Cartago era neste local. |
HANNIBAL AD PORTAS – A BATALHA DE CANAS1
O
desespero tomou conta de Roma quando a notícia da tragédia militar do
Lago Trasímeno chegou à cidade e a situação ficou ainda mais crítica
quando se soube que cerca de 4 mil cavaleiros foram mortos ou presos em
emboscada quando tentavam socorrer as tropas de Flamínio.
Então
o Senado, fazendo uso de um recurso extremo, elegeu, por meio de
votação popular, um Ditador. O escolhido, Quintus Fabius Maximus,
concentrava o poder dos dois cônsules por um período de seis meses. Como
garantia de manter algum controle, o Senado nomeou o segundo em
comando, o Magister Equitum Minucius Rufo.
Um
recrutamento foi logo convocado para formação de quatro legiões. A
falta de opções mais favoráveis fez com que predominassem soldados
veteranos ou muito jovens. Healy informa que Tito Livio afirma que
Fabius partiu com duas legiões, informação mais confiável que a de
Polibio, quando diz que o Ditador levou as quatro legiões
recém-formadas.
Assim,
quando reuniu-se às quatro legiões de Gemino, Fabius Maximus partiu
para o Sul ao encalço de Hannibal, contando agora com cerca de 30 mil
homens sob seu comando supremo.
Hannibal,
por sua vez, seguira pela Úmbria para a costa do Mar Adriático
(arredores de Piceno), onde recuperou e descansou suas forças, avançando
ainda mais para o Sul, saqueando e queimando colheitas.
Cidade de Piceno. |
As
tropas de Fabius alcançaram Hannibal nas imediações da Apúlia e este
logo ordenou a posição de batalha, mas os romanos não lhe concederam o
combate. Aquartelaram-se em um terreno mais elevado e aguardaram,
adotando uma tática quase de guerrilha, com pequenas escaramuças que
minavam o moral das tropas cartaginesas e aumentava a própria.
Arredores da atual Apulia. |
Mas
Hannibal não podia aguentar tal desgaste por muito tempo e levantou
acampamento em direção Oeste, onde passou por Benevento e atacou
Campânia saqueando e incendiando a fértil região de Falernus. O plano
era que as províncias se sublevassem contra Roma, mas isso não ocorreu.
Tampouco Fabius concedeu o desejado combate aos cartagineses, apesar da
fortíssima oposição de Minucius Rufo e dos oficiais. Entretanto, o
caminho de saída de Falernus foi bloqueado em um desfiladeiro por 4 mil
soldados romanos.
Atual região de Campânia, ao sul de Benevento. |
A fértil região do Ager Falernus nos dias atuais. |
Sem
poder passar o inverno naquele vale, Hannibal elaborou uma brilhante
estratégia para atravessar o desfiladeiro guarnecido pelos romanos.
Improvisou tochas nos chifres de 2 mil bois e os enviou por outro
caminho. Pensando que os cartagineses estavam saindo por outra rota, os
romanos abandonaram o desfiladeiro e Hannibal o atravessou tranquilo
seguindo, depois, para a cidade de Geronium, que logo tomou e massacrou
os habitantes.
Região de Campobasso, ao sul de Larino. A vila de Geronium ficava na área. |
E para melhorar a situação de Hannibal, Fabius foi chamado a Roma onde recebeu dos senadores o pejorativo título de Cunctator
(Contemporizador). O comando ficou com Minucius e este, por conta de um
erro de Hannibal, conseguiu a vitória em um pequeno confronto, o que
aumentou a confiança do Senado em uma vitória em campo aberto e rendeu
ao vitorioso poderes equiparados ao do Ditador Fabius.
Com
o comando dividido, Fabius e Minucius separaram as tropas e Minucius
logo foi atacar Hannibal perto de Geronium, sendo salvo da aniquilação
total por Fabius. Por sorte o inverno já se aproximava novamente e a
campanha foi suspensa.
Com
o fim do prazo da ditadura de Fabius, os dois novos cônsules assumiram o
comando das tropas em meio às disputas políticas do Senado, onde as
facções dividiam-se quanto a estratégia para enfrentar Hannibal. Os
Cônsules eleitos, adeptos da estratégia de atacar, foram Varrão e
Emílius Paulo, os mandatos de Gemino e Régulo foram renovados e oito
novas legiões foram mobilizadas. Segundo os números de Políbio, Roma
contava agora com 80 mil soldados e 6 mil cavaleiros.
Ao
final do inverno Hannibal saiu de Geronium e dirigiu-se a Canas, uma
cidadela em ruínas onde os romanos armazenavam grãos, azeite, etc. Na
Região, além dos alimentos, Hannibal posicionava-se muito bem
estrategicamente e forçava dois movimentos dos romanos, a busca de
alimentos em outros locais e o tão esperado confronto.
Nesta colina ficava a cidadela de Canas (Cannae), que Hannibal tomou junto com os suprimentos romanos. |
Vista aérea de Canas, atual região de Canne della Bataglia. |
Healy
acredita que o cartaginês montou seu acampamento onde hoje fica a
cidade de San Ferdinando di Puglia, e que os romanos se estabeleceram
nas imediações da atual Trinitapoli, divididos em dois campos.
Periferia de San Ferdinando di Puglia, provável local do acampamento de Hannibal. |
Periferia de Trinitapoli, provável local do acampamento romano. |
O local da batalha no contexto do mapa da Itália. |
No alto Trinitapoli, no meio San Ferdinando di Puglia e abaixo a colina de Canas. |
Ponte sobre o Rio Aufido (atual Òfanto) cruzado pelos romanos para a batalha. |
Na esquerda, em outra seção da cavalaria, com 4800 membros, o Cônsul Varrão, tendo seu terreno delimitado por algumas colinas.
O plano era forçar um combate frontal entre as cavalarias, permitindo que a infantaria romana, bem mais numerosa que a de Hannibal, desse conta do recado. Mas, essas delimitações não dificultavam apenas a mobilidade cartaginesa... O espaço de manobra da própria infantaria era mínimo.
Hannibal,
por sua vez, posicionou suas cavalarias em frente às romanas, mas não
formou sua infantaria em linha reta, adotando, porém, uma formação em
curva que obrigaria os romanos a avançar as laterais de sua infantaria
para a área entre as tropas e cavalarias de Cartago.
Quando
o combate finalmente começou, a cavalaria sob comando de Paulo foi a
primeira a ceder e os cavaleiros de Hannibal tiveram terreno livre para
contornar a retaguarda romana e atacar a cavalaria de Varrão por trás.
As linhas vermelhas mostram o movimento das tropas romanas e as azuis são os soldados de Hannibal. |
No
choque das infantarias as tropas romanas obrigaram os cartagineses a
recuar, mas não conseguiram romper a linha, apenas fizeram o côncavo
virar convexo (ou vice-versa, não sei), e rapidamente tinham entrado na armadilha. Com a pressão imensa de tantos soldados avançando e empurrando, logo os romanos não conseguiam nem levantar os braços para usar as espadas.
Quando as cavalarias
cartaginesas livraram-se de seus oponentes romanos, fecharam o cerco
pela retaguarda das legiões.
Muitos morreram sem poder se mover.
Muitos morreram sem poder se mover.
Foi
um terrível banho de sangue no qual 47 mil soldados romanos foram
mortos, assim como 2700 cavaleiros, dentre estes estavam Paulo, Gemino e
Minucius. Quase 20 mil romanos foram feitos prisioneiros. Os que
conseguiram escapar refugiaram-se em Canusium (atual Canosa di Puglia).
Entrada de Canusium, atual Canosa di Puglia, local de refúgio dos romanos que conseguiram escapar do massacre de Canas. |
Porém,
mais uma vez, Hannibal relutou em atacar Roma. Preferia forçar novos
combates em campo aberto do que cercar a cidade. Mas o erro de um
combate como esse não seria mais cometido por Roma. A resposta da cidade
foi que não negociaria.
Roma
sabia que tinha o tempo em seu favor e ordenou novo recrutamento. A
cidade eterna dispunha de recursos aparentemente ilimitados e adotara
uma nova estratégia.
Hannibal
veria, aos poucos, suas tropas serem reduzidas pelas necessidades de
controlar áreas tomadas e, sem receber reforços de Cartago, foi
enfraquecendo.
Continua...
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