A política de apaziguamento de Chamberlain já
estava em andamento pois no início de 1938 ele já falava em uma nova divisão na
África e no qual a Alemanha “seria incluída no acordo, tornando-se uma das
potências coloniais africanas”. Enquanto isso os discursos de Churchill lhe
renderam a perda do contrato para publicação de artigos no Evening Standard. O
Daily Telegraph, porém, passou a publicá-los.
Em 12/03/1938 Hitler promoveu a anexação da
Áustria, o chamado Anschluss,[3] e “Num período de 24 horas, milhares de pessoas hostis ao
novo regime nazista foram presas e enviadas para campos de concentração.
Centenas foram mortas a tiros.”
(<<<<<pg. 52-55)
Anexação da Áustria pelos nazistas |
Churchill logo denunciou que a próxima vítima
seria a Tchecoslováquia e que a Inglaterra deveria juntar-se à França para
proteger o pais centro-europeu que agora, após a anexação da Áustria, estava
cercado territorialmente pela Alemanha. Mas em reunião da Comissão de Política
Externa do Gabinete a Tchecoslováquia foi descrita como “uma unidade
instável na Europa Central” de modo que a não se tomariam “quaisquer
medidas para manter essa unidade”. Lorde Halifax declarou que “distinguia
os esforços raciais germânicos, que ninguém podia questionar, e a ânsia de
conquista numa escala napoleônica, à qual ele não dava crédito”.(pg. 57-58)
Não demorou muito e, como Churchill previra,
Hitler voltou os olhos para a Tchecoslováquia. Queria anexar a região dos
Sudetos, onde a maioria da população era de origem alemã. O governo Tcheco
resistiu, de modo que Chamberlain tentou negociar um acordo no qual um
plebiscito decidiria a questão.
Mas Chamberlain não resistiu muito quando Hitler
exigiu a entrega sem plebiscito nenhum. Logo voltou a Londres se gabando de “ter
estabelecido certo grau de influência pessoal sobre Herr Hitler” e satisfeito
por Herr Hitler não voltar atrás com sua palavra”. Hilário se não fosse
trágico. Mas ele foi bem feliz encontrar-se com Hitler, Mussolini e o francês
Daladier para negociar a entrega do pais alheio à sanha nazista. Ele acreditava
realmente que se podia negociar com o ditador alemão:
Desde que assumi o cargo que desempenho, meu principal
propósito foi trabalhar para a pacificação da Europa por meio da remoção de
suspeições e animosidades que há muito empesteiam o ar. O caminho que conduz à
conciliação é longo e cheio de obstáculos. A questão da Tchecoslováquia é a
mais recente e talvez a mais perigosa. Agora que está ultrapassada, creio que é
possível fazer progressos no caminho do bom senso.(<pg; 62)
Em 29/09/1938 foi fechado o Acordo de Munique.[4] Fechado por
Chamberlain, Hitler, Mussolini e Daladier, as negociações deixaram de fora a
delegação da Tchecoslováquia, principal interessada, a quem foi dada apenas a
escolha entre aceitar ou não, sem abordagem dos termos que significaram:
A ocupação alemã das áreas em que predominava a língua
alemã começaria no dia seguinte, sem plebiscito e sem demora. Onde era incerta
uma maioria linguística, haveria um plebiscito. Nas áreas transferidas, a
Alemanha tomaria todas as fortificações, armas e instalações industriais.[5] (<pg; 62)
Chamberlain retornou triunfante a Londres,
certo de ter garantido a paz.
Chamberlain triunfante |
Foi festejado no Parlamento apesar de ser
crescente o número dos que achavam o acordo um insulto. Churchill, “O Profeta”,
alertou:
O Acordo de Munique foi uma derrota total e absoluta.
Num período de tempo que pode ser medido por anos, mas que também pode ser
medido apenas por meses, a Tchecoslováquia será engolida pelo regime nazista.
Quando Hitler decidir olhar para oeste, a Grã-Bretanha e a França lamentarão
amargamente a perda da linha de fortes da Tchecoslováquia. Muitas pessoas, sem
dúvida honestamente, acreditaram que estavam apenas a abandonar os interesses
da Tchecoslováquia, mas eu receio que descobriremos que comprometemos
profundamente e pusemos talvez em perigo fatal a segurança e até a
independência da Grã-Bretanha e da França. (<pg. 63)
Poucos meses depois, em 15/03/1939 Hitler já
tomara o resto da Tchecoslováquia criando o Protetorado da Boêmia e Morávia.
Quando Churchill escreveu a Chamberlain “insistindo num imediato estado de
preparação total das defesas antiaéreas britânicas” a resposta foi “Tenho
consumido muito tempo considerando o assunto que menciona, mas não é tão
simples quanto pode parecer.”
Hitler em Praga fazendo Chamberlain de paspalho... |
Alguns dias depois, após a invasão alemã de
Praga, Chamberlain deu à Polônia a garantia de independência, mas não contra
violações de fronteiras e nem foi claro em relação do chamado Corredor Polonês.
Em outras palavras, garantiu apenas dúvidas.
O rápido degringolar da situação fez com que
até mesmo parte da imprensa começasse a cobrar a nomeação de Churchill para um
posto no governo: “Em 10 de maio, o News Chronicle publicou uma sondagem em
que 56% dos interrogados diziam querer Churchill no Gabinete, 26% eram contra e
18 por cento não sabiam.” Mas quanto a isso Chamberlain era de uma firmeza
e resistência titânicas. (<<pg. 72-75)
CONTINUA
[1] GILBERT,
Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete
de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
[2] Em relação às
referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma
questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com
o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos
parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se
refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores (<<pg.200-202).
[3] Anschluss é
uma palavra do idioma alemão que significa conexão, anexação, afiliação ou
adesão. É utilizada em História para referir-se à anexação político-militar da
Áustria por parte da Alemanha em 1938.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Anschluss
[4] O Acordo de
Munique foi um tratado datado de 29/09/1938, na cidade de Munique, na Alemanha,
entre os líderes das maiores potências da Europa à época. O tratado foi a
conclusão de uma conferência organizada por Adolf Hitler, o líder do governo
nazista da Alemanha. A Checoslováquia não foi convidada para a conferência. A
conferência é vulgarmente conhecida na República Checa como a "Sentença de
Munique". A frase "traição de Munique" também é usada
frequentemente, uma vez que as alianças militares em vigor entre a
Checoslováquia, Reino Unido e França foram ignoradas. Foi alcançado com cerca
de uma hora e meia um acordo, assinado a 30/09 mas datado de 29/09/1938. Adolf
Hitler, Neville Chamberlain, Édouard Daladier e Benito Mussolini foram os
políticos que assinaram o Acordo de Munique. O ajuste dava à Alemanha os
Sudetos (Sudetenland), começando em 10 de outubro, e o controle efetivo do
resto da Checoslováquia, desde que Hitler prometesse que esta seria a última
reivindicação territorial da Alemanha.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_de_Munique
[5] Após o
Anschluss (anexação da Áustria pela Alemanha nazista) em março de 1938, a próxima ambição do
líder nazista Adolf Hitler era a anexação da Checoslováquia. O pretexto alegado
foi privações sofridas por populações de etnia alemã que viviam nas regiões
norte e oeste da fronteira da Checoslováquia, conhecidos coletivamente como os
Sudetos. Sua incorporação à Alemanha nazista iria deixar o restante da
Tchecoslováquia impotente para resistir à ocupação posterior. A decisão para a
tomada seguida da anexação da Tchecoslováquia foi decidida no dia 30/09/1938,
numa reunião em Munique, onde se encontraram Hitler, Edouard Daladier,
Mussolini e Arthur Chamberlain (um dos grandes mentores da anexação). A reunião
decidiu a anexação para a "paz mundial". O nome do tratado para
anexação foi: Pacto de Munique, que destroçou a soberania da Checoslováquia.
Assim, a Checoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial (período em que o país
foi ocupado pelos nazistas), abrange essencialmente o período entre 15/03/1939
até 08/05/1945. Em 15/03/1939, as tropas alemãs invadiram a Boêmia e a Morávia.
A então jovem Checoslováquia não foi capaz de resistir aos invasores e foi
ocupada durante um período de seis anos. Por um lado, o Protetorado da Boêmia e
Morávia é praticamente anexado ao Terceiro Reich, por outro lado, a República
Eslovaca seria um país independente, porém um Estado fantoche da Alemanha
nazista, que não é ocupada pelas tropas alemãs.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ocupa%C3%A7%C3%A3o_alem%C3%A3_da_Checoslov%C3%A1quia
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