra, “Uma
geração britânica inteira de potenciais líderes havia sido dizimada e o país
não podia dar-se ao luxo de perder outra geração”.
CONTINUA
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em
relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos,
por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código
simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página
indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A
referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois
anteriores (<<pg.200-202).