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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A VITÓRIA CRISTÃ EM ROMA - IX



COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – IX
Segundo Paul Veyne13, não foi Constantino que encerrou com a perseguição aos cristãos, já encerrada antes, mas que coube a ele “...fazer com que o cristianismo, transformado em sua religião, fosse uma religião amplamente favorecida, diferentemente do paganismo.”(pg.7).
O autor informa que havia um ambiente de virada da situação dos cristãos pois, no ano seguinte à tomada de Roma por Constantino, o Augusto do Oriente, Licínio, que era pagão mas não perseguia os cristãos, venceu seu rival perseguidor, Daia.
Com esta vitória, Roma voltava a ser uma diarquia, com um Augusto para o Ocidente, Constantino, e outro para o Oriente, Licínio. Ambos já haviam entrado “...em acordo em Milão para que seus assuntos pagãos e cristãos fossem tratados em pé de igualdade...” (pg.8)

A união dos dois homens mais poderosos da terra fora sacramentada através do casamento. Não entre eles, claro, mas entre Constância, filha de Constantino, e Licínio. No acordo foi disposto que o cristianismo seria tolerado e que “...os bens espoliados, os lugares de reunião dos cristãos deviam ser restituídos, as diversas comunidades cristãs reconhecidas.”(LISSNER, pg.491).
Paul Veyne chama a atenção para a diferença fundamental existente entre os cultos pagão e cristão que foram autorizados a conviver no império. Enquanto o fiel pagão tinha uma relação ocasional e de interesse com seus deuses, a quem recorria para o suprimento de suas necessidades, os cristãos agiam como submissos a Deus, vivendo em função de agradá-Lo. (pg.8)
E, se por um lado, Constantino não pretendesse, segundo Veyne, impor a crença cristã aos pagãos, por outro não aceitaria mais qualquer perseguição pagã aos cristãos.
Assim, foi por uma legítima proteção da fé, ou usando-a como pretexto, que Constantino entrou em guerra contra Licínio em 324 d.C. quando este expulsou os cristãos de seu convívio e impediu a passagem das tropas ocidentais pelas terras do Oriente para combater na Sarmátia14.
Vamos, contudo, por partes.
Continua...
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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

CÉSAR ATRAVESSA O RUBICÃO


CÉSAR CRUZA O RUBICÃO
Em um dia 10/01 como hoje, no ano 49 a.C., Júlio César, acompanhado da XIII Legião, atravessou o Riacho Rubicão, em Ariminum (atual Rimini – Itália), cruzando assim a fronteira italiana da época e violando a lei do Senado que proibia o ingresso de Generais e Legiões armadas na Itália.
A República Romana vivia seus momentos finais, embora parecesse restaurada após a ditadura de Sila. Quando este morreu, o poder retornou a um Senado desconectado do povo e incapaz de reassumir, de fato, o comando do império que Roma já se tornara.1

Com isso, recorreu-se ao suporte de figuras aliadas de Sila, mas capazes de reunir apoio popular, apesar de oriundas das classes dominantes. O poder passou a se concentrar em Cneu Pompeu e Marco Crasso.2
O Triunvirato
Crasso, “...general enriquecido pela compra dos bens confiscados por Sila...”3 derrotara a rebelião de Spartacus, mas tivera seu triunfo (o mais pomposo desfile militar) negado pelo Senado.4

Pompeu conquistara fama e fortuna vencendo a rebelião de Sertório, na Hispania, também vencera o Rei Mitridates e eliminara os piratas do Mar Mediterrâneo.5 Contudo os senadores estavam receosos do poder acumulado pelo general, por eles mesmos conferido, e passaram a cerceá-lo.6
Uma vez terminadas as campanhas militares, Pompeu e Crasso deveriam devolver os postos de comando, o que não fizeram. E o Senado não tinha como forçá-los sem iniciar uma guerra civil.7
Para garantir o apoio do partido popular, ambos fizeram acordo com um dos sobrinhos de Mário que conseguira escapar da perseguição de Sila. Seu nome? Júlio César!8

O acordo político dos três garantia “assistência mútua entre si para dividir o poder” entre eles mesmos e seus aliados nascendo, assim, o sistema que ficou conhecido como Primeiro Triunvirato.9
Este sistema de alianças permitiu que César chegasse ao Consulado e conseguisse, depois, o mandato para atuar na Gália. Esta guerra, como se sabe, lhe garantiu imensa riqueza e fama, equiparando-o, e até superando, seus dois parceiros de poder.
Apesar dos imensos egos que suportava, o acordo correu bem até que a morte os separou. Em 54 a.C. a esposa de Pompeu, Júlia, morreu de parto. Ela era filha de César.10 E no ano seguinte, 53 a.C., quem morreu foi Crasso, quando seu exército foi massacrado na Partia.11
Com esta morte, o equilibrio do Triunvirato acabou pois “A graça do triunvirato residia na sua inerente estabilidade, pois nenhum dos seus membros podia contra os outros dois”.12

O iminente retorno de César vitorioso e super rico da Gália fez com que seus adversários do Senado instigassem Pompeu contra ele. A estratégia consistiu, segundo Sheppard, em fazê-lo voltar a Roma sem a imunidade do cargo de Cônsul, para poder acusá-lo e derrotá-lo, apesar de um acordo ter sido aprovado “...por ampla maioria: 370 votos contra 22.13
Os 22, porém, conseguiram vetar os votos dos 370 e “O fato de os poucos senadores poderem vetar uma medida com apoio tão amplo era apenas um dos sinais do estado de deterioração das instituições democráticas de Roma.14
Lissner compara Roma a uma nau sem piloto, entregue à anarquia: “O Senado era corruptível, a Constituição estalava por todos os lados e as tribunas dos oradores estavam muitas vezes manchadas de sangue...15
Quando Pompeu finalmente aderiu aos inimigos de César, o confronto direto deixou de ser apenas uma das opções, passando a ser a única.16
Os primeiros embates da Guerra Civil, porém, ocorreram não nos campos de batalha, mas no piso do Senado. Uma série de medidas legislativas, algumas apenas de fachada, outras aprovadas e depois vetadas, resultou, por fim, na declaração de César como fora da lei.17
Com suas conquistas e a própria vida em risco, César dirigiu-se a Ariminum, onde o Rio Rubicão marcava a fronteira da Itália, na qual pela lei ele não poderia entrar liderando tropas.18

Plutarco descreve assim o momento decisivo: “Havendo, pois, chegado ao Rio Rubicão, […] parou pensativo e esteve por algum tempo meditando sobre o atrevimento de suas ações. Depois […] sem articular mais palavras do que esta expressão […] - A sorte está lançada...- fez com que as tropas atravessassem o rio.”19
César estava voltando pra casa!
1  SHEPPARD, Si. Grandes Batalhas - Farsália 48 a.C. César contra Pompeu. Osprey – Espanha 2010. pg. 10
2   Idem
3   MENDES, Norma Musco. Roma Republicana. São Paulo: Ática, 1988. pg. 67
4  BRANDÃO, José Luís (coord.); OLIVEIRA, Francisco de (coord.). História de Roma Antiga volume I: das origens à morte de César. Coimbra-Portugal: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015. pg.373
5  GRIMAL, Pierre. História de Roma. Trad. Mª L. Loureiro. São Paulo: UNESP , 2011. pg. 106
6   (MENDES: 1988) pg. 67
7   (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.373
8   (MENDES: 1988) pg. 67
9   (GRIMAL: 2011) pg. 111
10  SUETONIUS. Roma Galante – pg. 16
11  (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.384
12  (SHEPPARD: 2010) pg. 11
13 BRUNS, Roger. Os Grandes Líderes – Júlio César. São Paulo: Nova Cultural, 1988. pg. 64
14  Idem
15 LISSNER, Ivar. Os Césares – Apogeu e Loucura: Tradução de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. pg.79
16  (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.385
17  (SHEPPARD: 2010) pg. 12-16
18  Ibid. pg. 16
19 PLUTARCO. Vidas Paralelas - Tomo V - Pompeyo: LX
 

sábado, 1 de dezembro de 2018

PRINCESA ISABEL DO BRASIL

http://cearamirimvale.blogspot.com.br/2014_05_11_archive.html
NOVA SÉRIE DO REINO DE CLIO!
Nos últimos tempos o Reino de Clio vem, com suas séries, tentando sempre manter um foco na prestação de homenagens a mulheres que tiveram participação importante na História do Brasil.
E são muitas as mulheres que, em meio a um ambiente sempre machista, conseguiram a duras penas gravar seus nomes no eterno processo de construção da nossa sociedade.
Essa quantidade impossibilita que todas sejam homenageadas, de modo que vamos nos focando naquelas que atingiram maior notoriedade.
Hoje iniciamos uma nova mini-série, desta feita dedicada à Princesa Isabel. O texto é uma mescla entre pesquisa feita para um seminário da UFS, realizado junto com os amigos Carla Oliveira, Rafael Rocha e Gérson Alves e novo material.
Especificamente falando, utilizamos material produzido pela Profª. Carla Oliveira no qual introduzimos mais conteúdo, o que resultou na obra que segue, portanto uma co-autoria.
Como sempre, nosso intento é contar uma boa História e esperamos que seja tão bom ler, quanto foi pesquisar e escrever.
Todas as informações desta série são oriundas da obra” Princesa Isabel do Brasil: Gênero e Poder no século XIX”[1] de Roderick J. Barman, a não ser quando expressamente informado.
Vamos, pois, à Princesa Isabel, porque o Ministério do Reino de Clio é cheio de mulheres!
D. Isabel foi a terceira mulher a ocupar uma posição que poderíamos qualificar como chefe de estado do Brasil, única delas brasileira (a primeira foi a rainha portuguesa Maria I, a segunda a austríaca D. Leopoldina) e foi também nossa primeira senadora.
Com a morte prematura dos dois irmãos, ela tornou-se, aos 04 anos de idade, a primeira na linha de sucessão do trono, prestando juramento aos 14 anos de idade, de acordo com a Constituição. 
Roderick J. Barman revela que os historiadores não se ocupam muito da figura de D. Isabel. Quando geralmente o fazem é por dois motivos: por sancionar a Lei do Ventre Livre em 1871, e por assegurar o fim da escravidão, sancionando a Lei Áurea de 1888.
Porém, a princesa Isabel foi a herdeira do trono do Brasil durante quase quarenta anos, de 1851 a 1889, e nesse período a participação dela não foi tão limitada como se está acostumado a crer. É sobre a vida dela que o autor irá escrever.
Fazendo uma análise do contexto histórico em que viveu D. Isabel, o autor coloca que ainda no século XIX, assim como nos anteriores, as mulheres eram educadas para exercerem as típicas funções de filhas, esposas e mães, mas nenhuma delas em diferentes países eram preparadas para a função de governante do Estado. Logo, com a Princesa Isabel não foi diferente.
À mulher era negado o direito de formação política. E para dar um exemplo, Barman menciona as únicas mulheres que são citadas na História do Brasil: Imperatriz Leopoldina, Maria Quitéria e Joana Angélica.
A política, frequentemente definida em termos de poder, ou seja, de “quem tem o que, quando e como”, ocupava-se do acesso e do controle dos recursos materiais e humanos. Era vista como parte da esfera pública, na qual as mulheres não tinham lugar. (p. 20)


CONTINUA


PRINCESA ISABEL DO BRASIL – Parte II
A Princesa Isabel nasceu em 29 de julho de 1846, segunda filha do Imperador D. Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina.
Ao nascer, o bebê foi levado pelo pai a um grupo de homens do governo reunidos para atestar as declarações de nascimento da criança, que, sendo menina, mostrou ser uma grande frustração para todos os presentes. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Princesa_Isabel_cerca_1851_frame_removed.png
Ela foi batizada com o nome de Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga, os quatro últimos dados por tradição aos membros da família Bragança. Depois do nascimento de Isabel, nasceu sua irmã Leopoldina.
Barman diz que a princesa e sua irmã levavam uma vida reclusa, o que as impossibilitava de manter contato com o público. 
http://www.conexaojornalismo.com.br/video/o-maior-casamento-brasileiro-da-historia,-por-elcio-braga-video-84-41117
No que se refere a educação das princesas, é sabido que em maio de 1854 iniciaram seus estudos com um preceptor republicano convicto, Francisco Crispiniano Valderato, que as tratava de doninhas[1] no lugar de Altezas, como mandava o protocolo.
D. Isabel tinha, em sua personalidade, a tendência a ver a vida de forma alegre, como também faltava-lhe introspecção.
Por tradição da Coroa Portuguesa, ao completar 7 anos, o herdeiro do trono era entregue aos cuidados de um aio[2], que ficava responsável por sua criação e educação.


[1]  O nome Doninha pode-se referir a vários pequenos mamíferos carnívoros das famílias dos mustelídeos e dos mefitídeos.
Disp.: https://pt.wikipedia.org/wiki/Doninha
[2]  A palavra "aio" vem de uma palavra grega que quer dizer, literalmente, "uma pessoa que conduz uma criança". 
Disp.: http://www.dicionarioinformal.com.br/aio/

http://escola.britannica.com.br/assembly/191459/Retrato-de-dom-Pedro-II-dona-Teresa-Cristina-e-as
D. Pedro II era extremamente zeloso e rigoroso quando o assunto era a educação de suas filhas. Sendo um homem culto, amante das ciências e das artes, preparou ele mesmo um programa para desenvolver o conhecimento das meninas.
Porém é necessário dizer que o Imperador não incluiu no programa nenhum tipo de educação que preparasse D. Isabel para o papel de futura governante do país, como foi visto anteriormente. É possível pensar que ele esperasse vir a ter um filho homem para quem pudesse deixar o trono. 

PRINCESA ISABEL DO BRASIL – Parte III

A Isabel foi negada toda espécie de conhecimento político, como era típico da sociedade da época. É preciso dizer também que a princesa era um tanto descuidada com a educação formal, ela não tinha muito interesse, sendo muito resistente no tocante a essa questão.

Também não havia uma prática de educar as meninas para as mudanças pelas quais o corpo passava ao entrar na adolescência. Elas permaneciam em estado de completa ignorância.  
Era muito comum aos homens do século XIX, acreditar que as mulheres eram altamente incapazes de administrar sozinhas suas próprias vidas.  Essas mudanças fisiológicas geralmente eram acompanhadas por alguns transtornos psicológicos, como depressões e agressividades. 
Para a sociedade da época era o casamento que dignificava a mulher.   
Os casamentos eram acordos, transação de bens arranjadas pelos pais. Não cabiam às filhas escolherem seus cônjuges, precisavam apenas aceitar de bom grado e com muita resignação o que lhes era imposto:
No século XIX, o casamento era o destino da maioria das mulheres ocidentais nascidas nas classes média e alta. A missão de vida da mulher consistia em prestar apoio, conforto e lealdade ao marido e em gerar e criar seus filhos. (p. 78)

Com a Princesa Isabel não foi diferente. Coube ao Imperador a escolha do genro. E ele procurou um jovem influente de família real. Não poderia aceitar menos que isso para casar suas filhas.
Foram indicados para desposarem as princesas os senhores August de Saxe-Coburg e o Conde d’Eu. Os trâmites dos casamentos foram tão burocráticos quanto à época se exigiam e as princesas não tomaram conhecimento dessas negociações. 

O BEM COMPORTADO NAMORO!
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Alberto_Henschel_-_A_Familia_Imperial.jpg
É notória a paixão da princesa Isabel por seu pretendido, porém é notório também que ele não sentiu a mesma empolgação e não compartilhou os mesmos sentimentos. Poder-se-ia dizer que ele se casou por conta do interesse próprio. 
Provavelmente ignorando isso, a princesa ficou feliz e ansiosa pela nova vida que a esperava: a de esposa e, conseqüentemente, a de mãe. O matrimônio foi celebrado no dia 15 de outubro de 1864.
Nada na educação da princesa lhe ensinara a igualar o matrimônio ao amor romântico. [...] Pode ser que o casal tenha se apaixonado durante a lua-de-mel em Petrópolis, mas nem por isso D. Isabel escapou ao seu papel de obediente subordinação. (p. 95 – 96)
PRINCESA ISABEL DO BRASIL – Parte IV
No início foi difícil para Isabel conciliar o papel de esposa e filha. Foi somente após o casamento de sua irmã Leopoldina que ela finalmente conciliou os dois papéis.
Todo o universo da princesa mudou drasticamente, incluindo aí o seu relacionamento com o pai. Foi, segundo Barman, apenas depois do casamento de D. Isabel que D. Pedro II procurou iniciar a filha no mundo do conhecimento masculino, ou seja, na esfera política.
Isabel passou por um novo dilema pessoal, à medida em que se intensificou o conflito entre Uruguai, Brasil e Paraguai.

Para o autor, esse fato despertou o interesse da Princesa por assuntos públicos, principalmente porque ela foi afetada com a partida do Imperador para o campo de batalha.
http://circulomonarquicodebrasilia.zip.net/arch2004-07-25_2004-07-31.html
A Princesa e o esposo Gastão d’Orleans empreenderam uma longa viagem à Europa, com o objetivo de fazerem visitas familiares e participarem de eventos sociais.
Pouco antes de retornarem ao Brasil, os conflitos gerados na fronteira sul do país tomaram proporções de uma grande guerra. Por tais motivos, a presença dos genros junto às forças armadas tornou-se necessária.
Quando o Conde d'Eu retornou do Sul, o casal se instalou no Paço Isabel, sua nova residência, e lá permaneceram por 24 anos.


[1]  BARMAN, Roderick J. Princesa Isabel do Brasil: Gênero e Poder no século XIX. Tradução de Luis Antônio Oliveira Araújo. São Paulo: UNESP, 2005.



http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/81/artigo343770-1.asp

PRINCESA ISABEL DO BRASIL – Parte V
A primeira vez que D. Isabel assumiu a regência foi em 1871, mesmo ano da morte de sua irmã Leopoldina, vítima de tifo.


Por conta da morte da filha, o casal imperial viajou à Europa e D. Isabel assumiu o trono, contando, à época, com 24 anos. Neste seu período de regência foi assinada a Lei do Ventre Livre.

A Lei do Ventre Livre
http://www.historia.uff.br/curias/modules/tinyd0/index.php?id=14
A partir daquela data, todos os filhos de escravos nasceriam livres o que, na prática, acabaria com a escravidão no Brasil se o tráfico negreiro fosse definitivamente interrompido.


Somente em 15/10/1875 nasceu o primeiro filho da herdeira, o príncipe D. Pedro de Alcântara. O segundo, D. Luis, nasceu em 26/01/1878, ano em que o casal passou a residir na França. O retorno se deu em 1881, quando em 09/08 nasceu o terceiro e último filho, D. Antônio Gastão.

http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/81/artigo343770-1.asp
A tendência política de D. Isabel era liberal. Apoiava artistas, políticos e o movimento abolicionista, chegando a receber escravos fugitivos em sua casa de Petrópolis:
A Princesa Isabel também protegia fugitivos em Petrópolis. Temos sobre isso o testemunho insuspeito do grande abolicionista André Rebouças, que tudo registrava em sua caderneta implacável. Só assim podemos saber hoje, com dados precisos, que no dia 4 de maio de 1888, “almoçaram no Palácio Imperial 14 africanos fugidos das Fazendas circunvizinhas de Petrópolis”. [1]




PRINCESA ISABEL DO BRASIL – Parte VI
O terceiro período regencial de D. Isabel iniciou-se com mais uma viagem do Imperador à Europa em 30/06/1887.


Colhida em meio a acirradas disputas entre abolicionistas e escravocratas, a princesa conseguiu pretexto para demitir o ministério e o chefe de governo conservador, Barão de Cotegipe, nomeando em seu lugar o liberal João Alfredo.

Barão de Cotegipe e João Alfredo
Os ventos sopravam definitivamente na direção da libertação dos escravos e, já na abertura da 3ª sessão da 20ª Legislatura da Assembléia Geral, a Princesa Regente declarara que:
A extinção do elemento servil, pelo influxo do sentimento nacional e das liberalidades particulares, em honra do Brasil, adiantou-se pacificamente de tal modo que é hoje aspiração aclamada por todas as classes […]. confio que não hesitareis em apagar do direito pátrio a única exceção que nele figura em antagonismo com o espírito cristão e liberal das nossas instituições. [1]
A Batalha da Abolição estava começando!

PRINCESA ISABEL DO BRASIL – Parte VIII
O dia 13 de Maio de 1888 foi o Domingo no qual terminaram as votações sobre o projeto da abolição, mas ele percorrera os trâmites parlamentares da época, embora em tempo recorde.
O projeto de lei foi enviado pela Princesa Regente à Câmara Geral em 08/05/1888, trazido pelo Senador Rodrigo Augusto da Silva, do Partido Conservador, então membro do Conselho de Ministros, acumulando os cargos da Agricultura e Relações Exteriores.[1]







[1]    https://pt.wikipedia.org/wiki/Rodrigo_Augusto_da_Silva 



Câmara dos Deputados Gerais - Rio de Janeiro
A apresentação do projeto foi feita pelo Ministro Rodrigo Augusto assim:
Venho, de ordem de Sua Alteza Imperial, Regente em nome de sua Majestade o Imperador, apresentar-vos a seguinte proposta: Art. 1.º É declarada extincta a escravidão no Brazil. Art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário. Palácio do Rio de Janeiro, 8 de Maio de 1888. [1]
Após debates acalorados, principalmente entre Rodrigo Augusto e o deputado geral Andrade Figueira, a Lei Áurea passou por duas votações conforme o regimento.





[1]    SENADO FEDERAL. 1823-1888 – A Abolição no Parlamento, 65 anos de lutas – V-II. 2ª Edição. Brasília, 2012. pg. 468
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Na primeira votação, no dia 09/05, o projeto foi aprovado por 83 x 9, uma vitória esmagadora.[1] Na segunda votação, em 10/05 foi aprovada por aclamação seguindo, então, para o Senado Imperial.





[1]    https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_%C3%81urea


Senado do Império
Em 11/05 o projeto chegou ao Senado onde também passou por debates e duas votações. Na primeira, em 12/05 foi aprovado por todos os senadores, à exceção do Barão de Cotegipe[1], cujas palavras no dia anterior, durante as discussões, hoje nos soam como profecia:
As grandes manifestações de entusiasmo, em todos os tempos, nunca foram permanentes, ou muito duradouras; e os homens práticos sabem, as lições da história demonstram, que muitas vezes o triunfador de hoje é a vítima de amanhã. [2]







[1]    https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_%C3%81urea

[2]    SENADO FEDERAL. 1823-1888 – A Abolição no Parlamento, 65 anos de lutas – V-II. 2ª Edição. Brasília, 2012. pg. 468



A despeito dessa colocação agourenta, dois dias depois, 13 de maio de 1888, um dia que deve ser lembrado e celebrado enquanto existir o Brasil, a Lei Áurea foi definitivamente aprovada em segunda votação, seguindo para a sanção da Princesa Regente. Começava a ser apagada, naquele momento, a maior mancha de nossa História.
Saindo de Petrópolis D. Isabel alojou-se no Paço Imperial para assinar a lei, com uma pena de ouro especialmente confeccionada para a ocasião e, em presença de uma multidão estimada em 10 mil pessoas, assinou a Lei Áurea e decretou, indiretamente, o fim do Império.
Pena com a qual foi assinada a Lei Áurea
À assinatura da lei se seguiu uma apoteose coletiva que elevou o país a um estado de celebração com poucos precedentes. 




Mas, o Barão de Cotegipe, sempre ele, no momento de cumprimentar D. Isabel pela aprovação da lei, teria proferido saudação lúgubre: "A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono!"[1]


PRINCESA ISABEL DO BRASIL – Parte IX
"A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono!"[1]
Esta frase lúgubre do Barão de Cotegipe infelizmente se provou quase profética, pois a maioria esmagadora dos fazendeiros escravocratas passou a apoiar a causa republicana.
Com a perda de sua base de apoio, o governo de D. Pedro II resistiu apenas pouco mais de um ano até o golpe que o destituiu, expulsou a família imperial do país e instaurou a nova forma de governo.
Exilada, Isabel terminou seus dias na Normandia, jamais tendo retornado ao Brasil com vida. O banimento da família imperial foi revogado em 1920 pelo Presidente Epitácio Pessoa, motivado por um processo iniciado por advogados e jornalistas de Santos.
Cripta da Família Imperial - Petrópolis/RJ - no centro D. Pedro II e Tereza Christina - à esquerda D. Isabel
Contudo, os restos mortais de D. Isabel só retornaram ao país em 6 de julho de 1953, para serem sepultados no Mausoléu Imperial da Catedral de Petrópolis.




PRINCESA ISABEL DO BRASIL – Parte X
São injustas as críticas contra a Princesa Isabel que afirmam que ela foi levada de roldão pelos fatos já estabelecidos e só assinou a Lei Áurea quando já havia poucos escravos. Em 1887 ainda havia mais de 700 mil deles no país.
Para nós, do Reino de Clio, poderia ser apenas um único escravo, e o gesto da assinatura seria digno de louvor. Mas também a criticam por não ter promovido a inserção dos negros na sociedade.
Como foi exposto anteriormente, a Princesa tinha um longo histórico abolicionista chegando a atuar pessoalmente pela causa, abrigando escravos fugitivos.
Seu avô, D. Pedro I, já tentara encontrar uma forma de abolir a escravidão e sua concepção a respeito da diferença entre seres humanos é digna dos melhores humanistas:
...aflijo-me de ver os meus semelhantes dando, a um homem, tributos próprios à Divindade. Eu sei que o meu sangue é da mesma cor que o dos negros. [1]




[1]   REZZUTTI, Paulo. D. Pedro : a história não contada : o homem por cartas e documentos inéditos. Rio de Janeiro : Leya, 2015.


A avó paterna de Isabel, a Imperatriz Leopoldina, também se espantara com o tratamento dado aos escravos quando “...constatara [...] que eram concebidos perante aquela sociedade não como pessoas, mas como coisas.[1]
Essa ojeriza do primeiro casal imperial à escravidão se refletiu no filho, herdeiro do trono e pai de Isabel, D. Pedro II[2]. Ele já abordava a questão com preocupação em 1864[3], embora agisse com extrema cautela[4] e incentivava a libertação de escravos[5], agindo, por vezes, pessoalmente. 
Em viagem ao Nordeste, em 16/10/1859 na Cidade de Propriá – Sergipe, D. Pedro II doou 50 mil réis para ajudar a comprar a alforria de uma escrava.[6]
Assim, é injusto dizer que a Princesa Isabel estava ali por acaso, assinando a Lei Áurea. Assim como é injusto falar de abandono dos libertos à própria sorte.
No próximo e último capítulo desta série vamos provar como os detratores da Princesa são injustos.

CONTINUA
[1]   NETO, Renato Drummond T. D. Leopoldina, a mãe do Império brasileiro – Parte II. Disp.:
     https://rainhastragicas.com/2012/10/22/d-leopoldina-a-mae-do-imperio-brasileiro-parte-ii/
[2]   http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=professores&id=175#_ftn14
[3]   SALLES, R. E o vale era escravo. Vassouras, século XIX. Senhores e escravos no coração do Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 89.
[4]   HOLANDA, S. B. Capítulos de História do Império.São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2010. p. 142.
[5]   CARVALHO, J. M. A construção da ordem:a elite política imperial. Teatro de sombras:a política imperial. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 319

[6]   SANTOS, Luiz Álvares. Viagem Imperial à Província de Sergipe, Salvador: Tipografia do Diário, 1860.


[1]    SILVA, Eduardo - As camélias do leblon e a Abolição da Escravatura


PRINCESA ISABEL DO BRASIL – Final
Carta recém-descoberta, e já autenticada, da Princesa Isabel para o Barão de Mauá, atesta que havia, no âmbito da família imperial, a disposição de indenizar os escravos pelos anos de escravidão e assentá-los em terras nas quais poderiam viver e produzir para si mesmos. 
Trechos da carta da Princesa são bem reveladores, inclusive da participação ativa de seu pai no processo, na amizade da princesa com os mais notórios abolicionistas e pistas do motivo pelo qual, após o golpe de 1889, os negros foram abandonados pelos republicanos:
Fui informada por papai que me collocou a par da intenção e do envio dos fundos de seo Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de maio do anno passado, e o sigilo que o Snr. pidio ao prezidente do gabinete para não provocar maior reacção violenta dos escravocratas. [1]



[1]   O LADO REBELDE DA PRINCESA ISABEL. Site Cultura Negra. Acesso em 17/05/2016 Disp:
     http://www.culturanegra.com.br/#!o-lado-rebelde-da-princesa-isabel/c1f8o

A Princesa, o Barão e o Imperador

Deos nos proteja si os escravocratas e militares saibam deste nosso negócio pois seria o fim do actual governo e mesmo do Império e da caza de Bragança no Brazil. [2]
Nosso amigo Nabuco, além dos snres. Rebouças, Patrocínio e Dantas, poderam dar auxílio a partir do dia 20 de Novembro quando as Camaras se reunirem para a posse da nova Legislatura. [...] Com o apoio dos novos deputados e os amigos fiéis de papai no Senado será possível realizar as mudanças que sonho para o Brazil![3]
Com os fundos doados teremos oportunidade de collocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e dellas tirando seos próprios proventos. [4]
Assim, a descoberta de tal carta, que tem a condição de acrescentar fatores importantíssimos ao processo da abolição, que se pensava já esgotado, também revela uma princesa ativa junto com alguns dos principais abolicionistas, planejando um futuro bem diferente daquilo que veio a ser a realidade pós golpe de 1889.
A carta também permite perceber quem teriam sido os verdadeiros culpados pela marginalização dos negros na sociedade brasileira: o novo governo republicano estava cheio de escravocratas...
Permite ainda verificar, com muito orgulho, que eles sabiam dos riscos para continuidade do Império, mas prosseguiram mesmo assim. 
Portanto, para aqueles que, todo dia 13 de Maio, ficam postando memes negando à Princesa Isabel a maternidade da Abolição, shame on you!
E nossos aplausos e gratidão à Princesa Imperial Regente D. Isabel, a Redentora – o Reino de Clio a saúda!
FIM




[1]   O LADO REBELDE DA PRINCESA ISABEL. Site Cultura Negra. Acesso em 17/05/2016 Disp:
     http://www.culturanegra.com.br/#!o-lado-rebelde-da-princesa-isabel/c1f8o
[2]   Ibid
[3]   Ibid
[4]   Ibid


1BARMAN, Roderick J. Princesa Isabel do Brasil: Gênero e Poder no século XIX. Tradução de Luis Antônio Oliveira Araújo. São Paulo: UNESP, 2005.
2O nome Doninha pode-se referir a vários pequenos mamíferos carnívoros das famílias dos mustelídeos e dos mefitídeos.
Disp.: https://pt.wikipedia.org/wiki/Doninha
3A palavra "aio" vem de uma palavra grega que quer dizer, literalmente, "uma pessoa que conduz uma criança".
Disp.: http://www.dicionarioinformal.com.br/aio/
4SILVA, Eduardo - As camélias do leblon e a Abolição da Escravatura
5SENADO FEDERAL. 1823-1888 – A Abolição no Parlamento, 65 anos de lutas – V-II. 2ª Edição. Brasília, 2012. pg. 457
6https://pt.wikipedia.org/wiki/Rodrigo_Augusto_da_Silva
7SENADO FEDERAL. 1823-1888 – A Abolição no Parlamento, 65 anos de lutas – V-II. 2ª Edição. Brasília, 2012. pg. 468
8https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_%C3%81urea
9https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_%C3%81urea
10SENADO FEDERAL. 1823-1888 – A Abolição no Parlamento, 65 anos de lutas – V-II. 2ª Edição. Brasília, 2012. pg. 468
11https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Maur%C3%ADcio_Wanderley
12REZZUTTI, Paulo. D. Pedro : a história não contada : o homem por cartas e documentos inéditos. Rio de Janeiro : Leya, 2015.
13NETO, Renato Drummond T. D. Leopoldina, a mãe do Império brasileiro – Parte II. Disp.:
https://rainhastragicas.com/2012/10/22/d-leopoldina-a-mae-do-imperio-brasileiro-parte-ii/
14http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=professores&id=175#_ftn14
15SALLES, R. E o vale era escravo. Vassouras, século XIX. Senhores e escravos no coração do Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 89.
16HOLANDA, S. B. Capítulos de História do Império.São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2010. p. 142.
17CARVALHO, J. M. A construção da ordem:a elite política imperial. Teatro de sombras:a política imperial. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 319
18SANTOS, Luiz Álvares. Viagem Imperial à Província de Sergipe, Salvador: Tipografia do Diário, 1860.
19O LADO REBELDE DA PRINCESA ISABEL. Site Cultura Negra. Acesso em 17/05/2016 Disp:
http://www.culturanegra.com.br/#!o-lado-rebelde-da-princesa-isabel/c1f8o
20Ibid
21Ibid
22Ibid