Antecedentes
Entre os anos de 500 e 494 a.C., as cidades de
Atenas e Erétria apoiaram Mileto, cidade de origem grega da Ásia Menor[1], em sua
revolta contra os persas.
Essa e outras cidades de origem grega da Ásia Menor “...há
muito submetidas à Pérsia, eram igualmente os celeiros tanto das cidades
jônicas como das do território central grego.”[2]
Mas as relações entre os gregos e persas eram
relativamente pacíficas até então. Quando partiu para conquista da Trácia, por
exemplo, Dario I contou com apoio de uma grande frota naval grega, que “...navegou
da Jônia até a foz do Ister (atual Danúbio).”[3]
O confronto aconteceu por causas variadas. Uma delas
teria sido o ressentimento dos gregos pelo domínio persa, apesar de que “Os
costumes, as crenças e as próprias instituições de cada cidade foram
respeitadas. Havia mesmo liberdade intelectual...”[4]
Quando a Pérsia conquistou o Estreito de Bósforo,
passando a dominar o comércio na região, o fez em prejuízo dos gregos e
benefício dos fenícios, o que constituiu uma causa econômica do conflito.[5]
A situação se deteriorou completamente quando a Pérsia
tentou interferir na política interna de Atenas, apoiando a volta da tirania de
Hípias, que fora expulso da cidade. Quando a revolta surgiu em Mileto, Atenas
se uniu à Erétria, enviando tropas para atacar Sardes. Foram derrotados pelos
persas.[6]
Dario I fez concessões aos derrotados, “...o
estabelecimento de um cadastro parece ter permitido uma distribuição mais
equitativa do imposto e certas cidades foram autorizadas a conservar a
constituição democrática que tinham promulgado desde 498.” [7]
Mas Dario I, que vira o potencial destrutivo de uma
revolta na Ásia Menor, apesar da falta de unidade dos gregos, parece ter
percebido que a região estaria sempre em perigo enquanto as cidades da Grécia
peninsular se mantivessem livres de sua autoridade.[8] Quatro anos depois da vitória, ele enviou um
exército para punir aquelas cidades gregas, iniciando a I Guerra Médica (Os
gregos chamavam os persas de Medos, daí Médicas).
A PRIMEIRA GUERRA MÉDICA
A quantidade de soldados e navios empregados pelos persas
é variável como o número de historiadores a escrever sobre ela, de modo que não
há como cravar um número exato de soldados.
Os primeiros alvos da ofensiva persa foram as cidades de
Naxos e Erétria, que foram tomadas. Em seguida o exército invasor se dirigiu à
Ática (território grego) e desembarcou em Maratona.[9]
O local, indicado por Hipias, era importante por conta
das vantagens estratégicas que proporcionava: “Uma praia de areia, abrigada dos
ventos do Norte e do Oriente, fornecia um abrigo seguro à frota persa; a
planície de Maratona oferecia casualmente o campo livre a manobras de
cavalaria, contra as quais a infantaria ateniense seria impotente.[10]
Uma frota bem protegida, apoiando um exército numeroso,
que escolhera o lugar ideal para lutar com seus melhores recursos. Tudo pendia
para o lado persa em Maratona. A célebre batalha estava prestes a começar.
A BATALHA DE MARATONA
A Baia de Maratona, vista a partir do lado oposto ao
ancoradouro persa. No centro da imagem, ao fundo, o Cabo Cinosura. Google Street
View
Sob o comando de Dátis, os persas atracaram seus navios
na baia de Maratona, na qual o Cabo Cinosura protegeria os navios dos ventos. O
local parece ter sido escolhido também pela proximidade de um lago, hoje seco,
que serviria de fonte de água ao exército.[11]
Apesar da distância, a notícia do desembarque logo chegou
a Atenas onde Milcíades, um dos líderes atenienses, clamou pelo ataque imediato.[12]
Um emissário foi enviado a Esparta para solicitar ajuda,
mas estes responderam que “não podiam fazê-lo imediatamente, pois não
queriam infringir a lei que os proibia de se porem em marcha antes da lua cheia...”[13], de
modo que as forças que Milcíades conseguiu reunir partiram sem os reforços
pretendidos.
Os atenienses teriam se deslocado pela rota que “...passa
através de Palene, contorna o monte Pentélico por sudeste e acede a planície de
Maratona também por sudeste.”[14] e,
acampados no santuário de Héracles, receberam o reforço de tropas de Plateia.
As forças gregas tomaram posição por entre as árvores do santuário de Héracles,
impedindo o uso da cavalaria persa.[15]
A Praia Schinias, local onde ancorou a frota persa. No
centro da imagem, ao fundo, o Cabo Cinosura. Google Street View
O Monte Agrieliki nas imediações da provável localização
do Santuário de Héracles, onde teriam acampado os gregos. Google Street View
Sem poder usar sua força principal e premido pela
iminente chegada dos espartanos, Dátis foi obrigado a confiar no maior número
de sua infantaria.[16] Então
os gregos saíram do bosque e a batalha começou.[17]
Há divergências quanto ao posicionamento das tropas para
a batalha e as versões são duas. Na primeira os persas teriam se posicionado de
costas para o mar, entre dois rios que desaguavam na baia.[18]
Na segunda os persas se alinharam com o mar à sua
esquerda, e os gregos avançaram com as águas à direita, hipótese defendida por
Sekunda, considerando a informação de que muitos persas fugiram para a área de
vegetação chamada Grande Marisma, já próxima à praia onde estava ancorada a frota.[19]
As duas hipóteses: à esquerda os gregos atacam em direção
ao mar. À direita os gregos atacam com o mar à sua direita.
Quando o ataque começou os gregos avançaram por cerca de
1200m e correram outros 300m quando os persas dispararam as flechas. No choque
inicial houve equilíbrio e os combates corpo a corpo prolongaram-se.[20]
Depois as tropas persas do centro conseguiram fazer
recuar os gregos. Heródoto afirma que os atenienses ocuparam a ala direita e os
plateus a esquerda, mas na parte central “...as fileiras não eram muito
compactas, tendo aí o exército o seu ponto fraco;”[21] e foi
justamente no centro que os persas levaram vantagem, fazendo recuar as forças
gregas.
Os persas poderiam ter vencido se as laterais gregas não
rompessem suas linhas à esquerda e à direita, fazendo-as fugir em direção aos navios.[22]
Na
perseguição, os gregos chegaram à praia de Schinias, onde os fugitivos persas
da ala esquerda tentavam embarcar em seus navios que recuavam para águas mais profundas.[23]. Segundo Heródoto:
A batalha de Maratona
foi longa e cheia de peripécias. Os bárbaros conseguiram desbaratar as fileiras
do centro do exército ateniense, pondo em fuga os remanescentes; mas as duas
alas compostas de Atenienses e Plateus atacaram as forças persas que haviam
rompido o centro do exército, impondo-lhes uma derrota irreparável. Vendo-as
fugir, lançaram-se em sua perseguição, matando e esquartejando quantos
encontraram pela frente, até a beira-mar, onde se apoderaram de alguns dos
navios inimigos. [24]
Área próxima ao provável centro dos combates
(desconsiderando eventuais avanços ou recuos do mar). Google Street View
A Praia Schinias, local do acampamento persa, para onde
os soldados fugiram em busca de seus navios. Google Street View
Não é difícil imaginar que soldados desesperados tentando
embarcar a qualquer custo tenham se tornado alvos fáceis para os perseguidores
gregos ao mesmo tempo em que prejudicavam a partida dos barcos. Sekunda afirma
que os gregos capturaram sete deles.[25]
Área do Grande Marisma, região pantanosa na época da
batalha, nas imediações da Praia Schinias, para onde os soldados persas fugiram
e de onde poucos sairam. Google Street View
Menos sorte ainda tiveram os fugitivos da ala esquerda
persa, refugiados no Grande Marisma pois, quase impossibilitados de chegar aos
navios, coisa que poucos lograram fazer, tornaram-se alvos ainda mais fáceis
para os gregos.[26]
[1] Atual
Turquia.
[2] (CULICAN;1968)pg.
77
[3] Idem
[4] GIORDANI,
Mario Curtis. Historia da Grecia. 2.
ed. RJ: Vozes, 1967. pg. 118
[5] (CULICAN;1968) pg. 78
(GIORDANI; 1967) pg. 118
[6] (CULICAN;1968) pg. 78-79
[7] HATZFELD,
Jean. Historia da Grecia antiga. Lisboa, Europa-América, S.d. pg. 119
[8] (HATZFELD;s.d.) pg. 119
[9] Ibid. pg. 120-121
[10] (HATZFELD;s.d.) pg. 121
[11] SEKUNDA, Nicholas. Maratona 490
a.C. Desafio Helênico à Pérsia. Barcelona, Osprey 2010. pg. 35
[12] (HATZFELD;s.d.)
pg. 120-121
[13] HERÓDOTO. História - Érato-CVI. Trad. Pierre
Henri Larcher (1726–1812). pg.493.
[14] (SEKUNDA;2010)
pg.41
[15] (SEKUNDA;2010) pg. 42
[16] Ibid. pg.52
[17] Idem
[18] CONTEÚDO
aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em:
http://it.wikipedia.org/wiki/Battaglia_di_Maratona.
Acesso: 16/05/15
[19] CONTEÚDO
aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em:
http://it.wikipedia.org/wiki/Battaglia_di_Maratona.
Acesso: 16/05/15
[20] (SEKUNDA;2010)
pg. 64-65
[21] HERÓDOTO. História
- Érato-CXI. pg.496
[22] (SEKUNDA;2010) pg.70
[23] Ibid. pg. 71
[24] HERÓDOTO. História - Érato-CXIII. pg.497
[25] (SEKUNDA;2010)
pg. 72