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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

REVOLUÇÃO IRANIANA

REVOLUÇÃO IRANIANA
Foi em um dia 01/02 como hoje, no ano de 1979, que o Aiatolá Khomeini (Sayyid Ruhollah Musavi Khomeini), retornou ao Irã para fundar a República Islâmica do Irã, em substituição ao regime monárquico do Xá Reza Pahlevi (Mohammad Reza Pahlevi).
O Xá Reza Pahlevi, nascido em 26/10/1919 em Teerã, quando o país ainda era a Pérsia, assumiu o poder durante a II Guerra Mundial, após a abdicação de Reza Xá, seu pai, forçada por uma invasão de ingleses e russos.
Durante seu reinado a indústria do petróleo foi estatizada, mas EUA e Inglaterra forçaram a volta da privatização. Também em seu período foram celebrados 2.500 anos de monarquia persa, contada desde Ciro, O Grande.
O Xá Reza Pahlevi tomou várias medidas para modernizar e secularizar o Irã, mantendo uma linha de atuação pró ocidente e mantendo negociações com Israel, o que lhe fez perder o apoio do clero xiita.
O Xá Reza Pahlevi e o Aiatolá Khomeini 
A crise econômica, as medidas fracassadas para solução desta e a inerente corrupção do regime o fizeram perder apoio dentre a população em geral e acabou por fazer surgir uma forte oposição. E quanto maior a oposição, maior foi a repressão.
Essa repressão cresceu tanto que incomodou o ocidente. Em 1977 o Presidente dos EUA, Jimmy Carter pressionou o regime a reduzir a perseguição política, no que foi atendido. Ao contrário do esperado, porém, as manifestações contra o governo só aumentaram.
Quando a repressão voltou, o exército matou cerca de 90 pessoas durante protestos, no que ficou conhecido como massacre da Sexta-Feira Negra em 08/09/1978. Como era de se esperar, as manifestações se agigantaram chegando ao número de 2 milhões de pessoas em Teerã no dia 12/12/79.
Quando os soldados do exército começaram a desertar para não ter que atirar no povo, o governo estava condenado. O Xá Reza Pahlevi ainda acenou com concessões, mas já tinha perdido a guerra. Quando o Aiatolá Khomeini exigiu o fim da monarquia, Pahlevi não viu outra alternativa que não a fuga do país.
Então Khomeini foi convidado a retornar ao país, vindo de Paris, onde estava exilado. Logo ele já era aceito como lider maior da revolução e assumiu o governo afastando todos os opositores.
Em pouco tempo o novo regime expulsou as representações diplomáticas americanas, cancelou os contratos de compras de armas e exportação de petróleo aos EUA e implantou uma constituição teocrática, baseada na Sharia, a Lei Islâmica. A ocidentalização do Irã foi interrompida.
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Fontes e Imagens:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Iraniana
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ruhollah_Khomeini
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mohammad_Reza_Pahlavi
https://historiazine.com/a-revolu%C3%A7%C3%A3o-iraniana-80482633fd2f
https://historiazine.com/a-revolu%C3%A7%C3%A3o-iraniana-80482633fd2f#.5k92sbj6y
http://acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/revolucao-islamica-no-ira-9541025
https://shakak76.wordpress.com/2015/02/10/iranian-revolutionthe-phenomenon-which-changed-the-middle-east/
http://www.davidburnett.com/gallery.html?gallery=44+Days%3A+the+Iranian+Revolution#/16
http://www.ilimvemedeniyet.com/iranian-islamic-revolution.html

http://www.davidburnett.com/gallery.html?gallery=44+Days%3A+the+Iranian+Revolution#/3

DIAS DE JANEIRO NA HISTÓRIA


FUNDAÇÃO DE SÃO VICENTE
Em um dia 22/01 como hoje, no ano de 1532, Martin Afonso de Souza, donatário português, fundava a Vila de São Vicente, primeira vila da História do Brasil.
A localidade, que na verdade é uma ilha, fora habitada, em seus primórdios, por índios Tapuias, expulsos pelos índios Tupis vindos da Amazônia por volta do ano 1000.
O nome, Ilha de São Vicente, foi dado por Gaspar de Lemos em 1502, em honra de Vicente de Saragoça, ou São Vicente Martir. Porém, os índios que a habitavam então denominavam de ilha de Gohayó.
Martin Afonso de Souza, que recebera duas capitanias hereditárias do Rei Dom João III, veio ao Brasil com a missão de demarcação do litoral até o Rio da Prata e, após travar combate contra os “índios carijós, guaianases e tamoios“ a quem venceu, fundou a vila.
As primeiras construções consistiram do pelourinho, símbolo da autoridade real, a igreja e uma câmara, para a qual foram realizadas as primeiras eleições das Américas, em 22/08/1532.
Assim, a fundação de São Vicente representou o início, de fato, da História do Brasil Colônia. Parabéns a todos os que, como eu, têm o orgulho de serem Vicentinos!
Moro no belíssimo Nordeste. Estou distante, mas não esqueço dos passeios de trenzinho na Praça 22 de Janeiro, dos doces maravilhosos (e cheios de abelhas) das barracas da Biquinha e da emocionante (e assustadora) travessia a pé da Ponte Pênsil.
Parabéns São Vicente!
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CÉSAR CRUZA O RUBICÃO
Em um dia 10/01 como hoje, no ano 49 a.C., Júlio César, acompanhado da XIII Legião, atravessou o Riacho Rubicão, em Ariminum (atual Rimini – Itália), cruzando assim a fronteira italiana da época e violando a lei do Senado que proibia o ingresso de Generais e Legiões armadas na Itália.
A República Romana vivia seus momentos finais, embora parecesse restaurada após a ditadura de Sila. Quando este morreu, o poder retornou a um Senado desconectado do povo e incapaz de reassumir, de fato, o comando do império que Roma já se tornara.1
Com isso, recorreu-se ao suporte de figuras aliadas de Sila, mas capazes de reunir apoio popular, apesar de oriundas das classes dominantes. O poder passou a se concentrar em Cneu Pompeu e Marco Crasso.2
O Triunvirato
Crasso, “...general enriquecido pela compra dos bens confiscados por Sila...”3 derrotara a rebelião de Spartacus, mas tivera seu triunfo (o mais pomposo desfile militar) negado pelo Senado.4
Pompeu conquistara fama e fortuna vencendo a rebelião de Sertório, na Hispania, também vencera o Rei Mitridates e eliminara os piratas do Mar Mediterrâneo.5 Contudo os senadores estavam receosos do poder acumulado pelo general, por eles mesmos conferido, e passaram a cerceá-lo.6
Uma vez terminadas as campanhas militares, Pompeu e Crasso deveriam devolver os postos de comando, o que não fizeram. E o Senado não tinha como forçá-los sem iniciar uma guerra civil.7
Para garantir o apoio do partido popular, ambos fizeram acordo com um dos sobrinhos de Mário que conseguira escapar da perseguição de Sila. Seu nome? Júlio César!8
O acordo político dos três garantia “assistência mútua entre si para dividir o poder” entre eles mesmos e seus aliados nascendo, assim, o sistema que ficou conhecido como Primeiro Triunvirato.9
Este sistema de alianças permitiu que César chegasse ao Consulado e conseguisse, depois, o mandato para atuar na Gália. Esta guerra, como se sabe, lhe garantiu imensa riqueza e fama, equiparando-o, e até superando, seus dois parceiros de poder.
Apesar dos imensos egos que suportava, o acordo correu bem até que a morte os separou. Em 54 a.C. a esposa de Pompeu, Júlia, morreu de parto. Ela era filha de César.10 E no ano seguinte, 53 a.C., quem morreu foi Crasso, quando seu exército foi massacrado na Partia.11
Com esta morte, o equilibrio do Triunvirato acabou pois “A graça do triunvirato residia na sua inerente estabilidade, pois nenhum dos seus membros podia contra os outros dois”.12
O iminente retorno de César vitorioso e super rico da Gália fez com que seus adversários do Senado instigassem Pompeu contra ele. A estratégia consistiu, segundo Sheppard, em fazê-lo voltar a Roma sem a imunidade do cargo de Cônsul, para poder acusá-lo e derrotá-lo, apesar de um acordo ter sido aprovado “...por ampla maioria: 370 votos contra 22.13
Os 22, porém, conseguiram vetar os votos dos 370 e “O fato de os poucos senadores poderem vetar uma medida com apoio tão amplo era apenas um dos sinais do estado de deterioração das instituições democráticas de Roma.14
Lissner compara Roma a uma nau sem piloto, entregue à anarquia: “O Senado era corruptível, a Constituição estalava por todos os lados e as tribunas dos oradores estavam muitas vezes manchadas de sangue...15
Quando Pompeu finalmente aderiu aos inimigos de César, o confronto direto deixou de ser apenas uma das opções, passando a ser a única.16
Os primeiros embates da Guerra Civil, porém, ocorreram não nos campos de batalha, mas no piso do Senado. Uma série de medidas legislativas, algumas apenas de fachada, outras aprovadas e depois vetadas, resultou, por fim, na declaração de César como fora da lei.17
Com suas conquistas e a própria vida em risco, César dirigiu-se a Ariminum, onde o Rio Rubicão marcava a fronteira da Itália, na qual pela lei ele não poderia entrar liderando tropas.18
Plutarco descreve assim o momento decisivo: “Havendo, pois, chegado ao Rio Rubicão, […] parou pensativo e esteve por algum tempo meditando sobre o atrevimento de suas ações. Depois […] sem articular mais palavras do que esta expressão […] - A sorte está lançada...- fez com que as tropas atravessassem o rio.”19
César estava voltando pra casa!

1    SHEPPARD, Si. Grandes Batalhas - Farsália 48 a.C. César contra Pompeu. Osprey – Espanha 2010. pg. 10
2      Idem
3    MENDES, Norma Musco. Roma Republicana. São Paulo: Ática, 1988. pg. 67
4    BRANDÃO, José Luís (coord.); OLIVEIRA, Francisco de (coord.). História de Roma Antiga volume I: das origens à morte de César. Coimbra-Portugal: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015. pg.373
5    GRIMAL, Pierre. História de Roma. Trad. Mª L. Loureiro. São Paulo: UNESP , 2011. pg. 106
6    (MENDES: 1988) pg. 67
7    (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.373
8    (MENDES: 1988) pg. 67
9    (GRIMAL: 2011) pg. 111
10  SUETONIUS. Roma Galante – pg. 16
11  (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.384
12  (SHEPPARD: 2010) pg. 11
13  BRUNS, Roger. Os Grandes Líderes – Júlio César. São Paulo: Nova Cultural, 1988. pg. 64
14    Idem
15  LISSNER, Ivar. Os Césares – Apogeu e Loucura: Tradução de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. pg.79
16  (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.385
17  (SHEPPARD: 2010) pg. 12-16
18  Ibid. pg. 16
19  PLUTARCO. Vidas Paralelas - Tomo V - Pompeyo: LX

CALENDÁRIO JULIANO
Em 01/01/45 a.C., entrava em vigor o Caledário Juliano, após um estudo ordenado por Júlio César na qualidade de Pontifex Maximus de Roma.
O sistema de datação até então em uso era o Calendário Romano, que era Lunar, tinha 10 meses, 304 dias e, curiosamente, não incluia os 61 dias de inverno. Ele foi supostamente estabelecido por Rômulo, fundador da cidade.
Seus meses eram assim denominados: Mártio (31 dias); April (30 dias); Maio (31 dias); Júnio (30 dias); Quintil (30 dias); Sextil (30 dias); Setembro (30 dias); Outubro (31 dias); Novembro (30 dias); Dezembro (30 dias).
Por volta de 713 a.C., o calendário foi reformado, também supostamente, por Numa Pompílio, o segundo Rei de Roma. Ele incluiu “...os meses de Januarius (29 dias) e Februarius (28 dias) no final do calendário aumentando o seu tamanho para 355 dias...”, passando o sistema para Luni-Solar, iniciando os meses em coincidência com as fases da Luz e adicionando um mês ocasionalmente, para adequar ao ciclo solar.

É evidente que tal sistema era precário, passando períodos de até 10 anos sem a introdução do mês adicional. Em 46 a.C. César percebeu que as festividades programadas para março seriam realizadas em pleno inverno, e ordenou a reforma.
Assim sendo, inspirado no calendário egípcio, o ano deixou de iniciar em Março, passando a começar em Janeiro, os meses passaram a ter 30 ou 31 dias, sendo que Fevereiro ficou com 29 dias, e 30 dias a cada 3 anos.

CALENDÁRIO EGÍPCIO NO TEMPLO DE KARNAK
No Calendário Juliano os meses eram assim denominados: Januarius (31); Februarius (29 ou 30); Martius (31); Aprilis (30); Maius (31); Junius (30); Julius (31); Sextilis (30); September (31); October (30); November (31); December (30).
O Imperador Otávio Augusto determinou a inclusão do ano bissexto para cada quatro anos e o Senado mudou o nome do mês Sextilis para Augustus, trazendo o dia 29 de Februarius (Fevereiro) para o mês de Agosto, que ficou, então, com 31 dias, igual ao mês de seu tio César (Julius – 31). Foi assim que Fevereiro passou a ter apenas 28 dias.
O Calendário Juliano vigorou até 24/02/1582, quando foi substituído pelo Calendário Gregoriano, que vigora até nossos dias.
A Igreja Ortodoxa, porém, segue utilizando o Calendário Juliano e atualmente a diferença entre ambos é de 13 dias.
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Fontes e Imagens:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio_juliano
https://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio_romano

https://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio_gregoriano

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

REVISTA REINO DE CLIO - NOVO EDITAL


REVISTA REINO DE CLIO
ISSN 2358-5218
PUBLIQUE SEU ARTIGO!
Você tem um artigo pronto sobre alguma mulher que marcou a História? Ou está escrevendo a respeito? Pois nós queremos conhecer e compartilhar sua experiência. E por isso vamos lançar uma edição focada nas mulheres e suas Histórias. Pode ser uma rainha ou uma modesta vovó, todas as mulheres constroem Histórias com as quais podemos aprender e você pode nos ajudar a conhecer algumas dessas Histórias.
A REVISTA REINO DE CLIO lança Edital de Publicação para coleta de Artigos Científicos na área de História, para publicação na edição de nº 8, a ser lançada em Maio/2018.
PRAZO PARA RECEBIMENTO DOS TRABALHOS PARA AVALIAÇÃO:
01/04/2018 a 30/04/2018
PRAZO PARA AVALIAÇÃO DOS TRABALHOS:
01/04/2018 a 11/05/2018
PUBLICAÇÃO PREVISTA:
13/05/2018
Para conhecer as Normas de Publicação clique AQUI, acesse a  Revista Reino de Clio e clique na aba "Normas".
Aguardamos seus trabalhos!



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A VITORIA CRISTÃ EM ROMA



COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA - I
Nesta nova minissérie que iniciamos, vamos recontar, mui resumidamente como sempre, como o cristianismo deixou de ser a religião dos oprimidos para se tornar a fé dos outrora opressores no Império Romano.
O período em questão foi, paradoxalmente, um dos momentos de maior perseguição aos cristãos.
E, também de forma paradoxal, foi um dos maiores algozes da cristandade quem tomou medidas que acabaram por possibilitar a ascensão, ao trono, daquele que viria a libertar os cristãos da perseguição.
Primeiro, nos referimos a Diocleciano, o grande perseguidor. Depois, a Constantino, o libertador. Convém, portanto, ir por partes pois, na escrita da História, os primeiros não são estudados por último! Quem foi Diocleciano?
Quando o Império Romano se tornou cristão, passando a venerar o Deus Único, essa não era a primeira experiência monoteísta que vivenciava.


Para Ivar Lissner, em sua obra “Os Césares”1, foi uma espécie de monoteísmo o que ocorreu após a vitória do Imperador Aureliano sobre a Rainha Septímia Zenóbia, de Palmira na atual Síria (cujas ruínas foram atacadas pelo Estado Islâmico).
Septimia Zenóbia perante Aureliano
O autor afirma que a devoção de Aureliano pelo deus Sol Invicto, colocou esta divindade acima de todas as demais: “Esse culto do Sol, por Aureliano venerado, exaltando um deus único, demonstra a evolução, bastante surpreendente da inteligência antiga.” (pg. 448).
Após a morte de Aureliano, porém, assassinado após um ardil tramado por seu secretário, a instabilidade reinou no império até a ascensão de Diocleciano em 17/11/284 d.C., quando foi proclamado pelos soldados em Nicomédia. Ele foi o último imperador resolutamente pagão.
O novo imperador é descrito por Lissner como um homem mais voltado ao cotidiano e seus conflitos do que aos grandes feitos. Como consequência, o novo imperador foi um organizador tão competente que permitiu ao Império Romano ganhar uma sobrevida.
Continua...
1 LISSNER, Ivar. Os Césares – Apogeu e Loucura: Tradução de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964.


COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA - II
O status de Roma como capital estava, à época, abalado, considerando que vários imperadores pouco permaneciam na cidade, diante da necessidade de suas presenças em diferentes pontos de crise do império.
Segundo Lissner2, Diocleciano, por exemplo, manteve sua corte em Nicomédia e seus antecessores mais próximos, de reinados muito curtos, nem chegaram a pisar em Roma enquanto imperadores. Foram nomeados e mortos fora da capital:
Roma, a cidade caprichosa, mimada, cruel, empanturrada de triunfos, a cidade das arenas, dos teatros e das termas grandiosas, entrava na sombra. (pg. 453)
Neste período, o título “César” já não se aplicava ao Imperador propriamente, que utilizava o título de Dominus (Senhor), acompanhado de Augustus.
Lissner informa que, em 285 d.C., Diocleciano nomeou Maximiniano como César, encarregando-o de governar a Gália e, no mesmo ano, concedeu-lhe o título de Augustus, fazendo-o Co-Imperador. (pg. 452)
O Império Romano tornava-se, novamente, uma diarquia, experiência que não era nova. E a parceria deu excelentes resultados, como a vitória sobre os “... burgúndios, os alemães, os francos, os sármatas, os godos e os árabes.”(pg. 453)
Apesar disso, Diocleciano percebeu que seria preciso descentralizar ainda mais o governo e nomeou dois Césares, um para cada Augusto. Na prática, cada imperador ganhava um auxiliar de luxo.

Os nomeados foram Galério, César de Diocleciano, enviado à Gália, e Constâncio Cloro, César de Maximiniano, enviado ao Sul do Danúbio.
Diocleciano - Maximiniano - Galério - Constâncio Cloro
Nesse novo arranjo, cada Augusto adotou seu César como filho, tornando-os sucessores. Para tal estes foram obrigados ao divórcio e ao casamento com as filhas dos imperadores.
Também foi fixado um prazo de vinte anos para que os Augustos pudessem renunciar em favor dos Césares. O trabalho tornou-se bem mais organizado e rendeu excelentes frutos. O império respirava novamente.
2 LISSNER, Ivar, Os Césares - Apogeu e Loucura: Trad. de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964.
COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – III
A reorganização de Diocleciano tirou o império da UTI.
Por outro lado, a reorganização do exército, a criação de uma força reserva e as obras públicas das quatro novas capitais, onde residiam os tetrarcas, e na própria Roma, demandavam enormes somas de dinheiro, que devia vir das províncias.
A descentralização do poder levou a uma imensa pressão burocrática e arrecadatória sobre os funcionários públicos e a população de uma forma geral, com exceção dos moradores de Roma, que eram isentos de impostos.
Para piorar, a medida de fixar preços e salários por todo o império, que na prática era um congelamento, só gerou inflação e retração da atividade comercial.
E a História Contemporânea mostra que, em momentos de grave crise econômica, a população, sempre bem orientada pelos aproveitadores, tende a buscar culpados sobre quem descarregar as frustrações.
E quem eram os bodes expiatórios perfeitos para as mazelas de Roma?Os Cristãos, é claro!
Além da decadência econômica, os últimos anos de Diocleciano à frente do império foram de perseguição aos seguidores de Cristo.


Os cristãos estavam, novamente, na mira do Império Romano.
Diferente dos ciclos persecutórios anteriores porém, desta vez a infiltração cristã no aparelho estatal romano era muito maior. Lissner3 afirma que “...o próprio palácio imperial estava “minado” pelo ideal cristão.”(pg. 461).
O ataque romano, que foi iniciado com demissões de funcionários cristãos que não abjuraram sua fé, logo descambou para a demolição de igrejas. E o erguimento de fogueiras para assar pessoas.
Mas, também diferente dos períodos anteriores, essa perseguição aos cristãos gerou reações. O próprio palácio do Imperador foi incendiado duas vezes, com a autoria atribuída aos cristãos, embora Lissner informe que o César Galério teria sido o autor dos incêndios para instigar ainda mais a caça aos seguidores do cristianismo.(pg.462)
A perseguição se intensificou mas, a despeito disso, a fé cristã cresceu, assim como as demonstrações de total desprendimento dos fiéis, que preferiam a morte à renúncia de sua crença.


Segundo Lissner, a própria esposa de Diocleciano, Prisca, e sua filha Valéria, “...convencidas da pureza e da veracidade das ideias cristãs, tinham-se secretamente convertido.”(pg. 463)
Prisca - Valéria
Logo, porém, funcionários do palácio, dos mais altos aos menores, bispos e outros cristãos estavam sendo cruelmente torturados e mortos.
Mas, se por um lado foi liberado o pior instinto, por outro também surgiu a piedade em muitos romanos. Lissner cita casos em que os cristãos foram auxiliados ou que as ordens de conversão forçada e morte eram cumpridas apenas em parte.(pg. 463)
Neste caso, os dois césares estavam em campos opostos. Galério era um perseguidor implacável, enquanto Constâncio evitava qualquer execução de cristãos sempre que possível.
Aproximava-se o momento em que o poder seria dividido entre ambos.


COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – III
A reorganização de Diocleciano tirou o império da UTI.
Por outro lado, a reorganização do exército, a criação de uma força reserva e as obras públicas das quatro novas capitais, onde residiam os tetrarcas, e na própria Roma, demandavam enormes somas de dinheiro, que devia vir das províncias.
A descentralização do poder levou a uma imensa pressão burocrática e arrecadatória sobre os funcionários públicos e a população de uma forma geral, com exceção dos moradores de Roma, que eram isentos de impostos.
Para piorar, a medida de fixar preços e salários por todo o império, que na prática era um congelamento, só gerou inflação e retração da atividade comercial.
E a História Contemporânea mostra que, em momentos de grave crise econômica, a população, sempre bem orientada pelos aproveitadores, tende a buscar culpados sobre quem descarregar as frustrações.
E quem eram os bodes expiatórios perfeitos para as mazelas de Roma?Os Cristãos, é claro!
Além da decadência econômica, os últimos anos de Diocleciano à frente do império foram de perseguição aos seguidores de Cristo.

COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – IV
Os cristãos estavam, novamente, na mira do Império Romano.
Diferente dos ciclos persecutórios anteriores porém, desta vez a infiltração cristã no aparelho estatal romano era muito maior. Lissner3 afirma que “...o próprio palácio imperial estava “minado” pelo ideal cristão.”(pg. 461).
O ataque romano, que foi iniciado com demissões de funcionários cristãos que não abjuraram sua fé, logo descambou para a demolição de igrejas. E o erguimento de fogueiras para assar pessoas.
Mas, também diferente dos períodos anteriores, essa perseguição aos cristãos gerou reações. O próprio palácio do Imperador foi incendiado duas vezes, com a autoria atribuída aos cristãos, embora Lissner informe que o César Galério teria sido o autor dos incêndios para instigar ainda mais a caça aos seguidores do cristianismo.(pg.462)
A perseguição se intensificou mas, a despeito disso, a fé cristã cresceu, assim como as demonstrações de total desprendimento dos fiéis, que preferiam a morte à renúncia de sua crença.
Segundo Lissner, a própria esposa de Diocleciano, Prisca, e sua filha Valéria, “...convencidas da pureza e da veracidade das ideias cristãs, tinham-se secretamente convertido.”(pg. 463)
Prisca - Valéria
Logo, porém, funcionários do palácio, dos mais altos aos menores, bispos e outros cristãos estavam sendo cruelmente torturados e mortos.
Mas, se por um lado foi liberado o pior instinto, por outro também surgiu a piedade em muitos romanos. Lissner cita casos em que os cristãos foram auxiliados ou que as ordens de conversão forçada e morte eram cumpridas apenas em parte.(pg. 463)
Neste caso, os dois césares estavam em campos opostos. Galério era um perseguidor implacável, enquanto Constâncio evitava qualquer execução de cristãos sempre que possível.
Aproximava-se o momento em que o poder seria dividido entre ambos.


COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – V
Em 01/05/305 d.C., Diocleciano e Maximiniano abdicaram ao trono, assumindo em seus lugares os Césares Constâncio Cloro e Galério. O velho Diocleciano se isolou no palácio de Salona, especialmente construído para seu retiro.
Após sua morte, porém, a vingança cristã finalmente o alcançou. Lissner4 afirma que quando Roma se tornou cristã, uma igreja, suprema ironia, foi construída dentro de seu palácio!
A torre da igreja construída ao lado do mausoléu octogonal de Diocleciano
Os novos Augustos atuaram, em relação aos cristãos, de forma oposta. Ainda durante o reinado de Diocleciano, Galério fora instigador severo da perseguição, enquanto Constâncio destruíra igrejas mas não condenara nenhum cristão à morte.
Ambos mantiveram suas posturas ao chegarem no poder superior, mas Galério, apesar de mais jovem, passou a agir com mais independência que Constâncio e sem oposição conhecida dos dois novos Césares, Severo e Daia, que ajudavam Galério na tarefa de restringir as ações de Constâncio.(pg. 473)
Daia - Severo
Porém, o que mais contribuía para tal atamento de Constâncio era que seu filho, Constantino, vivia na corte de Galério, alcançando postos de prestígio, mas vivendo sob estrita vigilância, cumprindo o papel de um refém de luxo.(pg.474)
Essa situação só mudou quando Constâncio preparou uma campanha militar na Britânia e solicitou a Galério que enviasse Constantino em seu auxílio.
Lissner afirma que Galério não teve como recusar o envio, para não parecer que mantinha o filho de seu colega refém, contudo, ordenou ao César Severo que o prendesse no caminho.(pg.474)
O jovem, contudo, conseguiu escapar e agora estava livre para ajudar o pai.
Continua...


COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – VI

Os planos de Constâncio eram, segundo Lissner5, fazer seu filho Constantino ser querido por suas tropas, garantindo-lhe apoio militar no futuro. E ele conseguiu.

Quando Constâncio morreu, em 306, o exército romano na Britânia proclamou Constantino Imperador. Galério Augustus, porém, fez de Severo seu Co-Imperador, nomeando-o Augustus. E nomeou Constantino como César, ou seja, colocando-o na segunda linha.

Constantino aceitou o posto inferior, mas isso não livrou o império das tempestades que se anunciavam, pois logo um personagem que parecia esquecido, ergueu-se novamente em busca do poder.

O ex Augustus, Maximiniano, que governara junto com Diocleciano, desejava voltar ao poder e, ao mesmo tempo, garantir o futuro de seu filho Maxêncio (ou Magêncio).

Este conseguiu apoio junto à Guarda Pretoriana sediada em Roma e foi aclamado imperador e “...pela derradeira vez, foi Roma cidade imperial.”(pg.476)

Galério Augustus não demorou a reagir, enviando Severo Augustus para combater Maxêncio. Mas este, com apoio de seu pai Maximiniano, conseguiu capturar e assassinar Severo.

Após esta vitória parcial, pai e filho trataram de garantir o apoio de Constantino, realizando o casamento deste com Fausta, filha de Maximiniano e irmã de Maxêncio.

Constantino - Maxêncio
Ao mesmo tempo, Maximiniano proclamou a si mesmo e a Constantino como Augustos, gesto que os colocava contra Maxêncio, que estava em Roma.

Esquecendo-se do fato que os pretorianos haviam aclamado seu filho como Imperador, Maximiniano foi a Roma e “...diante dos legionários reunidos, arrancou a toga imperial dos ombros de Maxêncio.” (pg.476)

Evidentemente foi obrigado a fugir, buscando proteção junto a Constantino. O sistema implantado por Diocleciano estava desmoronando pelas disputas de poder entre velhos e novos Augustus e Césares.

Aparentemente só o próprio Diocleciano poderia por ordem na casa novamente.




COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – VII

Diocleciano, que estava aposentado e aparentemente gozava do respeito de todos os adversários, foi chamado a intervir.

Segundo Lissner6, em 308 d.C., a convite de Galério, o ex Imperador deixou seu palácio às margens do Mar Adriático, onde tornara-se jardineiro, e viajou até Carnunto, para se encontrar com Maximiniano e o próprio Galério.

Neste encontro, Galério e Maximiniano pediram a Diocleciano que voltasse ao poder, o que ele recusou: “- Se cultivásseis vosso jardim em Salona, como eu, seríeis mais felizes!”(pg. 478)

Mas o encontro não deixou de apontar soluções:

Maximiniano teve de consentir em retirar-se ainda uma vez da política. Para substituir Severo, assassinado, os imperadores chamaram Licínio e conferiram-lhe o título de Augusto. Maxêncio, o usurpador de Roma, foi declarado inimigo público. (pg. 478)

Licínio - Constantino
Ao fim do encontro tudo pareceria novamente organizado não fosse pelas ausências de dois dos principais interessados. Constantino, que fora aclamado Augustus, e Daia, o César que, agora, fora preterido. Ambos queriam ser nomeados Augustus também!

Mas não foi dos dois que veio o primeiro movimento. O incansável Maximiniano passou a atuar nos bastidores para desestabilizar Constantino.

Este, porém, não demorou a agir. Executou Maximiniano, declarou-se herdeiro do ex imperador Claudio II e adotou o deus Sol Invictus, de Aureliano, como sua divindade protetora.

Logo, Maxêncio, que não tinha muitos motivos para amar o pai, usou sua morte como pretexto para atacar Constantino.

Os tambores da guerra ressoavam novamente sobre Roma!

Continua...




COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – VIII

Segundo Lissner7, Maxêncio formou um exército composto de “...170.000 infantes e de 18.000 cavaleiros.”(pg. 480) e estabeleceu sua sede em Roma, ordenando a destruição do acesso à cidade, as pontes sobre o Rio Tibre.

Ele contava com muitas vantagens. Um exército duas vezes maior que o de Constantino, o apoio da Guarda Pretoriana, as muralhas da cidade e um bom abastecimento de alimentos.

Por seu turno, Constantino conseguiu recrutar um exército composto de “...90.000 infantes e de 8.000 cavaleiros...”(pg. 480), com o qual chegou às portas de Roma.

Ele ainda conquistou apoio ao redor de Roma, que fora isolada com a derrubada das pontes, e, mais ainda, contava com a simpatia do próprio povo de Roma, dentro dos muros.

Lissner conta que o confronto decisivo ocorreu em 28/10/312 d.C. Na Ponte Mílvia, sobre o Rio Tibre. Maxêncio, que ordenara sua destruição para cortar o acesso a Roma construíra, ao lado, uma ponte de barcos, para permitir passagem às suas tropas.

A Historiografia da época revela um acontecimento milagroso, relacionado a esta batalha. Com algumas diferenças entre si, os relatos de Lactâncio8 e Eusébio de Cesaréia9 dão conta de que Constantino teve uma visão no céu (e depois um sonho), onde lhe foi mostrada uma mensagem: in hoc signo vinces10 (com este símbolo vencerás) e as letras “x” e “p” conjugadas (que são as primeiras letras da palavra Cristo em grego: ΧΡΙΣΤΟΣ11).

Constantino ordenou que o símbolo fosse pintado nos escudos e nos estandartes de seu exército, que, assim caracterizado, marchou para enfrentar as tropas de Maxêncio.

Este consultara os oráculos sibilinos que lhe informaram que o inimigo de Roma morreria, de modo que partiu convicto da vitória. Ele posicionou suas tropas em longa linha de frente, tendo o Rio Tibre na retaguarda, o que dificultou a mobilidade.12

Constantino ordenou um ataque de cavalaria que, apesar do menor número, conseguiu romper a cavalaria de Maxêncio e fazer carga sobre a infantaria cuja linha também rompeu.

Na fuga por sobre a ponte de barcos Maxêncio caiu no rio, morrendo afogado. Quem não conseguiu atravessar antes do colapso da estrutura foi capturado ou morto pelos soldados de Constantino.

Se Constantino teve realmente uma visão espiritual, ou se apenas usou um habilíssimo estratagema para encorajar seus soldados (provavelmente de maioria cristã), o fato é que seu exército inferior derrotou as numerosas mas mal comandadas e pouco motivadas tropas de Maxêncio.

Em 29/10/312 Constantino entrou triunfalmente em Roma, sendo saudado pela população que também podia ver a cabeça de Maxêncio exibida como prova de sua morte. Parece que o inimigo de Roma era ele próprio!






COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – IX
Segundo Paul Veyne13, não foi Constantino que encerrou com a perseguição aos cristãos, já encerrada antes, mas que coube a ele “...fazer com que o cristianismo, transformado em sua religião, fosse uma religião amplamente favorecida, diferentemente do paganismo.”(pg.7).
O autor informa que havia um ambiente de virada da situação dos cristãos pois, no ano seguinte à tomada de Roma por Constantino, o Augusto do Oriente, Licínio, que era pagão mas não perseguia os cristãos, venceu seu rival perseguidor, Daia.
Com esta vitória, Roma voltava a ser uma diarquia, com um Augusto para o Ocidente, Constantino, e outro para o Oriente, Licínio. Ambos já haviam entrado “...em acordo em Milão para que seus assuntos pagãos e cristãos fossem tratados em pé de igualdade...” (pg.8)


A união dos dois homens mais poderosos da terra fora sacramentada através do casamento. Não entre eles, claro, mas entre Constância, filha de Constantino, e Licínio. No acordo foi disposto que o cristianismo seria tolerado e que “...os bens espoliados, os lugares de reunião dos cristãos deviam ser restituídos, as diversas comunidades cristãs reconhecidas.”(LISSNER, pg.491).
Paul Veyne chama a atenção para a diferença fundamental existente entre os cultos pagão e cristão que foram autorizados a conviver no império. Enquanto o fiel pagão tinha uma relação ocasional e de interesse com seus deuses, a quem recorria para o suprimento de suas necessidades, os cristãos agiam como submissos a Deus, vivendo em função de agradá-Lo. (pg.8)
E, se por um lado, Constantino não pretendesse, segundo Veyne, impor a crença cristã aos pagãos, por outro não aceitaria mais qualquer perseguição pagã aos cristãos.
Assim, foi por uma legítima proteção da fé, ou usando-a como pretexto, que Constantino entrou em guerra contra Licínio em 324 d.C. quando este expulsou os cristãos de seu convívio e impediu a passagem das tropas ocidentais pelas terras do Oriente para combater na Sarmátia14.
Vamos, contudo, por partes.


COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – X
O conflito entre os dois Augustos teve início em 314 d.C. com a Batalha de Cibalis, que terminou com a vitória de Constantino.
Para Lissner15 o segundo confronto, ocorrido na Trácia (Batalha de Márdia), terminou indefinido mas serviu para que os Augustos assinassem um termo de paz que dividiu o Império Romano em dois estados completamente separados e independentes pois “Nenhum deles tinha o direito de imiscuir-se no outro.” (pg.494)
As atitudes dos dois soberanos quando de volta a seus domínios foi totalmente oposta.
Veyne16, defendendo a tese de que Constantino já era cristão convertido nesta época, detalha os pontos que, acredita ele, foram a política do governante já a partir de 312 d.C.(pg.9):
  1. Todas as suas medidas desde então visaram preparar um futuro cristão para Roma;
  2. Ele seria cristão mas permaneceu pagão, não perseguindo os cultos e seus seguidores;
  3. Apoiaria fortemente a Igreja, mas não imporia sua fé;
  4. Proibiria cultos à sua pessoa e dispensaria da realização de ritos pagãos os funcionários públicos cristãos;
  5. Não se empenharia na conversão dos pagãos, deixando esta tarefa à Igreja;
  6. Pensaria em abolir os sacrifícios de animais aos deuses, mas não chegaria a fazê-lo;
  7. Assumiria a função “... auto-proclamada de uma espécie de presidente da Igreja; atribuirá a si mesmo negócios eclesiásticos e usará de rigor não com os pagãos, mas com os maus cristãos, separatistas ou hereges.”(pg.10)
Se no Ocidente a paz reinava por meio das ações de um Imperador politicamente hábil e religioso tolerante, no Oriente Licínio se entregou a uma feroz perseguição contra os cristãos: “As igrejas foram destruídas, os dignatários condenados à morte e os fiéis lançados na prisão.”(LISSNER, pg.494).

Mas, por conta do acordo firmado em Milão, o Ocidente não podia interferir no que se passava no Oriente. A situação mudou quando, em 324 d.C., os bárbaros invadiram o império, atravessando o Rio Danúbio e não foram contidos por Licínio, a quem cabia a tarefa.
Constantino então rompeu o acordo e cruzou as fronteiras dos domínios de seu colega do Oriente para combater os invasores. Este foi o estopim do novo conflito Ocidente x Oriente.
Para Licínio, entretanto, conforme destaca Lissner, esse foi o confronto entre duas fés: “Essa batalha demonstrará qual de nós possui a boa crença […] Se nossos deuses alcançarem a vitória, levaremos a guerra contra todos os infiéis (os cristãos).”(LISSNER pg.495)
A batalha decisiva estava prestes a começar!
Continua...
15LISSNER, Ivar. Os Césares – Apogeu e Loucura: Tradução de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964.

16VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão [312-394]. Tradução de Marcos de Castro. Civilização Brasileira. 2011. Versão eletrônica disp. em:
http://portalconservador.com/livros/Paul-Veyne-Quando-Nosso-Mundo-Se-Tornou-Cristao.pdf


COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – XI

Constantino se apresentou para a batalha decisiva comandando 200 navios de guerra, mais 2 mil navios de carga, 120 mil soldados e mais 10 mil homens, entre marinheiros e cavaleiros. Licínio possuia 350 navios de combate, 150 mil soldados e 15 mil cavaleiros.17

Este último acampou em Adrianópolis, na Trácia, para onde Constantino rumou até chegar às margens do Rio Hebro, à frente da cidade. Sua frota estacionou na foz do mesmo rio.

As tropas de Licínio estavam melhor posicionadas, em uma colina com ampla visão da região, o que gerou impasse pois enquanto estas vacilavam em abandonar a posição vantajosa, Constantino também evitava cruzar o rio e lutar em terreno desfavorável.

Edirne (Turquia), antiga Adrianópolis - Local da Batalha (Google Street View)
Constantino forçou o combate usando um despiste. Simulou a construção de uma ponte sobre o rio enquanto comandava um pequeno ataque surpresa, permitindo que seu exército atravessasse as águas em outro ponto, bem protegido.18

Quando a batalha finalmente começou, Constantino enviava seu estandarte com o símbolo cristão para os pontos do combate onde suas tropas pareciam em desvantagem, estimulando os soldados a lutar mais. 19

Quando a noite chegou e os combates foram interrompidos, Licínio havia perdido mais de 30 mil soldados e retirou-se derrotado para Bizâncio.20

Constantino cercou Bizâncio enquanto seu filho, Crispo, travava a Batalha Naval do Helesponto (Estreito de Dardanelos).21

Crispo destacou 80 navios de sua frota e invadiu o estreito, onde o Almirante Abanto comandava 200 navios na tentativa de cercar o inimigo. 22

Estreito de Dardanelos (Turquia) - o antigo Helesponto (Google Street View)
Mas, naquele local de baixíssimas condições de manobra, a habilidade contava muito mais que números e Crispo venceu, obrigando Abanto a recuar. 23

No dia seguinte, com as frotas reagrupadas para novo confronto, uma tempestade destruiu nada menos que 130 navios de Abanto. O restante foi afundado ou capturado pela frota de Crispo, restando somente quatro deles.24

Com esta derrota naval Licínio ordenou a seu exército que atravessasse o Estreito de Bósforo para a Ásia, enquanto Constantino, podendo receber reforços, rumou para o mesmo destino.

O confronto final foi a Batalha de Crisópolis, na atual cidade de Üsküdar, Turquia.25

Região de Usküdar (Turquia) vista da ponte sobre o Estreito de Bósforo (Google Street View)
Licínio reforçou suas tropas, inclusive com bárbaros Visigodos. Por seu turno, Constantino partiu do Promontório Sagrado em direção ao acampamento de seu adversário.26

Licínio moveu suas tropas para o Norte, em direção a Crisópolis, mas Constantino chegou lá primeiro e decidiu partir logo para o ataque direto.

O aspecto religioso do conflito se fazia presente ao longo de todo o campo de batalha. As tropas de Licínio ostentavam os deuses pagãos em seus estandartes, enquanto as legiões de Constantino se apresentavam sob o signo cristão com que venceram Maxêncio na Ponte Mílvia.27

É possível imaginar que a mente supersticiosa do homem antigo tenha desenvolvido sentimentos extremados opostos em relação ao símbolo cristão das tropas de Constantino.

Os soldados deste último certamente se sentiam fortes sob ele, enquanto as tropas de Licínio dificilmente não o olhariam com temor, considerando a invencibilidade que Constantino mantinha desde que adotara as iniciais gregas de Cristo.

Tolamente Licínio incentivou esse temor em escala monumental ao proibir seus homens de olhar e atacar os estandartes do inimigo quando qualquer recruta sabe que a derrubada ou captura de um estandarte inimigo é a maior façanha que se pode realizar em um campo de batalha, abaixo apenas da vitória e da captura dos comandantes adversários.

Com toda essa vantagem, Constantino avançou sem recorrer a qualquer manobra diversionista e logo as forças de Licínio estavam em debandada, deixando atrás de si cerca de 30 mil mortos.28

O Mar de Mármara visto de Izmit (Turquia), antiga Nicomédia (Google Street View)
Licínio escapou com 30 mil soldados e se instalou em Nicomédia onde, após a intermediação da esposa Constância, meia irmã de Constantino, se rendeu, sendo poupado da morte.



COMO O CRISTIANISMO TRIUNFOU EM ROMA – Final

A intermediação de Constância conseguiu de Constantino o perdão para seu marido Licínio e a autorização para viverem exilados em Tessalônica. Mas Lissner29 nos informa que logo ele estava novamente conspirando:

o autocrata Licínio era incapaz de viver sem exercer seu poder temível e sem se entregar a nebulosas intrigas. Abriu conversações com os bárbaros das províncias danubianas. Essa violação da palavra dada, era uma traição e provocaram sua detenção. Condenado pelo Senado romano, Licínio foi executado. (pg. 495)

Com a morte de Licínio, e de seu filho, Licínio II um ano depois30, o Império Romano voltava a ter um único soberano.

Sozinho no poder, Constantino implementou seu desejo de, o mais suavemente possível, tornar Roma cristã. O imperador nomeou cristãos para alguns dos cargos mais importantes, inclusive o de Prefeito de Roma, e foi mais além:

As comunidades cristãs receberam subvenções imperiais para construir e restaurar igrejas. Num conselho supremo, os altos dignatários cristãos reuniram-se em torno do imperador. Constantino regulamentou e organizou os negócios da Igreja. (pg. 496)

Veyne31 também destaca a tolerância religiosa do imperador que:

Não força ninguém a se converter, nomeia pagãos para as mais altas funções do Estado, não cria nenhuma lei contra os cultos pagãos [...] e permite que o Senado de Roma insista em atribuir créditos aos sacerdotes oficiais e aos cultos públicos do Estado romano, que continuam como antes...(pg.11)

Podemos concluir nossa série constatando que, a despeito de o batismo de Constantino, e sua conversão oficial ao cristianismo, só ter ocorrido ao final de sua vida, não seria justo afirmar que não era cristão.

O batismo do velho Constantino
Salta aos olhos, também, a maneira extremamente hábil como conduziu o processo, longo e lento, portanto seguro, de cristianizar o império, sem perseguições aos pagãos, porém mantendo sempre à vista do povo sua preferência.

Essa maneira pacífica de agir após a vitória guerreira, conseguida sob um signo cristão, o que sem dúvida lhe conferiu um status não assumido de escolhido pelo céu, também lhe permitiu autoridade para moldar a Igreja ao seu gosto e entendimento, conforme foi possível verificar no Concílio de Nicéia, no qual a Igreja unificou seus ritos e crenças.

Isso, porém, é uma outra História.

FIM.

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1 LISSNER, Ivar. Os Césares – Apogeu e Loucura: Tradução de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964.
2Ibid
3Ibid
4Ibid
5Ibid
6Ibid
7Ibid

8Lucio Célio Firmiano Lactâncio foi um autor entre os primeiros cristãos que se tornou um conselheiro do primeiro imperador romano cristão, Constantino I, guiando sua política religiosa que começava a se desenvolver e sendo o tutor de seu filho.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lact%C3%A2ncio
9Eusébio de Cesareia foi bispo de Cesareia e é referido como o pai da história da Igreja porque nos seus escritos estão os primeiros relatos quanto à história do cristianismo primitivo.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Eus%C3%A9bio_de_Cesareia
10https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_da_Ponte_M%C3%ADlvia
11https://pt.wikipedia.org/wiki/Chi_Rho
12https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_da_Ponte_M%C3%ADlvia
13VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão [312-394]. Tradução de Marcos de Castro. Civilização Brasileira. 2011. Versão eletrônica disp. em:
http://portalconservador.com/livros/Paul-Veyne-Quando-Nosso-Mundo-Se-Tornou-Cristao.pdf
14https://pt.wikipedia.org/wiki/Constantino
15LISSNER, Ivar. Os Césares – Apogeu e Loucura: Tradução de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964.
16VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão [312-394]. Tradução de Marcos de Castro. Civilização Brasileira. 2011. Versão eletrônica disp. em:
http://portalconservador.com/livros/Paul-Veyne-Quando-Nosso-Mundo-Se-Tornou-Cristao.pdf
17https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Adrian%C3%B3polis_%28324%29
18Idem
19Idem
20Idem
21Idem
22Idem
23Idem
24Idem
25https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Cris%C3%B3polis
26Idem
27Idem
28Idem
29LISSNER, Ivar. Os Césares – Apogeu e Loucura: Tradução de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964.
30https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Cris%C3%B3polis
31VEYNE, Paul. Quando nosso mundo se tornou cristão [312-394]. Tradução de Marcos de Castro. Civilização Brasileira. 2011. Versão eletrônica disp. em:
http://portalconservador.com/livros/Paul-Veyne-Quando-Nosso-Mundo-Se-Tornou-Cristao.pdf

Imagens:
https://ourhifive.wordpress.com/2015/04/21/the-cristianism-in-mexico/
La resa di Zenobia ad Aureliano, da un dipinto di Giovanni Battista Tiepolo.
https://it.wikipedia.org/wiki/Campagne_orientali_di_Aureliano#/media/File:Giovanni_Battista_Tiepolo_-_Il_trionfo_di_Aureliano.jpg
http://www.reclaimingthemind.org/blog/2011/10/top-ten-theologians-4-athanasius/
Istanbul - Museo archeologico - Testa di statua dell'imperatore romano Diocleziano (284-305 d.C.)
https://en.wikipedia.org/wiki/Diocletian
Emperor Galerius' portrait head in porphyry, from his palace in Romuliana (Gamzigrad).
https://en.wikipedia.org/wiki/Galerius
Tête de Maximien Hercule au Musée Saint-Raymond de Toulouse.
https://en.wikipedia.org/wiki/Maximian
Emperor Constantius I Chlorus. Cast in Pushkin museum after original in Antik Sammlung, Berlin
https://en.wikipedia.org/wiki/Constantius_Chlorus
http://lightofdesert.blogspot.com.br/2014/04/the-spread-of-christianity-through.html
A Christian Dirce, by Henryk Siemiradzki.
https://en.wikipedia.org/wiki/Persecution_of_Christians
http://www.todayifoundout.com/index.php/2015/11/difference-bce-ce-bc-ad-come/
http://www.juditapalace.com/en-us/interesting-facts/prisca.aspx
http://www.snipview.com/q/Galeria_Valeria
http://truttafario.com/2013/09/03/severo-ii/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maximino_Daia
Reconstruction of the Palace of the Roman Emperor Diocletian in its original appearance upon completion in 305, by Ernest Hébrard
https://en.wikipedia.org/wiki/Diocletian
Palácio de Diocleciano – dias atuais
https://en.wikipedia.org/wiki/Diocletian
http://www.euratlas.net/photos/time/3rd_century/tetrarchy.html
Termas de Carnuto
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carnuntum_thermae_2011b.jpg
https://en.wikipedia.org/wiki/File:MMA_bust_02.jpg
https://en.wikipedia.org/wiki/File:Maxentius02_pushkin.jpg
https://en.wikipedia.org/wiki/File:Ponte_Milvio-side_view-antmoose.jpg
The Battle of the Milvian Bridge (1520–24) by Giulio Romano.
https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_the_Milvian_Bridge
http://galatiansfour.blogspot.com.br/2012/07/why-do-they-use-chi-rho.html
http://www.twcenter.net/forums/showthread.php?683605-Proposal-Chi-Rho-Shields-for-Romans
http://www.beyond-the-pale.org.uk/SantAntounin3.htm
Statue of Constantine the Great outside York Minster
http://www.travelsignposts.com/destination/EnglandWales/York/Statue-of-Constantine-the-Great-York_DSC9445
Sculptural portraits of Licinius (left) and his rival Constantine I (right).
https://en.wikipedia.org/wiki/Licinius
The description from 28th October 312, 'A cross centered on the Sun" fits with modern day photographs of Sun dogs.
https://en.wikipedia.org/wiki/Constantine_the_Great
Tapestry showing the Sea Battle between the Fleets of Constantine and Licinius-cropped

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_the_Hellespont