O
TECER DE PENÉLOPE – A VISÃO DE JOÃO PINTO FURTADO - Cont...
Dentro
das características colocadas por Furtado1
vamos mostrar as que mais se destacam em alguns inconfidentes. Inácio
José de Alvarenga Peixoto, poeta sensível, bacharel ilustrado e
homem de hábitos refinados, possuía vários escravos e não deixava
de instigar alguns homens com os quais ele negociava, pois, segundo o
autor, “sistematicamente empregava
várias desculpas na hora de arrolar os pagamentos”.
(p. 40)
Francisco
Antônio de Oliveira Lopes, estava na contramão dos inconfidentes,
pois apesar de possuir grande riqueza, não tinha o perfil erudito,
“era semi-analfabeto e não possuía
um único livro”. (p.41)
O
Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade só tinha em
mente os próprios interesses pessoais, com expectativa de alcançar
status ainda maior na possível nova ordem.
Inácio Correa Pamplona era chefe de jagunços que combatiam índios e caçavam negros fugitivos cortando pares de orelhas para demonstrar êxito na empreitada.
Inácio Correa Pamplona era chefe de jagunços que combatiam índios e caçavam negros fugitivos cortando pares de orelhas para demonstrar êxito na empreitada.
Joaquim
Silvério dos Reis, traidor, que passou para história como referência
de corrupção moral e de costumes, conseguiu um prodigioso
enriquecimento ao chegar à América Portuguesa, utilizando a
denúncia do levante como uma estratégia de obtenção de lucro. (p.
42)
Tomás
Antônio Gonzaga tinha ligações diretas com Luís da Cunha Meneses,
o fanfarrão Minésio, que tanto criticava, em suas Cartas Chilenas.
Para
Tiradentes, Furtado separou um compartimento especial: recebeu
queixas do padre Domingos Vital Barbosa Lage, por usar violência,
tirania e arbitrariedade contra um clérigo a mando de Luís da Cunha
Meneses.
Tinha
também como projeto abandonar a carreira militar, (que oferecia
baixo soldo) para se tornar empregador de obras e dono de moinhos, que
ofereciam expectativas de lucros, mostrando que os inconfidentes, e
seus interesses, estavam ligados à sua própria ascensão no plano
econômico.
Em
outro sub-tópico, intitulado “Diálogo com a Historiografia”,
Furtado confronta as proposições de quatro historiadores, de
diferentes épocas, com o objetivo de mostrar como a questão
relacionada com a Inconfidência Mineira é colocada de maneira
insuficiente e superficial, e “como
esses textos delimitaram (limitaram) um campo de discussão do qual a
maior parte dos historiadores que se seguiram foram tributários”.
(p. 49)
Procura
mostrar como em diferentes períodos a historiografia se apropriou de
questões sobre a Inconfidência Mineira. Analisa o problema da
crítica documental e as interpretações presentes em algumas dessas
obras historiográficas, tomando como ponto de partida um diálogo
crítico. Os teóricos relacionados são: Joaquim Norberto de Souza e
Silva (1820-91); Lúcio José dos Santos (1875-1944); Kenneth Maxwell
(1941); e Márcio Jardim (1952).
Inicialmente
Furtado analisa o processo de obscurecimento em torno dos aspectos
importantes da Inconfidência Mineira.
Com Joaquim Norberto e Lúcio Santos inaugura-se o tema, preservando um tipo de construção narrativa baseado nos procedimentos instituídos do processo judicial: estabelecem os antecedentes (o contexto do crime); a prioridades das idéias (o principal culpado); a conspiração (planos e ações imediatas); a natureza da transformação (a natureza do crime); os agentes (os cúmplices); a traição (a denúncia e o indiciamento); e a repressão (a prisão, o inquérito, e a condenação).
Para Furtado esses autores se tornaram tributários, e não dão conta da diversidade de interesses e concepções possivelmente presentes no movimento.
Com Joaquim Norberto e Lúcio Santos inaugura-se o tema, preservando um tipo de construção narrativa baseado nos procedimentos instituídos do processo judicial: estabelecem os antecedentes (o contexto do crime); a prioridades das idéias (o principal culpado); a conspiração (planos e ações imediatas); a natureza da transformação (a natureza do crime); os agentes (os cúmplices); a traição (a denúncia e o indiciamento); e a repressão (a prisão, o inquérito, e a condenação).
Para Furtado esses autores se tornaram tributários, e não dão conta da diversidade de interesses e concepções possivelmente presentes no movimento.
Para
confrontar esses autores, Furtado levanta a questão acerca do
destino dado ao Visconde de Barbacena, governador de Minas Gerais na
época do levante.
Segundo Furtado, Joaquim Norberto defende a hipótese que Barbacena é simplesmente expulso de Minas Gerais.
Lúcio dos Santos mostra que Barbacena seria morto se oferecesse alguma resistência. Márcio Jardim, baseado em depoimentos de os Autos da devassa Inconfidência Mineira, conclui que provavelmente “a decisão penderia para sua morte”. (p, 51)
Segundo Furtado, Joaquim Norberto defende a hipótese que Barbacena é simplesmente expulso de Minas Gerais.
Lúcio dos Santos mostra que Barbacena seria morto se oferecesse alguma resistência. Márcio Jardim, baseado em depoimentos de os Autos da devassa Inconfidência Mineira, conclui que provavelmente “a decisão penderia para sua morte”. (p, 51)
Kenneth
Maxwell também menciona em seus textos os planos de execução como
o fim mais provável.
Furtado
coloca que discussões acerca da natureza e o sentido do levante não
ocorreram entre os debates historiográficos.
A denominação de reformistas ou regenerados, revolucionários e liberais, afirma que não é possível decidir essa “natureza-sentido” sem um novo exame da Inconfidência Mineira de 1788-9. Propõe uma leitura “extremamente seletiva, e bem orientada para ação, acerca das transformações que passava o mundo”. (p. 54)
A denominação de reformistas ou regenerados, revolucionários e liberais, afirma que não é possível decidir essa “natureza-sentido” sem um novo exame da Inconfidência Mineira de 1788-9. Propõe uma leitura “extremamente seletiva, e bem orientada para ação, acerca das transformações que passava o mundo”. (p. 54)
Continua...
1FURTADO,
João P. O manto de Penélope; História, mito e memória da
Inconfidência Mineira de 1788-9. (1ª ed.) São Paulo: Cia das
Letras, 2002
Nenhum comentário:
Postar um comentário