Total de visualizações de página

terça-feira, 29 de novembro de 2016

DEZEMBRO – MÊS DE NAPOLEÃO


DEZEMBRO – MÊS DE NAPOLEÃO
Napoleão nasceu em 15 de agosto, mas Dezembro parece ter sido seu mês de sorte. Dizemos isso porque dois de seus momentos mais gloriosos ocorreram neste mês.
Em 10/11/1799 começava seu governo, chamado de Consulado, uma forma de a burguesia consolidar as conquistas da Revolução Francesa através de uma figura popular que eles acreditavam poder controlar.
Nos dias atuais, Napoleão seria italiano, pois nasceu na cidade de Ajaccio, Ilha da Córsega. Mas naquele 15/08/1769 a ilha pertencia à França, de modo que nasceu francês, filho do advogado Carlo Buonaparte e Maria Letícia Ramolino.
Aos 10 anos o menino Napoleão já era aluno da academia militar, onde se destacava em Matemática, Geografia e História. Em 1784, aos 15 anos, já estudava na Academia Militar de Paris, onde também se destacou.
Subiu na carreira após conhecer Robespierre e servir à Revolução Francesa, alcançando o posto de mais jovem general da França.
Suas vitórias militares o tornaram muito popular, a ponto de ser escolhido para governar nos moldes da República de Roma, como um Cônsul.
Assumindo o posto, o Cônsul Napoleão realizou um trabalho fabuloso: organizou o sistema de impostos, fundou o Banco da França, promulgou o novo Código Civil, assinou a Concordata com a Igreja Católica, organizou a educação, dinamizou o comércio interno e externo e implantou um programa de obras públicas que gerou emprego e renda para a população na construção de estradas, modernização de portos, drenagem de pântanos, etc.
Quando, cinco anos depois (1804), foi convocado um plebiscito, Napoleão recebeu apoio maciço do povo para se tornar Imperador, o que ocorreu no dia 02/12/1804.
Naquela ocasião, que teve lugar na Catedral de Notre-Dame, o próprio Papa Pio VII se fez presente para coroar o casal imperial francês. Mas Napoleão, em um gesto político sem precedentes, tomou a coroa das mãos do Pontífice e coroou a si mesmo, mostrando que seu reinado não dependia do apoio de Roma.
Quando a influência francesa passou a ser vista como ameaça, as principais monarquias europeias formaram coligações para combater a França e, neste contexto, Napoleão obteve, também em um 02/12, uma das mais espetaculares vitórias militares de todos os tempos.
Corria o ano de 1805 e os impérios inglês, russo e austríaco formaram a Terceira Coligação, para atacar a França.
Napoleão transferiu seu exército, chamado de Grand Armée, do Canal da Mancha para as margens do Rio Reno, que atravessou. Entre agosto e novembro Napoleão invadiu a Áustria e tomou Viena, capturando vasto equipamento militar inimigo.
Mas a distância da França tornava o abastecimento das tropas muito difícil e o tempo era adversário dos franceses, de modo que Napoleão precisava forçar um combate decisivo, o que os adversários obviamente evitavam.
Napoleão, então, colocou em prática um plano para enganar os aliados mostrando fraqueza, incentivando-os a atacá-lo. Ele dividiu suas tropas, escondeu a maior parte delas, deixando a menor parte exposta aos olhos dos espiões.
Enviou emissário aos adversários manifestando desejo de evitar a batalha e aceitou rapidamente uma proposta de paz feita pelos derrotados austríacos. Não satisfeito, simulou uma retirada desorganizada de Austerlitz, que havia conquistado recentemente, e ainda recebeu emissário do Imperador Russo, simulando ansiedade e nervosismo.
Com tantas demonstrações de fraqueza, logo quase todos os comandantes da Terceira Coligação estavam convictos de que o momento de acabar com o francês era aquele mesmo. Nunca estiveram tão enganados...
A Batalha de Austerlitz ocorreu perto da atual cidade de Brno, na República Tcheca, território que fazia parte do Império Austríaco. Napoleão tinha 72 mil soldados e 157 canhões, enquanto os aliados tinham 85 mil soldados e 318 canhões.
O plano adotado pelos aliados consistia em atacar primeiro o lado direito das tropas francesas, por considerarem esse lado mais fraco, o que de fato era, mas uma fraqueza simulada por Napoleão para enganá-los, pois quando fosse atacado, seu lado direito seria reforçado por tropas vindas de Viena.
Ele também imaginou, corretamente, que o ataque ao seu lado direito seria maciço, o que deixaria o flanco e o centro das tropas adversárias desprotegidos e seria ali que ele iria desferir o ataque com suas tropas escondidas.
Na manhã de 02/12/1805, fazendo exatamente como o Imperador francês previra, os aliados atacaram o lado direito das forças francesas, que recuaram mas resistiram. E quando o centro das linhas aliadas menos esperavam, o ataque francês se abateu sobre eles.
A partir deste momento, Napoleão foi meticulosamente distribuindo suas forças em direção aos setores chave da batalha, aniquilando um a um. Vitória da França!
Restos desta batalha ainda podem ser vistos hoje por quem visita Paris. A Coluna de Vendôme, na praça de mesmo nome, foi feita com o ferro derretido dos canhões capturados pela Grand Armée em Austerlitz.
Compre nosso livro CAMINHOS DO IMPERADOR - D. Pedro II em Sergipe clicando aqui.
Se perder alguma parte desta série, clique aqui e no texto correspondente.
Para ler outras mini-séries do Reino de Clio, clique aqui.
Para acompanhar nossa série sobre o Egito Antigo, clique aqui.
Para conhecer nossa seção de História Geral, clique aqui.
Para conhecer nossa seção de História do Brasil, clique aqui.
Para fazer visitas virtuais a alguns dos mais importantes museus do país, clique aqui.
Para conhecer a Revista Reino de Clio, clique aqui.
Conheça e curta nossa página no Facebook, clicando aqui.

NOVEMBRO NA HISTÓRIA

O CERCO A STALINGRADO
Após a derrota na periferia de Moscou em 1941, e a consequente primeira retirada da Wehrmacht na guerra, Hitler conseguira reorganizar suas forças e já tinha um novo alvo.
Seus generais aconselhavam que juntassem tudo que tinham em um novo e definitivo ataque à capital russa, mas Hitler preferiu rumar para o Sul da URSS, de olho nos cereais da Ucrânia e no Petróleo do Cáucaso, região que ele poderia ter tomado sem luta no ano anterior.
Mas o Sul da URSS também possuía um alvo de importância simbólica que fascinava o ditador alemão: Stalingrado, a Cidade de Stalin, às margens do Rio Volga.
Situada na entrada do Cáucaso, Stalingrado era uma cidade modelo soviética, muito bonita e cheia de fábricas importantes.
Com outras forças engajadas na África, onde Erwin Rommel fora encarregado de tomar o Cairo e rumar para o Irã em busca do petróleo do Oriente Médio, Hitler se colocou numa posição de tudo ou nada pois, com suas forças tão divididas, ninguém receberia reforços ou suprimentos suficientes.
Em 28/06/1942 a ofensiva alemã começou e a tática da Blitzkrieg novamente se revelou devastadora, obrigando os soviéticos a recuar em todos os setores.
Entretanto, novamente, como no caminho rumo a Moscou no ano anterior, quanto mais longo o avanço alemão, maiores as dificuldades de abastecimento.
Ao chegar nas imediações do Cáucaso, as forças alemãs foram divididas, cabendo ao 6º Exército, sob comando do General von Paulus tomar Stalingrado, enquanto as demais forças deveriam atravessar as montanhas e tomar os campos petrolíferos de Maikop.
As forças soviéticas que defenderiam a cidade eram comandadas pelo General Vassili Chuikov. O planejamento era feito pelo Marechal Andrei Yeremenko e pelo comissário político Nikita Kruschev.
Os exércitos de apoio italianos, romenos e húngaros eram utilizados para proteger os flancos do exército alemão. Mas essas linhas se alongavam tanto que as defesas ficavam tênues, enfraquecidas por terem de guardar áreas tão extensas. E esse foi um erro fatal.
Inicialmente, porém, o ataque alemão foi muito bem sucedido. A Luftwaffe (força aérea nazista), sob comando do Marechal do Ar Wolfram von Richthofen (primo do lendário Barão Vermelho), quase eliminou as linhas de defesa e suprimentos dos soviéticos dos dois lados do Rio Volga com seus ataques aéreos e transformou Stalingrado em uma montanha de ruínas fumegantes.
A despeito disso, porém, a população civil, que Stalin não deixou ser evacuada, e os soldados, resistiam bravamente em cada rua, cada casa, cada quarto, sala e porão causando pesadas baixas aos alemães em uma luta desesperada.

Diante do colapso total iminente, Stalin chamou aquele que já provara seu valor como estrategista militar do Exército Vermelho: o General Zukhov, defensor de Moscou, para se encarregar da estratégia para Stalingrado, junto com Aleksandr Vasilievsky.
Ao final de outubro os alemães já estavam perto das margens do Rio Volga, o que significava que tinham dominado mais de 90% da cidade, levando Hitler, enganado, a anunciar a vitória.
Contudo, na Colina Mamayev, na Fábrica de Aço Outubro Vermelho e na Casa de Pavlov, pequenos grupos de soldados soviéticos resistiam contra tudo que os alemães lançavam contra eles.


Nas imagens acima, pela ordem, a Colina Mamayev, a Fábrica Outubro Vermelho e a Casa de Pavlov.
Atiradores de elite soviéticos, como Vasily Zaitsev (espantosas 242 mortes computadas só em Stalingrado), não davam descanso aos invasores e minavam o moral das tropas alemãs.
Friedrich von Paulus, Vassili Chuikov, Wolfram von Richthofen e Vasily Zaitzev.
Enquanto isso, o estrategista Zukhov conseguiu reunir, quase em segredo, um grande exército do outro lado do rio, enquanto os problemas de abastecimento só faziam diminuir as forças alemãs, principalmente a Luftwaffe.
Em 19/11/1942 foi deflagrada a Operação Urano. Os soviéticos cruzaram o Rio Volga e atacaram as tropas romenas ao Norte e, no dia seguinte, o ataque começou pelo Sul.
Os romenos resistiram no início, mas não possuíam armamento anti-tanque, de modo que as forças blindadas soviéticas logo os colocaram em debandada.
O Comando Alemão, embora dispusesse da 16ª e 24ª Divisões Panzer (tanques) em Stalingrado, enviou o desgastado 48º Corpo Panzer, com apenas 100 tanques, para reforçar a posição dos romenos, mas já era tarde.
Embora as tropas ao Sul tenham resistido mais tempo ao avanço soviético, em 22/11/1942 o cerco se fechou e, em 23/11 estava consolidado ao repelir os contra-ataques que buscavam desfazê-lo.
Ao saber do cerco Hitler não permitiu novas tentativas de escapar de Stalingrado, pois ele queria que a cidade fosse tomada, e Göering o convencera de que a Luftwaffe poderia abastecer as tropas pelo ar, tarefa que o Marechal do Ar Wolfram von Richthofen sabia ser impossível, pois a necessidade do 6º Exército de von Paulus era de 800 toneladas de suprimentos por dia.
Começava a longa e lenta agonia do 6º Exército Alemão dentro das ruínas de Stalingrado, pois, mais uma vez, o inverno estava chegando!
Mas, antes que o inverno volte, compre nosso livro CAMINHOS DO IMPERADOR - D. Pedro II em Sergipe clicando aqui.
Fontes e Imagens:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Stalingrado
https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Urano
https://pt.wikipedia.org/wiki/Wolfram_von_Richthofen
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vassili_Zaitsev
https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A1brica_de_A%C3%A7o_Outubro_Vermelho
https://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_de_Pavlov

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mamayev_Kurgan

O PUTSCH DA CERVEJARIA
A Alemanha pós Grande Guerra
Após a Primeira Guerra Mundial, e a derrota que teve um gosto amargo, principalmente por conta das obrigações impostas pelo Tratado de Versalhes, setores políticos moderados assumiram o poder na Alemanha e constituíram um governo social-democrata, instalado na cidade de Weimar.
Este foi o período que ficou conhecido como República de Weimar, com um governo democrático, liberal e parlamentarista no qual o Presidente era eleito para um mandato de 07 anos, mas a chefia do governo cabia a um Chanceler, referendado pelo Parlamento. Vários partidos eram reconhecidos e disputavam o poder.
A crise social do pós-guerra porém, aos poucos foi minando a confiança da população nas instituições democráticas e na capacidade do novo sistema de governo em oferecer soluções.
Tal crise levou ao radicalismo pois, se de um lado a aristocracia rural e os grandes industriais eram os mais beneficiados pelo novo sistema, do outro camponeses e trabalhadores eram prejudicados, tornando-se massa de manobra para o radicalismo de esquerda ou de direita.
Na extrema direita desse espectro político estava um pequeno mas crescente grupo de ex combatentes descontentes. Radicais, antissemitas, anticomunistas, defensores de um estado totalitário e comandados por um cabo austríaco, herói de guerra condecorado, eloquente, estranho e possuidor de um suposto carisma que a muitos conquistava e a outros causava repulsa: Adolf Hitler.
O Golpe de Munique, ou Putsch de Munique, ou ainda Putsch da Cervejaria, foi pensado como o primeiro passo para a tomada do poder no país inteiro, ou seja, seria derrubado o governo da Baviera (cuja capital era Munique) e então, dali, partiria a Marcha para Berlim, onde os golpistas instalariam o poder central dominando todo país.
Hitler - Erich von Ludendorff - Gustav Ritter von Kahr
O planejamento de Hitler usava a participação de Erich von Ludendorff (General Alemão, herói da Batalha de Tannenberg e comandante do exército ao final da Grande Guerra) como chamariz de apoio ao golpe, no que foi inicialmente bem sucedido.
A princípio, em ambiente de grande agitação política e social na Baviera, Hitler angariou o apoio de Gustav Ritter von Kahr, Comissário de Estado nomeado pelo Primeiro Ministro da Baviera Eugen von Knilling, que decretou Lei Marcial. Esses atos tornaram Gustav Ritter von Kahr o governante de fato, junto com o Chefe de Polícia Hans Ritter von Seisser e o Oficial do Exército na Baviera Otto Hermann von Lossow.
Mas, na noite de 08/11/1923, quando os nazistas invadiram uma reunião na Cervejaria Burgebräukeller, Kahr e seus companheiros recuaram do apoio ao golpe e acabaram presos por ordem de Hitler que decidiu seguir com o plano de tomar o governo da Baviera mesmo assim.
Contudo, o General Ludendorff, sem o conhecimento de Hitler, ordenou a libertação dos presos que se comprometeram a não interferir. Promessa de políticos, pois assim que foram soltos, passaram a organizar o contra golpe.
Na manhã de 09/11/1923, quando Hitler e muitos nazistas partiram da cervejaria para derrubar o governo bávaro, foram interrompidos à bala pela resistência militar.
Hitler fugiu e se escondeu, mas acabou preso depois, Ludendorff foi ferido e dezesseis nazistas foram mortos.
Mas, o que poderia ser uma derrota definitiva, transformou-se em triunfo pela complacência dos juízes que julgaram Hitler. Fazendo a própria defesa, ele conseguiu convencer a justiça a condená-lo por breves cinco anos, dos quais só cumpriu nove meses, sendo tratado com regalias na Prisão de Landsberg. Lá ele refez seus planos e escreveu sua autobiografia Mein Kampf, que viria a se tornar a Bíblia dos nazistas.
Como se vê, com apoio da justiça, os golpes acabam dando certo. A desgraça da conta, porém, só é cobrada depois. Do povo, é claro...



Fontes e Imagens:








sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O APARTHEID - Parte II

Família Boer (1886)
https://delagoabayword.wordpress.com/2010/10/15/mocambique-portugal-e-a-guerra-anglo-boer-de-1899-1902/

A INVASÃO BRANCA
Os europeus tomaram contato com a região em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias contornou o Cabo da Boa Esperança1 

Ponto estratégico na rota comercial para as Índias e habitada por diversos grupos negros (bosquímanos, khoi, xhosas, zulus, etc), a região recebeu imigrantes holandeses, franceses e alemães no século XVII. 

Esses colonos brancos – chamados bôeres ou africânderes – se fixaram na região e desenvolveram uma língua própria, o africâner. 

Em 1806, os ingleses tomaram a Cidade do Cabo e lutaram contra negros e bôeres. Os choques levaram os bôeres a emigrar maciçamente para o Nordeste (a Grande Jornada de 1836), onde fundaram duas repúblicas, o Transvaal e Estado Livre de Orange.2
2

.
A entrada dos britânicos no Transvaal provocou tensões e resultou na Guerra dos Bôeres.3 

O conflito durou de 1880 a 1902 e comportou duas guerras, a Primeira Guerra dos Bôeres (16 de Dezembro de 1880 e 23 de Março de 1881) e a Segunda Guerra dos Bôeres (11 de outubro de 1899 a 31 de maio de 1902). 

Na primeira guerra os Bôeres se revoltaram contra a anexação britânica do Transvaal e conseguiram transformá-la de colônia para protetorado.4
4
Soldados Bôeres em batalha
http://www.boerwararchive.com/
Na segunda guerra os Bôeres também levaram vantagem inicial, conseguindo invadir a colônia do Cabo, sitiar cidades importantes e anexar territórios ingleses. 

Em 1902, porém, o contrataque inglês, superior em homens e armamentos, resultou na derrota dos Bôeres.5.
Assinaturas originais e ilustração do Tratado de Paz de Vereeniging
http://voiceseducation.org/content/treaty-vereeniging
.
Com a Paz de Vereeniging (1902), as repúblicas bôeres foram incorporadas ao Reino Unido e, mais tarde, em 1910, juntaram-se às colônias do Cabo e Natal para constituir a União Sulafricana, um país, membro da Comunidade Britânica.6 

Com a paz estabelecida entre os brancos, o inimigo agora era visto na figura dos negros, que eram a maioria da população. Logo, medidas seriam tomadas para controlar essa maioria por meio da opressão.
Continua...

Compre nosso livro CAMINHOS DO IMPERADOR - D. Pedro II em Sergipe clicando aqui.
Se perder alguma parte desta série, clique aqui e no texto correspondente.
Para ler outras mini-séries do Reino de Clio, clique aqui.
Para acompanhar nossa série sobre o Egito Antigo, clique aqui.
Para conhecer nossa seção de História Geral, clique aqui.
Para conhecer nossa seção de História do Brasil, clique aqui.
Para fazer visitas virtuais a alguns dos mais importantes museus do país, clique aqui.
Para conhecer a Revista Reino de Clio, clique aqui.
Conheça e curta nossa página no Facebook, clicando aqui.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O BRASIL VISTO DE PORTUGAL


O BRASIL VISTO DE PORTUGAL
Impressões sobre a palestra do Prof. Dr. Sérgio Claudino da Universidade de Lisboa na UFS - Universidade Federal de Sergipe
Participei, como ouvinte, da Conferência de abertura do II Encontro de Pós-Graduação em História e II Seminário de Pesquisa Internacional e Multidisciplinar com o título História e Geografia: Diálogos Possíveis no Ensino e Pesquisa – Portugal e América Latina, realizada na Universidade Federal de Sergipe no dia 22/11/2016.
A conferência de abertura, com o título “O Brasil visto de Portugal. A construção de um discurso escolar e social durante dois séculos.”, ministrada pelo Prof. Dr. Sérgio Claudino da Universidade de Lisboa me impressionou tanto que decidi escrever este texto e compartilhar com os raros leitores do Reino de Clio.
Já peço desculpas por eventuais imprecisões e explico que não tomei notas no dia, de modo que escrevo bem resumidamente e de memória.
Segundo depreendi das palavras do Dr. Claudino, nenhum país é tão lembrado ou homenageado em Portugal quanto o Brasil.
Ele destaca que Lisboa possui uma Avenida do Brasil, Avenida Rio de Janeiro, Avenida Brasília, e uma imagem do Cristo Redentor, de construção posterior a nossa.
A Primeira travessia aérea do Atlântico Sul,1 feita pelos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral em 1922, que partiu de Portugal e chegou ao Rio de Janeiro, é um feito celebrado com monumentos por todo o pais. 

O Dr. Claudino acredita que essa profusão de homenagens só tem tal dimensão porque o vôo foi feito entre os dois países.
Percebi, através das palavras do palestrante, que após a independência, especialmente depois da assinatura do Tratado do Rio de Janeiro (1825) a política entre os dois países foi guiada por uma visão conciliadora.
Em seus dois primeiros artigos, “O rei de Portugal D. João VI reconhece o Brasil como um império independente, chefiado por filho Pedro e seus descendentes. No entanto, D. João VI guarda para si a prerrogativa de ser tratado como Imperador.” e “D. Pedro I concorda que seu pai utilize o título de Imperador até à morte.2
Minha opinião é que a coroa e a alta sociedade portuguesa tinham esperança de que os dois países voltassem a se unir, levando em conta que D. Pedro I era Imperador do Brasil (assim como seu pai pelo tratado) e também herdeiro do trono português.
Contudo, mesmo a não realização desse suposto sonho, não impediu o aumento do interesse de Portugal pelo Brasil.
Depois da independência, e por mais de 100 anos, até 1975, o Brasil foi estudado e exaltado em praticamente todos os livros didáticos e manuais de estudo, de qualquer categoria profissional, em Portugal.
E esse interesse materializou-se na grande emigração de portugueses rumo ao Brasil, muito mais do que em direção às colônias portuguesas. Neste aspecto, embora não citada pelo Dr. Claudino, creio ser conveniente mencionar que a Profª. Drª. Carminda Nogueira de Castro Ferreira 3 informa que “...a imigração portuguesa aumentou entre os anos de 1850 a 1888. Só em 1888, entraram no Brasil 23 mil portugueses.4
Para ela, “O interesse do português pelo Brasil estava voltado predominantemente para o domínio do comércio juntamente com a visão do Brasil como país da aventura, país da sensualidade, terra de leite e de mel...”. Em outras palavras, o Brasil seguia sendo um lugar para onde os portugueses poderiam ir para enriquecer. Viria dessa época a má imagem dos portugueses que se cultivou em nosso país por muito tempo.
Quando o Império Português se desfez em 1975,5 o Brasil deixou de ser tão estudado nas escolas de Portugal, embora não completamente. Entendi das palavras do Dr. Claudino que o Brasil servia como uma forma de legitimação da ação colonial portuguesa. Uma vez que não havia mais colônias, o Brasil tinha sua importância reduzida. Mas não apagada.
Quando, nos anos 90, por conta das crises econômicas e pela aplicação da política neoliberal, muitos brasileiros deixaram o país para tentar a vida em outros lugares, tendo Portugal como um dos principais destinos.
Tal afluxo acabou gerando uma crise de rejeição ao imigrante brasileiro que gerou o movimento conhecido como Mães de Bragança, onde algumas senhoras portuguesas enciumadas de seus maridos levaram à perseguição a brasileiras imigrantes.6 O auge da crise dos imigrantes oriundos do Brasil porém, foi o assalto a um banco de Lisboa, praticado por dois brasileiros em agosto de 2008.7
O Dr. Claudino não mencionou, mas considero importante lembrar que, pelo lado brasileiro, a maior repercussão foi a crise dos dentistas, cujo grande afluxo ao país ibérico gerou contestações da principal entidade de profissionais locais ainda em princípios dos anos 90.8
Contudo, segundo o Dr, Claudino, mesmo nestes momentos de maior desgaste na relação, os brasileiros não foram execrados na mídia portuguesa, apenas não eram citados, como se fosse adotada uma prática inconsciente de que, se não poderiam falar bem, mal não falariam dos brasileiros.
Creio podermos considerar um exemplo dessa prática a declaração do criminologista português Moita Flores, que chama atenção para o problema da imigração, mas não cita o Brasil nem os brasileiros: “Este tipo de criminalidade está chegando a Portugal. E veio para ficar porque a situação social mudou e se estabeleceram em Lisboa.9
Terminadas essas crises, o Brasil sempre voltou a ser visto com admiração em Portugal, inclusive na primeira década do século XXI, quando o país atravessou um período de prosperidade e projeção positiva no cenário internacional, enquanto Portugal vivia uma crise econômica devastadora. 
O Dr. Claudino não citou, mas sabemos que existem, claro, casos de xenofobia, o que mostraria, a meu ver, que a fascinação referente ao país, não se manifestaria com a mesma ênfase no contato face a face, pelo menos com a mesma frequência.
Por outro lado, o Dr. Claudino informou que a imigração de portugueses para o Brasil só não é maior por conta das inúmeras dificuldades que a diplomacia oficial impõe a essa vinda. E, apesar das piadas de portugueses, das quais todo mundo conhece alguma, nossa visão sobre eles hoje é bem melhor do que há 100 anos.
Assim sendo, ficamos com a impressão de que, a despeito da visão estereotipada que possa haver em relação aos brasileiros, nosso país sempre despertou fascínio em Portugal. Uma espécie de fascínio que nasceu daquela rejeição que significou a independência.
Que esse fascínio tenha sido usado como legitimador do colonialismo português nos parece mesmo uma estratégia do salazarismo que, por outro lado, dificilmente poderia trabalhar sobre um sentimento inexistente.
No entanto, as supostas explicações para a fascinação, seja o desejo de reunião dos primeiros anos pós independência, ou a busca por riquezas na segunda metade do século XIX, ou ainda a estratégia salazarista, tudo isso deixou de existir a partir de 1975. Por quê, então, o fascínio permaneceu?
Fiz esta pergunta ao Dr. Claudino e ele me respondeu que justamente nesta época, os anos 70, a televisão de Portugal começou a transmitir, com enorme sucesso, as novelas brasileiras. E isso fez com que se criasse uma permanente presença do Brasil nos lares de Portugal.
Certamente podemos concordar com ele, tendo em vista que o mesmo efeito causa em nós os filmes e séries de TV dos EUA. E você, caro e raro leitor do Reino de Clio? Concorda com essa visão? A fascinação portuguesa por nosso país foi surpresa para você? Para nós foi!
Marcello Eduardo
Fontes e Imagens:

1https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_travessia_a%C3%A9rea_do_Atl%C3%A2ntico_Sul

2https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_do_Rio_de_Janeiro_(1825)

3https://pt.wikipedia.org/wiki/Carminda_Nogueira_de_Castro_Ferreira

4FERREIRA, Carminda Nogueira de Castro. O Brasil na Visão dos Portugueses in: Revista A Terceira Idade – Encontro Velhos Cidadãos – Ano XII – nº 21 – Fev/2001 - SESC/SP

5http://mafarricovermelho.blogspot.com.br/2011/02/luta-armada-pela-independencia-em.html

6https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3es_de_Bragan%C3%A7a

7http://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2008/08/07/ult1859u284.jhtm

8http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-caso-dos-dentistas-brasileiros-em-portugal

9http://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2008/08/07/ult1859u284.jhtm

http://abnoxio.com/esposas-do-minho-e-maes-de-braganca-chegou-finalmente-a-hora-de-mostrardes-o-que-valeis

http://www.conexaoportugal.com/2012/08/xenofobia-entre-brasileiros-e.html

http://uipi.com.br/noticias/esporte/2013/09/09/crise-afeta-clubes-portugueses-e-traz-mais-riscos-para-jogadores-brasileiros/

https://deomnire.files.wordpress.com/2014/06/fafa_211.jpg