Enfim, após ser por tanto tempo preterido,
Churchill era o Primeiro-Ministro, justamente no momento de maior fragilidade e
necessidade, perante o inimigo mais tenaz, forte, preparado e determinado.
Mais tarde ele escreveu: “Finalmente tinha
autoridade para dar diretivas sem restrições. Eu me senti caminhando junto com o
destino, como se toda a minha vida passada tivesse sido apenas uma preparação
para essa hora e essa prova.” (pg. 97)
Para o Ministério Churchil fez as seguintes
nomeações:
nomeou lorde Beaverbrook ministro da Produção de
Aviões; Eden foi para o Ministério da Guerra e Sinclair, para o Ministério da
Aviação. Eram amigos em quem ele sabia que podia confiar para executar suas
tarefas sem a necessidade de constantes sobressaltos. [...] Attlee tornou-se o
representante de Churchill no Gabinete de Guerra. Ernest Bevin tornou-se
ministro do Trabalho e Serviço Nacional e Herbert Morrison, ministro dos
Abastecimentos. (<pg. 97)
No dia 13/05/1940, na Câmara dos Comuns, em
seu primeiro pronunciamento como Primeiro-Ministro, Churchill fez um de seus
discursos mais memoráveis:
Perguntam-nos qual é a nossa política. Eu respondo.
Fazer a guerra, por mar, terra e ar, com toda a nossa energia e com todas as
forças que Deus nos der; fazer a guerra contra uma monstruosa tirania, nunca
ultrapassada no negro e lamentável catálogo dos crimes humanos. Essa é a nossa
política. Perguntam-nos qual é o nosso objetivo. Posso responder com uma só
palavra: vitória. Vitória a todo o custo, vitória a despeito do terror, vitória
por mais longo e difícil que seja o caminho, pois sem vitória não há
sobrevivência, não há sobrevivência para o império britânico, não há
sobrevivência para tudo o que o império britânico significou, não há
sobrevivência para o desejo e o impulso das eras, para que a humanidade vá em
frente a caminho de seus objetivos. Eu me dedicarei à minha tarefa com atenção
e esperança. Tenho certeza de que nossa causa não fracassará. Neste momento,
sinto-me autorizado a exigir a ajuda de todos e digo-lhes: Venham, vamos juntos
em frente, com nossa unida firmeza. (<pg. 97-98)
Mas discursos não ganham guerras e as tropas
alemãs avançavam pela Bélgica e já travessavam a Linha Maginot fazendo recuar
os franceses cujo governo estava em desespero pedindo mais aviões que a
Inglaterra não podia fornecer pois precisaria deles para a própria
sobrevivência pouco depois.
Ao mesmo tempo em que tentava animar os
franceses à luta Churchill solicitava, sem sucesso, a Franklin Delano
Roosevelt, Presidente dos EUA, que enviasse “cinquenta contratorpedeiros da
Primeira Guerra Mundial que estavam estacionados, inúteis, em depósitos navais
americanos, mas Roosevelt não concordou em enviá-los.”.
Também enviou, por sugestão de Halifax,
mensagem a Mussolini: “Será tarde demais para evitar que escorra um rio de
sangue entre os povos inglês e italiano?” Ordenou o reforço na segurança
dos aeródromos vulneráveis com voluntários locais bem como um preparo acelerado
de tiro para os soldados em treinamento.
E ordenou, ainda, que as tropas em Calais
agissem no sentido de manter as praias de Dunquerque operacionais tanto para
receber materiais quanto para evacuar as tropas britânicas, em resumo, deveriam
resistir à avalanche alemã. (<<<pg. 99-100)
No final de maio as tropas britânicas,
francesas e polonesas na Noruega tomavam Narvik que abandonariam logo depois “devido
à urgente necessidade de homens para defenderem a Grã-Bretanha”. Ao mesmo
tempo começava a evacuação das tropas em Dunquerque. Em
27/05/1940 “foram postos a salvo 11.400 soldados britânicos; 200 mil ainda
estavam cercados, juntamente com 160 mil soldados franceses.” (pg. 101)
No Gabinete de Guerra, composto por Halifax,
Chamberlain, Attlee, Greenwood, além do próprio Winston, Churchill ouviu
furioso a proposta de Mussolini, apresentada e apoiada por Halifax, de “que
a Inglaterra devia aceitar uma proposta de Mussolini para negociar uma paz
generalizada.”.
Chamberlain também se mostrou favorável uma
vez que “mesmo lutando até o fim para preservarmos nossa independência,
estamos preparados para considerar termos decentes, se nos forem propostos”.
Aparentemente, para ele tudo poderia ser aceito se fosse apresentado da maneira
correta.
Mas Churchill rechaçou de forma veemente tal
ideia: “Nações que foram destruídas na luta estão a erguer-se, mas aqueles
que se renderam docilmente, acabaram.” Mais tarde, em reunião com o
Gabinete completo, ele disse que refletira sobre a proposta de negociar com
Hitler, mas como os alemães estariam em posição de força, “exigiriam a
armada britânica, suas bases navais e muito mais.”, o que tornaria a
Grã-Bretanha um estado escravo ou fantoche. E concluiu:
Tenho certeza de que qualquer um dos senhores se
levantaria e me tiraria do meu lugar se por um momento eu considerasse a
possibilidade de negociações ou rendição. Se a longa história da nossa ilha
finalmente acabará, deixem que acabe apenas quando cada um de nós estiver caído
e sufocado em seu próprio sangue. (<<<pg. 101)
Em 04/06/1940 a Operação Dynamo, a evacuação
de Dunquerque teve que ser encerrada com um excelente resultado: “tinham
sido evacuados 224.318 soldados britânicos e 111.172 soldados franceses.”
(pg. 104)
Churchill temia que a invasão da Inglaterra fosse começar imediatamente mas os decifradores de códigos de Bletchley descobriram que os alemães não fariam isso, preferindo completar a conquista da França. (pg. 104)
Após o sucesso da Operação Dynamo, Churchill
queria deixar a posição defensiva e partir para a ofensiva, atacando o
território da Alemanha, porém a inferioridade britânica no ar, frente à
Luftwaffe era preocupante pois, embora a produção de aviões na Inglaterra já
estivesse ao ritmo de 35 por dia, durante os combates sobre a França a produção
fora de “453 aviões, mas 436 tinham sido abatidos.”, um ritmo que a
Luftwaffe poderia suportar pelo dobro do tempo que a RAF. A única notícia
realmente boa é que a superioridade dos pilotos britânicos no ar já dera os
primeiros sinais “com 394 aviões alemães destruídos sobre as praias de
Dunquerque contra 114 aviões britânicos.” Sem dúvida fora uma retirada de
grande sucesso mas Winston não estava satisfeito pois “precisamos ser muito
cuidadosos para não atribuir a essa salvação o caráter de uma vitória. As
guerras não são ganhas com retiradas”. (pg. 104-105)
CONTINUA