A
despeito das manobras de Hitler, ainda havia membros do Parlamento que
criticavam os alertas de Churchill, taxando-os de “discurso alarmista do
honorável membro por Epping, que se esforça por fazer nossa pele se arrepiar”.
Mas o próprio Hitler disse, a dois emissários do governo britânico, Anthony
Eden e a Sir John Simon, que “tinha atingido paridade com a Grã-Bretanha no
que dizia respeito à capacidade aérea”. (pg. 17-18)
Mas
Hitler estava sendo modesto ou mentindo descaradamente, pois relatórios
secretos dos quais Churchill teve conhecimento através de Ralph Wigram, chefe
do Departamento Central das Relações Exteriores, davam conta de que a Alemanha
já possuia “oitocentos aviões contra 453 aviões britânicos.” (pg. 19)
As
demais nações, contudo, pareciam menos inertes que o Reino Unido. França e
Rússia assinaram, em 02/05/1935, um “pacto de cooperação mútua”. Esse
acúmulo de notícias que davam plena razão a Churchill e expunham ao ridículo
seus detratores, e o próprio governo, já eram do conhecimento do público. O
jornal Daily Express chegou a publicar pedido de desculpas a Winston “por
ter “ignorado” seus avisos sobre o poderio aéreo alemão, desculpa essa que foi
lida por seus 1.857.939 leitores.”. Baldwin reconheceu estar errado mas
ainda se recusava a aprofundar o debate sobre o assunto. (pg. 19)
Por
motivo de doença Ramsay MacDonald deixou o cargo de Primeiro-Ministro em
07/06/1935 e Stanley Baldwin assumiu o cargo. Churchill não foi convidado para
nenhum cargo e seguiu com seus alertas na Câmara dos Comuns. Do governo não vieram
convites, mas ataques. O Ministro das Relações Exteriores, Samuel Hoare, disse
daqueles que “parecem ter um prazer mórbido em alarmar e em divagar numa
psicologia de medo e até de brutalidade”. (pg. 20)
Baldwin - Ramsey |
Incapaz
de se contrapor por tanto tempo aos fatos e, a nosso ver, talvez na esperança
de calar críticas, Baldwin convidou Churchill para compor a Subcomissão de
Investigação de Defesa Aérea. Algumas semanas depois Mussolini ameaçou de
invasão a Abissínia. Winston era favorável a ação da Liga das Nações contra a
Itália, bem como sanções econômicas e demonstrações de força da Marinha
Britânica no Mar Mediterrâneo. Mas nada foi efetivamente feito e o Duce invadiu
a Abissínia em 04/10/1935.[3] (pg. 20-21)
Invasão italiana da Abissínia |
...lado a lado com campos de treinamento dos novos
exércitos e aeródromos maiores, os campos de concentração enxameiam o solo
alemão. Nestes, milhares de alemães são coagidos e submetidos como gado ao
irresistível poder do Estado totalitário.
Nenhum serviço, nenhum patriotismo e nenhuma ferida
sofrida na guerra produziu imunidade em pessoas cujo único crime foi terem sido
postas neste mundo por seus pais.” Mesmo as “pobres crianças judias” são
perseguidas nas escolas públicas. O mundo ainda tem esperança de que o pior já
tenha passado “e de que ainda viveremos o suficiente para vermos em Hitler um
velhinho simpático (<pg. 21-22)
Nas
eleições gerais de 14/11/1935 Churchill foi reeleito. Mas aqui descobrimos um
provável erro na obra de Martin Gilbert, pois ele informa que, depois da
invasão italiana na Abissínia, “As
eleições gerais deram uma vitória esmagadora aos conservadores, que conseguiram
432 lugares contra 151 para os trabalhistas e apenas 21 lugares para os
liberais”. No entanto, o Election Statistics: UK 1918-2007 da Library House
of Commons,[4]
de autoria de Edmund Tetteh, informa 429 cadeiras para os Conservadores e 154
para os Trabalhistas.
Stanley
Baldwin permaneceu como Primeiro-Ministro e fez o que Hitler mais desejava que
ele fizesse: não nomeou Churchill para nenhum cargo no governo embora já
soubesse que Hitler apresentaria demandas territoriais em um futuro próximo.
Winston, então, viajou em férias para Maiorca e Marrocos. (pg. 22-23)
CONTINUA
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
[3] Segunda Guerra
Italo-Etíope foi um conflito ocorrido em 1935-1936, quando a Itália fascista de
Benito Mussolini invadiu a Abissínia (atual Etiópia). Apesar do protesto formal
da Liga das Nações, nenhuma acção foi tomada contra a Itália, nem mesmo depois
do discurso do Negus (Haile Selassie). Apesar da superioride militar, do ponto
de vista tecnológico, da Itália, as forças etíopes apresentaram mais resistência
do que os italianos tinham previsto, que levou-os a utilizar armas químicas,
inclusive nas populações civis. Este facto que não foi noticiado na imprensa
italiana da época, e muito pouco na restante. A guerra fez mais de meio milhão
de mortos entre os africanos, face a cerca de 5.000 baixas do lado italiano.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_%C3%8Dtalo-Et%C3%ADope
[4] https://researchbriefings.parliament.uk/ResearchBriefing/Summary/RP08-12