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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

GRANDE SÉRIE - WINSTON CHURCHILL

WINSTON CHURCHILL  [1] [2]
Iniciamos, caros súditos do Reino de Clio, uma nova grande série. Desta feita vamos mergulhar no universo da vida do grande estadista inglês Sir Winston Churchill, que liderou a Gran Bretanha em seu momento mais difícil, que foi um dos líderes mundiais no combate ao nazi-fascismo que ameaçou dominar o mundo nos anos 40 do século XX.
Talvez seja possível dizer, se me permitem sair do campo da ciência por alguns instantes, que Churchill poderia ter sido a reencarnação do Rei Arthur, se é que este existiu. Pois, como preconizava a antiga profecia, ergueu-se sobre a nação, que vivia seu momento mais sombrio e de maior dificuldade, como um poderoso comandante guerreiro, acreditando, incentivando, confortando e liderando rumo a uma vitória que parecia quase impossível.
Este é o Churchill que encontramos em nossas leituras e que vamos colocar ao seu dispor nesta série. Nossa série é baseada na obra Winston Churchill – Uma Vida, de Martin Gilbert [3] (edição eletrônica – dois volumes), um trabalho ambicioso (até pretensioso eu diria) conforme as palavras do próprio autor não parecem deixar margem à dúvidas: “É meu objetivo dar nestas páginas um retrato completo e perfeito da vida de Churchill, tanto em seu aspecto pessoal quanto político.” (pg. 8)
Gilbert afirma ter usado como fontes de seu trabalho a correspondência de Churchill, documentos da esposa Clementine, arquivos governamentais, arquivos pessoais de amigos, colegas e opositores bem como “recordações pessoais da família de Churchill, de seus amigos e de seus contemporâneos.” (pg. 9), o que, por si só, já inviabiliza a pretensão de compor “um retrato completo e perfeito” do biografado, considerando-se a natureza incompleta e distorcida dos registros da memória humana.
A despeito disso, ainda que sempre desconfiando das ambições de qualquer autor que afirme poder reconstruir à perfeição o passado, vamos trazer um resumo dessa obra sobre a vida de um dos maiores estadistas da História. Vamos complementar o trabalho com informações básicas sobre pessoas e eventos a partir das notas de rodapé.


[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
[3]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
Palácio de Blemhein
Quanto ao nosso personagem, seu próprio nome, Churchill, dispensa maiores apresentações, de modo que vamos logo ao texto.
Winston Leonard Spencer-Churchill nasceu em 30 de novembro de 1874 no Palácio de Blenheim, em Woodstock, Oxfordshire, Reino Unido, filho de Jeanette Jerome e Randolph Churchill, este último um membro da aristocrática família do  Duque de Marlborough e ela uma estadunidense. (pg.12)
Randolph Churchill - Jeanette Jerome - O Pequeno Churchill 
Ele nasceu com pouco mais de sete meses de gestação devido a uma queda de sua mãe quando participava de uma caçada.
Pouco tempo antes do nascimento de nosso personagem, seu pai fora eleito para a Câmara dos Comuns pelo município de Woodstock. Quase três anos depois o avô, John Spencer-Churchill, 7° Duque de Marlborough, foi nomeado Vice-Rei da Irlanda e a família mudou-se para Dublin. (pg. 13)
A grande fome da Irlanda no final dos anos 1870, e os consequentes protestos, fizeram com que o jovem percebesse o medo que envolvia a presença de sua família aristocrática inglesa naquele país. (pg. 13)
Os pais de Churchill sempre foram muito ausentes e pouco participaram de sua educação. O menino praticamente foi criado por uma ama (espécie de babá), de nome Elizabeth Ann Everest, a quem ele amava profundamente. O pai, que chegou a ser nomeado Ministro na Índia, passava muito tempo em viagens e raramente visitava o filho, nem mesmo quando estava na mesma cidade. (pg. 20)
Elizabeth Ann Everest
Com relação à sua mãe, Churchill implorava-lhe atenção nas muitas cartas que escrevia. (pg. 17) Antes de completar sete anos ele foi enviado ao internato St. George, onde severíssimos castigos eram aplicados aos alunos:
A chicotada era dada com toda a força que o professor tinha”, escreveu mais tarde, “e bastavam duas ou três para que aparecessem gotas de sangue por toda a parte, mas os golpes se prolongavam por quinze ou vinte chicotadas, quando o traseiro do menino virava uma massa de sangue. (pg. 14)
Tal soma de abandono, desafeto e terror, em oposição a sua natureza indomável que se revelaria ao mundo na década de 1940, ergueram um adolescente rebelde, problemático e com dificuldade de aprendizagem nos primeiros anos da escola, o que se estendeu por vários anos e mais de uma escola, como em Brighton.
Quando começou a se destacar, Churchill apresentou boas notas em disciplinas humanas como História e Geografia, embora fosse mal nas letras. (pg. 16) Os estudos foram interrompidos em 1886 quando uma pneumonia quase o matou. Neste período recebeu a visita do pai duas vezes em dois meses distintos. (pg.21)
Ao longo de seus estudos, quando trocou Brighton por Harrow, Churchill foi tomando mais gosto e seu brilhantismo começou a se revelar, embora seu comportamento fosse quase sempre um dos piores de qualquer turma que tenha participado. (pg.27)

CHURCHILL – Parte II [1] [2]
Em Harrow, iniciou o treinamento militar de Churchill e seu interesse pelas disciplinas envolvidas nesse aprendizado cresceu bastante, principalmente em História. (pg.30) Portanto, quando chegou o momento de decidir ir ou não para universidade, o pai de Churchill fez questão de lhe enviar para o exército, mas não tendo em vista qualquer grande capacitação militar, como revela o próprio rapaz:
Durante anos, pensei que meu pai, com sua experiência e seu instinto, tinha discernido em mim qualidades de gênio militar, mas me disseram mais tarde que ele tinha apenas chegado à conclusão de que eu não era inteligente o bastante para a advocacia. (pg. 33)
Como suas notas em Matemática foram insuficientes, não pôde ir “para Woolwick, a academia para cadetes [...] nas academias reais de artilharia ou engenharia. Em vez disso, teria de se preparar para Sandhurst , [...] para futuros oficiais de infantaria e cavalaria.” (pg. 33)
Mas, apesar de ter se dedicado intensamente aos estudos preparatórios, ele foi reprovado em sua primeira tentativa de entrar em na Real Academia Militar de Sundhurst. (pg. 44) E após estudos ainda mais intensos, foi reprovado novamente (pg. 45)
Nos meses seguintes a esta segunda derrota, Churchill sofreu um grave acidente (uma queda de cerca de 10 metros de altura na qual quebrou a perna), do qual se recuperou, e passou a frequentar eventos sociais, sessões parlamentares e a conhecer políticos influentes. (pg. 47-49)
Em sua terceira tentativa ele finalmente conseguiu ser aprovado em Sundhurst. Não obteve pontos suficientes para entrar na infantaria, mas ficou na 4ª colocação para a cavalaria. (pg. 49) Contudo, por, influência de seu pai, Churchill recebeu licença especial para compor a infantaria. (pg. 51) Naquele momento, tudo o que Winston queria era entrar em Sundhurst e se era na infantaria, tudo bem. Algum tempo depois ele iria preferir a cavalaria, desejo interrompido pelo pai, provavelmente por conta do custo alto de se ter e manter um cavalo.

[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
No meio militar Churchill finalmente se decidiu pelo empenho e a disciplina, em especial depois que as cartas de seu pai, mentalmente afetado pela Sífilis, passaram a desancá-lo de maneira brutal. (pg. 50) Suas notas passaram a ser condizentes com esse esforço.
Em 24 de janeiro de 1895 Randolph Churchill morreu aos 45 anos com a mente e o corpo devastados pela Sífilis. Sem saber a doença que matara seu pai, o jovem Winston passou a acreditar que os homens de sua família estavam fadados a morrer muito cedo. (pg. 61-62)
A despeito disso, um mês após a morte do pai, Churchill entrou para a cavalaria tendo seu cavalo sido pago por sua tia, a Duquesa Lily. (pg. 63) Naquele mesmo ano, em 03 de julho, faleceu a ama de criação de Churchill, Srª. Elizabeth Ann Everest, possivelmente a pessoa a quem ele mais amava depois da família. 
Envolvendo-se diretamente na tentativa de cuidar dela, Winston alternou idas e vindas entre seu regimento e a casa da velha ama, providenciou médico e enfermeira mas tudo em vão. Após a morte, o rapaz cuidou dos preparativos para o funeral, comprou a coroa de flores que adornou o caixão, bem como a lápide que identificava o túmulo. “nunca mais voltarei a ter nenhum amigo como ela”, escreveu Churchill à sua desatenciosa mãe sobre a Srª. Everest. (pg. 65)
Com o tempo, a imobilidade da vida militar em tempo de paz começou a entediar Churchill que passou a se interessar pela política e iniciou estudos autodidatas neste sentido. Essa rotina foi interrompida quando viajou a Cuba para acompanhar a repressão espanhola a uma insurreição dos habitantes da ilha. (pg. 67-68)
Nesta viagem, Churchill visitou pela primeira vez os EUA, onde anotou a seguinte impressão:
Imagine o povo americano como uma grande juventude vigorosa, que calca aos seus pés todas as nossas suscetibilidades e comete todos os horrores possíveis de mau comportamento, para quem nem a idade nem a tradição inspiram qualquer reverência, mas que cumprem seus afazeres com uma ingenuidade bondosa que pode fazer inveja às nações mais antigas da terra. (pg. 70)
Uma vez em Cuba, Churchill foi recebido no Estado-Maior do General Valdez e foi parar praticamente na linha de frente dos combates. Em artigos escritos para o jornal inglês Daily Graphic Winston reconhece que não havia uma simples rebelião em Cuba, mas uma verdadeira guerra e que as melhores forças estavam ao lado dos cubanos, contra os dominadores espanhóis. (pg. 71-72)
Guerra em Cuba
De volta a Inglaterra Churchill foi acusado de atos homossexuais por um desafeto que fora expulso da academia. Winston levou o caso aos tribunais, a acusação foi retirada e o acusador pagou nada menos que 400 libras de indenização. (pg.73)
Sempre em busca de estar em locais de conflito, onde poderia adquirir a experiência e o reconhecimento que não teria permanecendo no quartel da Inglaterra, Churchill tentou, sem sucesso, viajar para a África do Sul e o Egito. Foi deslocado, junto com seu regimento, para a Índia, onde uma tediosa rotina o engoliu por um bom tempo. 
Churchill na Índia - Em pé, faixa branca no peito.
 Essa monotonia só era interrompida pelos artigos caluniosos da Revista Truth, que ainda repercutia as acusações pelas quais Churchill já fora indenizado e os passeios com Pamela Plowden, filha de um funcionário público sediado em Hydebarad. A amizade de ambos durou a vida inteira. (<pg. 77-78) 
Pamela Plowden



Ao mesmo tempo, crescia em Churchill, junto com o tédio da inação na Índia, o desejo pela ação política, uma candidatura por um dos municípios nos quais o pai tivera influência. (pg. 79) Sua nomeação ao posto de Major, porém, reascendeu um pouco seu entusiamo pelo exército. (pg. 82)
Naqueles primeiros anos de interesse pela política Churchill se auto denominava liberal e defendia:
...o alargamento do direito de voto a todos os homens adultos, educação universal, igualdade entre todas as religiões e um imposto de renda progressivo. [...] a não intervenção na Europa, [...] Defender as colônias com “uma Marinha poderosa” e criar um sistema de defesa imperial. A leste de Suez, contudo, “não pode haver governos democráticos. A Índia deve ser governada segundo os velhos princípios”. (pg. 82)
Contudo, ao mesmo tempo em que defendia “...uma educação igual para todos, sem que qualquer grupo seja beneficiado.” e com professores não religiosos, mas “instrutores seculares nomeados pelo governo.”, Churchill era contra o movimento sufragista pois “Uma vez que se conceda o voto a um grande número de mulheres, que constituem a maior parte da sociedade […], todo o poder passará para as mãos delas”. (pg. 84)



CHURCHILL – Parte III [1] [2]
Dividido entre a paixão política e suas atribuições no exército, Churchill procurava conciliar ambos os lados. Quando foi juntar-se às tropas deslocadas para sufocar uma rebelião tribal no noroeste da Índia, manobrou para tornar-se também correspondente de guerra para dois jornais. Seu intuito era ir se tornando conhecido e popular. (pg. 86-87) Durante o conflito Winston viu-se diversas vezes envolvido em combate real. Em cartas à mãe, a quem ele escrevia compulsivamente, falava sobre suas experiências em combate:
Eles matam e mutilam todos os que capturam, e nós não hesitamos em acabar com os inimigos feridos. Desde que estou aqui, tenho visto coisas que não são muito bonitas, mas, como pode imaginar, nunca sujo minhas mãos com trabalho sujo, embora reconheça a necessidade de algumas coisas. (pg. 82)
Nesta época, e depois, o interesse de sua mãe parece ter aumentado, pois ela passou a atuar fortemente junto à alta sociedade londrina para fazer seu filho conhecido. Divulgava seus artigos, procurava um bom editor para o livro que ele escrevera sobre os combates, enfim, estava empenhada em concretizar os planos de Churchill para uma futura vida pública. (pg. 95-96)







[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
Em 1898 ela arranjou uma reunião política em Bradford na qual Churchill discursou por quase uma hora e seus dotes de grande orador cativaram a audiência, como ele escreveu:
Fui ouvido com grande atenção durante 55 minutos”, [...] “ao fim dos quais houve gritos altos e generalizados de ‘Continue’. Cinco ou seis vezes aplaudiram-me por cerca de dois minutos sem interrupção”. Quando acabou, “muitas pessoas subiram para as cadeiras e houve realmente um grande entusiasmo” (pg. 102)
A discordância entre mãe e filho girava, nesta época, nos gastos excessivos da mãe, que Churchill criticava a ponto de recorrer a uma espécie de interdição parcial que protegia sua herança de um eventual segundo casamento da mãe. A despeito disso, Winston começava a ter bons resultados financeiros com sua produção literária. (pg. 97-100)
Foi bem remunerado, por exemplo, por suas cartas ao jornal Morning Post, que ele negociou enviar do Egito, para onde foi enviado após usar toda influência possível, inclusive oriundas do círculo mais próximo ao próprio Primeiro Ministro Salisbury.[3] O comandante das tropas no Egito, Lorde Kitchener,[4] não queria aceitar a presença de Churchill de forma nenhuma, mas acabou cedendo às inúmeras pressões após a morte de dois oficiais. (pg. 104)







[3]    Robert Arthur Talbot Gascoyne-Cecil, 3º Marquês de Salisbury (Hatfield, 3 de fevereiro de 1830 – Ibid., 22 de agosto de 1903), conhecido como Lord Robert Cecil até 1865 e como Visconde Cranborne entre 1865 e 1868, foi um político britânico, por três vezes Primeiro-ministro do Reino Unido, totalizando 13 anos como chefe de governo. Foi o primeiro primeiro-ministro do século XX no Reino Unido.

   https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Gascoyne-Cecil,_3.%C2%BA_Marqu%C3%AAs_de_Salisbury

[4]    O Marechal-de-campo Horatio Herbert Kitchener, 1º Conde Kitchener, (24 de junho de 1850 — 5 de junho de 1916) foi um militar graduado do Exército Britânico e administrador colonial que ganhou notoriedade por suas campanhas imperiais, incluindo ordens dadas de "terra arrasada" contra os bôeres e estabelecimento de campos de concentração na África do Sul durante a Segunda Guerra dos Bôeres. Ele mais tarde se envolveu no comando de operações militares no começo da Primeira Grande Guerra, na posição de Secretário de Estado para assuntos de guerra.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Horatio_Herbert_Kitchener
Primeiro Ministro Salisbury - Lorde Kitchener
Nesta campanha no Egito, parte da chamada Guerra Madista,[5] onde serviu muito bem como observador das tropas dos rebeldes dervixes, Churchill viu a morte muito de perto durante a Batalha de Omdurman,[6] quando a cavalaria ficou sob fogo cruzado e, embora  “Dos 310 oficiais e soldados que haviam participado da carga, um oficial e vinte soldados haviam morrido, e quatro oficiais e 55 soldados tinham ficado feridos.”, Winston não sofreu sequer um arranhão. (pg. 110)







[5]    A Guerra Madista foi uma Guerra Colonial travada no final do Século XIX. O confronto foi inicialmente travado entre sudaneses Madistas e egípcios e mais tarde com as forças britânicas. Também foi chamado o Guerra Anglo-Sudanesa ou Revolta do Sudão Madista. Os britânicos chamam a sua participação no conflito do Campanha do Sudão.
      
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Madista

[6]    Na Batalha de Omdurman (02/09/1898), um exército comandado pelo general britânico Sir Herbert Kitchener derrotou o exército de Abdullah al-Taashi, sucessor do autodenominado Mahdi, Muhammad Ahmad. Kitchener estava buscando vingança pela morte de 1885 do general Gordon. Foi uma demonstração da superioridade de um exército altamente disciplinado equipado com rifles modernos, metralhadoras e artilharia sobre uma força duas vezes maior, armada com armas mais antigas, e marcou o sucesso dos esforços britânicos para reconquistar o Sudão.
      https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Omdurman
Acima e abaixo, a Batalha de Omdurman

Apesar de tantas vezes passar incólume por situações como essa, Churchill não era religioso e, embora compreendesse a necessidade da religião para o homem comum, via a religião, especialmente a católica, como um narcótico:
Posso imaginar uma pobre paróquia, com operários que vivem suas vidas em feias fábricas caiadas, labutando dia após dia entre cenários e ambientes destituídos de qualquer elemento de beleza. Consigo simpatizar com eles e com sua ânsia por alguma coisa não infectada pela miséria geral, alguma coisa que gratifique seu amor pela mística, alguma coisa um pouco mais próxima do belo, e acho insensível roubar de suas vidas essa aspiração nobilitante, mesmo que ela encontre expressão no incenso queimado, no uso de batinas e em outras práticas supersticiosas.
As pessoas que pensam muito no outro mundo raramente prosperam neste mundo; os homens devem fazer uso da mente sem matar suas dúvidas por meio de prazeres sensuais; a fé supersticiosa das nações raramente promove sua indústria. O catolicismo — todas as religiões, se preferir, mas o catolicismo em particular — é um delicioso narcótico: pode atenuar nossas dores e afugentar nossas preocupações, mas reprime nosso crescimento e esgota nossa força. E uma vez que a melhoria da raça britânica é meu objetivo político nessa vida, não posso permitir demasiada indulgência, se a puder impedir sem atacar outro grande princípio, a liberdade. (<pg.116-117)
Após ser liberado da Índia e uma nova passagem pelo Egito, Churchill retornou à Inglaterra onde iniciou sua carreira política.





CHURCHILL – Parte XI [1] [2]
No decorrer de janeiro/1915, embora Churchill ainda defendesse priorizar seu plano de ação no Mar do Norte, já começava a ver com bons olhos uma ação em Galipoli. Entretanto foi o Primeiro Ministro Asquith quem decidiu que as prioridades seriam uma ação no Mar Adriático, para pressionar a Itália, bem como o ataque a Galipoli, estipulando, inclusive, a data: fevereiro. (pg. 322)
O bombardeio começou em 19/02/1915 e visava destruir as defesas costeiras do estreito para poder adentrar a frota sob menor resistência. A primeira tentativa de entrada ocorreu em 18/03.
Dois navios foram enviados, mas encontraram resistência da fortaleza de Kum Kale. Após mais bombardeios preparatórios, os turcos recuaram das defesas na entrada do canal.
Em 25/02 os navios aliados penetraram o estreito seguindo os navios caça-minas. A medida em que avançavam, atacavam as defesas turcas e enviavam equipes de demolição para destruir as fortificações. Mas os turcos mudaram de estratégia.
Se as fortificações eram fáceis alvos estáticos, eles passaram a utilizar artilharia móvel, puxada por cavalos. Esses canhões disparavam nos navios e logo se deslocavam, tornando quase impossível aos inimigos acertá-los da água.







[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
Sob fogo constante o trabalho dos navios caça-minas ficou bastante prejudicado e a situação piorou quando os navios de guerra começaram a bater nas minas não desarmadas e “...um dos pré-couraçados franceses bateu em uma mina e afundou em menos de dois minutos, matando praticamente toda a tripulação.[3].
Com vários outros navios danificados pela artilharia turca, a frota invasora foi obrigada a se retirar.
Em 18/03 nova incursão foi realizada. A frota entrou com 12 navios formados em três linhas de quatro embarcações, mais uma linha com quatro navios de apoio e uma quinta linha, com duas naus de reserva, seguindo os caça-minas.
Mas os turcos haviam implantado, secretamente, uma linha de minas paralela à costa, bem perto do curso dos navios invasores. Desconhecendo o perigo, estes adentraram o estreito e avançaram.
Porém, quando foram manobrar perto da linha minada, o inferno começou. Os navios começaram a bater nas minas e explodir. O primeiro afundou matando toda tripulação. Outros ficaram seriamente danificados e um deles ficou à deriva, tendo que ser abandonado. E os turcos ainda nem tinham usado todo seu potencial defensivo, localizado na parte mais estreita do canal, em Çanakkale.
Logo ficou claro que o estreito não seria tomado apenas pela marinha e que “Para limpar os Dardanelos seria necessário empregar forças terrestres que ocupariam as praias: a Península de Galipoli à esquerda e a costa da Turquia asiática à direita.[4].







[3]   SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial – História Completa. Trad. Roberto Cataldo. Editora Contexto, 2011. pg. 177.

[4]   PIMLOTT, John. A Primeira Guerra Mundial. Bogotá, Colômbia: Editora Norma. pg. 34. Tradução livre.
No dia 22/03 os ingleses tomaram a decisão de realizar o desembarque de uma grande quantidade de tropas terrestres e os locais escolhidos foram as praias do Cabo Helles, de Gaba Tepe e da Baia de Suvla. Mas os turcos previram os locais de desembarque e posicionaram tropas para defender a península a partir de posições mais elevadas em trincheiras e com artilharia.
Em 25/04/1915 os desembarques começaram e, nos próximos nove dias, os invasores sofreram uma média de mil mortes por dia. Em agosto, quando a retirada começou, as mortes já atingiam a marca de quarenta mil.
Foi um massacre, pois os turcos “...lhes fizeram frente com um mortífero fogo de artilharia e metralhadoras a partir de posições ocultas em terreno alto.[5].
A Batalha de Galipoli terminou oficialmente em 09/01/1916 e, dos cerca de 480 mil homens que participaram dos combates em mar e terra, nada menos que 220 mil foram feridos ou mortos.
Churchill não foi o responsável direto pelo planejamento e nem pela operação de Galipoli, mas levou a culpa que se espalhou a despeito da documentação com provas em contrário das acusações que recebia. (pg. 335-336)
Quando falou na Câmara dos Comuns sobre a operação, o Primeiro Ministro Asquith, apesar de munido destes documentos, não “defendeu Churchill da principal acusação que faziam a ele, de passar por cima de seus conselheiros navais.” e quando um novo Gabinete foi formado, Winston não foi incluído. Pediu para ser nomeado para outro posto mas não obteve sucesso. Também não foi demitido até que pediu demissão em caráter irrevogável. (pg. 355-356)
Não sabemos se serviu de consolo, mas Bonar Law,[6] que não era aliado comum de Churchill, declarou:
Ele tem os defeitos de suas qualidades, e, como suas qualidades são grandes, a sombra que lançam é também grande, mas afirmo deliberadamente, na minha opinião, que em poder intelectual e em força vital ele é um dos homens mais notáveis de nossa nação. (<pg. 357)
Vendo que sua atuação política como simples parlamentar durante a guerra seria inútil, e reconhecendo que precisaria se afastar para recuperar sua influência, Churchill foi juntar-se ao Regimento dos Hussardos nos campos de batalha, de onde escreveu:
Não parti porque desejava desligar-me da situação ou porque temia o peso desse golpe, mas porque estava e estou certo de que minha utilidade está exaurida por enquanto e de que apenas posso recuperá-la por meio de um definitivo e talvez prolongado afastamento. Se eu tivesse previsto a mais breve possibilidade de ser capaz de influenciar os acontecimentos, eu teria ficado. (pg. 358)
CONTINUA







[5]  PIMLOTT, John. A Primeira Guerra Mundial. Bogotá, Colômbia: Editora Norma. pg. 34. Tradução livre.. pg. 35.

[6]   Andrew Bonar Law (Kingston, 16 de setembro de 1858 — 30 de outubro de 1923) foi um político britânico, foi primeiro-ministro do Reino Unido pelo Partido Conservador. Foi, até hoje, o único primeiro-ministro britânico nascido fora da Grã-Bretanha. […] Abalado pela morte da esposa, não se deixa abater em sua vida pública e torna-se, em 1911, líder dos Conservadores, com a renúncia de Arthur Balfour. Durante a Primeira Guerra Mundial, causou grande embaraço a Bonar Law o fato de sua empresa ter vendido ferro para a Alemanha até 1914, para seu programa de armamamento.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Andrew_Bonar_Law



CHURCHILL – Parte XII [1] [2]
Uma vez na frente de batalha Churchill alternava, como todos, dias nas trincheiras intercalados por dias na retaguarda. No início se empolgou com as novidades e chegou a ser nomeado comandante de batalhão. Era comum que fosse recebido com desconfiança pelos veteranos da frente, mas depois de algum tempo seu carisma e sua coragem conquistavam a todos.
Enquanto comandante de batalhão, sua prioridade foi a segurança dos homens, garantir que não ficassem sob disciplina rígida demais e tivessem momentos de lazer quando na reserva.
Mas os acontecimentos em Londres não deixavam de atrair sua atenção e ele queria retornar ao centro das decisões tanto quanto se via cada vez mais um opositor da forma como o governo Asquith conduzia a guerra.
Neste período sua esposa, Clementine, teve papel fundamental em representá-lo junto a todos os contatos políticos. Mas ela tentava demovê-lo da ideia de retornar logo pois temia que seu pouco tempo na frente de batalha fosse visto como um mero oportunismo. (<<<pg. 359-390)







[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
Churchill chegou à França para combater em 18/11/1915 e retornou definitivamente a Londres em 07/05/1916. Quando partiu, sobre a despedida de seus comandados, um deles escreveu: “acredito que cada homem naquela sala sentiu sua partida como uma verdadeira perda pessoal”. (pg. 393)


Em seu regresso, como não possuísse qualquer cargo no governo, Churchill só podia fazer discursos na Câmara dos Comuns e lá ele passou a defender o recrutamento de irlandeses bem como o fim de operações inúteis, que só serviam para levar milhares de soldados à morte. 
Também trabalhou em sua defesa tentando publicar todos os documentos referentes ao planejamento e execução da Batalha de Galipoli, mas o Primeiro Ministro Asquith impediu a publicação pois eles apontavam sua própria culpa no episódio.
Sem poder se defender corretamente Winston não podia limpar seu nome e sem limpar seu nome não tinha condições políticas de ser nomeado para qualquer cargo importante. (<<pg. 393-396)
No início de dezembro de 1916 Asquith deixou o governo e em seu lugar assumiu, dois dias depois, Lloyd George,[1] amigo de Churchill. Entretanto, essa amizade não rendeu, de início, a nomeação de Winston para qualquer cargo, embora ele aceitasse qualquer nomeação, desde que pudesse ajudar no esforço de guerra.





[1]   David Lloyd George, 1.º Conde Lloyd-George de Dwyfor (Chorlton-upon-Medlock, 17/01/1863 — Llanystumdwy, 26/03/1945) foi um estadista britânico e o último membro do Partido Liberal a ser Primeiro-ministro do Reino Unido. Ele está enterrado na Abadia de Westminster.  Embora nascido em Manchester em 1863, David Lloyd George falava galês, e foi o único galês a ocupar o cargo de Primeiro Ministro no governo britânico. Substituiu Asquith como primeiro-ministro de um novo governo de coalizão em tempo de guerra entre os liberais e os conservadores. Este foi um movimento que dividiu seu Partido Liberal em duas facções; os que apoiavam Asquith e os que apoiavam o governo de coalizão. Apesar desta oposição, Lloyd George guiou o país politicamente pela guerra, e representou a Inglaterra na Conferência de Paz de Versalhes, não concordando com o Premier francês Georges Clemenceau e com o Presidente americano Woodrow Wilson. Lloyd George queria punir a Alemanha politicamente e economicamente pela devastação da Europa durante a guerra, mas não queria destruir totalmente o sistema econômico e político alemão do modo que Clemenceau e muitas outras pessoas da França queriam fazer.
https://pt.wikipedia.org/wiki/David_Lloyd_George
O Ex Asquith e o novo Primeiro Ministro Lloyd George
O Partido Liberal estava dividido entre os partidários do ex Primeiro-ministro Asquith e os apoiadores do novo governo.
O grupo de Asquith era frontalmente contra a nomeação de Churchill para qualquer cargo, assim como o Partido Conservador e a imprensa a esse ligada. Assim Winston foi sendo escanteado com a desculpa de que deveria esperar a publicação do relatório da Comissão de Dardanelos, que investigava a Batalha de Galipoli, a qual ele já apresentara um monte de documentos. (<pg. 400-403)
Quando o relatório da Comissão de Dardanelos finalmente saiu, não respondia a muitas das acusações que vinham sendo feitas contra Churchill de forma sistemática. Ele se defendeu perante o parlamento quando do debate sobre o relatório e como a verdade mostrasse que Asquith fora um entusiasta do ataque, seus correligionários passaram a apoiar a operação. A situação começava a mudar. (pg. 403-404)
Livre das acusações, Churchill passou a advogar, junto às autoridades e no Parlamento, que nenhuma ofensiva nova fosse posta em prática em 1917, aguardando a chegada das tropas estadunidenses cujo pais tinha entrado na guerra.
Ele queria evitar um novo banho de sangue como a Batalha do Somme, na qual dezenas de milhares haviam morrido sem qualquer avanço. Ao mesmo tempo começou a colaborar extra-oficialmente com o Primeiro Ministro Lloyd George que o enviou para visitar as tropas na linha de frente. 
A oposição à nomeação de Winston para qualquer cargo, contudo, crescia e agora contava com pessoas muito próximas a Lloyd George. Este, no entanto, contra tudo e contra todos, nomeou Churchill para Ministro das Munições. E silenciou os opositores próximos com a ameaça de demitir-se. (<<pg. 405-408)
Nem mesmo os funcionários do Ministério da Guerra estavam satisfeitos com o novo ministro, e pareciam dispostos a demonstrar isso quando este fosse apresentado em seu primeiro dia de trabalho. Mas, como observou um dos presentes, em seu discurso Churchill:


iniciou suas observações mencionando que “sabia que estava partindo ‘da estaca zero em questão de popularidade’. Continuou afoitamente, mencionando sua política para uma produção ainda mais rápida de munições. À medida que elaborava seus planos, a atmosfera foi mudando perceptivelmente. Aquilo não era um pedido de desculpas, e sim um desafio. Aqueles que tinham vindo para insultá-lo ficaram para aplaudi-lo”. (<pg. 409)
Poucos dias depois, Churchill já tinha negociado o encerramento de uma greve no setor de produção de munições e esboçado um projeto de Lei das Munições de Guerra, que beneficiava e protegia os trabalhadores deste setor, como parte importante do esforço de guerra.
Embora fosse criticado pelo acordo que costurou, os trabalhadores que deixaram a greve logo tinham subido a produção para o nível mais alto do país. (<pg. 410-411)
Sempre em movimento, Churchill reestruturou internamente seu ministério, criando equipes de trabalho na qual empresários do ramo da produção bélica também colaboravam, viajou à França para coordenar a produção, inclusive com os EUA, e atender melhor as necessidades da frente de combate, ouviu e abraçou as reivindicações das mulheres que trabalhavam nas fábricas, preparou a instalação de uma fábrica de munições na França, articulou a implantação de uma fábrica de tanques perto de Paris e iniciou a compra dos materiais de que precisariam as tropas americanas ao chegar na Europa. (pg. 410-415)


CHURCHILL – Parte XIII [1] [2]
Em oposição a esta atividade frenética os adversários de Churchill gastavam o tempo em atacá-lo. Os Conservadores e a imprensa atacavam publicamente. Os liberais e até mesmo membros do governo procuravam o Primeiro Ministro Lloyd George com reclamações e picuinhas.
Alguns reclamavam por Winston falar nas reuniões do Gabinete, das quais ele só participava quando eram tratados assuntos relativos ao seu Ministério das Munições. (<pg. 421)
Enquanto isso os alemães planejavam ganhar a guerra depois da saída da Rússia do conflito, por decisão do novo governo bolchevique, após a Revolução de 1917.
Os alemães planejaram vencer na primavera-verão de 1918 com uma grande ofensiva que visava romper as linhas defensivas dos aliados e tomar o rumo de Paris.
Essa ofensiva foi dividida em etapas que levaram a batalhas menores, fruto de partes específicas do plano geral, e que foram travadas ao longo da frente ocidental.
Entre 21/03 a 05/04/1918 o Plano Michael deslocou 700 mil soldados, “...6.600 canhões e quase 1.100 aeronaves, contra um setor de 113 km entre Arras e o rio Oise.[3]  para enfrentar um terço disso na Segunda Batalha do Somme.
Utilizando apenas um bombardeio prévio, e  aproveitando-se do nevoeiro, os alemães conseguiram expulsar os britânicos e avançar “...até 50km em seis dias...[4].
Diante da catástrofe iminente, os comandantes ingleses e franceses se reuniram em 26/03 e mudaram o comandante geral, nomeando o General Foch para o posto. E ele logo começou a agir.
Foch deslocou tropas francesas e da reserva para reforçar a linha. Os alemães, contudo, seguiam avançando e haviam conquistado, até 05/04, mais terreno, chegando a apenas 110km de Paris.
O custo desse avanço foi que “...eles sofreram 239 mil baixas, mas infligiram 248 mil (178 mil à Grã-Bretanha e seu império, 70 mil à França), enquanto faziam 90 mil prisioneiros...[5]. O butim veio na forma de nada menos que “1.300 canhões.”.
Na sequência do Plano Michael, os alemães colocaram em ação o Plano Georgette, que levou à Quarta Batalha de Ypres, entre 09 e 29/04/1918.
Também se valendo da concentração de efetivos muito superiores em um local específico, as forças do Kaiser conseguiram avançar 20km em cinco dias. A linha defensiva aliada não foi rompida, mas Passchendaele e Ypres foram retomadas.
Menos de um mês depois nova etapa do plano alemão começou. Entre 27/05 e 06/06/1918 foi executado o Plano Blücher-Yorck, com a Terceira Batalha do Aisne.
Desta vez não houve segredo e os alemães pulverizaram as defesas aliadas quando nada menos que “...3.700 canhões dispararam dois milhões de projéteis em apenas quatro horas e meia...[6]. O avanço foi de espetaculares 20km em um único dia, crescendo para 50km oito dias depois. Estavam novamente no Marne e, agora, a 90km de Paris.
A desesperada resposta do comando aliado foi colocar boa parte da capacidade de navegação aliada na tarefa de transportar tropas americanas para a Europa e no final de junho“...mais de 250.000 soldados estadonidenses […] haviam chegado...[7].
Cada vez mais divisões norte-americanas começavam a participar dos combates retomando áreas conquistadas pelos alemães.
Em 09/06 começou a quarta etapa do avanço alemão, o Plano Gneisenau que conseguiu avançar 10 km no primeiro dia. Mas desta vez os defensores franceses conseguiram bloquear o avanço e contra-atacar. A batalha decisiva estava prestes a começar.
A Segunda Batalha do Marne foi o ponto culminante da tentativa alemã de obter a vitória final na guerra. Quando o momento finalmente chegou, porém, as condições das forças opositoras eram bem diferentes das iniciais.
Do lado aliado, o General Foch deslocara tropas de várias frentes para reforçar a região do Marne, contando também com as divisões norte-americanas, que possuiam muito mais soldados que o usual na Europa.
Do lado alemão, a Gripe Espanhola dizimava as tropas, exaustas e mal alimentadas. A despeito disso o comandante alemão, Ludendorff, ordenou novo ataque.
Em 15/07 tropas alemãs avançaram em Champagne, enfrentando os franceses e os americanos. Também avançaram em Reims, onde atacaram tropas francesas.
Na Quarta Batalha de Champagne os aliados conseguiram barrar o avanço, mas em Reims os alemães conseguiram cruzar o Rio Marne em vários pontos utilizando barcos e conquistaram várias áreas, iniciando a construção de pontes.
Somente em 17/07 as forças francesas e americanas combinadas conseguiram deter o ataque. Em 18/07 os aliados contra-atacaram pesadamente.
O General Foch mobilizou “...quatro exércitos franceses [...] reforçados por oito grandes divisões da AEF (americanos – inserção nossa), quatro divisões britânicas e duas italianas.[8] e mais 350 tanques que avançaram sobre os alemães em Château-Thierry,  obrigando-os a recuar.
A retirada alemã começou em 20/07 e uma linha defensiva foi estabelecida entre Ourcq e Marfaux. Novo recuo, em 27/07 trouxe a frente até Fère-en-Tardenois. Em 06/08 o contra-ataque foi detido e os alemães se estabeleceram entre Soissons e Reims.
A batalha terminou em 08/08/1918 e as perdas dos aliados, embora muito superiores às alemãs, bloquearam o último grande avanço inimigo e salvaram Paris. Em números, “...os franceses tiveram mais baixas, com 433 mil, seguidos pelas forças britânicas e seu império, com 418 mil...[9].
A despeito disso, o lado aliado comemorou uma grande vitória, apesar de não decisiva. O General Foch foi promovido a Marechal da França.



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial – História Completa. Trad. Roberto Cataldo. Editora Contexto, 2011. pg. 522.

[4]   Ibidem.

[5]   Ibid. pg. 526.

[6]   SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial – História Completa. Trad. Roberto Cataldo. Editora Contexto, 2011. pg. 527.

[7]   PIMLOTT, John. A Primeira Guerra Mundial. Bogotá, Colômbia: Editora Norma. pg. 31. Tradução livre.

[8]   SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial – História Completa. Trad. Roberto Cataldo. Editora Contexto, 2011. pg. 529.



[9]   Ibid. pg. 530.


Do lado alemão o ânimo foi abatido e a derrota já era visível no horizonte. A partir do Marne, só haveria recuos para os Exércitos do Kaiser.
Neste período Churchill atuou vivamente na articulação com as forças aliadas onde passou a ser companhia constante do Primeiro Ministro Francês Clemenceau [10] bem como dos Marechais Foch [11] e Pétain.[12]
Quando em Londres ele passou a praticamente viver em seu gabinete no ministério, visando manter a produção de munições para suprir as necessidades das forças armadas, atuou contra as greves nas fábricas de armas por conta do constante envio de operários para lutar na frente de batalha, causando assim uma queda na produção.
A essa atividade ele intercalava seguidas viagens à França e visitas às frentes de combate. Também incentivava o uso de bombardeios aéreos sobre cidades alemãs como forma de forçar uma rendição.   (<<pg. 426-431)
CONTINUA



[10]   Georges Benjamin Clemenceau (Mouilleron-en-Pareds, 28/09/1841 — Paris, 24/11/1929) foi um estadista, jornalista e médico francês. Formado em medicina, ciência que cedo trocou pelas actividades políticas. Entre 1902 e 1920 Clemenceau foi eleito senador. Ocupou o cargo de primeiro-ministro da França nos períodos 1906-1909 e 1917-1920. Neste último, chefiou o país durante a Primeira Guerra Mundial e foi um dos principais autores da conferência de paz de Paris, que resultou no tratado de Versalhes, dentre outros.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Georges_Clemenceau

[11]   Ferdinand Jean Marie Foch (Tarbes, 02/10/1851 – Paris, 20/03/1929) foi um General e Acadêmico francês, Marechal da França, da Grã-Bretanha e da Polônia. Ele foi o Comandante-em-Chefe das forças aliadas no fronte Oeste durante a Primeira Guerra Mundial. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ferdinand_Foch

[12]   Henri Philippe Benoni Omer Joseph Pétain (Cauchy-à-la-Tour, 24/04/1856 – Île d'Yeu, 23/07/1951), geralmente apelidado de Marechal Pétain, foi um oficial general francês que alcançou a distinção de Marechal da França e posteriormente atuou como chefe de estado da França de Vichy de 1940 a 1944. Pétain, que tinha 84 anos em 1940, classifica-se como o mais velho chefe de estado da França. Hoje, ele é considerado por muitos como um colaborador nazista, o equivalente francês de seu contemporâneo Vidkun Quisling na Noruega. Ele às vezes era apelidado de Leão de Verdun. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Philippe_P%C3%A9tain



CHURCHILL – Parte XIV [13] [14]
No início de setembro/1918 já se ouviam comentários sobre uma iminente derrota alemã, otimismo que Churchill só veio compartilhar alguns dias depois. Nesta época ele trabalhava pelo emprego cada vez maior dos tanques como forma de proteger a infantaria e conseguir avanços maiores, bem como o uso do gás mostarda, mas suas previsões apontavam para o final da guerra apenas em 1919.[15]
Contudo, em 26/09/1918 um grande ataque com gás foi feito sobre as tropas alemãs. No dia seguinte a Bulgária se rendeu e em 15/10/1918 a Alemanha fez seu primeiro pedido de armistício, que foi recusado pelo Presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson [16] afirmando que apenas a rendição seria aceita.
Portanto “o bombardeio britânico de fábricas, depósitos de armamentos e aeródromos alemães intensificou-se.” (<pg. 435)
Em 30/10/1918 o Império Turco-Otomano se rendeu. O Império Austro-Húngaro se rendeu em 03/11/1918. 







[13]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[14]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[15]   O gás mostarda ou iperita, é um composto químico representado pela fórmula química C4H8Cl2S, em temperatura ambiente é um líquido oleoso, em estado puro, não tem cor e nem cheiro, em estado impuro possui uma cor amarelada e  um cheiro que lembra o de mostarda. Foi desenvolvido em 1822 por Cesar Mansuete Depretz e a partir de então, notou-se que na forma de gás, possui características extremamente perigosas para a saúde humana, pois provoca irritação nos olhos e feridas na pele e nas mucosas internas do sistema respiratório. As queimaduras provocadas pela exposição ao gás podem ser tão graves como as de terceiro grau e podem causar a morte em alguns dias. Em relação aos pulmões, o gás pode causar vesículas e até mesmo edema pulmonar.
      https://osabicao.com.br/o-que-e-o-gas-mostarda-2/.

[16]   Thomas Woodrow Wilson (Staunton, 28/12/1856 — Washington, D.C., 03/02/1924) foi um político e acadêmico americano que serviu como o 28º Presidente dos Estados Unidos de 1913 a 1921.  Em abril de 1917, quando a Alemanha iniciou uma guerra submarina irrestrita e o Telegrama Zimmermann foi enviado, Wilson pediu para o Congresso declarar guerra para "tornar o mundo seguro para a democracia". No começo de 1918, ele divulgou seus princípios para a paz chamados de Quatorze Pontos, e em 1919, após o armistício, ele viajou para Paris, e promoveu a criação da Liga das Nações, e participou da conclusão do Tratado de Versalhes. Após retornar da Europa, Wilson embarcou em uma turnê pelos Estados Unidos em 1919, fazendo campanha pelo tratado, sofrendo um derrame no caminho. Os republicanos no Senado se opunham ao tratado e Wilson se recusava a negociar com Henry Cabot Lodge, o que levou ao fracasso da ratificação do Tratado de Versalhes no Congresso.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Woodrow_Wilson
Sozinha, a Alemanha enviou o segundo pedido de armistício em 07/11/1918. Três dias depois o Gabinete se reuniu em Londres para discutir as negociações:
Às 5h da manhã seguinte, os alemães aceitaram as condições dos Aliados. O combate cessaria às 11h dessa manhã. Dentro de quinze dias, as tropas alemãs evacuariam a França, a Bélgica, Luxemburgo e a Alsácia-Lorena. Todas as tropas alemãs sairiam da Renânia. As tropas aliadas e americanas ocupariam a parte da Alemanha a oeste do Reno. (<pg. 437)
No dia 11/11/1918, em seu escritório, Churchill pensava no que fazer com as fábricas e milhares de operários da indústria bélica cuja produção agora tornara-se desnecessária. Ele descreveu assim o momento em que o Big-Ben deu a badalada das 11 horas, que marcavam o fim da guerra:


Olhei novamente para a avenida. Estava deserta. Das portas de um dos grandes hotéis ocupados por departamentos do governo surgiu a figura frágil de uma funcionária, que gesticulava enquanto soava outra badalada do Big Ben. E, então, de todos os lados, homens e mulheres saíram à rua. Torrentes de pessoas saíram dos edifícios. Todos se levantaram das mesas e deixaram de lado papel e caneta. Bandeiras apareciam como que por encanto. (<pg. 438)
Quatro dias depois, 15/11/1918, nascia o quarto filho de Churchill, uma menina de nome Marigold Frances. A despeito da gravidez, Clementine enfrentava as longas ausências do marido atuando sempre que possível em favor de sua carreira política e, “durante mais de três anos tinha trabalhado para organizar refeitórios para as operárias das fábricas de munição”. (pg. 435/440)
Terminada a guerra Lloyd George convocou eleições gerais para decidir de vez a disputa com os liberais apoiadores de Asquith. Foi uma vitória consagradora da coligação e o Primeiro Ministro se manteve no cargo com ampla maioria no Parlamento.
Churchill também foi reeleito e, neste período, era um dos poucos que defendia uma paz moderada com a Alemanha, para evitar que o bolchevismo se instalasse naquele país.
Também defendia altos impostos sobre os lucros de guerra das empresas, nacionalização das estradas de ferro, controle dos monopólios e a criação da Liga das Nações, para dirimir conflitos futuros e evitar novas guerras. (<<pg. 440-441)
Em 09/01/1919 Churchill foi nomeado para o novo Ministério da Guerra e da Aviação onde tinha a tarefa de atuar dentro do contexto da Guerra Civil na Rússia,[17] na qual a Inglaterra apoiava os anti-bolcheviques inclusive com tropas e armas. Winston, ao contrário, advogava que fosse feito um acordo com eles (ainda que à força) desde que levasse a eleições democráticas no país e o consequente (achava ele) fim do domínio bolchevista pois, pela força, ele não acreditava ser possível vencer.
Apesar disso, defendia o auxílio com armas, suprimentos e voluntários para que os próprios russos anti-bolcheviques pudessem vencer. O Primeiro-ministro Lloyd George, porém, aceitava enviar apoio desde que não fosse muito custoso. As nações estavam cansadas da guerra e não queriam prolongar os combates agora na Rússia, não queriam se envolver e nem davam a mesma importância que Churchill ao perigo do bolchevismo se espalhar. Acreditavam que esse perigo aumentaria se enviassem muitos soldados à Rússia e eles tivessem contato com a ideologia marxista. (<pg. 445-450)







[17]   A Guerra Civil Russa foi um conflito armado múltiplo que eclodiu no território do já dissolvido Império Russo, envolvendo o novo governo bolchevique, alçado ao poder desde a Revolução de Outubro de 1917, e seus opositores, incluindo militares do antigo exército tsarista, conservadores e liberais favoráveis à monarquia, além de grupos ligados à Igreja Ortodoxa Russa e a correntes socialistas minoritárias (mencheviques). A data exata do início do conflito é controversa entre os historiadores: alguns defendem que teria ocorrido logo após a Revolução de Outubro (em 7 de novembro de 1917, segundo o calendário gregoriano), enquanto que, para outros, teria sido na primavera de 1918. A guerra civil perdurou até 1923, embora a maior parte dos combates já tivesse cessado em 1921, com a vitória dos bolcheviques. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_Russa



Cabia a ele, ainda, a gigantesca tarefa de desmobilizar e trazer para casa os quase quatro milhões de soldados que haviam lutado na guerra e sobrevivido e que estavam muito insatisfeitos, começando a provocar distúrbios. Poucos dias depois ele já possuia um plano justo de desmobilizações no qual os soldados que tinham estado na guerra por mais tempo, bem como os feridos e os mais velhos, poderiam voltar para casa imediatamente. Ao mesmo tempo ele conseguiu manter um exército de um milhão de homens como força de ocupação na região do Rio Reno.  (pg. 441-445)



CHURCHILL – Parte XV [1] [2]
A guerra civil na Rússia terminou com a vitória dos bolcheviques. Churchill trabalhou intensamente para conseguir enviar ajuda aos anti-bolcheviques, mas foi sempre tolhido pela inabalável determinação do governo britânico em envolver-se o mínimo possível e, embora tenha havido momentos em que o exército branco chegou mesmo a se aproximar de Moscou, no final o Exército Vermelho empurrou os inimigos para fora da Rússia, vencendo a guerra.
Ao final dela a disposição mundial era de negociar com os bolchevistas vitoriosos, fato que Winston acabou apoiando. Ele teve pouco poder de decisão na questão da guerra, mas seu empenho em apoiar o lado que acabou derrotado fez com que a derrota fosse atribúida a ele dentro da Inglaterra, quase como uma nova Galipoli. (<pg. 445-460)
Já praticamente afastado das questões da Rússia, inclusive no que diz respeito a invasão da Polônia, Churchill passou a se preocupar com os atentados praticados na Irlanda por pessoas ligadas ao Sinn Fein [3] e a uma revolta na Mesopotâmia, atual Iraque.







[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   Sinn Féin é um dos movimentos políticos mais antigos da Irlanda. Fundado em 1905 por Arthur Griffith para unir os grupos informais nacionalistas de resistência pacífica ao domínio britânico, seu objetivo era restaurar a monarquia irlandesa, fora do poder desde o século XVIII. Em gaélico irlandês, a expressão significa "Nós mesmos". Em tempos passados os próprios integrantes afirmavam ser o braço político do Exército Republicano Irlandês, o IRA. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinn_F%C3%A9in
Ele defendia uma retirada britânica daquela área do Crescente Fértil, posição derrotada dentro do governo. Defendia, também, a repressão contra os terroristas irlandeses até o momento em que se dispusessem a conversar.
A despeito dessa posição conciliadora, tornou-se um dos alvos de futuros sequestros de autoridades planejados pelos terroristas. Aos poucos o ciclo de atentados e represálias tornou-se uma bola de neve. (<<pg. 461-467)
Vendo um inevitável aumento das despesas militares por conta de tantos conflitos, Churchill sugeriu a criação de um departamento para cuidar exclusivamente da questão do Oriente Médio. Nesta época, sempre com uma visão décadas antecipada, ele defendia a criação de um estado judeu nas margens do Rio Jordão:
Se, como é bastante possível que aconteça, for criado um Estado judaico nas margens do Jordão, sob a proteção da Coroa Britânica, que pode incluir três ou quatro milhões de judeus, terá ocorrido na história do mundo um evento benéfico sob todos os pontos de vista, que estará especialmente em harmonia com os mais autênticos interesses do império britânico. (<pg. 469)


Quando Lloyd George se convenceu da necessidade de economizar, chamou Churchill para ocupar o cargo de Ministro das Colônias, o que ele aceitou em 07/01/1921, assumindo o posto oficialmente em 13/02/1921. (pg. 468-469)
Lawrence da Arábia
Churchill trabalhou para reduzir os gastos da Inglaterra na administração do Iraque conferindo autonomia administrativa à região. Ele nomeou o general Thomas Edward Lawrence (o Lawrence da Arábia [4]) como seu conselheiro e, através dele, costurou um acordo com o Emir Faiçal e seu irmão Abdullah para que estes ocupassem os tronos do Iraque e da Transjordânia respectivamente e garantissem a existência de um futuro estado judeu e não atacassem os franceses na Síria.
Uma conferência realizada no Cairo (março/1921) resultou em acordo que foi sacramentado no documento intitulado Tratado Anglo-Iraquiano.[4] Mais uma vez demonstrando sua visão muito à frente de seu tempo, Winston propôs autonomia aos curdos que viviam no norte do Iraque. (<pg. 471-473)







[4]   Thomas Edward Lawrence (16/08/1888 - 19/05/1935), também conhecido como Lawrence da Arábia, e (aparentemente entre os seus aliados árabes) Aurens ou El Aurens, foi um arqueólogo, militar, agente secreto, diplomata e escritor britânico. Tornou-se famoso pelo seu papel como oficial britânico de ligação durante a Revolta Árabe de 1916-1918. A sua fama como herói militar foi largamente promovida pela reportagem da revolta feita pelo viajante e jornalista estadunidense Lowell Thomas, e ainda devido ao livro autobiográfico de Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria.  
https://pt.wikipedia.org/wiki/T._E._Lawrence

[5]   O Tratado Anglo-Iraquiano de 1922 foi um acordo assinado entre os governos do Reino Unido e do Iraque. O tratado foi planejado para permitir aos habitantes locais uma participação limitada na divisão do poder, dando aos britânicos o controle da política militar e exterior. Tinha a intenção de concluir um acordo feito na Conferência do Cairo para estabelecer um governo haxemita no Iraque.  O Tratado Anglo-Iraquiano foi assinado principalmente devido aos esforços revolucionários dos cidadãos do Iraque, uma coligação de ambos os árabes, xiitas e sunitas. Os maiores centros de insurreição durante a Grande Revolução Iraquiana de 1920 incluíram Moçul, Bagdá, Najafe e Carbala. O esforço de rebelião em Carbala foi inflamado por uma fatwa emitida pelo grande mujtahid Imame Xirazi. A fatwa fazia uma observação que era anti-islâmico ser governado pelos britânicos, que não praticavam o islamismo. A fatwa ordenou um Jihad contra a ocupação britânica. O tratado foi assinado em nome dos britânicos por Sir Percy Cox em 10 de outubro de 1922. Não foi ratificado pelo governo iraquiano até 1924, quando o Alto Comissário Britânico ameaçou impor sua autoridade para desfazer a constituição, elaborada pela assembleia constituinte do Iraque. Foi visto com desdém por muitos iraquianos, tanto xiitas quanto sunitas. De qualquer forma, foi o primeiro passo para um Iraque mais independente.   
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_Anglo-Iraquiano
Os Reis Faiçal e Abdullah
Mas, se Faiçal e Abdullah aceitavam a imigração dos judeus, a maioria dos árabes não estava disposta a permitir a existência de um enclave judeu na Palestina e fizeram Churchill saber disso, solicitando a suspensão da vinda de mais judeus para a região até a criação de um Estado Palestino. Ele, porém, não podia e nem queria atender tal desejo, defendia direitos iguais a ambos os povos.
Cada passo que se dê deverá ser para o benefício moral e material de todos os habitantes da Palestina, judeus e árabes por igual. Se isso for feito, a Palestina será feliz e próspera: a paz e a harmonia reinarão sempre e essa terra se converterá num paraíso, numa terra de leite e mel onde os sofredores de todas as raças e religiões encontrarão o descanso depois de suas provações. (<pg. 475)
Mas não foi possível conciliar os interesses judeus e árabes, de modo que a economia que Churchill pretendia, e que motivara todas aquelas negociações, não se concretizou. Motins árabes levaram à suspensão temporária da imigração. (pg. 476-477)




CHURCHILL – Parte XVI [1] [2]
Em 29/05/1921 Lady Randolph, mãe de Churchill, caiu de uma escada e teve que amputar a perna por conta de uma gangrena. Ela faleceu em 09/06/1921 aos 67 anos. Winston escreveu que sentia a perda, mas não de forma trágica, pois sua mãe tivera “...uma vida repleta. O vinho da vida corria em suas veias. Mágoas e tempestades eram conquistadas por sua natureza e, no fim das contas, foi uma vida cheia de luz.” (pg. 478)
Alguns dias depois do funeral, em discurso na Conferência Imperial, Churchill alertou para a necessidade de promover a reconciliação entre a França e a Alemanha, sob o risco de ocorrer “em pouco mais que uma geração, um recrudescer da luta que terminara havia tão pouco tempo”. (pg. 478)
Em 23/08/1921 Churchill sofreu a segunda perda pessoal naquele ano. Sua filha mais nova, Marigold, faleceu vítima de meningite. Winston escreveu de sua devastadora tristeza por “essa pequena vida se extinguir quando parecia vir a ser tão bela e tão feliz, exatamente quando tudo estava começando”. (pg. 479)
No restante daquele ano trágico, Churchill se dedicou a costurar um acordo sobre a autonomia da Irlanda que resultou no Tratado Anglo-Irlandês.[3] Depois foi nomeado para presidir a Comissão Ministerial de Orçamento de Defesa onde deveria promover cortes de despesas que atendessem aos críticos dos gastos sem prejudicar as forças armadas. (PG. 480-483)







[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   O Tratado Anglo-Irlandês foi um acordo firmado entre a Irlanda e o Reino Unido com o objetivo de dividir territórios no então Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Estabelecido em 1921, instituiu o Estado Livre Irlandês e separou a Irlanda do Norte da República Irlandesa.    
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_Anglo-Irland%C3%AAs
Na Irlanda os extremistas não aceitaram o acordo e a violência recomeçou, apesar da produtiva conversa (promovida por Churchill) em que os líderes irlandeses adversários Sir James Craig [1] e Michael Collins [2] terem chegado a entendimento, bem como da aprovação do Tratado e da Lei do Estado Livre Irlandês por parte do parlamento britânico. A facção republicana liderada por Eamon de Valera [3] iniciou ações violentas que acabaram em uma guerra civil que foi vencida pelo governo.[4] (pg. 484-491)







[1]   James Craig, 1º Visconde Craigavon, (08/01/1871 - 24/11/1940), foi um proeminente político unionista irlandês, líder do Partido Unionista do Ulster e primeiro Primeiro Ministro da Irlanda do Norte. Ele foi criado um baronete em 1918 e elevado ao Pariato em 1927.  
     https://en.wikipedia.org/wiki/James_Craig,_1st_Viscount_Craigavon

[2]   Michael John "Mick" Collins (Cloich na Coillte, 16/10/1890 — Béal na mBláth, 22/08/1922) foi um líder revolucionário irlandês, que agiu como Ministro das Finanças da República Irlandesa, Director dos Serviços Secretos do Exército Republicano Irlandês (IRA) e membro da delegação irlandesa que negociou o Tratado anglo-irlandês, tendo sido também Presidente do Governo Provisório da Irlanda do Sul e Comandante-Chefe do Exército Nacional. Foi uma das figuras centrais da luta irlandesa por independência no começo do século XX.  
     https://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Collins_(Irish_leader)

[3]   Éamon de Valera (nascido Edward George de Valera; Nova York, 14/10/1882 - Dublin, 29/08/1975) foi uma das figuras políticas dominantes do século XX, na Irlanda. Entre 1917 e 1973, ocupou vários cargos públicos proeminentes, servindo várias vezes como Chefe de Estado e governo. De Valera foi um dos líderes na luta contra o Reino Unido pela independência da Irlanda e um dos responsáveis pela criação da atual Constituição da Irlanda. Mais tarde, ele também liderou a facção anti-tratado do movimento republicano irlandês durante a violenta guerra civil de 1922–1923. 
     https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89amon_de_Valera

[4]   A Guerra Civil Irlandesa (28/06/1922 — 24/05/1923) foi um conflito que acompanhou a criação do Estado Livre Irlandês como uma entidade independente do Reino Unido dentro do Império Britânico. O conflito foi travado entre dois grupos opostos de nacionalistas irlandeses: as forças do novo governo do Estado Livre, apoiantes do Tratado anglo-irlandês, e os republicanos, para quem o Tratado representava uma traição da República da Irlanda. A guerra foi ganha pelas forças governistas. Segundo historiadores, a guerra civil na Irlanda pode ter levado mais vidas do que a guerra da independência contra a Grã-Bretanha, que a precedeu, e deixou a sociedade irlandesa dividida e ressentida nas décadas seguintes. Atualmente, os dois principais partidos políticos da República Irlandesa, a Fianna Fáil e a Fine Gael, são os descendentes diretos dos lados opostos desta guerra. 
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_Irlandesa
Sir James Craig - Michael Collins - Eamon de Valera
Quase ao mesmo tempo, Churchill passou a trabalhar por conferir os estatutos legais para garantir a permanência dos judeus na Palestina. Em 15/09/1922, pouco mais de um ano após a morte da pequena Maringold, Clementine deu a luz a Mary Spencer-Churchill, a última filha do casal. (pg. 489-491)
Durante este período, uma crise militar entre a Grécia e a Turquia fez com que os olhos de Churchill se voltassem novamente para o Estreito de Dardanelos. Winston era francamente favorável a fazer as pazes com a Turquia, mas Lloyd George apoiava entusiasticamente os gregos quando, no início do conflito eles avançavam na Ásia Menor.
Mas em Setembro a situação já tinha se invertido quando o avanço turco retomou a região. Churchill defendia que as tropas britânicas (sediadas em Chanak e em franca desvantagem) também se retirassem da Ásia Menor, concentrando-se para defesa de Galípoli, o que o Primeiro-Ministro não aceitava.  (<pg. 467-468 / 473 / 478 / 491-495)


Afinal a guerra não aconteceu pois um acordo foi costurado. A despeito disso os conservadores, liderados por Bonar Law, decidiram se retirar do governo de coalização, levando à queda de Lloyd George e de seu gabinete. Neste episódio, no qual perdeu o emprego, Churchill não pode atuar pois teve uma crise de apendicite e precisou ser operado declarando, depois, que “Num piscar de olhos, encontrei-me sem ministérios, sem lugar no Parlamento, sem partido e sem apêndice”. (pg. 493-495)
Lloyd George - Bonar Law
Em 23 de outubro de 1922 Bonar Law assumiu como Primeiro-Ministro e logo dissolveu o Parlamento, convocando eleições. Em Dundee (Escócia), o distrito pelo qual Churchill disputava a eleição, os Conservadores não lançaram candidato, mas a facção Liberal correligionária de Asquith o fez. Outro candidato liberal foi lançado (E.D. Morei), bem como um independente (Edwin Scrymgeour) ligado aos trabalhistas.
Recém operado, Winston não podia viajar para fazer campanha, de modo que a sempre atuante Clementine fazia discursos em seu lugar, mas a popularidade dos Churchill estava em queda. Clementine escreveu ao marido relatando a vilania da imprensa e a forma como ela o apresentava:
Acho que aquilo de que as pessoas mais gostam é a solução da questão irlandesa, de modo que trouxe isso à tona, bem como sua parte em ser dado governo próprio aos bôeres. A ideia contra você parece ser que é um “fazedor de guerra”, mas eu o exibo como um querubim pacificador, com asinhas de plumas ao redor de seu rosto rechonchudo. (<<pg. 496)
O resultado das urnas revelou a vitória de  Scrymgeour e Morei. Churchill ficou apenas na quarta colocação. Após a derrota ele recebeu várias manifestações de amigos lastimando a decisão do povo de Dundee. Lawrence da Arábia escreveu “Que merdas devem ser as pessoas de Dundee”.


A um outro amigo, porém, Churchill respondeu “Se visse o tipo de vida que as pessoas de Dundee levam, você admitiria que elas têm muitas razões.” (<pg. 498)
Um dos quadros pintados por Churchill
A vitória dos Conservadores foi arrasadora. Conseguiram 354 cadeiras no Parlamento, os trabalhistas ficaram com 142, os liberais de Lloyd George 62, os liberais de Asquith 54. Churchill estava bastante desanimado e viajou com a família para férias de seis meses na França, para descansar, pintar e escrever os volumes da obra A Crise Mundial. (pg. 498)
No segundo volume desta obra Churchill apresentou muitos documentos sobre sua verdadeira parcela de participação na campanha de Galípoli.


CONTINUA
[1]   GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2]   Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).





CHURCHILL – Parte XVII [1] [2]
Bonar Law foi diagnosticado com  um câncer terminal e se demitiu. Em seu lugar assumiu, como novo Primeiro-Ministro, Stanley Baldwin.[3] Em 1923 Baldwin convocou eleições e Churchill concorreu por Leicester onde foi novamente derrotado. Derrotado também foram os Conservadores, que perderam cerca de 100 cadeiras no Parlamento. Liberais e Trabalhistas se uniram e Baldwin perdeu seu posto de Primeiro-Ministro, sendo substituído pelo trabalhista Ramsay MacDonald. [4]. (pg. 500-501)







[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   Stanley Baldwin, (Bewdley, 03/08/1867 — Stourport-on-Severn, 14/12/1947) foi um político britânico, por três vezes primeiro-ministro do Reino Unido pelo Partido Conservador. Em maio de 1923, Bonar Law foi diagnosticado com um câncer terminal e se retirou da vida pública. O rei Jorge V nomeia, como primeiro-ministro a Baldwin, ao invés do aristocrático líder conservador George Nathaniel Curzon, membro da Câmara dos Lordes. A princípio, manteve seu cargo de Chanceler do Tesouro, até que nomeou para o cargo Neville Chamberlain. Os conservadores tinham uma clara maioria na Câmara dos Comuns e puderam governar durante cinco anos sem convocar novas eleições, mas Baldwin se sentia comprometido com a decisão de Bonar Law de não introduzir novas tarifas sem novas eleições. Com o país fazendo frente ao crescente desemprego, Baldwin decidiu convocar eleições em 1923, buscando um mandato que lhe permitiria introduzir tarifas protecionistas para enfrentar a situação. Nas eleições, mantiveram a maioria na Câmara dos Comuns, entretanto, o pacote de tarifas, principal assunto político, não logrou êxito. Permaneceu como primeiro-ministro até a sessão de abertura do novo parlamento em janeiro de 1924, momento no qual o governo foi derrotado numa moção de confiança. Imediatamente, demitiu-se.  
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Stanley_Baldwin

[4]   James Ramsay MacDonald (Lossiemouth, 12/10/1866 — Oceano Atlântico, 09/11/1937), foi um político britânico, um dos fundadores e dirigentes do Partido Trabalhista Independente e do Partido Trabalhista, foi o primeiro trabalhista a se tornar primeiro-ministro do Reino Unido, no reinado de Jorge V. A formação de um governo com a minoria deu-se pela coalizão com os Liberais, para a formação do primeiro gabinete. Com a frágil maioria, ainda em 1924, MacDonald convocou eleições gerais, sendo nesta ocasião derrotado pelos Conservadores. Durante a campanha, um jornal publicou a famosa “Carta de Zinoviev”. Embora mais tarde ter-se comprovado ser uma fraude, a carta arruinou as credenciais anti-comunistas de MacDonald. Seu principal ato durante este primeiro mandato foi o Wheatley Housing Act, que foi um programa de construção de edifícios com 500.000 apartamentos para o aluguel às famílias de trabalhadores (proletariado). Durante este primeiro mandato, em setembro, fez um discurso à Liga das Nações, em Genebra, em que o principal tema era o desarmamento geral da Europa, que foi recebido com grande aclamação.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Ramsay_MacDonald
Stanley Baldwin - Ramsay MacDonald
Depois desta derrota, Baldwin passou a se empenhar para que Churchill liderasse os liberais descontentes com a aliança com os trabalhistas e os conduzisse em torno de uma ação conjunta com os conservadores.  Clementine não via com bons olhos o retorno do marido ao meio conservador, mas também não se opunha totalmente: “Meu querido, uma pessoa não concorre se não tiver uma razoável certeza de que ganhará”, “Em todo o caso, não seja uma pechincha para os tories. Eles o trataram tão mal no passado que agora devem ser obrigados a pagar.”.
Em 19/03/1924 Churchill foi novamente derrotado. Ele estava receoso de retornar ao convívio conservador pois não queria abandonar as bandeiras liberais que defendera nos últimos 20 anos. Por outro lado não via outra legenda com mais chances de derrotar o socialismo do que os conservadores.
Ele encontrou um ponto em comum no combate ao empréstimo que o governo trabalhista concedeu à Rússia bolchevique e então pode discursar pregando uma união liberal-conservadora contra o trabalhismo e seu apoio à Rússia.
Como esse discurso tinha apelo popular, nas eleições de 29/10/1924 Winston foi eleito com larga margem de votos sobre seus concorrentes. Também foi uma grande vitória para os conservadores que conquistaram “419 lugares contra 151 para os trabalhistas e apenas 40 para o Partido Liberal”. Stanley Baldwin voltou ao posto de Primeiro-Ministro.


Embora não acreditasse que fosse chamado para ocupar cargo no governo, Churchill foi convocado para o Ministério das Finanças e aceitou, contra o desejo da esposa, que preferia a Saúde. (<<<<pg. 502-507)
Como Ministro das Finanças do Governo Conservador, Churchill logo começou a colocar em prática sua agenda liberal, “...arquitetando e financiando um alargamento substancial do sistema nacional de seguro”, redução de impostos para “...profissionais, pequenos comerciantes e homens de negócios — toda a espécie de gente que trabalha com o cérebro”, programas sociais (para os vulneráveis como viúvas, órfãos e velhos) e de construção de casas populares.
Na política externa ele conseguiu estabelecer um calendário de pagamento para a dívida da Inglaterra com os EUA, bem como para as dívidas de “França, da Bélgica, da Itália e do Japão, […] Brasil, Tchecoslováquia, Romênia e Sérvia” para com a Inglaterra.
Como débitos eram menores que créditos, ele garantiu uma entrada de recursos. Também conseguiu economizar dinheiro reduzindo o orçamento da Marinha. (<<pg. 508-512)
Sua intenção era garantir recursos para suas reformas sociais voltadas aos desamparados. Mas ele não fazia isso apenas movido pelo sentimento da caridade, embora ele fosse predominante. Aos nossos olhos é possível ver o planejamento de uma colcha de proteção social que servisse também como defesa contra a entrada de ideias socialistas no país:
Se posso usar uma metáfora militar, não são as fortes tropas a marchar que necessitam de um prêmio extraordinário ou de indulgência. É aos que ficaram para trás, os fracos, os feridos, os veteranos, as viúvas e os órfãos que devem dirigir-se as ambulâncias do Estado”. (<pg. 512)


Nosso objetivo é o apaziguamento do azedume entre as classes, a promoção de um espírito de cooperação, a estabilização de nossa vida nacional e a construção de nossos planos sociais e financeiros numa base de três ou quatro anos. (pg. 513)
Negociações do Tratado de Locarno
Churchill também trabalhou no sentido de não isolar a Alemanha, mas incluí-la no esquema de proteção das fronteiras dos países. Também sugeriu à Polônia cultivar a amizade com a Alemanha no intento de não ficar isolada entre esta e a Rússia se um acordo russo-alemão fosse costurado. Segundo Martin Gilbert, essas ideias resultaram no Tratado de Locarno.[5] (pg. 513)
Como se vê, sempre que possível, Churchill optava pela ação conciliadora, como se veria logo após, em mais uma greve dos mineiros. Winston conseguiu evitar demissões garantindo subsídios do governo às mineradoras. (pg. 513)
CONTINUA







[5]   Por meio dos sete Tratados de Locarno, negociados em Locarno, Suíça, em 16 de outubro de 1925, e assinados em Londres em 1 de dezembro de 1925, as potências da Europa Ocidental aliadas na Primeira Guerra Mundial buscaram a manutenção das fronteiras entre a Bélgica e a Alemanha, assim como aquelas da França com a Alemanha. Foram fiadores do Tratado o Reino Unido e a Itália, apesar de não terem tomado, efetivamente, nenhuma providência no sentido de honrarem sua promessa. Nenhum comprometimento militar ou planejamento de defesa para os territórios envolvidos foi feito. Nos termos do tratado principal (o "Pacto de Estabilidade" ou "Pacto Renano", entre Alemanha, Bélgica, França, Reino Unido e Itália), os signatários ofereciam garantias de que a Alemanha não seria reocupada pelos Aliados; em troca, a Alemanha aceitava manter desmilitarizada a área da Renânia - o que já era previsto no Tratado de Versalhes, mas não era realmente aceito pelo governo alemão, que encarava aquilo, até então, como mais uma das imposições cruéis que o pacto pós-Primeira Guerra tinha criado. O governo alemão, porém, recusou-se a negociar um "Locarno no Leste", deixando claro que estava descontente com a então configuração das fronteiras orientais.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratados_de_Locarno




CHURCHILL – Parte XVIII [1] [2]
Na sequência de missões espinhosas que caracterizaram sua carreira, Baldwin designou Churchill para mediar questões existentes entre o Estado Livre da Irlanda e o Ulster, notadamente os traçados da fronteira e o pagamento de uma dívida de quase 160 milhões de libras da Irlanda ao Ulster. Ele conseguiu evitar qualquer alteração fronteiriça e parcelar a dívida em 60 anos. Fez coisa semelhante com relação à dívida externa da Itália para com a Inglaterra, parcelando até 1988! (pg. 514-515)
Para o orçamento do ano seguinte, Churchill propôs aumentar as receitas criando impostos sobre os combustíveis, carros de luxo, artigos de luxo, caminhões pesados e as apostas. Neste período a questão dos mineiros voltou à tona com os empresários insistindo em redução de salários ou demissões.
Um aumento da carga de trabalho não foi aceita e logo todos os mineiros foram despedidos e as minas fechadas o que levou, em solidariedade, à chamada Greve Geral de 1926 [3] no país e a supressão da edição do jornal Daily Mail pelos impressores.
Essa censura à imprensa foi o pretexto para que o governo interrompesse as negociações e solicitasse os planos para criação de um jornal oficial, tarefa dada a Winston. O jornal foi denominado British Gazette [4] e foi distribuído com ajuda de voluntários.  







[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   A Greve Geral de 1926 no Reino Unido ocorreu entre os dias 3 a 12 de Maio, desencadeada pela secretaria-geral da Trades Union Congress, após negociações infrutíferas com o governo durante as discussões sobre os salários dos mineiros das minas de carvão.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Greve_geral_de_1926_no_Reino_Unido

[4]   O British Gazette (Gazeta Britânica) foi um jornal britânico de vida escassa, publicado pelo governo durante a greve geral de 1926. Um dos primeiros grupos de trabalhadores convocado pelo Congresso dos Sindicatos, quando a greve geral começou, em 3 de maio, foram os impressores e, conseqüentemente, os jornais apareceram apenas em breves fragmentos e de maneira truncada. O Governo decidiu substituí-los por uma publicação oficial que foi impressa no The Morning Post, uma publicação da direita tradicionalista que mais tarde foi fundida com o El Telégrafo Diario. Winston Churchill, então chanceler do Exchequer e ex-jornalista, tomou a iniciativa e orientou a linha editorial da British Gazette com o papel produzido em grande parte pela Organização para a Manutenção de Suprimentos. A Gazeta apareceu na manhã de 5 de maio. Com uma linha altamente patriótica e condenatória dos grevistas, tornando-se um meio eficaz de propaganda para o governo. O TUC produziu seu próprio jornal, o British Worker (com o subtítulo de Strike Official News Edition) para tentar contê-lo. A British Gazette vendeu com facilidade mais do que seu rival, com uma circulação que aumentou de 200.000 cópias para mais de 2.000.000. A Gazeta fez oito edições antes do desmoronamento da greve; a última edição tinha a manchete "General Strike Out".
https://es.wikipedia.org/wiki/British_Gazette
As forças armadas passaram a proteger desde as cargas de papel no Rio Tâmisa até o edifício onde funcionava a gráfica.
Churchill garantia que as edições dessem destaque aos aspectos da vida que seguiam normais e não mencionassem os setores e atividades prejudicadas pela greve. Um legítimo conservador, por assim dizer. E o jornal dos trabalhadores, o British Worker, nem de longe tinha tanto alcance.
Mas nas negociações ele tentou realmente conciliar os interesses de ambos os lados, porém as propostas de Winston não obtiveram apoio do governo conservador e ele abandonou as negociações (<<<<<pg. 517-521).
Com isso, a greve não terminou bem para os mineiros. A “Justiça” declarou a greve ilegal e impôs pesadas multas ao Congresso dos Sindicatos. E ainda:
Muitos trabalhadores que participaram da greve foram demitidos e colocados em uma lista negra por vários anos, e quem retomou nos últimos dias teve que aceitar salários mais baixos regulamentados por comissões oficiais. Em 1927, o governo promulgou a Trade Disputes and Trade Union Act, que proíbe apoio a greves, o financiamento ilegal dos partidos políticos incluídos com inscrições obrigatórias nas contribuições dos sindicatos e filiação de funcionários em sindicatos filiados à TUC e a multiplicação de piquetes. [5]







[5]   https://pt.wikipedia.org/wiki/Greve_geral_de_1926_no_Reino_Unido
Ao sair de férias, Churchill deu os últimos retoques no “terceiro volume de The World Crisis.” com “vívidas descrições das batalhas na Frente Ocidental.”  A obra foi descrita por Keynes como “um manifesto contra a guerra mais eficaz do que o trabalho de um pacifista”. (pg. 523)
Ao apresentar seu orçamento para 1927 ele se contentou em criar taxas apenas sobre “pneus de automóvel importados e vinhos e do aumento de impostos antigos sobre fósforos e tabaco.” Ele ainda planejava abolir tarifas locais, como forma de reduzir as despesas das empresas, para combater o desemprego, e criar taxas para compensar as cidades e os projetos do governo focando nos lucros e não nas propriedades, também tentava reduzir os gastos com a Marinha, no que sofria oposição de Neville Chamberlain. Apesar disso ele conseguiu aprovar 75% de suas propostas.
Neste período Churchill já era o político mais influente do país e até membros da realeza vinham assistir seus discursos, embora sua atuação tenha deixado de ser tão incisiva quanto no período liberal. (pg. 524-526) Neste momento era descrito, na comparação entre os dois períodos, assim:
Ninguém tinha menos capacidade para ‘aturar idiotas’, mas agora ele é amigável e acessível a todos, quer na Câmara quer nos lobbies, tornando-se muito popular no Parlamento — algo que nunca tinha sido antes da guerra e um grande acréscimo ao seu já formidável poder parlamentar. (<<pg. 524)
Em 1929 ocorreram eleições e o discurso de Churchill foi no sentido de evitar o retorno do Partido Trabalhista ao poder pois eles trariam “de volta os bolcheviques russos, que imediatamente cuidarão de planejar outra greve geral nas minas, nas fábricas e nas Forças Armadas”.


Poucas semanas depois foi lançado o quarto volume de sua série sobre a Grande Guerra, “The World Crisis : The Aftermath, fazendo um apelo eloquente a uma resolução das desigualdades e dos ressentimentos do pós-guerra.”




Como aquele período de campanha eleitoral coincidiu com a época de apresentar novo orçamento,  Winston lançou seu pacote de bondades na forma da extinção do imposto sobre o chá, em vigor desde o reinado de Elizabeth I. Mas isso não surtiu o efeito pretendido, Churchill foi eleito, mas os Conservadores perderam a chefia do governo. (<<pg. 531-533)
O resultado daquele pleito foi que os Trabalhistas subiram de 136 para 287 cadeiras e os Liberais de 19 para 59 cadeiras. Enquanto isso os Conservadores caíram de 260 para 152 vagas. [6]

CHURCHILL – Parte XX [1] [2]
A intenção do Presidente Hindenburg e dos demais políticos membros de seu governo ao apoiar Hitler para o cargo de Chanceler era cercá-lo, envolvê-lo em um governo de coalizão mantendo o controle. Mas pouco tempo depois, a imprensa de oposição já estava sob censura e milhares de adversários presos.
Enquanto isso a Inglaterra concluia ter dificuldades financeiras que impediam seu rearmamento. Churchill passou a alertar sistematicamente contra as intenções de Hitler e a denunciar a perseguição aos judeus que já se verificava na Alemanha. (<pg. 558-561)
Neste período a questão da autonomia da Índia voltou à tona. O governo insistia em seus planos e Churchill proclamava sua visão sobre a incapacidade de os indianos, divididos entre hindus e muçulmanos, de se auto governarem.
Uma comissão foi formada e ele convidado a participar, mas a maioria dos membros era indicada por já concordar com o governo, de modo que Winston se retirou. (<pg. 561-564)
Enquanto isso, na Alemanha, Hitler consolidava seu poder e a perseguição aos judeus. Churchill lembrou que, após a guerra, era consenso que a democracia na Alemanha era uma questão de segurança para os britânicos, e que essa democracia deixara de existir e que a inferioridade bélica agora era o único fator de alívio:
Não posso deixar de me regozijar com o fato de os alemães não terem os canhões pesados, os milhares de aviões militares e os tanques de vários tamanhos que têm pedido para que sua situação seja similar à de outros países. (<pg. 566)
Mas até relatórios secretos do próprio governo britânico denunciavam que a Alemanha já estava reconstruindo seu poder militar, começando pelos aviões. Mas o governo britânico insistiu no desarmamento mesmo após Hitler retirar a Alemanha da Conferência!
Churchill seguiu fazendo seus discursos de alerta e defendendo o imediato reforço da Força Aérea, considerando o que a Alemanha já vinha fazendo: “Temo o dia em que os meios de ameaça ao coração do império britânico estarão nas mãos dos atuais governantes da Alemanha” (<pg. 567-574)
Em 02/08/1934 o Presidente da Alemanha Hindenburg morreu. Poucas semanas antes ele havia ordenado a morte de seus opositores dentro do partido, dentre eles Ernst Röhm, comandante das SA, a maior das tropas nazistas naquele momento.




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
Ernst Röhm e Paul von Hindenburg
No dia seguinte Hitler acumulou seu cargo tornando-se simplesmente Führer e as Forças Armadas Alemãs “fizeram um juramento pessoal de obediência incondicional a Hitler como seu novo comandante-chefe.

Churchill seguiu denunciando a situação alemã e conclamando pelo imediato rearmamento britânico, mas era ridicularizado e sendo obrigado a ouvir pérolas de imbecilidade como essa de Clement Atlee sobre hitler: “Acho que podemos dizer que sua ditadura está gradualmente se desfazendo.” (<<pg. 576-577)
Negociadores do "Desarmamento"
Neste momento, como ficou claro anteriormente, a nosso ver três questões opunham Churchill ao governo: a questão do desarmamento das potências europeias, já abandonada pela Alemanha; o rearmamento britânico, que Winston via como uma eficaz arma para dissuadir Hitler de seus sonhos de expansão; e a autonomia da Índia, que Churchill via com maus olhos pelas divisões internas daquele país mas, também, como uma questão de salvaguarda futura em uma eventual guerra.
Ele não queria deixar sem controle um território que poderia abastecer o império. Logo, essas questões aparentemente distintas, estavam entrelaçadas na mente dele, e todas eram pensadas sempre sob o ponto de vista da defesa do país.
Em uma transmissão radiofônica ele fez mais um daqueles pronunciamentos que soam como profecias tal a precisão com que se cumpriram vários anos depois:
Receio que, se olharmos bem para o que se move contra a Grã-Bretanha, veremos que a única escolha possível é a escolha que nossos antepassados tiveram de enfrentar, a saber, submeter ou preparar o país. Ou submetemos o país à vontade de uma nação mais poderosa ou preparamos o povo para defender nossos direitos, nossas liberdades e sem dúvida nossas vidas. Se nos submetermos, nossa submissão deve ser oportuna. Se nos prepararmos, não o devemos fazer tarde demais. A submissão trará consigo pelo menos a entrega e a distribuição do império britânico e a aceitação pelo nosso povo do que quer que o futuro prepare para pequenos países como Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica e Suíça numa dominação teutônica da Europa. (<<<pg. 581-582)
Termina aqui o primeiro volume. Aguarde a continuidade da série.
 
CHURCHILL – Parte XXI [1] [2]
A partir daqui, caro leitor, já adentramos o segundo volume da obra Winston Churchill – Uma Vida, de Martin Gilbert [3] (edição eletrônica – dois volumes).
Em 28/11/1934 Churchill fez um grandioso discurso na Câmara dos Comuns sobre o rearmamento aeronáutico clandestino da Alemanha e a necessidade de a Inglaterra manter sua superioridade aérea sobre o eventual adversário. Segundo ele, não se podia fugir dos aviões somente deslocando fábricas, pois cidades não podiam ser mudadas de lugar. Para Winston era preciso começar a investir pesadamente logo, pois depois seria tarde:
Acelerar a preparação da defesa não é afirmar a iminência da guerra. Pelo contrário, se a guerra estivesse iminente, seria muito tarde para preparar a defesa. […] Não se pode fugir do perigo aéreo. É necessário encará-lo no local onde estamos. Não podemos bater em retirada. Não podemos deslocar Londres. Não podemos deslocar a vasta população que depende do estuário do Tâmisa. (<pg. 14-15)
Stanley Baldwin, Lorde Presidente do Conselho, porém, declarou que havia exagero nos números apresentados por Churchill e que era muito difícil saber o real alcance do rearmamento aéreo alemão. Mas se comprometeu a não permitir que o poderio britânico fosse superado: “O governo de Sua Majestade está determinado a não aceitar em condição nenhuma qualquer posição de inferioridade em relação ao poderio aéreo que possa surgir na Alemanha.” (pg. 15)
Neste período, o projeto de autonomia governativa para a Índia seguia tramitando e Churchill continuava denunciando que conceder à Índia “um autogoverno significava apenas liberdade para que uma parte dos indianos explorasse a outra”. Contudo, nem mesmo a oposição de príncipes indianos foi suficiente para demover o governo Ramsay MacDonald de seu intento. O projeto foi aprovado. (pg.  15-16)
Quando recebeu a visita de um dos maiores amigos de Gandhi,[4] Ghanshyam Das Birla, Churchill enviou mensagem ao líder indiano: “Diga ao sr. Gandhi que use os poderes que são oferecidos e que tenha sucesso. [...]Tenha sucesso, e, se tiver, tentarei fazer com que tenha muito mais.”(pg. 16-17)
Churchill, que liderava um grupo de cerca de 50 parlamentares de oposição, e que nas votações conseguia obter mais uma média de 30 votos de governistas, tinha a percepção de que o governo ia muito mal, desmoronando:
O valor do governo é muito baixo. É como um grande iceberg que entrou em águas quentes e cuja base se derrete rapidamente, deixando-o prestes a desmoronar. É de fato um mau governo, apesar de contar com alguns membros capazes. A razão é que não há cabeça e mentalidade de comando em todo o campo dos assuntos públicos. Não se pode dirigir o sistema de governo britânico sem um primeiro-ministro efetivo. O maldito Ramsey é quase um caso mental — e “estaria muito melhor num asilo”. Baldwin é astuto e paciente, mas é também espantosamente preguiçoso, estéril e ineficaz no que diz respeito aos assuntos públicos. Fazem besteira em praticamente qualquer lugar em que ponham o pé. (<pg. 16)
Em 1935 finalmente o governo britânico parece ter acordado para o problema do rearmamento alemão, reconhecendo as deficiências das suas forças armadas e anunciando o aumento dos investimentos. Churchill via a situação com extrema gravidade:
A situação germânica é cada vez mais sombria. O governo informou que o aumento de 10 milhões de libras para a Defesa se deve ao rearmamento alemão, deixando Hitler furioso. Ele se recusou a receber Simon, que o visitaria em breve em Berlim. […] Todas as nações temerosas finalmente começam a juntar-se. Anthony Eden vai a Moscou, e eu não discordo. Os russos, à semelhança dos franceses e de nós próprios, querem ser deixados em paz, e as nações que querem estar tranquilas e viver em paz devem juntar-se para garantir uma segurança mútua. A união faz a força. Só a união faz a força. Se houver outra Grande Guerra — dentro de dois ou três anos ou mesmo antes — será o fim do mundo. (<pg. 17)
Mas Hitler não parecia incomodado com tais reações. Em 16/03/1935 “anunciou a reintrodução do serviço militar obrigatório em toda a Alemanha.” declarando já possuir 500 mil soldados. Esse anúncio deixava antever uma possibilidade de um número muito maior, “ser duplicado ou mesmo triplicado sem dificuldade.”.  (pg. 17)
CONTINUA

[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[4]    Mohandas Karamchand Gandhi (Porbandar, 02/10/1869 — Nova Déli, 30/01/1948), mais conhecido como Mahatma Gandhi (do sânscrito "Mahatma", "A Grande Alma") foi o idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha (princípio da não agressão, forma não violenta de protesto) como um meio de revolução.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Mahatma_Gandhi


CHURCHILL – Parte XXII [1] [2]
A despeito das manobras de Hitler, ainda havia membros do Parlamento que criticavam os alertas de Churchill, taxando-os de “discurso alarmista do honorável membro por Epping, que se esforça por fazer nossa pele se arrepiar”. Mas o próprio Hitler disse, a dois emissários do governo britânico, Anthony Eden e a Sir John Simon, que “tinha atingido paridade com a Grã-Bretanha no que dizia respeito à capacidade aérea”. (pg. 17-18)
Mas Hitler estava sendo modesto ou mentindo descaradamente, pois relatórios secretos dos quais Churchill teve conhecimento através de Ralph Wigram, chefe do Departamento Central das Relações Exteriores, davam conta de que a Alemanha já possuia “oitocentos aviões contra 453 aviões britânicos.” (pg. 19)
As demais nações, contudo, pareciam menos inertes que o Reino Unido. França e Rússia assinaram, em 02/05/1935, um “pacto de cooperação mútua”. Esse acúmulo de notícias que davam plena razão a Churchill e expunham ao ridículo seus detratores, e o próprio governo, já eram do conhecimento do público. O jornal Daily Express chegou a publicar pedido de desculpas a Winston “por ter “ignorado” seus avisos sobre o poderio aéreo alemão, desculpa essa que foi lida por seus 1.857.939 leitores.”. Baldwin reconheceu estar errado mas ainda se recusava a aprofundar o debate sobre o assunto. (pg. 19)
Por motivo de doença Ramsay MacDonald deixou o cargo de Primeiro-Ministro em 07/06/1935 e Stanley Baldwin assumiu o cargo. Churchill não foi convidado para nenhum cargo e seguiu com seus alertas na Câmara dos Comuns. Do governo não vieram convites, mas ataques. O Ministro das Relações Exteriores, Samuel Hoare, disse daqueles que “parecem ter um prazer mórbido em alarmar e em divagar numa psicologia de medo e até de brutalidade”. (pg. 20)
Baldwin - Ramsey
Incapaz de se contrapor por tanto tempo aos fatos e, a nosso ver, talvez na esperança de calar críticas, Baldwin convidou Churchill para compor a Subcomissão de Investigação de Defesa Aérea. Algumas semanas depois Mussolini ameaçou de invasão a Abissínia. Winston era favorável a ação da Liga das Nações contra a Itália, bem como sanções econômicas e demonstrações de força da Marinha Britânica no Mar Mediterrâneo. Mas nada foi efetivamente feito e o Duce invadiu a Abissínia em 04/10/1935.[3] (pg. 20-21)
Invasão italiana da Abissínia
Churchill seguiu fazendo sua pregação para que o governo preparasse o país de forma a que não permanecesse belicamente inferior a Alemanha e denunciando o rearmamento alemão. E acrescentou às suas denúncias a disseminação de campos de concentração no país de Hitler e o tratamento desumano aos judeus:
...lado a lado com campos de treinamento dos novos exércitos e aeródromos maiores, os campos de concentração enxameiam o solo alemão. Nestes, milhares de alemães são coagidos e submetidos como gado ao irresistível poder do Estado totalitário.
Nenhum serviço, nenhum patriotismo e nenhuma ferida sofrida na guerra produziu imunidade em pessoas cujo único crime foi terem sido postas neste mundo por seus pais.” Mesmo as “pobres crianças judias” são perseguidas nas escolas públicas. O mundo ainda tem esperança de que o pior já tenha passado “e de que ainda viveremos o suficiente para vermos em Hitler um velhinho simpático (<pg. 21-22)
Nas eleições gerais de 14/11/1935 Churchill foi reeleito. Mas aqui descobrimos um provável erro na obra de Martin Gilbert, pois ele informa que, depois da invasão italiana na Abissínia,  “As eleições gerais deram uma vitória esmagadora aos conservadores, que conseguiram 432 lugares contra 151 para os trabalhistas e apenas 21 lugares para os liberais”. No entanto, o Election Statistics: UK 1918-2007 da Library House of Commons,[4] de autoria de Edmund Tetteh, informa 429 cadeiras para os Conservadores e 154 para os Trabalhistas.
Stanley Baldwin permaneceu como Primeiro-Ministro e fez o que Hitler mais desejava que ele fizesse: não nomeou Churchill para nenhum cargo no governo embora já soubesse que Hitler apresentaria demandas territoriais em um futuro próximo. Winston, então, viajou em férias para Maiorca e Marrocos. (pg. 22-23)
CONTINUA
 
CHURCHILL – Parte XXIII [1] [2]
Quando as previsões de Churchill começaram a se mostrar verídicas, o governo britânico começou a pensar que ele tinha fontes secretas especiais e chegou a lhe indagar sobre isso através de Maurice Hankey.[3] Winston respondeu que suas afirmações eram “fruto do meu julgamento”.
Quando o alerta veio de dentro do próprio governo e começou a encontrar eco no parlamento e na imprensa, o Gabinete aceitou, por fim, aumentar o pedido de aviões para 1939(!) e pensar na nomeação de um Ministro da Defesa que Sir Warren Fisher,[4] um dos funcionários mais graduados, definiu que deveria “...ser um homem desinteressado. Sem um machado para destruir e sem o desejo de conseguir um lugar para si.”.
Austen - Fisher - Halifax
Em outras palavras, não poderia ser Churchill. Fisher queria Lorde Halifax[5] no posto. No entanto, Austen Chamberlain,[6] setores da imprensa e do Parlamento acreditavam que só poderia ser Churchill. Enquanto eles discutiam, Hitler remilitarizou a Renânia em 07/03/1936.[7] (<<pg.24-26)  
Inativo quanto aos movimentos de Hitler na Renânia, o governo finalmente criou o Ministério da Coordenação da Defesa, mas o nomeado para o posto foi “o procurador-geral Sir Thomas Inskip”, nomeação bem ao gosto de Sir Fisher e classificada como “a coisa mais cínica desde que Calígula nomeou seu cavalo como cônsul”.  
Remilitarização da Renânia
Enquanto isso Hitler colocou em prática sua tática de negociar após ter colocado o elefante na sala, ou seja, depois de invadir a Renânia, se ofereceu para negociar, ao que o governo de Baldwin prontamente respondeu de forma bastante encantada: “nossa atitude baseou-se no desejo do governo de utilizar as ofertas de Herr Hitler para conseguir um acordo permanente”.
Por seu turno, Churchill “O Profeta” começou a denunciar que após retomar a Renânia, Hitler poderia atacar “a França pela Bélgica e pela Holanda” e denunciou também o risco em que se encontrariam a “Polônia, a Tchecoslováquia, a Iugoslávia, a Romênia, a Áustria e os países bálticos”. (<<pg. 27-28)
Apesar da inação do governo, crescia na sociedade o apoio às ideias de Churchill, em especial entre dissidentes das posições dos partidos políticos. E ele seguia sua pregação quase profética:
Se prevejo corretamente o futuro, o governo de Hitler confrontará a Europa com uma série de acontecimentos ultrajantes e um poderio militar crescente. São acontecimentos que mostrarão os perigos que nos ameaçam, mas para alguns a lição virá tarde demais. (<pg. 28-29)
Mas a morosidade, ou inação mesmo, do governo começava a preocupar os próprios membros do governo que passaram a se aconselhar com quem? Sim, ele mesmo, Winston Churchill. E ele lhes escrevia com conselhos precisos. Mas mantinha a pressão sobre o governo através de artigos publicados quinzenalmente no jornal Evening Standard “que só em Londres tinha uma circulação de mais de 3 milhões de exemplares.” (pg. 31-34)
Basicamente Churchill, como falou na reunião de 28/07/1936 em que “Baldwin concordou em receber um grupo de conservadores seniores, incluindo Churchill, Austen Chamberlain e Amery, para discutir secretamente a política de defesa.”, advogava pela preparação de parte da indústria civil nacional em indústria de guerra, com as fábricas prontas a serem transformadas para produzir armamentos. Pregava, ainda, a necessidade das seguintes providências:
a necessidade de acelerar e melhorar o treinamento de pilotos, de tomar mais providências para a defesa de Londres e outras cidades, de proteger contra ataques aéreos germânicos os depósitos das reservas britânicas de petróleo e de prosseguir mais vigorosamente do que até então o desenvolvimento do sistema de radar, essa “poderosa descoberta”. (<pg. 32)
Mas o Primeiro-Ministro Stanley Baldwin, com apoio de Neville Chamberlain, eram contra essas medidas pois “perturbar a produção em tempo de paz poderá prejudicar o comércio normal do país, talvez durante muitos anos, e prejudicá-lo seriamente numa altura em que temos de ter todo o crédito do país”. 
Baldwin acreditava no livro de Hitler, Mein Kampf, no qual o ditador alemão falava de expansão territorial para o Leste, não ao Oeste e declarou: “Não conduzirei este país para a guerra pela Liga das Nações ou por alguém ou por qualquer coisa. [...] Se houver uma guerra na Europa, quero ver os bolcheviques e os nazistas a fazê-la.
Mas já naquele momento, até relatórios do Ministério da Guerra já concordavam com Churchill:
o sr. Churchill acredita que a enorme preparação para a guerra por parte da Alemanha permitirá que desencadeiem uma primeira ofensiva numa escala equivalente às ações de 1918, que isso pode evitar o beco sem saída da guerra de trincheiras e que, por isso, teremos muito pouco tempo para organizar a nação, como sucedeu em 1915. Apesar de ninguém saber se essa profecia vai ou não se concretizar, o perigo de que possa concretizar-se é suficientemente grande para levá-la seriamente em conta. (<<<pg. 33-34)
CONTINUA





[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    Maurice Pascal Alers Hankey, 1º Barão Hankey (01/04/1877 - 26/01/1963) foi um funcionário público britânico que ganhou destaque como o primeiro Secretário de Gabinete e que mais tarde fez a rara transição do serviço civil ao gabinete ministerial. Ele é mais conhecido como o assessor altamente eficiente do primeiro-ministro David Lloyd George e do Gabinete de Guerra que dirigiu a Grã-Bretanha na Primeira Guerra Mundial.
      https://en.wikipedia.org/wiki/Maurice_Hankey,_1st_Baron_Hankey

[4]    Sir Norman Fenwick Warren Fisher KCB (22 de setembro de 1879 - 1948) foi um funcionário público britânico. Fisher deu ao Serviço Civil uma coesão que antes não tinha e fez mais para reformá-lo do que qualquer homem nos cinquenta anos anteriores. Ele aumentou a importância do Tesouro. Ele avançou os interesses das mulheres no serviço civil e em um ponto descreveu-se como uma feminista. No entanto, ele também era uma figura controversa: seu colega Maurice Hankey , com quem ele às vezes cooperava e às vezes competia em questões de política de defesa imperial, certa vez o descreveu como "bastante louco", e foi criticado por suas tentativas de controlar Nomeações de altos funcionários públicos em Whitehall.
      https://en.wikipedia.org/wiki/Warren_Fisher

[5]    Edward Frederick Lindley Wood, 1º Conde de Halifax, (16/04/1881 - 23/12/1959), denominado Lord Irwin de 1925 até 1934 e Visconde Halifax de 1934 até 1944, foi um dos mais altos políticos conservadores britânicos dos anos 1930. Ele ocupou vários cargos ministeriais durante esse período, mais notavelmente os do vice-rei da Índia de 1925 a 1931 e do secretário de Relações Exteriores entre 1938 e 1940. Ele foi um dos arquitetos da política de apaziguamento de Adolf Hitler em 1936-38, trabalhando em estreita colaboração com o primeiro-ministro Neville Chamberlain . No entanto, após a ocupação alemã da Tchecoslováquia em março de 1939, ele foi um dos que pressionaram por uma nova política de tentar impedir mais agressões alemãs, prometendo ir à guerra para defender a Polônia.
      https://en.wikipedia.org/wiki/Edward_Wood,_1st_Earl_of_Halifax

[6]    Joseph Austen Chamberlain (Birmingham, 16/10/1863 — Londres, 17/03/1937) foi um político britânico. Foi agraciado com a ordem da jarreteira e o Nobel da Paz em 1925, pelos Tratados de Locarno. Irmão de Neville Chamberlain. O filho mais velho do estadista Joseph Chamberlain. 
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Austen_Chamberlain

[7]    A Crise da Renânia (ou também remilitarização Renânia ou ocupação da Renânia) foi uma crise diplomática provocada pela remilitarização dessa região da Alemanha, por ordem de Adolf Hitler em 7 de março de 1936. A Renânia é composta de parte da Alemanha principalmente a oeste do Rio Reno, mas também partes na margem direita. Em 1919 com o Tratado de Versalhes, a região foi desmilitarizada. Durante o governo de Hitler, o tratado foi violado e o exército alemão voltou à região. Não houve reação imediata por parte da França e do Reino Unido. Em resposta à ratificação do apoio franco-soviético, em 27 de fevereiro de 1936, Hitler reocupa a zona desmilitarizada da Renânia para restaurar a soberania do III Reich na fronteira ocidental da Alemanha, continuando a violar as disposições do Tratado de Versalhes. O destacamento militar foi escasso, médio e até mesmo ridículo, mas o fato consistia numa violação do Tratado de Versalhes e do mais recente Tratados de Locarno. A área da Renânia, a leste do Rio Reno, era de importância estratégica diante de qualquer possível invasão da França pela Alemanha (e vice-versa) ao constituir uma barreira natural do rio dentro do território da Alemanha.[2] A região foi ocupada pelas tropas aliadas no final da Primeira Guerra Mundial, que se retiraram em 1930, cinco anos antes do acordo, em uma demonstração de reconciliação para a República de Weimar, não sem deixar um ressentimento na população local que saudou com entusiasmo a remilitarização de Hitler.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Remilitariza%C3%A7%C3%A3o_da_Ren%C3%A2nia
  
 
CHURCHILL – Parte XXIV [1] [2]
Churchill era membro do Conselho Antinazista, que contava com membros do Partido Trabalhista e do movimento sindical, além de outras personalidades. Ele iniciou um movimento para defender a democracia que “pretendia juntar numa única base política todas as organizações que favorecessem a segurança coletiva e o rearmamento.
O governo seguia em seu ritmo moroso, mas fontes descontentes (algumas dentro do próprio governo), com essa morosidade continuavam a se dirigir a Winston com informações sobre as deficiências nas Forças Armadas. (<pg. 34-35)
Em 12/11/1936 Churchill discursou no Parlamento propondo “uma emenda apontando que as defesas britânicas, em especial aéreas, já não eram adequadas à paz, à segurança e à liberdade do povo britânico.
Ele criticou a inação do governo entre 1933-35 justificada por não terem ocorrido eleições gerais e que, portanto, não haveria um mandato dado pelo povo neste sentido.
Para ele a defesa nacional era um dever permanente do governo, a razão própria de sua existência e que não era por falta de apoio no Parlamento pois “O primeiro-ministro comanda enormes maiorias em ambas as Câmaras, prontas a votar a favor de quaisquer medidas de defesa.
E essa crítica abrangeu também o próprio Parlamento: “Estou chocado com o fracasso da Câmara dos Comuns em reagir efetivamente a esses perigos. […] A menos que a Câmara resolva procurar a verdade por si, cometerá um ato de abdicação do dever sem paralelo em sua longa história.
A resposta de Baldwin foi no sentido de que preocupara-se, no momento, com as repercussões eleitorais de propor o rearmamento em meio a uma onda pacifista:
Recordarão que havia o mais forte sentimento pacifista em todo o país desde a Guerra. […] Minha posição como líder de um grande partido não era propriamente confortável. […] Não consigo imaginar nada que teria tornado a perda das eleições, no meu ponto de vista, mais certa.”(<<<<<pg. 36-37)
Na sequência descobrimos o que pode ser um segundo erro no texto de Martin Gilbert. Seria um erro de sequência. Vínhamos abordando os eventos acontecidos no ano de 1936, passando pela remilitarização da Renânia, ocorrida em Março e o discurso de Churchill em 12 de Novembro[3] quando Gilbert retrocede quase um ano para descrever os eventos em torno da morte do Rei George V e a coroação de seu filho, o Rei Eduardo VIII.
Não há qualquer razão para esse lapso temporal, mas como estamos seguindo a sequência do autor, manteremos os eventos na ordem em que são apresentados. Saiba o leitor, contudo, que a morte do Rei George V ocorreu quase dois meses antes da remilitarização da Renânia por Hitler.
O Rei George V faleceu em 20/01/1936 e seu filho mais velho assumiu o trono com o nome de Edward VIII.[4] Seria mais um reinado comum se o rei não estivesse apaixonado por uma americana desquitada de nome Wallis,[5] vinda de dois casamentos fracassados anteriores e provavelmente estéril (por conta de um suposto aborto mal feito de um filho do Conde Galeazzo Ciano, futuro genro de Mussolini).
Seria um absurdo ver tais fatos como impeditivos para o amor ou um casamento nos dias atuais, contudo na Inglaterra dos anos 30 do Século XX isso era escandaloso e, considerando o risco de o país ficar sem um herdeiro direto pela esterilidade da esposa pretendida, tornou-se uma questão de Estado.
Churchill era amigo de Edward VIII há 25 anos e foi procurá-lo na intenção de demovê-lo da ideia de se casar. Winston não apoiava o casamento, mas sim que se desse mais tempo para o Rei pensar, acreditando que este acabaria desistindo de sua amada para manter a coroa já que essas eram as únicas opções que Stanley Baldwin lhe oferecera. Assim, Churchill escreveu a Baldwin relatando seu encontro com o Rei ocorrido no início de Dezembro/1936:
Eu disse ao rei que, se ele apelasse a você por mais tempo para se recobrar e para considerar, agora que as coisas tinham atingido o caos e que graves questões constitucionais e pessoais haviam feito com que você, no desempenho de seus deveres, fosse obrigado a confrontá-lo, eu tinha certeza de que você não deixaria de ter amabilidade e consideração. Seria cruel e errado tentar conseguir dele uma decisão no atual estado de coisas. (<pg. 36-39)
Winston achava que a pressão sobre o Rei seria reduzida, mas Neville Chamberlain pressionou por uma solução antes do Natal, considerando que a crise estava afetando as vendas! Contudo as críticas mais violentas, tanto dos políticos, como da imprensa, recairam sobre Churchill, como se ele quisesse convencer a todos a aceitar o casamento. Quando Edward VIII abdicou em 11/12/1936, porém, as coisas voltaram ao normal e Churchill escreveu, alguns dias depois, que não se arrependia da própria atuação no caso:
Não creio que minha posição política tenha sido muito afetada pelo caminho que tomei, mas, mesmo que tenha sido, não desejaria ter atuado de outro modo. Como você sabe, sempre preferi aceitar o que me diz o coração a fazer cálculos sobre os sentimentos públicos. (<pg. 39-40)
Edward VIII - Wallis Simpson - George VI
Em lugar de Edward VIII, assumiu o trono seu irmão, George VI.[6]  Para quem não sabe, George VI é o pai da Rainha Elizabeth II e nele foi baseado o personagem do filme O Discurso do Rei de 2010, interpretado pelo ator Colin Firth, premiado com o Oscar de Melhor Ator por sua interpretação do rei gago, embora o ator não tenha qualquer semelhança física com o homem real.
CONTINUA

[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    https://api.parliament.uk/historic-hansard/commons/1936/nov/12/debate-on-the-address#S5CV0317P0_19361112_HOC_331

[4]    Edward Albert Christian George Andrew Patrick David, (White Lodge, 23/06/1894 – Neuilly-sur-Seine, 28/05/1972) foi rei do Reino Unido e dos Domínios da Commonwealth e imperador da Índia, entre 20/01 e 11/12/1936, com o título de Eduardo VIII. Ele mostrava-se impaciente com os protocolos da corte e sua aparente indiferença para com as convenções constitucionais estabelecidas preocupava os políticos. Com poucos meses de reinado, ele causou uma crise constitucional ao propor casamento à socialite americana Wallis Simpson, divorciada do primeiro marido e em vias de se divorciar do segundo. Os primeiros-ministros do Reino Unido e dos domínios eram contrários ao casamento, argumentando que o povo nunca aceitaria uma mulher divorciada com dois ex-maridos vivos como rainha. Além disso, tal casamento entraria em conflito com o status de Eduardo como Governador Supremo da Igreja de Inglaterra, que proibia o casamento de pessoas divorciadas enquanto seus ex-cônjuges ainda estivessem vivos. Eduardo sabia que o governo liderado pelo primeiro-ministro britânico Stanley Baldwin renunciaria se os planos de casamento fossem em frente, o que poderia arrastar o rei a uma eleição geral e arruinar seu status de monarca constitucional politicamente neutro. Optando por não encerrar seu relacionamento com Wallis Simpson, Eduardo acabou por abdicar, sendo sucedido por seu irmão mais novo, Alberto, que escolheu o nome de reinado de Jorge VI. Ocupando o trono por apenas 326 dias, Eduardo foi um dos monarcas com o reinado mais curto em toda a história britânica e da Commonwealth. Ele nunca foi coroado.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_VIII_do_Reino_Unido

[5]    Bessie Wallis Warfield (Blue Ridge Summit, 19/06/1896 – Paris, 24/04/1986) foi uma socialite norte-americana. Eduardo VIII do Reino Unido, seu terceiro marido, abdicou do trono e se tornou Duque de Windsor para poder se casar com ela.  Antes, durante e após a Segunda Guerra Mundial, o duque e a duquesa foram suspeitos por vários governos e pelo público de serem simpatizantes nazistas. Durante as décadas de 1950 e 1960, Wallis e Eduardo viajaram pela Europa e Estados Unidos vivendo uma vida de prazer como celebridades. Wallis passou a viver em reclusão após a morte do duque em 1972, raramente sendo vista em público. Sua vida pessoal tem sido uma fonte de muitas especulações, e Wallis permanece até hoje como uma figura controversa na história britânica.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Wallis,_Duquesa_de_Windsor

[6]    Albert Frederick Arthur George; Norfolk, 14/12/1895 — 06/02/1952) foi rei do Reino Unido e dos Domínios da Commonwealth com o título de George VI. Foi o último imperador da Índia e primeiro chefe da Comunidade Britânica. Como segundo filho de George V não era esperado que herdasse o trono, o que fez com que passasse parte de sua vida sob a sombra da popularidade de seu irmão mais velho, Eduardo. Serviu à marinha e à força aérea durante a Primeira Guerra Mundial, retomando seus compromissos públicos usuais após o término do conflito. Casou-se com Lady Elizabeth Bowes-Lyon em 1923 e teve duas filhas: Elizabeth e Margareth. Durante o reinado de George VI, acelerou-se o processo de desmembramento do Império Britânico e sua transição para a Comunidade de Nações. No dia de sua ascensão, o Oireachtas, parlamento do Estado Livre Irlandês, retirou a menção direta ao monarca de sua Constituição, declarando formalmente a república e deixando a Comunidade de Nações em 1949. Em 1939, o Império e a Comunidade de Nações, com exceção do Estado Livre Irlandês, declararam guerra à Alemanha Nazista. Nos dois anos seguintes, declarou-se guerra também à Itália e ao Japão. Embora o Reino Unido e seus aliados tenham saído vitoriosos do conflito, os Estados Unidos e a União Soviética elevaram-se como proeminentes potências mundiais, enquanto o Império Britânico declinava. Em junho de 1948, pouco menos de um ano após a independência da Índia e do Paquistão, Jorge abandonou o título de Imperador da Índia, mas manteve o status de rei de ambos os países (a Índia se tornaria uma república em 1950, como país-membro da Comunidade de Nações). Nessa época, o rei adotou o novo título de Chefe da Comunidade Britânica. Atormentado por problemas de saúde nos últimos anos de seu reinado, Jorge VI morreu em 1952, sendo sucedido por sua filha mais velha, Elizabeth II.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_VI_do_Reino_Unido
 

[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    Segunda Guerra Italo-Etíope foi um conflito ocorrido em 1935-1936, quando a Itália fascista de Benito Mussolini invadiu a Abissínia (atual Etiópia). Apesar do protesto formal da Liga das Nações, nenhuma acção foi tomada contra a Itália, nem mesmo depois do discurso do Negus (Haile Selassie). Apesar da superioride militar, do ponto de vista tecnológico, da Itália, as forças etíopes apresentaram mais resistência do que os italianos tinham previsto, que levou-os a utilizar armas químicas, inclusive nas populações civis. Este facto que não foi noticiado na imprensa italiana da época, e muito pouco na restante. A guerra fez mais de meio milhão de mortos entre os africanos, face a cerca de 5.000 baixas do lado italiano.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_%C3%8Dtalo-Et%C3%ADope

[4]    https://researchbriefings.parliament.uk/ResearchBriefing/Summary/RP08-12
  
 
CHURCHILL – Parte XXV [1] [2]
Em tempos de um rei que mal conseguia fazer um simples pronunciamento público e de um governo determinado a manter a cabeça sob a areia, até mesmo Churchill já desanimava de prosseguir fazendo denúncias que ninguém queria ouvir: “Atualmente, os personagens não oficiais contam muito pouco. Um pobre diabo pode esgotar-se sem criar uma simples onda na corrente de opinião.” A despeito desse desânimo ele seguia escrevendo para os ministros a fim de que cumprissem seus deveres na defesa nacional. (pg. 41)
Também a despeito deste desânimo, Churchill ganhou um público internacional para seus artigos quinzenais no jornal Evening Standard. Foi através de Emery Reves,[3] um judeu-húngaro que, a partir de Paris, passou a divulgá-los em jornais de “Varsóvia, Praga, Belgrado, Bucareste e Helsinque, chegando a um todo de 26 cidades.” (pg. 45)
Emery Reves
Stanley Baldwin deixou o governo em 28/05/1937 e em seu lugar assumiu Neville Chamberlain. Churchill lhe fez elogios na Câmara dos Comuns por ocasião de sua indicação como líder do partido. Chamberlain, por seu turno, não indicou Churchill para nenhum cargo no novo governo embora fosse cada vez maior o número de apoiadores ao seu nome.
Mas ele não parecia muito entusiasmado com essa ideia: “Não estou ansioso por integrar o governo, a não ser que haja reais tarefas que queiram que eu cumpra. Por enquanto, estão muito satisfeitos uns com os outros.
No entanto era cada vez maior o número de funcionários do próprio governo que concordavam com Churchill e o municiavam de informações. Crescia também a quantidade de relatórios internos que davam razão a ele demonstrando a precária situação das forças armadas britânicas. (<<pg. 46-47)
CHARTWELL
Fora do governo, Churchill dedicava-se a escrever a “biografia do primeiro duque de Marlborough”. Ficava em sua residência de Chartwell onde trabalhava até a madrugada, com auxílio de assistentes e com até três secretárias que se revezavam datilografando o que ele ditava:
Ele vinha da sala de jantar por volta das 22h, renovado e frequentemente jovial. Era óbvio que para ele esse era o melhor período para trabalhar e que tinha prazer nessas horas. Ficava totalmente mergulhado e ditava até as 2h ou 3h; por vezes, falava muito lentamente, medindo sempre cada palavra e murmurando frases para si próprio até que elas o satisfizessem, e então ditava-as, por vezes com tremenda força, olhando penetrantemente para a pobre secretária quando conseguia o que queria. […]
Não há dúvida de que ele era um trabalhador incansável. Impelia-nos. E elogiava poucas vezes. Mas tinha maneiras sutis de mostrar sua aprovação, e não poderia ser de outro modo. Trabalhava tão intensamente e dedicava-se às tarefas de modo tão absolutamente dedicado que esperava o mesmo dos outros. Para ele, era um direito. E com o tempo, nós, que trabalhamos para ele, percebemos que, em compensação à pressão e à inquietação, tivemos o raro privilégio de ter conhecido a beleza do seu caráter dinâmico e gentil. […]
Quando o patrão estava fora de Chartwell, recordou mais tarde a sra. Hill, “tudo ficava silencioso como um rato, mas, quando estava lá, era uma vibração”. Ela acrescentou: “Era um homem desapontado, à espera de um telefonema para servir ao seu país.” (<<<pg. 47-48)
Enquanto Churchill esperava por um telefonema do governo britânico, este não parava de se superar em atitudes desastrosas. Em 12/10/1937 Churchill foi avisado de que uma delegação alemã fora convidada a visitar uma instalação da Força Aérea britânica e observar seus aviões!
E a demonstração estava sendo montada para impressionar na verdade acabaria por revelar fragilidades. Churchill alertou Maurice Hankey sobre a situação e a resposta deste foi mais no sentido de preocupar-se em como Winston conseguia essas informações do que com as alarmantes informações em si: “estou muito preocupado com seu contato com tantas informações confidenciais desse tipo”. (<pg. 50-51)
O governo, porém, dispunha de informações ainda mais perturbadoras de que o poder aéreo da Alemanha já era 100% superior ao britânico e que suas forças terrestres seriam superiores à da França em 1940. A despeito disso, e talvez “jogando a toalha”, o governo começou a estimular uma aproximação com a Alemanha.
Lorde Halifax visitou Hitler retornando com a afirmação de que “Os alemães não têm uma política imediata de ação, e tudo ficaria bem na Tchecoslováquia se ela tratasse bem os alemães que vivem no interior de suas fronteiras”.
Segundo Halifax, Hitler acenou com a possibilidade de um desarmamento enquanto “criticou veementemente a difundida convicção de uma catástrofe iminente e de que o mundo estava em perigo”.
O ditador alemão claramente dizia o que o visitante queria ouvir para incentivar a continuidade da inação britânica. Convenceu-os de que não violaria a integridade do território da Bélgica levando Chamberlain a declarar “não aceitar a ideia de que a paridade aérea com a Alemanha ainda era essencial”.
CONTINUA 



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    Emery Reves (Húngaro: Révész Imre) (16/02/1904 - 04/10/1981) foi escritor, editor, agente literário e defensor do federalismo mundial. Reves nasceu em Bácsföldvár , na Hungria , filho de pais judeus e estudou em Berlim , Zurique e Paris. Em 1933, ele fundou uma editora, o "Serviço de Publicação de Cooperação", que era conhecida por sua forte postura anti-nazista. Em 1937, ele fez amizade com Winston Churchill , tornando-se seu agente literário. Quando Churchill foi eleito primeiro-ministro, Reves foi enviado a Nova York para ajudar a construir a organização de propaganda britânica nas Américas do Norte e do Sul. Em 1940 ele foi naturalizado como um sujeito britânico. Depois da guerra, ele comprou os direitos de publicar as memórias de guerra de Churchill fora do Reino Unido e também a História dos Povos de Língua Inglesa de Churchill.
      https://en.wikipedia.org/wiki/Emery_Reves

CHURCHILL – Parte XXVI [1] [2]
A política de apaziguamento de Chamberlain já estava em andamento pois no início de 1938 ele já falava em uma nova divisão na África e no qual a Alemanha “seria incluída no acordo, tornando-se uma das potências coloniais africanas”. Enquanto isso os discursos de Churchill lhe renderam a perda do contrato para publicação de artigos no Evening Standard. O Daily Telegraph, porém, passou a publicá-los.
Em 12/03/1938 Hitler promoveu a anexação da Áustria, o chamado Anschluss,[3] e “Num período de 24 horas, milhares de pessoas hostis ao novo regime nazista foram presas e enviadas para campos de concentração. Centenas foram mortas a tiros.” (<<<<<pg. 52-55)
Anexação da Áustria pelos nazistas
Churchill logo denunciou que a próxima vítima seria a Tchecoslováquia e que a Inglaterra deveria juntar-se à França para proteger o pais centro-europeu que agora, após a anexação da Áustria, estava cercado territorialmente pela Alemanha. Mas em reunião da Comissão de Política Externa do Gabinete a Tchecoslováquia foi descrita como “uma unidade instável na Europa Central” de modo que a não se tomariam “quaisquer medidas para manter essa unidade”. Lorde Halifax declarou que “distinguia os esforços raciais germânicos, que ninguém podia questionar, e a ânsia de conquista numa escala napoleônica, à qual ele não dava crédito”.(pg. 57-58)
Não demorou muito e, como Churchill previra, Hitler voltou os olhos para a Tchecoslováquia. Queria anexar a região dos Sudetos, onde a maioria da população era de origem alemã. O governo Tcheco resistiu, de modo que Chamberlain tentou negociar um acordo no qual um plebiscito decidiria a questão.
Mas Chamberlain não resistiu muito quando Hitler exigiu a entrega sem plebiscito nenhum. Logo voltou a Londres se gabando de “ter estabelecido certo grau de influência pessoal sobre Herr Hitler” e satisfeito por Herr Hitler não voltar atrás com sua palavra”. Hilário se não fosse trágico. Mas ele foi bem feliz encontrar-se com Hitler, Mussolini e o francês Daladier para negociar a entrega do pais alheio à sanha nazista. Ele acreditava realmente que se podia negociar com o ditador alemão:
Desde que assumi o cargo que desempenho, meu principal propósito foi trabalhar para a pacificação da Europa por meio da remoção de suspeições e animosidades que há muito empesteiam o ar. O caminho que conduz à conciliação é longo e cheio de obstáculos. A questão da Tchecoslováquia é a mais recente e talvez a mais perigosa. Agora que está ultrapassada, creio que é possível fazer progressos no caminho do bom senso.(<pg; 62)
Em 29/09/1938 foi fechado o Acordo de Munique.[4] Fechado por Chamberlain, Hitler, Mussolini e Daladier, as negociações deixaram de fora a delegação da Tchecoslováquia, principal interessada, a quem foi dada apenas a escolha entre aceitar ou não, sem abordagem dos termos que significaram:
A ocupação alemã das áreas em que predominava a língua alemã começaria no dia seguinte, sem plebiscito e sem demora. Onde era incerta uma maioria linguística, haveria um plebiscito. Nas áreas transferidas, a Alemanha tomaria todas as fortificações, armas e instalações industriais.[5] (<pg; 62)
Chamberlain retornou triunfante a Londres, certo de ter garantido a paz. 
Chamberlain triunfante
Foi festejado no Parlamento apesar de ser crescente o número dos que achavam o acordo um insulto. Churchill, “O Profeta”, alertou:
O Acordo de Munique foi uma derrota total e absoluta. Num período de tempo que pode ser medido por anos, mas que também pode ser medido apenas por meses, a Tchecoslováquia será engolida pelo regime nazista. Quando Hitler decidir olhar para oeste, a Grã-Bretanha e a França lamentarão amargamente a perda da linha de fortes da Tchecoslováquia. Muitas pessoas, sem dúvida honestamente, acreditaram que estavam apenas a abandonar os interesses da Tchecoslováquia, mas eu receio que descobriremos que comprometemos profundamente e pusemos talvez em perigo fatal a segurança e até a independência da Grã-Bretanha e da França. (<pg. 63)
Poucos meses depois, em 15/03/1939 Hitler já tomara o resto da Tchecoslováquia criando o Protetorado da Boêmia e Morávia. Quando Churchill escreveu a Chamberlain “insistindo num imediato estado de preparação total das defesas antiaéreas britânicas” a resposta foi “Tenho consumido muito tempo considerando o assunto que menciona, mas não é tão simples quanto pode parecer.
Hitler em Praga fazendo Chamberlain de paspalho...
Alguns dias depois, após a invasão alemã de Praga, Chamberlain deu à Polônia a garantia de independência, mas não contra violações de fronteiras e nem foi claro em relação do chamado Corredor Polonês. Em outras palavras, garantiu apenas dúvidas. 
O rápido degringolar da situação fez com que até mesmo parte da imprensa começasse a cobrar a nomeação de Churchill para um posto no governo: “Em 10 de maio, o News Chronicle publicou uma sondagem em que 56% dos interrogados diziam querer Churchill no Gabinete, 26% eram contra e 18 por cento não sabiam.” Mas quanto a isso Chamberlain era de uma firmeza e resistência titânicas. (<<pg. 72-75)
CONTINUA



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    Anschluss é uma palavra do idioma alemão que significa conexão, anexação, afiliação ou adesão. É utilizada em História para referir-se à anexação político-militar da Áustria por parte da Alemanha em 1938.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Anschluss

[4]    O Acordo de Munique foi um tratado datado de 29/09/1938, na cidade de Munique, na Alemanha, entre os líderes das maiores potências da Europa à época. O tratado foi a conclusão de uma conferência organizada por Adolf Hitler, o líder do governo nazista da Alemanha. A Checoslováquia não foi convidada para a conferência. A conferência é vulgarmente conhecida na República Checa como a "Sentença de Munique". A frase "traição de Munique" também é usada frequentemente, uma vez que as alianças militares em vigor entre a Checoslováquia, Reino Unido e França foram ignoradas. Foi alcançado com cerca de uma hora e meia um acordo, assinado a 30/09 mas datado de 29/09/1938. Adolf Hitler, Neville Chamberlain, Édouard Daladier e Benito Mussolini foram os políticos que assinaram o Acordo de Munique. O ajuste dava à Alemanha os Sudetos (Sudetenland), começando em 10 de outubro, e o controle efetivo do resto da Checoslováquia, desde que Hitler prometesse que esta seria a última reivindicação territorial da Alemanha.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_de_Munique

[5]    Após o Anschluss (anexação da Áustria pela Alemanha nazista) em março de 1938, a próxima ambição do líder nazista Adolf Hitler era a anexação da Checoslováquia. O pretexto alegado foi privações sofridas por populações de etnia alemã que viviam nas regiões norte e oeste da fronteira da Checoslováquia, conhecidos coletivamente como os Sudetos. Sua incorporação à Alemanha nazista iria deixar o restante da Tchecoslováquia impotente para resistir à ocupação posterior. A decisão para a tomada seguida da anexação da Tchecoslováquia foi decidida no dia 30/09/1938, numa reunião em Munique, onde se encontraram Hitler, Edouard Daladier, Mussolini e Arthur Chamberlain (um dos grandes mentores da anexação). A reunião decidiu a anexação para a "paz mundial". O nome do tratado para anexação foi: Pacto de Munique, que destroçou a soberania da Checoslováquia. Assim, a Checoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial (período em que o país foi ocupado pelos nazistas), abrange essencialmente o período entre 15/03/1939 até 08/05/1945. Em 15/03/1939, as tropas alemãs invadiram a Boêmia e a Morávia. A então jovem Checoslováquia não foi capaz de resistir aos invasores e foi ocupada durante um período de seis anos. Por um lado, o Protetorado da Boêmia e Morávia é praticamente anexado ao Terceiro Reich, por outro lado, a República Eslovaca seria um país independente, porém um Estado fantoche da Alemanha nazista, que não é ocupada pelas tropas alemãs.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Ocupa%C3%A7%C3%A3o_alem%C3%A3_da_Checoslov%C3%A1quia 
 
CHURCHILL – Parte XXVII [1] [2]
No meio do ano de 1939, poucos meses depois de tomar a Tchecoslováquia, Hitler já estava apresentando exigências à Polônia em relação à cidade portuária de Danzig e ao Corredor Polonês. Chamberlain declarou que “se Hitler exigisse Danzig “de modo correto”, então “talvez se pudessem arranjar as coisas”.
Ao mesmo tempo a pressão para que Churchill fosse nomeado para um cargo chave no governo cresceu na imprensa e até mesmo entre os ministros do governo. Lorde Halifax disse “em particular que era necessário que Churchill fosse incluído”. Em agosto o Times “publicou um apelo assinado por 375 membros das administrações das universidades britânicas e que pedia a inclusão de Churchill no governo.” Veio sugestão neste sentido até mesmo, pasmem, da Alemanha!
o ministro das Finanças de Hitler, conde Lutz Schwerin von Krosigk, tinha dito a um general britânico que o visitara: Ponham Winston Churchill no Gabinete. Churchill é o único inglês que Hitler teme. Ele não leva a sério o primeiro-ministro ou Halifax, mas coloca Churchill no mesmo nível de Roosevelt. O mero fato de darem a ele um importante lugar ministerial convencerá Hitler de que estamos enfrentando-o. (<pg. 76-78)
Mas Chamberlain seguiu impávido e ainda fez mais, apoiou férias de dois meses para o parlamento. Houve fortes protestos mas o governo venceu a votação. Churchill então viajou para a França, onde foi-lhe permitido visitar instalações secretas da Linha Maginot, ocasião na qual ele fez mais uma de suas “profecias” advertindo os franceses para não deixarem de fora a Floresta das Ardenas:
Lembrem-se de que estamos diante de uma nova arma, a blindagem em larga escala, na qual os alemães sem dúvida se concentram, e que essas florestas são particularmente tentadoras para essas forças, pois não são vistas do ar (<pg. 77-78)
De volta a Inglaterra, Churchill soube que estavam em andamento as negociações que resultariam no pacto de não agressão entre a Alemanha e a URSS assinado em 23/08/1939, o chamado Pacto Molotov-Ribbentrop.[3] 
Então Chamberlain não teve outra alternativa senão sair de seu marasmo. Ele “convocou o Parlamento e foram dadas ordens à armada para que ocupasse suas posições de guerra.” (pg. 78-79)
O Pacto Nazi-Soviético
Uma aliança formal foi assinada com a Polônia que foi invadida pela Alemanha na madrugada de 01/09/1939. (pg. 78-79)

O Parlamento foi convocado para reunir-se às 18hs e Churchill foi convidado por Chamberlain para visitá-lo na sede do governo, a Downing Street nº 10. Lá Winston foi convidado a compor o Gabinete de Guerra, o que aceitou sem qualquer hesitação ou reprimenda.
Esta nomeação e nada foi a mesma coisa, pois Churchill foi para casa após a reunião e não foi mais chamado nem para a reunião do Gabinete do dia seguinte na qual os Ministros concordaram em enviar um ultimato a Alemanha. Mas nem isso foi feito.
Quando falou no Parlamento, Chamberlain tinha uma proposta de que “Se o governo alemão aceitar retirar suas forças, o governo de Sua Majestade poderá considerar que a situação é a mesma que existia antes da ruptura das fronteiras da Polônia pelas forças alemãs”. Uma piada.
Somente quando vários ministros ameaçaram demitir-se caso não fosse enviado um ultimato a Hitler é que tal documento foi feito e encaminhado. Isso ocorreu dia 03/09/1939. Nenhuma resposta veio da Alemanha e, portanto, a II Guerra Mundial estava iniciada. (<<<pg. 79-80)
A declaração de guerra foi anunciada por Chamberlain no rádio pouco depois de 11hs do dia 03/09/1939 e logo depois soou um alarme falso de ataque aéreo que fez com que Churchill, Clementine e uma garrafa de Brandy fossem para um abrigo anti-bombas próximo onde “Estavam todos bem-dispostos e brincalhões, que é a maneira inglesa de lidar com o desconhecido.” No mesmo dia o Rei George VI também fez seu famoso pronunciamento.

Naquele mesmo dia, após a sessão parlamentar, Chamberlain nomeou Winston para Primeiro Lorde do Almirantado, notícia que foi anunciada a toda frota naval britânica com uma nota: “Winston voltou.” Ele próprio não foi menos dramático na chegada e na reunião com os membros da junta ordenou: “Meus senhores, aos seus lugares e deveres”.
De sua parte começou logo a enfrentar a necessidade urgente de suprir as forças armadas, criar e estimular uma produção de material militar e preencher as terríveis lacunas deixadas pelos anos de despreparo que agora cobravam seu preço.
A despeito disso, em 09/09/1939 os primeiros contingentes de soldados britânicos chegavam à França em segurança. Churchill também propôs o envio de navios ao Mar do Norte, para ameaçar o litoral alemão, ataques aéreos a depósitos de combustível e a espalhar minas no litoral da Noruega, por onde a Alemanha escoava suas importações de minérios.
Nenhuma dessas ações foi tomada pela incapacidade causada pelos anos de despreparo. As matilhas de submarinos alemães, porém, não paravam de afundar os navios mercantes britânicos. Enquanto isso, distante de qualquer ajuda, a Polônia agonizava e quando o exército soviético, em atendimento aos dispositivos secretos do Pacto Molotov-Ribbentrop, invadiu o país pelo leste, a capitulação tornou-se inevitável. 

Hitler na Polônia
Hitler, por seu lado, depois de ter “colocado o elefante na sala”, começou a falar de um acordo de paz que lhe garantisse a posse da Tchecoslováquia e da Polônia. (<<<<pg. 81-84)
Em visita à Base Naval de Scapa Flow, Churchill percebeu mais uma vez o despreparo. Alertou ainda “que a esquadra não ficasse amarrada, como ele a viu.” Mas essa recomendação também não foi seguida.
Em 14 de outubro o submarino alemão U-47, sob comando do Capitão-Tenente  Günther Prien, conseguiu furar todas as defesas subaquáticas, penetrar na base naval e afundou o encouraçado HMS Royal Oak matando oitocentos homens.
Representação do U-47

HMS Royal Oak
A notícia do ataque foi dada a Winston por um de seus secretários: “Quando dei a notícia a Churchill, apareceram lágrimas em seus olhos e ele murmurou: Pobres rapazes, pobres rapazes, apanhados nas negras profundidades.
Ao falar sobre o ocorrido no Parlamento, bem como sobre o afundamento de navios mercantes, Churchill disse que durante a guerra os mares não seriam seguros, mas que o transporte de cargas prosseguiria. (<<<pg. 85)
CHURCHILL – Parte XXVIII [1] [2]
As más notícias se multiplicavam no início da guerra. Em 30/11/1939 a URSS invadiu a Finlândia, mas Churchill foi contrário a uma intervenção que colocasse a Inglaterra em guerra com os russos. Somente em 13/12 veio finalmente uma boa notícia. 
Couraçado de Bolso Alemão Graf Spee
O Couraçado de Bolso Alemão Graf Spee foi cercado por 3 cruzadores britânicos e, avariado, refugiou-se em Montevideu, no Uruguai e “Quatro dias depois, o Graf Spee foi explodido.” por seu próprio capitão. (pg. 87)
O Graf Spee após explosão provocada.
Como já foi dito antes, Churchill pretendia uma ação na Noruega que cortasse o fornecimento de ferro para a Alemanha, também sugeriu uma ação na Suécia e a apreensão dos navios de transporte alemães com o mesmo objetivo.
Também queria lançar minas no Rio Reno, uma das principais vias de transporte de cargas alemãs. Nada disso foi implementado, o que irritava Winston sobremaneira. Em carta a Halifax ele afirmou que “nunca conseguiremos a vitória seguindo o caminho de menor resistência”. Apesar disso, pelo rádio ele irradiava esperança:
Que as grandes cidades de Varsóvia, Praga e Viena varram o desespero, mesmo no meio de sua agonia. Sua libertação é garantida. Chegará o dia em que os sinos voltarão a bater em toda a Europa e em que vitoriosas nações, dominadoras não só de seus inimigos, mas de si próprias, planejarão e construirão em justiça, em tradição e em liberdade uma casa com muitos quartos onde haja espaço para todos. (<<pg. 87-88)
Nessa fase de boas notícias rarefeitas os discursos de Churchill mantinham o espírito do Reino Unido equilibrado e esperançoso fazendo com que até mesmo seus críticos mais antigos passassem a elogiar suas falas. Lorde Halifax, por exemplo, escreveu: “Que extraordinária criatura ele é. Devo dizer que quanto mais sei sobre ele mais gosto dele.
O próprio Winston reconhecia a importância de seus discursos até para ele mesmo: “Pedirem que eu não faça discursos é como pedir a uma centopeia que caminhe sem pôr as patas no chão”. (<pg. 89-90)
Em abril, com sete meses de atraso e somente depois de uma segunda exigência dos chefes do Estado Maior, o governo resolveu agir na Noruega e na Suécia para cortar a rota de suprimento de minérios de Hitler. Winston ficou bastante animado mas Hitler agiu antes deflagrando a Operação Weserübung! Em 09/04/1940 tropas nazistas invadiram a Dinamarca e a Noruega.
Em poucas horas a Dinamarca capitulou e, embora tenha resistido mais, a Noruega seguiu o mesmo caminho logo depois. Tropas inglesas ainda foram desembarcadas no país mas não conseguiram reverter a situação. Esse fracasso, contudo, tornou mais precária a posição de Chamberlain à frente do governo, uma vez que até mesmo alguns de seus aliados passaram a apoiar que Churchill se tornasse o Primeiro-Ministro e logo esse desejo era partilhado pela população.
No início de maio esse movimento ganhou força dentro do Parlamento. No dia 07/05 o clima esquentou na Câmara dos Comuns. Chamberlain foi vaiado e teve de ouvir, de um de seus maiores aliados o seguinte pedido: “O senhor esteve sentado por tempo demais, qualquer que tenha sido o bem que fez. Retire-se, digo-lhe, e permita-nos que não tenhamos mais nada a ver com o senhor. Em nome de Deus, retire-se!” Essa frase era histórica e fora proferida 300 anos antes por Cromwell.
Chamberlain só encontrou defesa vinda da mais improvável fonte. Em 08/05, na continuidade dos debates no Parlamento, quando chegou o momento de falar, Churchill defendeu as ações do governo no caso da Noruega e criticou aqueles que agora atacavam o Primeiro-Ministro: “Ele pensa ter alguns amigos, e eu espero que sim. Tinha muitos quando as coisas corriam bem.
Ele sabia que a situação poderia mudar pois novos planos estavam em preparo e eles já tinham acesso às mensagens secretas dos alemães, pois a equipe de especialistas da Escola Governamental de Códigos e Cifras em Bletchley, chefiados por Alan Turing,[3] tinha quebrado o código das máquinas Enigma.
Escola Governamental de Códigos e Cifras em Bletchley

Máquinas Enigma Nazistas
Mas nem mesmo os dotes oratórios de Winston poderiam servir para tornar o indefensável algo aceito. A pressão sobre Chamberlain aumentava e ele propôs às lideranças dos Partidos Trabalhista e Liberal a formação de um novo governo, sob a liderança de um Conservador, que poderia ser ele ou outro. Pessoalmente ele preferia Halifax, mas este não se julgava capaz de liderar a Câmara. Sobrava Churchill.
Tudo parecia certo neste sentido, mas quando Hitler invadiu a Holanda e a Bélgica no rumo da França, Chamberlain desistiu de desistir do cargo. O Parlamento, porém, já havia desistido dele e a resposta dos Partidos Trabalhista e Liberal foi que não aceitavam participar de nenhum governo presidido por ele.
Era o dia 10/05/1940 e logo Chamberlain se dirigiu ao Palácio de Buckingham onde apresentou sua demissão ao Rei George VI que escreveu em seu diário “Pedi um conselho a Chamberlain, e ele me disse que devia mandar chamar Churchill.” Foi o que o Rei fez, convocando Churchill logo a seguir:
No começo da tarde de 10 de maio, Churchill deslocou-se ao palácio de Buckingham. — Suponho que não saiba por que lhe pedi que viesse aqui — disse o rei com um sorriso. — Sequer imagino, Majestade — respondeu Churchill. O rei deu uma gargalhada e disse a Churchill: — Queria pedir-lhe que formasse o governo. (<<<<<<<pg. 90-96)

CHURCHILL – Parte XXIX [1] [2]
Enfim, após ser por tanto tempo preterido, Churchill era o Primeiro-Ministro, justamente no momento de maior fragilidade e necessidade, perante o inimigo mais tenaz, forte, preparado e determinado.
Mais tarde ele escreveu: “Finalmente tinha autoridade para dar diretivas sem restrições. Eu me senti caminhando junto com o destino, como se toda a minha vida passada tivesse sido apenas uma preparação para essa hora e essa prova.” (pg. 97)
Para o Ministério Churchil fez as seguintes nomeações:
nomeou lorde Beaverbrook ministro da Produção de Aviões; Eden foi para o Ministério da Guerra e Sinclair, para o Ministério da Aviação. Eram amigos em quem ele sabia que podia confiar para executar suas tarefas sem a necessidade de constantes sobressaltos. [...] Attlee tornou-se o representante de Churchill no Gabinete de Guerra. Ernest Bevin tornou-se ministro do Trabalho e Serviço Nacional e Herbert Morrison, ministro dos Abastecimentos. (<pg. 97)

No dia 13/05/1940, na Câmara dos Comuns, em seu primeiro pronunciamento como Primeiro-Ministro, Churchill fez um de seus discursos mais memoráveis:
Perguntam-nos qual é a nossa política. Eu respondo. Fazer a guerra, por mar, terra e ar, com toda a nossa energia e com todas as forças que Deus nos der; fazer a guerra contra uma monstruosa tirania, nunca ultrapassada no negro e lamentável catálogo dos crimes humanos. Essa é a nossa política. Perguntam-nos qual é o nosso objetivo. Posso responder com uma só palavra: vitória. Vitória a todo o custo, vitória a despeito do terror, vitória por mais longo e difícil que seja o caminho, pois sem vitória não há sobrevivência, não há sobrevivência para o império britânico, não há sobrevivência para tudo o que o império britânico significou, não há sobrevivência para o desejo e o impulso das eras, para que a humanidade vá em frente a caminho de seus objetivos. Eu me dedicarei à minha tarefa com atenção e esperança. Tenho certeza de que nossa causa não fracassará. Neste momento, sinto-me autorizado a exigir a ajuda de todos e digo-lhes: Venham, vamos juntos em frente, com nossa unida firmeza. (<pg. 97-98)

Mas discursos não ganham guerras e as tropas alemãs avançavam pela Bélgica e já travessavam a Linha Maginot fazendo recuar os franceses cujo governo estava em desespero pedindo mais aviões que a Inglaterra não podia fornecer pois precisaria deles para a própria sobrevivência pouco depois.
Ao mesmo tempo em que tentava animar os franceses à luta Churchill solicitava, sem sucesso, a Franklin Delano Roosevelt, Presidente dos EUA, que enviasse “cinquenta contratorpedeiros da Primeira Guerra Mundial que estavam estacionados, inúteis, em depósitos navais americanos, mas Roosevelt não concordou em enviá-los.”.
Também enviou, por sugestão de Halifax, mensagem a Mussolini: “Será tarde demais para evitar que escorra um rio de sangue entre os povos inglês e italiano?” Ordenou o reforço na segurança dos aeródromos vulneráveis com voluntários locais bem como um preparo acelerado de tiro para os soldados em treinamento.
E ordenou, ainda, que as tropas em Calais agissem no sentido de manter as praias de Dunquerque operacionais tanto para receber materiais quanto para evacuar as tropas britânicas, em resumo, deveriam resistir à avalanche alemã. (<<<pg. 99-100)
No final de maio as tropas britânicas, francesas e polonesas na Noruega tomavam Narvik que abandonariam logo depois “devido à urgente necessidade de homens para defenderem a Grã-Bretanha”. Ao mesmo tempo começava a evacuação das tropas em Dunquerque. Em 27/05/1940 “foram postos a salvo 11.400 soldados britânicos; 200 mil ainda estavam cercados, juntamente com 160 mil soldados franceses.” (pg. 101)
No Gabinete de Guerra, composto por Halifax, Chamberlain, Attlee, Greenwood, além do próprio Winston, Churchill ouviu furioso a proposta de Mussolini, apresentada e apoiada por Halifax, de “que a Inglaterra devia aceitar uma proposta de Mussolini para negociar uma paz generalizada.”.
Chamberlain também se mostrou favorável uma vez que “mesmo lutando até o fim para preservarmos nossa independência, estamos preparados para considerar termos decentes, se nos forem propostos”. Aparentemente, para ele tudo poderia ser aceito se fosse apresentado da maneira correta.
Mas Churchill rechaçou de forma veemente tal ideia: “Nações que foram destruídas na luta estão a erguer-se, mas aqueles que se renderam docilmente, acabaram.” Mais tarde, em reunião com o Gabinete completo, ele disse que refletira sobre a proposta de negociar com Hitler, mas como os alemães estariam em posição de força, “exigiriam a armada britânica, suas bases navais e muito mais.”, o que tornaria a Grã-Bretanha um estado escravo ou fantoche. E concluiu:
Tenho certeza de que qualquer um dos senhores se levantaria e me tiraria do meu lugar se por um momento eu considerasse a possibilidade de negociações ou rendição. Se a longa história da nossa ilha finalmente acabará, deixem que acabe apenas quando cada um de nós estiver caído e sufocado em seu próprio sangue. (<<<pg. 101)
Em 04/06/1940 a Operação Dynamo, a evacuação de Dunquerque teve que ser encerrada com um excelente resultado: “tinham sido evacuados 224.318 soldados britânicos e 111.172 soldados franceses.” (pg. 104)

Churchill temia que a invasão da Inglaterra fosse começar imediatamente mas os decifradores de códigos de  Bletchley descobriram que os alemães não fariam isso, preferindo completar a conquista da França. (pg. 104)
Após o sucesso da Operação Dynamo, Churchill queria deixar a posição defensiva e partir para a ofensiva, atacando o território da Alemanha, porém a inferioridade britânica no ar, frente à Luftwaffe era preocupante pois, embora a produção de aviões na Inglaterra já estivesse ao ritmo de 35 por dia, durante os combates sobre a França a produção fora de “453 aviões, mas 436 tinham sido abatidos.”, um ritmo que a Luftwaffe poderia suportar pelo dobro do tempo que a RAF. A única notícia realmente boa é que a superioridade dos pilotos britânicos no ar já dera os primeiros sinais “com 394 aviões alemães destruídos sobre as praias de Dunquerque contra 114 aviões britânicos.” Sem dúvida fora uma retirada de grande sucesso mas Winston não estava satisfeito pois “precisamos ser muito cuidadosos para não atribuir a essa salvação o caráter de uma vitória. As guerras não são ganhas com retiradas”. (pg. 104-105)

CHURCHILL – Parte XXX [1] [2]
No dia 04/06/1940, dia do encerramento da Operação Dynamo, Churchill falou ao Parlamento pronunciando um discurso histórico e emocionante mesmo para quem lê suas palavras 81 anos depois:
Apesar de muitas partes da Europa e muitos antigos e famosos Estados terem caído ou poderem vir a cair nas garras da Gestapo e do odioso dispositivo do domínio nazista, não desanimaremos nem falharemos. Iremos até ao fim. Lutaremos na França, lutaremos nos mares e nos oceanos, lutaremos com crescente confiança e crescente força no ar, defenderemos nossa ilha, o que quer que isso custe. Lutaremos nas praias, lutaremos nos aeródromos, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nos montes, e nunca nos renderemos. E mesmo que, e nem por um momento acredito nisso, esta ilha ou grande parte dela for subjugada e passe fome, então nosso império para lá dos mares, armado e guardado pela Armada Britânica, continuará a luta, até que, se Deus o permitir, o Novo Mundo, com todo o seu poder e toda a sua força, caminhe para resgatar e libertar o Velho Mundo. (pg. 105)
O país foi inflamado pelo discurso. Aliás, inflamou a mim da primeira vez em que o li (e todas depois), imagine aos ingleses que viviam aqueles dias sombrios. Choveram felicitações e apoio de todos os lados: “Valeu por mil canhões e pelos discursos de mil anos”, escreveu o deputado trabalhista Josiah Wedgwood.
Churchill estava preocupado e confiante em semelhante medida: “Estamos atravessando tempos muito difíceis e creio que o pior está para vir, mas também estou certo de que melhores dias virão, embora seja mais difícil saber se estaremos vivos para vê-los.” E os tempos difíceis logo chegavam pois, em 05/06/1940 Hitler ordenou o início da ofensiva final até Paris. (<pg. 105)
Rommel na França
E essa ofensiva avançou tão rapidamente que nenhuma ajuda teve tempo sequer de ser planejada. Em 09/06/1940 Churchill recebeu a visita de Charles de Gaulle, recém-nomeado subsecretário de Defesa Nacional da França “para pedir que toda a Força Aérea britânica se envolvesse na batalha da França.”, pedido que era impossível a Winston atender, uma vez que todos os aviões seriam necessários na defesa da ilha contra o ataque que certamente viria.
As tropas britânicas, sob comando do General Fortune, foram empurradas para praia onde um nevoeiro impediu a evacuação.  Para piorar as coisas a Itália de Mussolini declarou guerra à Inglaterra e à França em uma atitude claramente oportunista.
Itália entra na Guerra
No dia 10/06 Churchill visitou a França para encorajar a resistência mas antes mesmo de partir o governo francês abandonou Paris diante da iminente chegada das tropas alemãs. O desespero já minava o alto comando: “Reynaud [3] e De Gaulle [4] eram os únicos que tentavam dar continuidade à luta, possivelmente a partir do oeste da França. Weygand [5] e Pétain [6] estavam convencidos de que a luta já estava perdida.” 
Reynald - DeGaulle - Weygand - Pétain
Churchill pediu mais algumas semanas de resistência informando que logo chegariam tropas britânicas do Canadá, de Narvik e da própria Inglaterra.
Mas a França não possuia mais reservas e a ideia de resistir em Paris e ver a cidade ser destruída horrorizava a todos. Neste caso não vejo como discordar. Quem em sã consciência iria arriscar a destruição de Paris? “Nessa noite, Reynaud disse a Churchill que Pétain já o tinha informado de que seria necessário buscar um armistício”.
Em 12/06 “o general Fortune foi obrigado, pelo poder da artilharia e pela aviação alemães, ambos superiores, a render-se em St. Valery-en-Caux.” A partir dai a situação degringolou rapidamente.
O Tsunami Alemão na França
Em 14/06 Weygand recusou-se a resistir na Bretanha (região no litoral da França) e Churchill suspendeu qualquer envio de novas tropas à França. Em 15/06 os EUA não aceitaram fazer nenhuma declaração beligerante contra a Alemanha.
No dia 16/06 o Gabinete de Guerra britânico concordou em permitir que a França negociasse a paz em separado “na condição, mas apenas nessa condição, de a armada francesa zarpar imediatamente para portos britânicos” o que foi recusado. Durante a noite Reynaud renunciou, Pétain assumiu o governo e pediu o armistício. A França estava fora da guerra e sob domínio alemão. (<<<<<<<pg. 106-110)
CONTINUA 



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    Paul Reynaud (Barcelonnette, Basses-Alpes, 15/10/1878 - Neuilly-sur-Seine, Seine, 21/09/1966) foi um político francês. Ocupou o cargo de primeiro-ministro da França, entre 21/03/1940 e 16/09/1940.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Reynaud

[4]    Charles André Joseph Marie de Gaulle (Lille, 22/11/1890 – Colombey-les-Deux-Églises, 09/11/1970) foi um general, político e estadista francês que liderou as Forças Francesas Livres durante a Segunda Guerra Mundial. Mais tarde fundou a Quinta República Francesa em 1958 e foi seu primeiro Presidente, de 1959 a 1969.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_de_Gaulle

[5]    Maxime Weygand (21/01/1867 - 28/01/1965) foi um comandante militar francês na Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial. Weygand serviu principalmente como um oficial no staff de Ferdinand Foch na Primeira Guerra Mundial. Ele lutou contra os alemães durante a invasão da França em 1940, mas depois se rendeu e parcialmente colaborou com os alemães como parte do regime de Vichy antes de ser preso pelos alemães por não colaborar totalmente com eles.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Maxime_Weygand

[6]   Henri Philippe Benoni Omer Joseph Pétain (Cauchy-à-la-Tour, 24/04/1856 – Île d'Yeu, 23/07/1951), geralmente apelidado de Marechal Pétain, foi um oficial general francês que alcançou a distinção de Marechal da França e posteriormente atuou como chefe de estado da França de Vichy de 1940 a 1944. Pétain, que tinha 84 anos em 1940, classifica-se como o mais velho chefe de estado da França. Hoje, ele é considerado por muitos como um colaborador nazista, o equivalente francês de seu contemporâneo Vidkun Quisling na Noruega. Ele às vezes era apelidado de Leão de Verdun. 
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Philippe_P%C3%A9tain
 



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202). 




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    Alan Mathison Turing (Paddington, Londres, 23/06/1912 — Cheshire East, Cheshire, 07/06/1954) foi um matemático, lógico, criptoanalista e cientista da computação britânico. Foi influente no desenvolvimento da ciência da computação e na formalização do conceito de algoritmo e computação com a máquina de Turing, desempenhando um papel importante na criação do computador moderno. Foi também pioneiro na inteligência artificial e na ciência da computação.[4] É conhecido como o pai da computação. Durante a Segunda Guerra Mundial, Turing trabalhou para a inteligência britânica em Bletchley Park, num centro especializado em quebra de códigos. Por um tempo ele foi chefe do Hut 8, a seção responsável pela criptoanálise da frota naval alemã. Planejou uma série de técnicas para quebrar os códigos alemães, incluindo o método da bomba eletromecânica, uma máquina eletromecânica que poderia encontrar definições para a máquina Enigma.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Alan_Turing




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    O Tratado de Não Agressão entre a Alemanha e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, foi um pacto de neutralidade entre a Alemanha Nazi e a União Soviética assinado em Moscovo em 23/08/1939 pelos ministros dos Negócios Estrangeiros Joachim von Ribbentrop e Vyacheslav Molotov, respectivamente. A este pacto seguiu-se o Acordo Comercial Germano-Soviético em Fevereiro de 1940. O pacto estabelecia esferas de influência entre as duas potências, confirmadas pelo protocolo suplementar do Tratado da Fronteira Germano–Soviético alterado depois da invasão conjunta da Polônia. O pacto manteve-se em vigor durante dois anos, até o dia do ataque da Alemanha às posições soviéticas na Polônia Oriental durante a Operação Barbarossa em 22/06/1941. As cláusulas do pacto entre os nazis e os soviéticos incluíam uma garantia escrita de não beligerância de parte a parte, e um compromisso de que nenhum dos governos se aliaria a, ou ajudaria, um inimigo da outra parte. Para além do estabelecido sobre não agressão, o tratado incluía um protocolo secreto que dividia os territórios da Polônia, Lituânia, Letónia, Estônia, Finlândia e Roménia, em esferas de influência alemãs e soviéticas, antecipando uma "reorganização territorial e política" destes países.
  https://pt.wikipedia.org/wiki/Pacto_Molotov-Ribbentrop
 
 
Imagens
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lorde_Randolph_Churchill
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jennie_Jerome
https://pt.wikipedia.org/wiki/Winston_Churchill
https://en.wikipedia.org/wiki/Winston_Churchill
https://en.wikipedia.org/wiki/Agadir_Crisis
https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Fernando_da_%C3%81ustria-Hungria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sofia,_duquesa_de_Hohenberg
https://en.wikipedia.org/wiki/Cuban_War_of_Independence
https://www.magnoliabox.com/products/elizabeth-ann-everest-nanny-to-winston-churchill-xjf265582
https://www.iwm.org.uk/collections/item/object/205026821
https://it.wikipedia.org/wiki/File:War_Industry_in_Britain_during_the_First_World_War_Q84077.jpg
https://richardlangworth.com/churchill-womens-suffrage
https://br.pinterest.com/pin/53691420542912606/?lp=true
https://pt.wikipedia.org/wiki/Horatio_Herbert_Kitchener
https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Gascoyne-Cecil,_3.%C2%BA_Marqu%C3%AAs_de_Salisbury
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Madista
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https://www.express.co.uk/news/history/579871/Winston-Churchill-Clementine-wife
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http://katehon.com/article/armistice-day-november-11th-1918-2016
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https://www.marxist.com/90-years-since-the-british-general-strike-the-lessons-for-today.htm
http://ciml.250x.com/archive/events/english/1926_british_general-strike/1926_british_general_strike_4_may.html
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http://theboulevardiers.com/2015/01/18/william-randolph-hearst-boulevardier-of-the-year/
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_von_Papen
https://en.wikipedia.org/wiki/Kurt_von_Schleicher
https://en.wikipedia.org/wiki/Ernst_R%C3%B6hm
https://en.wikipedia.org/wiki/Paul_von_Hindenburg




[6]   https://en.wikipedia.org/wiki/1929_United_Kingdom_general_election#Seats_summary

CHURCHILL – Parte XXXI [1] [2]
Quando a França caiu sob domínio Alemão, Churchill falou à nação via rádio anunciando que agora os britânicos eram os únicos vitoriosos de 1918 a seguirem lutando: “Faremos nosso melhor para sermos dignos dessa elevada honra. Defenderemos nossa ilha natal e lutaremos, inconquistáveis, até que a maldição de Hitler seja removida da humanidade. Temos certeza de que no fim tudo se recomporá.”.
Ele também ordenou a retirada das tropas da França, proibiu a divulgação do afundamento do navio de passageiros Lancastria e suas 3000 mortes e recebeu Charles de Gaulle, contratando um relações públicas para moldar a imagem do general francês para que se tornasse o foco da resistência francesa.
Além disso atuou para cessar a busca por bodes expiatórios para a crise: “De uma coisa tenho certeza: se iniciarmos uma contenda entre passado e presente, perderemos o futuro.
Ele demonstrava e buscava sempre infundir otimismo, mas não ocultava de ninguém os tempos difíceis agora mais próximos, como na ocasião em que celebrou o aumento da produção de aviões de 245 para 363 semanais: “Caberia aos pilotos [...] a glória de salvarem sua terra natal, sua ilha pátria e tudo aquilo que amam dos mais mortíferos ataques”.
Em 18/06 seu discurso, na Câmara dos Comuns, foi neste mesmo sentido:
Acho que está começando a Batalha da Inglaterra. Dessa batalha depende a sobrevivência da civilização cristã. Dela depende nossa vida britânica e a longa continuação de nossas instituições e de nosso império. A fúria e o poderio do inimigo devem voltar-se contra nós em breve. Hitler sabe que precisará vencer-nos nessa ilha ou perderá a guerra. Se conseguirmos fazer-lhe frente, toda a Europa pode ser livre, e a vida do mundo pode caminhar para terras mais vastas e mais ensolaradas, mas, se falharmos, então todo o mundo, inclusive os Estados Unidos e tudo o que conhecemos e de que cuidamos, cairá no abismo de uma nova era de trevas, ainda mais sinistra, e talvez mais prolongada, pelas luzes de uma ciência pervertida. Por isso, vamos juntar-nos em torno do nosso dever e empenharmo-nos em que, se o império britânico e sua comunidade durarem mil anos, os homens possam dizer: “Foi seu mais glorioso momento.” (<<<<<pg. 110-111)
Os bombardeios alemães já voavam sobre a Inglaterra. 120 deles causaram 9 mortes de civis a Leste do pais. Era uma situação que se tornaria corriqueira, avisou Churchill em sessão secreta do Parlamento. O atraso da ajuda americana e a expectativa pela invasão levou Winston a uma tensão extrema que acabava sendo descontada nos auxiliares próximos. 
Clementine precisou intervir através de uma carta que foi escrita, depois rasgada e depois enviada a ele em pedaços:
Meu querido,
Espero que me perdoe por dizer algumas coisas que sinto que você deve saber. Um homem próximo de você (um amigo devotado) procurou-me e disse-me que há o risco de seus colegas e subordinados não simpatizarem com você devido ao seu jeito duro, sarcástico e autoritário — [...] Por outro lado, se é sugerida uma ideia (digamos, numa palestra), você é tão desdenhoso que atualmente já não são sugeridas ideias, sejam boas ou más.
[...]
Meu querido Winston, devo confessar que notei uma deterioração nos seus modos; não é tão amável quanto costumava ser. [...] Além disso, você não conseguirá os melhores resultados por meio da irascibilidade e da rudeza. Eles criarão desafeição ou uma mentalidade de escravos. […] Por favor, perdoe sua amada, devotada e vigilante. Clemmie. (<pg. 111-112)
Quando as negociações para rendição francesa começaram os alemães exigiram, como esperado, a entrega dos navios da Marinha Francesa e levaram os franceses a assinar sua rendição no mesmo lugar (Floresta de Compiègne) e no mesmo vagão de trem (Vagão n° 2419 D [3]) no qual a Alemanha assinara o armistício de 1918. 
Sugerimos uma pausa para leitura do texto indicado na Nota de Rodapé acima, que conta a História da rendição francesa. Também pode ir diretamente clicando AQUI.
Hitler dançou de alegria neste dia 22/06/1940 e depois foi visitar Paris onde declarou “Foi o sonho da minha vida poder ver Paris. Eu não posso dizer como estou feliz por ter esse sonho realizado hoje.”. 
Após a visita ao túmulo de Napoleão ele disse que “Esse foi o maior e melhor momento da minha vida”[4]
Hitler pensou em desfilar mas depois desistiu da ideia: “Eu não estou com disposição para um desfile de vitória. Ainda não estamos no final.[5] Os soldados alemães, no entanto, desfilaram triunfantes pela Avenida Champs Elysée.
Os Parisienses choram ao assistir as tropas alemãs desfilarem em sua capital.

CONTINUA

[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   Conheça nosso texto sobre esse vagão no link abaixo:
     http://reino-de-clio.blogspot.com/2014/01/o-bonde-da-historia.html

[4]   Hitler's triumphant tour of Paris, 1940
     https://rarehistoricalphotos.com/hitler-in-paris-1940/

[5]   Ibid.


CHURCHILL – Parte XXXII [1] [2]
Os franceses aceitaram tudo que Hitler impôs, inclusive a entrega da frota, o que Churchill não tinha a menor intenção de permitir.
Parte da frota francesa estava em Alexandria, no Egito, onde poderia ser facilmente capturada pelos britânicos de lá. Parte estava em Toulon e em Dacar, fora de alcance. Mas havia outra parte que estava em Mers-el-Kebir, em Orã.
Churchill enviou emissários a essa última base propondo algumas alternativas ao comandante local:
levar os navios para um porto inglês e juntarem-se à Marinha britânica como aliados contra a Alemanha; levar os navios para um porto britânico e entregá-los a tripulações britânicas ou irem para um porto das Índias Ocidentais Francesas e aceitarem a desmilitarização, com imediata repatriação das tripulações para a França, se assim desejassem. Foi acrescentada uma quarta possibilidade quando se provou que as três primeiras eram inaceitáveis: afundar voluntariamente os navios no porto de Mers-el-Kebir. (<<<<pg. 113)
Os comandantes franceses, entretanto, recusaram todas as alternativas em honra dos termos do armistício e, no dia 03/07/1940, Sir James Somerville ordenou a seus navios que abrissem fogo contra os navios franceses. Ao final do ataque “1.200 marinheiros franceses estavam mortos.

Para Churchill esse gesto terrível mostrou ao mundo o tamanho da determinação britânica. Por outro lado ele já atuava na preparação das ações a serem tomadas em caso de invasão. “Londres seria defendida rua por rua, bairro por bairro...” Os depósitos de combustível na costa leste deveriam ser destruídos, policiais, soldados e membros da guarda não deveriam prestar qualquer ajuda ao inimigo, somente à população civil e até as mulheres deveriam ser autorizadas a combater.
E um ataque maciço ao território da Alemanha deveria ser planejado pois seria o único caminho para derrotar Hitler, tornando inúteis suas conquistas: “Mesmo que Aquele Homem atinja o mar Cáspio, terá fogo em seu quintal quando regressar. Não adiantará nada atingir nem mesmo a Grande Muralha da China.” (<<pg. 114)
No dia 19/07/1940 veio o ultimato de Hitler: “Acabem com a guerra ou pereçam![3] 
E ele falava sério pois os bombardeios aéreos alemães prosseguiam e o número de mortos nos ataques cresciam, embora raramente fossem divulgados. Churchill admitiu estar odiando os alemães: “Nunca odiei os hunos durante a última guerra, mas agora os odeio como a uma barata.” 
Porém os pilotos da RAF já vinham se destacando na defesa aérea. Winston, porém, prosseguia procurando manter a moral elevada sem descuidar do alerta:
Esperamos sem medo o ataque iminente. Talvez chegue essa noite. Talvez chegue na próxima semana. Talvez nunca chegue. Devemos estar preparados tanto para sofrer um súbito e violento choque quanto — o que é talvez o teste mais difícil — para uma prolongada vigília. Seja a provação aguda ou prolongada, não aceitaremos condições e não toleraremos negociações; poderemos mostrar clemência, mas não a pediremos. Não apenas na Inglaterra, mas por todos os lados havia muitas pessoas “que prestarão serviços úteis nessa guerra, mas cujos nomes nunca serão recordados. Essa é uma Guerra do Soldado Desconhecido, mas esforcemo-nos sem desfalecimentos na fé ou no dever e veremos o sombrio percurso de Hitler ser banido dos nossos tempos”. (<pg. 114-115)
A ajuda americana continuava extremamente lenta, levando Churchill a ceder cada vez mais a Roosevelt como, por exemplo, o uso das bases britânicas em Terra Nova, Bermudas, Bahamas  Índias ocidentais em troca daqueles malfadados contratorpedeiros.
Mas era uma necessidade urgente pois no mar as alcateias de submarinos nazistas continuavam infligindo pesadas baixas militares e civis. No ar, porém, a despeito da perda de 526 pilotos em dois meses, a RAF estava causando, algumas vezes, o triplo de baixas à Luftwaffe:
Em 16 de agosto, Churchill acompanhou a batalha da sala de operações do 11o Comando de Caça em Uxbridge. Nesse dia, quase todas as esquadrilhas de caças estavam no ar, em combate, mas os alemães destruíram 47 aviões britânicos ainda no solo. Ao sair da sala de operações, Churchill voltou-se para Ismay: “Não fale comigo; nunca me senti tão comovido.” Depois de cerca de cinco minutos, inclinou-se para Ismay e disse-lhe: “Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos.” (<<pg. 116)
Churchill repetiu essa última frase em seu discurso no Parlamento. Concordamos com a filha do falecido Ex Primeiro-Ministro Asquith, Violet: “são palavras que viverão por todo o tempo que houver palavras”, (pg. 116)
CHURCHILL – Parte XXXIII [1] [2]
Os britânicos estavam na defensiva, resistindo ao imenso poderio aéreo alemão contra o qual Churchill tanto alertara anos antes. Mas os britânicos tinham uma vantagem de organização que já começava a mostrar resultados. Churchill, com todo seu ímpeto a ação, não decidia tudo ao seu bel prazer, por mais que fosse capacitado.
Havia uma estrutura ao seu redor a partir da qual as coisas aconteciam. Primeiro vinha o Estado Maior “Todas as decisões de política de guerra tinham de ser aprovadas pelos três chefes de Estado-Maior; se eles não estivessem de acordo com uma proposta de Churchill, ela não teria seguimento.” Eram eles que adequavam os planos aos recursos e faziam isso com competência. Era um pequeno grupo no qual reinava o respeito mútuo mesmo na discordância.
Depois foi criada a “Comissão Conjunta de Planejamento, composta por oficiais superiores e chefes dos serviços de informação, faria sugestões para operações militares, aéreas e navais.” Cabia a eles, também, detalhar os planos apresentados por Churchill.
Depois de detalhados os planos eram apresentados à Comissão de Chefes de Estado-Maior onde, se aprovados, iam à prática e em caso de dúvidas, iam para exame da Comissão de Defesa do Gabinete de Guerra, com participação dos chefes do Estado-Maior. É claro que isso não impedia a frustração de Churchill muitas vezes: “São sempre apresentados argumentos magníficos para não se fazer nada.”(<<<pg. 117-119)
Enquanto isso, pelo outro lado, os alemães tinham apenas a vontade de Hitler, apesar de disporem de alguns dos melhores generais do mundo, os quais tinham as mãos atadas se suas observações fossem contrárias à soberana vontade do Führer.
Mas, no início, a guerra corria muito bem para os alemães, apesar de Hitler. Em 07/09/1940 Londres sofreu o mais terrível dos bombardeios até aquele momento. 200 aviões da Luftwaffe despejaram suas bombas sobre a capital britânica. 300 pessoas morreram e Churchill ficou arrasado ao visitar os locais devastados.
Mas esse era só o começo pois em pouco tempo o número de mortos chegaria a cerca de 1000 por semana. Em 12/09/1940 o próprio Palácio de Buckingham foi bombardeado. 
No dia 15 de setembro a batalha chegou ao auge. Nada menos que 230 bombardeiros e 700 caças alemães atravessaram o Canal da Mancha para atacar a Inglaterra. Churcill acompanhou a batalha no “quartel-general do 11º Comando de Caça, em Uxbridge” onde podia ver em quadros a disposição das aeronaves e viu que, em dado momento, todos os aviões disponíveis estavam empenhados no combate.
Ao final os alemães tinham perdido quase um quarto de seus bombardeiros, 59 aviões. Mas em outubro o número de civis mortos chegou a 10.000 e pressionado a fazer uma represália, Churchill respondeu:
Essa não é uma guerra civil, e, sim, militar. Talvez o senhor e outros queiram matar mulheres e crianças. Nós queremos [...] destruir objetivos militares alemães. Aprecio sem dúvida seu ponto de vista, mas meu lema é ‘primeiro os negócios, depois o prazer. (<<<pg. 119-124)
Os ataques prosseguiram mas foram diminuindo de intensidade até que em 06/11/1940 nenhum avião alemão sobrevoou Londres e uma mensagem secreta foi decodificada pelos decifradores de Bletchley Park: “o quartel-general do 16o Exército alemão enviou instruções ultrassecretas para os comandos relevantes, ordenando que parte dos dispositivos que equipavam as barcaças de invasão na Bélgica e no norte da França fossem armazenados”. Em outras palavras, o perigo de invasão da ilha estava afastado indefinidamente. Os ingleses tinham vencido a Batalha da Inglaterra e, finalmente, poderiam deixar sua posição defensiva e tomar a iniciativa. (pg. 125)
O Egito e a Grécia estavam sob ataque italiano pois Mussolini queria reviver as glórias do Império Romano. Com inveja dos sucessos de Hitler, tomava iniciativas sem consultar ou combinar com os aliados alemães e, geralmente sem levar em conta sua verdadeira capacidade militar, atolava seus exércitos mal preparados em situações vexatórias.
Sem ter nada a ver com as diatribes do Duce, Churchill tentava providenciar auxílio militar e de suprimentos para a Grécia e o Egito. Ao mesmo tempo foi preparado e executado um ataque de torpedos aéreos (lançados por aviões) contra a frota naval italiana ancorada em Taranto quando metade dos couraçados presentes foi afundada.
Catedral de Coventry destruída
Apesar de afastada a ameaça de invasão, os bombardeios sobre a Inglaterra continuaram. E Churchill foi posteriormente acusado de permitir o bombardeio da cidade de Coventry apenas para não revelar aos alemães que havia decifrado o código das máquinas enigma.
CHURCHILL – Parte XXXIV [1] [2]
Em 14/11/1940, após o funeral de Neville Chamberlain, Winston recebeu o informe de que um grande ataque era iminente e, segundo Martin Gilbert, havia informações anteriores de que o alvo provavelmente seria Londres, para onde Churchill retornou apressadamente.
Essas informações também apontavam outros possíveis alvos como “o vale do Tâmisa, as costas de Kent e de Essex, Coventry e Birmingham”, de modo que não se podia ter certeza de onde seria o ataque.
Somente às 15:50hs houve informação de que o alvo era Coventry, para onde foram deslocados cem caças ao mesmo tempo em que bombardeiros foram enviados para bombardear os campos de onde decolariam os aviões alemães. Apesar disso, Coventry foi atacada com o resultado de 568 civis mortos.
Nos dias seguintes os ataques prosseguiram “tendo sido mortos 484 civis em Londres e 228 civis em Birmingham.” A retaliação britânica foi rápida: “Berlim foi bombardeada em 16 de novembro e Hamburgo foi atingida dois dias depois, matando 233 civis alemães.” (<<<<pg. 126-127)
Em 08/12/1940 outro ataque destruiu parte da Câmara dos Comuns e mais 85 pessoas morreram. 
Câmara dos Comuns atingida
Dois dias depois, finalmente, mais uma boa notícia: as tropas britânicas estavam arrasando os italianos no deserto e “o número de prisioneiros tinha subido para sete mil, entre eles três generais.” Os italianos também não estavam se dando bem na Grécia e, em ambos os casos, logo receberiam ajuda alemã.
Mas a situação financeira da Inglaterra estava rapidamente se transformando em um problema quase tão ruim quanto os aviões de Hitler. Roosevelt estava negando quase todos os pedidos de armas e suprimentos de Churchill e estava exigindo praticamente pagamento à vista.
Porém, “As compras de armas em dezembro, janeiro e fevereiro ascendiam a 1 bilhão de dólares, mas as reservas de ouro e dólares tinham sido tão esvaziadas por um ano de despesas de guerra que o total era de apenas 574 milhões de dólares.” Desse total, Roosevelt queria a metade pagos adiantados para poder seguir as entregas e chegou “ao ponto de enviar um navio de guerra à base naval de Simonstown, perto da Cidade do Cabo, para recolher 50 milhões de dólares de reservas de ouro britânicas guardadas na África do Sul.
A despeito disso as tropas britânicas no Egito avançaram até Tobruk, na Líbia. Esses avanços tinham data para acabar, pois com o conhecimento prévio (adquirido pelos decifradores de Bletchley) de que Hitler enviaria tropas para ajudar os italianos na Grécia, Churchill decidira que o exército na Líbia seria desfalcado para reforçar a resistência grega. (<<<pg. 128-129)
No início de Janeiro/1941 uma solução para o comércio de guerra entre os EUA e a Inglaterra  finalmente foi desenhada pelo Presidente estadunidense. O contrato chamado Acordo de Empréstimo e Arrendamento (Lend-Leasing) previa que “os Estados Unidos fabricariam o que a Grã-Bretanha necessitava e alugariam esse material, numa base de arrendamento, sendo o pagamento efetuado no final da guerra.”.
Antes, porém, “a Grã-Bretanha tinha de pagar todas as dívidas que pudesse em ouro e por meio da venda dos bens comerciais britânicos nos Estados Unidos.” o que significaria praticamente zerar os cofres britânicos.
Contudo, significava também que os problemas de suprimentos estavam solucionados. Isso, somado à notícia decifrada em Bletchley de que Hitler não planejava mais invadir a Grã-Bretanha, representaram um grande alívio para Churchill.
A partir dai a cooperação entre os dois países tornou-se também militar com a formação de um grupo que reunia os Estados Maiores na preparação de planos para o caso de os EUA entrarem na guerra. Aqui sugerimos ao leitor outra pausa em nossa série para ler um texto paralelo relacionado. Trata-se de “Bastidores da II Guerra”, que conta a participação de heróis quase esquecidos e também sobre os dias sombrios da Inglaterra sob ataque nazista. Para ler clique AQUI.
E aqui vai um indício a mais que alimenta teorias de conspiração de que os EUA sabiam que seriam atacados pelo Japão: “mesmo na eventualidade de uma guerra no Pacífico, o teatro de operações Atlântico-Europa continuará a ser o decisivo, se a Alemanha e os Estados Unidos entrarem diretamente em guerra.” (<<<<pg. 129-130)
No início de fevereiro as tropas britânicas seguiam avançando sobre os italianos no deserto da Líbia e fazendo prisioneiros às dezenas de milhares. No dia 12, porém, desembarcou em Trípoli o homem que se tornaria um pesadelo para os britânicos: Erwin Rommel. Em abril ele já havia feito os britânicos recuarem de volta ao Egito.
Na Grécia a situação era semelhante, os alemães avançavam rapidamente e a Iugoslávia também se tornara um alvo levando toda região dos balcãs a cair sob domínio de Hitler. Ao mesmo tempo, no Atlântico, os submarinos alemães causavam uma devastação sem precedentes no já minguado fornecimento de suprimentos vindos da América, os ataques aéreos às cidades inglesas seguiam e o número de civis mortos chegou à casa dos 30 mil.
Churchill atuava, com base nas informações decifradas em Bletchley, tentando convencer o Japão a não atacar as possessões britânicas na Ásia, bem como municiar Stalin de informações sobre as concentrações de tropas alemãs na fronteira com a URSS.
Em 10/05/1941 ocorreu o pior ataque a Londres até aquele momento, 1400 civis morreram e a cidade ardeu por três dias. O prédio da Câmara dos Comuns foi atingido novamente e Churchill disse ao filho que “Os hunos, amavelmente, escolheram um momento em que nenhum de nós estaria lá”. 
Em meio a esse tsunami de más notícias, o afundamento do encouraçado alemão Bismarck foi um pequeno bálsamo nas inúmeras feridas britânicas. As retiradas sangrentas da Grécia e da África, porém, trouxeram a dura realidade de volta. Mas, em 22/06/1941 as forças alemãs invadiram a URSS. (<<<<pg. 130-138)
Todos os conselheiros e amigos com quem Churchill conversou eram da opinião de que a URSS não resistiria nem por dois meses à invasão alemã. Então Winston fez mais uma de suas “profecias”: “Aposto um monkey contra uma mousetrap em como os russos ainda estarão lutando vitoriosamente daqui a dois anos.” o que significava 500 libras contra 1 na linguagem das corridas de cavalos.

CHURCHILL – Parte XXXV [1] [2]
No dia 22/06/1941, em transmissão pela BBC à noite, Churchill disse que todos sabiam que ele havia feito oposição ao bolchevismo durante muito tempo, mas que, naquele momento em que Hitler esperava derrotar os russos antes do inverno e depois voltar toda sua força contra a Inglaterra, “O perigo que a Rússia enfrenta é doravante nosso perigo...” que “a causa de qualquer luta dos russos por sua terra e por seu lar é a causa dos homens e dos povos livres em todos os cantos do mundo” e, portanto, “devemos dar à Rússia toda a ajuda que pudermos”.
E Winston agiu rapidamente para transformar em ações suas palavras ordenando uma série de grandes ataques às instalações militares alemãs na França e na Alemanha com intuito de obrigar Hitler a desviar recursos e tropas para defesa própria, aliviando assim o fardo russo.
Aos poucos o número de cidades alemãs bombardeadas foi aumentando, “Frankfurt foi bombardeada na noite de 7 de julho, Wilhelmshaven em 11 de julho e Hannover, em 14 de julho.
Em pronunciamento, Churchill avisou: “Infligiremos aos alemães o mesmo que, e mais ainda, do que eles infligiram a nós.” e ainda desafiou Hitler: “Você faz seu pior, e nós faremos nosso melhor.” Hamburgo foi o próximo alvo.
Ao mesmo tempo Winston enviava a Stalin todas as informações sobre a URSS que eram decifradas em Bletchley e avisava que daria toda ajuda possível: “...esperamos obrigar Hitler a devolver parte de seu poderio aéreo ao ocidente e gradualmente aliviá-lo de algumas de suas preocupações.
Parece-nos que, finalmente, Churchill estava planejando muito mais ataques do que operações defensivas. A isso soma-se a queda considerável de ataques aéreos sobre a Grã-Bretanha e a redução significativa da perda de comboios de suprimentos vindos da América pois agora eles conseguiam desviar e se esconder dos submarinos graças, mais uma vez, à decifração feita em Bletchley. (<<<<<<pg. 139-142)
No início de Agosto/1941 Churchill viajo a Placentia, na Terra Nova e Labrador - Canadá, para se encontrar com Roosevelt. 
Neste encontro foi decidido que os EUA ajudariam a URSS em coordenação com Churchill, aumentariam os comboios de suprimentos e suas escoltas para a Grã-Bretanha, também fariam entregas de aviões bombardeiros na África com pilotos-treinadores americanos e fariam patrulhamento marítimo até a Islândia.
Os dois países também firmaram um tratado com disposições sobre o pós-guerra que foi denominado Carta do Atlântico.[3]. Quando soube que os próprios alemães já não acreditavam em uma vitória na URSS antes do inverno, Churchill reforçou o envio de suprimentos, tanques e aviões para Stalin e os EUA fizeram o mesmo. 
Clementine lançou uma campanha que arrecadou medicamentos e um novo pacote de ajuda militar acertou o envio de “1.800 caças britânicos, novecentos caças americanos e novecentos bombardeiros para os próximos nove meses, bem como canhões navais, equipamentos de detecção de submarinos, armas antiaéreas e carros blindados.
Winston ordenou, ainda, ataques anfíbios à Noruega e a Sicília, operações que foram vetadas pelos chefes do Estado-Maior. (<<<pg. 142-146)
As boas notícias se multiplicavam. A URSS resistia muito além do que os mais pessimistas alemães poderiam ter previsto. 
Na Líbia as mensagens secretas decifradas em Bletchley davam conta de que Rommel enfrentava uma séria falta de recursos e até de combustível. Dois navios que trariam alívio na falta desse material foram afundados. As tropas britânicas romperam o cerco alemão e retornaram a Tobruk.
Em 07/12/1941 as forças navais do Império do Japão atacaram a base americana de Pearl Harbour. Os EUA não poderiam mais se esquivar de entrar na guerra. Contudo o ataque viera do Japão e o inimigo principal era a Alemanha. Como os EUA fariam guerra contra a Alemanha se esta não lhe atacara?
Quem solucionou a questão foi o próprio Hitler quando, após a declaração de guerra dos estadunidenses contra o Japão, declarou guerra da Alemanha contra os EUA.
Hitler tomou esta atitude fatal esperando que o Japão declarasse guerra a URSS, o que não ocorreu. O Exército Vermelho não só imperida a conquista de Moscou pelos nazistas, como contra-atacava fazendo recuar a Werhmacht pela primeira vez na guerra. (<<<pg. 146-149) Sobre esse tema, sugerimos uma pausa para leitura de nosso texto “A Mãe de Todas as Batalhas” que pode ser acessado AQUI.
Após a entrada dos EUA na guerra Churchill viajou a Washington onde foi hóspede de Roosevelt na Casa Branca. 
Ele permaneceu na capital estadunidense por três semanas e nas conversações ficou decidida a invasão do Norte da África bem como a necessidade de derrotar primeiro a Alemanha e depois o Japão que avançava sobre toda Ásia.
Também acordaram que os aviões americanos usariam as bases britânicas para atacar a Alemanha, que enviariam tropas para a Irlanda, substituindo os soldados do Reino Unido que poderiam ser enviados à África. Tropas americanas seriam deslocadas das Filipinas para Cingapura e mais tropas iriam compor a defesa da Austrália.
No dia 26/12/1941 Churchill discursou no Congresso dos EUA e, à noite, sofreu um pequeno ataque cardíaco na Casa Branca quando tentou abrir uma janela: “Tive de usar uma força considerável e, de repente, notei que tinha dificuldade para respirar. Senti uma forte dor no coração. Deixei de sentir meu braço esquerdo.
Mas o médico, Dr. Charles Wilson não revelou este fato nem mesmo ao paciente, recomendando apenas repouso e evitar esforço físico ao invés das seis semanas na cama que seriam recomendáveis.
CHURCHILL – Parte XXXVI [1] [2]
Apesar da recomendação médica de repouso absoluto, Churchill viajou para Ottawa, no Canadá, onde discursou no Parlamento relembrando a previsão furada do francês Weygand de que logo a Grã-Bretanha estaria com o pescoço torcido como de uma galinha. Winston falou, para delírio dos presentes: “E que galinha!” Quando as gargalhadas cessaram, acrescentou: “E que pescoço!
Só após retornar do Canadá ele tirou alguns dias de folga na Flórida. No retorno seu avião, pouco antes de pousar em Plymouth, foi confundido com um avião alemão e seis caças ordenados a decolar para abatê-lo. Felizmente o erro foi corrigido a tempo e ele pousou em segurança. (<<<<<<pg. 149-151)
Tropas Japonesas em Cingapura
No final de janeiro, com os japoneses avançando sobre Cingapura, Churchill pediu um voto de confiança no Parlamento, vencendo por 464 x 1. Mas as más notícias de 1942 estavam começando.
Os alemães mudaram seus códigos da máquina enigma que só foram decifrados no final do ano, ao mesmo tempo, os nazistas conseguiram decifrar os códigos britânicos para os comboios de carga do Atlântico Norte.
Em meados de fevereiro as forças que combatiam em Cingapura foram autorizadas à rendição: “Entre aqueles que foram feitos prisioneiros dos japoneses, havia 16 mil britânicos, 14 mil australianos e 32 mil indianos.
Em transmissão radiofônica Churchill conclamou a seguirem firmas na travessia da tempestade, no entanto os soldados em luta na Ásia não pareciam imbuídos do mesmo espírito, conforme relatou um dos comandantes britânicos na região: “nem os ingleses, nem os australianos nem os indianos demonstram verdadeira dureza de espírito e corpo”.
E, falando em corpo, o de Churchill parecia fraquejar com o peso que carregava sobre os ombros, a sucessão de más notícias e as críticas que já surgiam internamente, até mesmo da parte do Rei. Clementine temia por ele e a filha Mary escreveu que “Papai está muito deprimido. Não está muito bem fisicamente e está desgastado pela contínua pressão dos acontecimentos.” Enquanto isso os japoneses avançavam na Birmânia e em Java.
Tropas Japonesas na Birmânia

Tropas Japonesas em Java
No teatro de operações europeu Stálin pedia uma invasão aliada em 1942 para aliviar a pressão sobre a URSS, mas os EUA só estariam prontos para uma operação de tal envergadura em 1944. O que podiam fazer até lá seria prosseguir bombardeando as cidades alemãs.
Cidade alemã de Colônia devastada
Em 30/05/1942 a cidade de Colônia foi atacada por 1000 aviões bombardeiros sendo reduzida a ruínas fumegantes. Ao mesmo tempo o código secreto de comunicações do Japão foi decifrado e a frota a caminho de Midway foi interceptada com a destruição de quatro porta-aviões japoneses. (<<<<<<pg. 151-155)
Batalha de Midway
Em meados de Junho Churchill viajou novamente aos EUA para se encontrar com Roosevelt, desta vez na casa deste às margens do Rio Hudson. O próprio Roosevelt dirigia uma carro adaptado e deixou Winston meio assustado “confesso que em várias ocasiões, quando o carro se desequilibrou e resvalou nas bermas cheias de mato dos precipícios à beira do Hudson, desejei que os aparelhos mecânicos e os freios não tivessem nenhum defeito.
Neste encontro ambos concordaram em uma parceria nas investigações sobre a construção de uma bomba atômica. Também juntos receberam a notícia da queda de Tobruk, o que deixava Rommel na possibilidade de invadir o Egito. Roosevelt se comprometeu em enviar “trezentos tanques e cem canhões autopropulsionados”.
De volta a Inglaterra Churchill enfrentou uma moção de censura no Parlamento. No dia do início dos debates Rommel invadiu El Alamein, o que não foi nada bom para Winston assim acusado por um deputado trabalhista: “O primeiro-ministro vence debate após debate e perde batalhas atrás de batalhas. O país começa a dizer que ele luta nos debates como numa guerra e luta na guerra como nos debates.” Mas a moção de censura “foi derrotada por 475 votos contra 25.
Contudo, como que para lembrar que as más notícias sempre predominavam, um comboio de armas e suprimentos a caminho da URSS foi atacado e “Dos seus 34 navios mercantes, 23 foram afundados e apenas 11 chegaram à Rússia. De quase seiscentos tanques que o comboio transportava para a Rússia, quinhentos foram perdidos.
Em Agosto/1942 Churchill voou para o Cairo, onde constatou o desânimo reinante entre as forças britânicas. Então ele decidiu substituir o comandante do 8º Exército General Auchinleck pelo General Gott, cujo posto de Comandante em Chefe do Oriente Médio seria assumido pelo General Alexander.
Mas Gott foi morto quando seu avião foi derrubado pelos alemães e o escolhido para o posto foi o General Montgomery, que era considerado uma pessoa desagradável e sobre isso Winston escreveu a Clementine: “Se ele é desagradável com aqueles que trabalham com ele, é também desagradável com o inimigo”.
Do Cairo Churchill voou para Teerã e de lá para Moscou de onde foi levado a uma dacha (tipo de casa de campo) na qual esperavam por ele um banho quente e bebidas “muito além de nossas capacidades de consumo”.
Pouco depois ele foi levado ao Kremlin onde se encontrou com Stalin.
CHURCHILL – Parte XXXVII [1] [2]
O encontro com Stalin começou tenso, com este chateado, pois Churchill não podia atender a solicitação de um desembarque aliado na Europa que desviasse forças alemãs da URSS.
Mas Stalin ficou mais satisfeito com a promessa de que os bombardeios às cidades e instalações militares alemãs prosse-guiriam. E ainda mais feliz quando Winston detalhou os planos para um desembarque na África.
Na verdade, comentário nosso, naquele momento Stalin estava na difícil situação de defender-se do avanço alemão no Cáucaso onde a Batalha de Stalingrado já havia começado e a cidade parecia prester a cair, o que seria uma catástrofe de relações públicas considerando ser ela a Cidade de Stalin. E nada mais haveria no caminho para tomada dos campos petrolíferos de Maikop, o que garantiria abaste-cimento para a máquina de guerra alemã.
No dia 15/08/1942 ambos os líderes se encontraram novamente e Churchill avisou que haveria um “sério” ataque de reconhecimento em Dieppe (Normandia) em 17/08, o que deixaria a Alemanha “mais ansiosa acerca de um ataque através do canal”. Stalin ficou satisfeito e convidou Churchill ao seu aparta- mento no Kremlin para um drink que acabou se transformando em um banquete de seis horas. Despediram-se quase amigos, por assim dizer.
O ataque a Dieppe foi um sucesso, assim como a resistência das defesas de Stalin no Cáucaso seguiam resistindo. Churchill voltou ao Egito onde ficou mais alguns dias inspecionando as tropas nas quais sentiu o espírito revigorado após a posse de Montgomery.
Mensagens secretas deci- fradas em Bletchley permitiram o afundamento de mais navios que levavam combustível a Rommel, obrigando-o a antecipar o ataque visando El-Alamein. Mas ele fracassou justamente pela falta de combustível. Não havia mais como chegar ao Cairo ou Alexandria. (<<<<<<<<<<<<pg. 155-162)
Um ataque fracassado estimulava um contra-ataque e foi o que Montgomery fez em 23/10/1942. De posse de informações precisas sobre a localização e as deficiências das tropas de Rommel, que estava na Alemanha, os britânicos avançaram capturando milhares de soldados alemães e italianos. Quando Rommel voltou e tentou um contra-ataque, suas posições de reunião de forças foram bombardeadas pelo ar fazendo com que sequer pudessem começar.
A mensagem enviada por Rommel a Berlim, devidamente decifrada em Bletchley, informava o alto comando alemão de que as tropas italo-germânicas não tinham mais como resistir aos tanques britânicos e nem poderiam se retirar combatendo pela “falta de veículos motorizados e baixas reservas de combustível.”.
Saber dessa informação levou os britânicos a desencadear o ataque final. No dia 08/11/1942 “soldados britânicos e americanos desembarca- ram em força em Argel, Orã e Casablanca.”. Essas cidades, e portos, que eram possessões da França sob governo de Vichy, foram defendidas pelos franceses, mas o Almirante Darlan, francês, que estava em visita ao filho em Argel ordenou a entrega das armas aos aliados. Foi uma vitória extremamente importante.
A maré da guerra começava a virar pois também em Stalingrado, pouco mais de dez dias depois, seria desencadeada a Operação Urano, que cercaria o VI Exército alemão dentro de Stalingrado, isolando-o do restante das forças no Cáucaso.
A iminente derrota de Rommel na África abria a possibilidade de um desembarque aliado na Europa já em 1943, o que abriria a segunda frente europeia pela qual Stalin tanto pedira. Espirituoso como sempre, Churchil definiu aquele momento da seguinte forma: “Não é o fim. Não é sequer o princípio do fim. Mas é, talvez, o fim do princípio.
Em 13/11/1942 as tropas de Montgomery entraram em Tobruk e dois dias depois, por ordem de Churchill, todos os sinos da Inglaterra repicaram para celebrar a vitória. Por seu lado, as forças alemãs ocuparam o restante da França e o governo fantoche de Vichy deixou de existir na prática. (<<<<<pg. 162-165)
Em 22/11/1942 o Exército Vermelho completou o cerco ao VI Exército alemão, sob comando do General Von Paulus. Ele solicitou permissão para forçar uma retirada, o que Hitler negou, ordenando que resistisse e garantindo, com a palavra de Göring, que a Luftwaffe manteria o abastecimento. Contudo, Churchill soube que 400 dos aviões que fariam esse abastecimento (eram necessárias 800 toneladas periódicas de suprimentos) foram desviados para ajudar Rommel no deserto.
Este, por sua vez, concentrava muitas tropas na Tunísia, o que, certamente, adiaria a vitória final dos aliados na África, fato que também colocaria em suspense o desembarque aliado previsto para 1943. Os ataques de submarinos a comboios de suprimentos aliados para Inglaterra e a URSS seguiam aumentan- do chegando à astronômica cifra de quase 722 mil toneladas de navios afundados apenas em Novembro.
Somente em meados de Dezembro a cifra secreta alemã foi decodificada e os comboios puderam evitar as rotas dos submarinos. Em 17/12/1942 foi emitida uma declaração conjunta dos aliados denunciando o massacre de judeus e avisando que os perpetradores desses crimes seriam caçados depois da guerra.
CONTINUA 



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
 
 
 
CONTINUA




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).



[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   A Carta do Atlântico (Atlantic Charter) foi negociada na Conferência do Atlântico (codinome Riviera) pelo primeiro-ministro britânico Winston Churchill e pelo presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, a bordo do HMS Prince of Wales, na Argentia, em Terra Nova e foi emitida como declaração no dia 14 de Agosto de 1941. A Carta do Atlântico estabeleceu uma visão Pós-Segunda Guerra Mundial, apesar dos Estados Unidos ainda não estarem na guerra. Os participantes esperaram, em vão, a adesão da União Soviética, que tinha sido invadida pela Alemanha Nazista em 1941. Em resumo, os oito pontos eram:
1. Nenhum ganho territorial seria buscado pelos Estados Unidos ou pelo Reino Unido;
2. Os ajustes territoriais devem estar de acordo com os desejos do pessoal interessado;
3. As pessoas têm direito à auto-determinação;
4. Barreiras comerciais devem ser excluídas;
5. Há de ser uma cooperação econômica global e avanço do bem-estar social;
6. A liberdade de desejo e medo seria executada;
7. Há de ter a liberdade dos mares;
8. Desarmamento das nações agressoras em comum após a guerra seria feito.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Carta_do_Atl%C3%A2ntico



[3]   Journal New York and American – 19/07/1940