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quinta-feira, 27 de agosto de 2020

CHURCHILL - Parte 21

CHURCHILL – Parte XXI [1] [2]
A partir daqui, caro leitor, já adentramos o segundo volume da obra Winston Churchill – Uma Vida, de Martin Gilbert [3] (edição eletrônica – dois volumes).
Em 28/11/1934 Churchill fez um grandioso discurso na Câmara dos Comuns sobre o rearmamento aeronáutico clandestino da Alemanha e a necessidade de a Inglaterra manter sua superioridade aérea sobre o eventual adversário. Segundo ele, não se podia fugir dos aviões somente deslocando fábricas, pois cidades não podiam ser mudadas de lugar. Para Winston era preciso começar a investir pesadamente logo, pois depois seria tarde:
Acelerar a preparação da defesa não é afirmar a iminência da guerra. Pelo contrário, se a guerra estivesse iminente, seria muito tarde para preparar a defesa. […] Não se pode fugir do perigo aéreo. É necessário encará-lo no local onde estamos. Não podemos bater em retirada. Não podemos deslocar Londres. Não podemos deslocar a vasta população que depende do estuário do Tâmisa. (<pg. 14-15)
Stanley Baldwin, Lorde Presidente do Conselho, porém, declarou que havia exagero nos números apresentados por Churchill e que era muito difícil saber o real alcance do rearmamento aéreo alemão. Mas se comprometeu a não permitir que o poderio britânico fosse superado: “O governo de Sua Majestade está determinado a não aceitar em condição nenhuma qualquer posição de inferioridade em relação ao poderio aéreo que possa surgir na Alemanha.” (pg. 15)
Neste período, o projeto de autonomia governativa para a Índia seguia tramitando e Churchill continuava denunciando que conceder à Índia “um autogoverno significava apenas liberdade para que uma parte dos indianos explorasse a outra”. Contudo, nem mesmo a oposição de príncipes indianos foi suficiente para demover o governo Ramsay MacDonald de seu intento. O projeto foi aprovado. (pg.  15-16)
Quando recebeu a visita de um dos maiores amigos de Gandhi,[4] Ghanshyam Das Birla, Churchill enviou mensagem ao líder indiano: “Diga ao sr. Gandhi que use os poderes que são oferecidos e que tenha sucesso. [...]Tenha sucesso, e, se tiver, tentarei fazer com que tenha muito mais.”(pg. 16-17)
Churchill, que liderava um grupo de cerca de 50 parlamentares de oposição, e que nas votações conseguia obter mais uma média de 30 votos de governistas, tinha a percepção de que o governo ia muito mal, desmoronando:
O valor do governo é muito baixo. É como um grande iceberg que entrou em águas quentes e cuja base se derrete rapidamente, deixando-o prestes a desmoronar. É de fato um mau governo, apesar de contar com alguns membros capazes. A razão é que não há cabeça e mentalidade de comando em todo o campo dos assuntos públicos. Não se pode dirigir o sistema de governo britânico sem um primeiro-ministro efetivo. O maldito Ramsey é quase um caso mental — e “estaria muito melhor num asilo”. Baldwin é astuto e paciente, mas é também espantosamente preguiçoso, estéril e ineficaz no que diz respeito aos assuntos públicos. Fazem besteira em praticamente qualquer lugar em que ponham o pé. (<pg. 16)
Em 1935 finalmente o governo britânico parece ter acordado para o problema do rearmamento alemão, reconhecendo as deficiências das suas forças armadas e anunciando o aumento dos investimentos. Churchill via a situação com extrema gravidade:
A situação germânica é cada vez mais sombria. O governo informou que o aumento de 10 milhões de libras para a Defesa se deve ao rearmamento alemão, deixando Hitler furioso. Ele se recusou a receber Simon, que o visitaria em breve em Berlim. […] Todas as nações temerosas finalmente começam a juntar-se. Anthony Eden vai a Moscou, e eu não discordo. Os russos, à semelhança dos franceses e de nós próprios, querem ser deixados em paz, e as nações que querem estar tranquilas e viver em paz devem juntar-se para garantir uma segurança mútua. A união faz a força. Só a união faz a força. Se houver outra Grande Guerra — dentro de dois ou três anos ou mesmo antes — será o fim do mundo. (<pg. 17)
Mas Hitler não parecia incomodado com tais reações. Em 16/03/1935 “anunciou a reintrodução do serviço militar obrigatório em toda a Alemanha.” declarando já possuir 500 mil soldados. Esse anúncio deixava antever uma possibilidade de um número muito maior, “ser duplicado ou mesmo triplicado sem dificuldade.”.  (pg. 17)
CONTINUA

[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 2. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[4]    Mohandas Karamchand Gandhi (Porbandar, 02/10/1869 — Nova Déli, 30/01/1948), mais conhecido como Mahatma Gandhi (do sânscrito "Mahatma", "A Grande Alma") foi o idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha (princípio da não agressão, forma não violenta de protesto) como um meio de revolução.
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Mahatma_Gandhi


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terça-feira, 28 de julho de 2020

CHURCHILL - Parte 20


CHURCHILL – Parte XX [1] [2]
A intenção do Presidente Hindenburg e dos demais políticos membros de seu governo ao apoiar Hitler para o cargo de Chanceler era cercá-lo, envolvê-lo em um governo de coalizão mantendo o controle. Mas pouco tempo depois, a imprensa de oposição já estava sob censura e milhares de adversários presos.
Enquanto isso a Inglaterra concluia ter dificuldades financeiras que impediam seu rearmamento. Churchill passou a alertar sistematicamente contra as intenções de Hitler e a denunciar a perseguição aos judeus que já se verificava na Alemanha. (<pg. 558-561)
Neste período a questão da autonomia da Índia voltou à tona. O governo insistia em seus planos e Churchill proclamava sua visão sobre a incapacidade de os indianos, divididos entre hindus e muçulmanos, de se auto governarem.
Uma comissão foi formada e ele convidado a participar, mas a maioria dos membros era indicada por já concordar com o governo, de modo que Winston se retirou. (<pg. 561-564)
Enquanto isso, na Alemanha, Hitler consolidava seu poder e a perseguição aos judeus. Churchill lembrou que, após a guerra, era consenso que a democracia na Alemanha era uma questão de segurança para os britânicos, e que essa democracia deixara de existir e que a inferioridade bélica agora era o único fator de alívio:
Não posso deixar de me regozijar com o fato de os alemães não terem os canhões pesados, os milhares de aviões militares e os tanques de vários tamanhos que têm pedido para que sua situação seja similar à de outros países. (<pg. 566)
Mas até relatórios secretos do próprio governo britânico denunciavam que a Alemanha já estava reconstruindo seu poder militar, começando pelos aviões. Mas o governo britânico insistiu no desarmamento mesmo após Hitler retirar a Alemanha da Conferência!
Churchill seguiu fazendo seus discursos de alerta e defendendo o imediato reforço da Força Aérea, considerando o que a Alemanha já vinha fazendo: “Temo o dia em que os meios de ameaça ao coração do império britânico estarão nas mãos dos atuais governantes da Alemanha” (<pg. 567-574)
Em 02/08/1934 o Presidente da Alemanha Hindenburg morreu. Poucas semanas antes ele havia ordenado a morte de seus opositores dentro do partido, dentre eles Ernst Röhm, comandante das SA, a maior das tropas nazistas naquele momento.




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).
Ernst Röhm e Paul von Hindenburg
No dia seguinte Hitler acumulou seu cargo tornando-se simplesmente Führer e as Forças Armadas Alemãs “fizeram um juramento pessoal de obediência incondicional a Hitler como seu novo comandante-chefe.

Churchill seguiu denunciando a situação alemã e conclamando pelo imediato rearmamento britânico, mas era ridicularizado e sendo obrigado a ouvir pérolas de imbecilidade como essa de Clement Atlee sobre hitler: “Acho que podemos dizer que sua ditadura está gradualmente se desfazendo.” (<<pg. 576-577)
Negociadores do "Desarmamento"
Neste momento, como ficou claro anteriormente, a nosso ver três questões opunham Churchill ao governo: a questão do desarmamento das potências europeias, já abandonada pela Alemanha; o rearmamento britânico, que Winston via como uma eficaz arma para dissuadir Hitler de seus sonhos de expansão; e a autonomia da Índia, que Churchill via com maus olhos pelas divisões internas daquele país mas, também, como uma questão de salvaguarda futura em uma eventual guerra.
Ele não queria deixar sem controle um território que poderia abastecer o império. Logo, essas questões aparentemente distintas, estavam entrelaçadas na mente dele, e todas eram pensadas sempre sob o ponto de vista da defesa do país.
Em uma transmissão radiofônica ele fez mais um daqueles pronunciamentos que soam como profecias tal a precisão com que se cumpriram vários anos depois:
Receio que, se olharmos bem para o que se move contra a Grã-Bretanha, veremos que a única escolha possível é a escolha que nossos antepassados tiveram de enfrentar, a saber, submeter ou preparar o país. Ou submetemos o país à vontade de uma nação mais poderosa ou preparamos o povo para defender nossos direitos, nossas liberdades e sem dúvida nossas vidas. Se nos submetermos, nossa submissão deve ser oportuna. Se nos prepararmos, não o devemos fazer tarde demais. A submissão trará consigo pelo menos a entrega e a distribuição do império britânico e a aceitação pelo nosso povo do que quer que o futuro prepare para pequenos países como Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica e Suíça numa dominação teutônica da Europa. (<<<pg. 581-582)
Termina aqui o primeiro volume. Aguarde a continuidade da série.
Imagens
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lorde_Randolph_Churchill
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jennie_Jerome
https://pt.wikipedia.org/wiki/Winston_Churchill
https://en.wikipedia.org/wiki/Winston_Churchill
https://en.wikipedia.org/wiki/Agadir_Crisis
https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Fernando_da_%C3%81ustria-Hungria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sofia,_duquesa_de_Hohenberg
https://en.wikipedia.org/wiki/Cuban_War_of_Independence
https://www.magnoliabox.com/products/elizabeth-ann-everest-nanny-to-winston-churchill-xjf265582
https://www.iwm.org.uk/collections/item/object/205026821
https://it.wikipedia.org/wiki/File:War_Industry_in_Britain_during_the_First_World_War_Q84077.jpg
https://richardlangworth.com/churchill-womens-suffrage
https://br.pinterest.com/pin/53691420542912606/?lp=true
https://pt.wikipedia.org/wiki/Horatio_Herbert_Kitchener
https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Gascoyne-Cecil,_3.%C2%BA_Marqu%C3%AAs_de_Salisbury
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Madista
https://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_dos_B%C3%B4eres
https://www.historyanswers.co.uk/news/verdun-100-years-on-only-in-history-of-war-issue-27/
http://www.bbc.co.uk/ahistoryoftheworld/objects/e8PR3gMRSIi8tdbjui6OHQ
https://en.wikipedia.org/wiki/Winston_Churchill_in_politics,_1900%E2%80%931939
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Balfour
https://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_VII_do_Reino_Unido
https://manchesterarchiveplus.wordpress.com/2015/02/21/churchill-and-manchester/
https://winstonchurchill.hillsdale.edu/winston-clementine-churchill-cooper/
https://www.elmundo.es/album/internacional/2015/01/23/54c25062e2704e2b618b4581_3.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Herbert_Henry_Asquith
https://www.express.co.uk/news/history/579871/Winston-Churchill-Clementine-wife
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_V_do_Reino_Unido
https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_de_Agadir
https://lesobservateurs.ch/2014/04/29/gb-arrete-pour-racisme-pour-avoir-cite-churchill/
http://www.historynet.com/churchills-aerial-adventures.htm
http://www.bbc.co.uk/newsbeat/article/32445981/gallipoli-the-famous-battle-explained
https://winstonchurchill.org/publications/finest-hour-extras/churchill-first-world-war/
https://owlcation.com/humanities/Winston-Churchill-in-the-Trenches
https://winstonchurchillblog.wordpress.com/2015/11/15/churchill-exhibit-2/
https://firstworldwarhiddenhistory.wordpress.com/category/united-kingdom/winston-churchill/
https://www.alamy.com/stock-photo/the-clemenceau-and-the-foch.html
http://katehon.com/article/armistice-day-november-11th-1918-2016
http://loucraft.blogspot.com/2012/11/armistice-day-11-november-1918.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Russian_Civil_War
https://firstworldwarhiddenhistory.wordpress.com/category/ireland/1916-easter-rising/
https://www.jpost.com/Christian-News/Today-in-History-Churchill-visits-Mandatory-Palestine-449569
https://pt.wikipedia.org/wiki/T._E._Lawrence
https://en.wikipedia.org/wiki/Anglo-Irish_Treaty
https://en.wikipedia.org/wiki/James_Craig,_1st_Viscount_Craigavon
https://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Collins_(Irish_leader)
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89amon_de_Valera
https://en.wikipedia.org/wiki/Bonar_Law
https://pt.wikipedia.org/wiki/Stanley_Baldwin
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https://it.m.wikipedia.org/wiki/File:Churchill_Chamberlain_Baldwin.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratados_de_Locarno
https://pt.wikipedia.org/wiki/Greve_geral_de_1926_no_Reino_Unido
https://www.marxist.com/90-years-since-the-british-general-strike-the-lessons-for-today.htm
http://ciml.250x.com/archive/events/english/1926_british_general-strike/1926_british_general_strike_4_may.html
https://es.wikipedia.org/wiki/British_Gazette
https://www.marxist.com/90-years-since-the-british-general-strike-the-lessons-for-today.htm
http://theboulevardiers.com/2015/01/18/william-randolph-hearst-boulevardier-of-the-year/
https://winstonchurchill.hillsdale.edu/great-contemporaries-charlie-chaplin/
https://winstonchurchill.hillsdale.edu/meeting-hitler-1932/
https://br.pinterest.com/pin/570901690242041899/?lp=true
https://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_von_Papen
https://en.wikipedia.org/wiki/Kurt_von_Schleicher
https://en.wikipedia.org/wiki/Ernst_R%C3%B6hm
https://en.wikipedia.org/wiki/Paul_von_Hindenburg


sábado, 4 de julho de 2020

CHURCHILL - Parte 19


CHURCHILL – Parte XIX [1] [2]
Fora do governo Churchill passou a trabalhar na escrita de outros livros bem como na formação de uma aliança liberal-conservadora que garantisse a saída dos Trabalhistas do governo. Sem sucesso, viajou ao Canadá e EUA com os filhos. Clementine não estava bem e preferiu ficar em casa.
No Canadá ele fez discursos nas principais cidades, cruzou o país no trem particular do magnata do aço americano Charles Schwab,[3] conheceu e foi hospedado por William Randolph Hearst [4] (que o contratou como colunista de seus jornais), conheceu Charles Chaplin, esteve no deserto de Mojave e no Gran Canyon, Chicago e nos campos de batalha da Guerra Civil estadunidense.




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   Charles Michael Schwab (18/02/1862 - 18/10/1939) foi um magnata do aço americano. Sob sua liderança, a empresa Bethlehem Steel tornou-se a segunda maior fabricante de aço dos Estados Unidos e um dos expoentes mais importantes da indústria pesada no mundo. Em seu tempo, ele era tão popular por suas realizações comerciais óbvias quanto por seu estilo de vida perdulário, que acabou levando à ruína.
     https://es.wikipedia.org/wiki/Charles_M._Schwab

[4]   William Randolph Hearst (29/04/1863 – 14/08/1951) foi um empresário americano do ramo de editoras que criou uma enorme rede de jornais. Seus métodos influenciaram a indústria do jornalismo nos Estados Unidos.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/William_Randolph_Hearst
Churchill e Charles Chaplin
Winston estava em Nova York no dia da Quebra da Bolsa de Valores, na qual teve prejuízos na casa de dez mil libras onde quase presenciou um suicídio e visitou a Bolsa. (<pg. 536-537) Lá encontrou um cenário de caos ordenado:
Eu esperava ver um pandemônio, mas havia uma surpreendente calma e ordem perante os meus olhos. Os membros da Bolsa andavam para lá e para cá como uma cena em câmara lenta de uma formiga tonta, propondo uns aos outros enormes maços de títulos por um terço de seu valor anterior e não encontrando, durante muitos minutos, alguém com coragem suficiente para adquirir as fortunas garantidas que eles se viam obrigados a oferecer. (<<<pg. 538)
Neste período, sem consultar sua opinião, os Conservadores apoiaram o governo trabalhista na proposta de dar certa autonomia à Índia que “seria, dentro de poucos anos, governada por indianos, tanto a nível nacional quanto provincial.”.
Churchill considerava de hindus e muçulmanos não estavam preparados para terem um governo central devido às disputas religiosas e criticava duramente a discriminação contra os dalits,[5] ou intocáveis, por parte dos hindus.
Tal posicionamento o colocou em rota de colisão, mais uma vez, com os cabeças do Partido Conservador mas angariou-lhe muito apoio com os demais membros.
A separação entre ambos, que resultou na criação do Paquistão tempos depois, prova que, mais uma vêz, o “clarividente” Winston tinha certa razão. (<<<pg. 538-546)
Quando chegou o período de novas eleições os Conservadores voltaram à ribalta, subindo de 260 para 470 cadeiras, as vertentes Trabalhistas caíram de 287 para 65, as tendências liberais subiram de 59 para 65 cadeiras. Apesar disso o governo era de coalizão e Ramsay MacDonald seguiu como Primeiro-Ministro.
Churchill não foi convidado para nenhum cargo e suas atenções estavam voltadas para o lançamento do “último volume das memórias de guerra de Churchill, The World Crisis : The Eastern Front”.
Então Winston voltou aos EUA para uma série de palestras remuneradas e artigos de jornal. Desta vez Clementine foi com ele. Mas o pléripo novaiorquino não durou muito, em 11/12/1931 ele foi atropelado por um carro indo se restabelecer nas Bahamas. Somente no final de janeiro de 1932 voltou aos EUA para proferir suas palestras. (<<pg. 547-549)
Apesar de estar fora do governo, Churchill seguia com seus artigos e discursos. Neste período defendia a cooperação entre os países de língua inglesa, basicamente EUA e Inglaterra, contra a Rússia, defendia cooperação mundial contra a crise econômica e contra as pretensões da Alemanha que demonstrava interesse na recuperação de territórios perdidos em 1918.
Em março de 1932 as eleições naquele país resultaram em 11 milhões de votos para o Partido Nazista que posteriormente, em abril, conquistou 40% do Parlamento.



[5]   O termo dalit foi utilizado pela primeira vez em finais do século XIX pelo ativista Jyotirao Phule para designar o que, no sistema de castas do hinduísmo, são designados como "shudras", grupo formado por trabalhadores braçais, considerados pelos escritos bramânicos, sobretudo o Manava Dharmashastra, como "intocáveis" e impuros. O termo deriva de uma palavra em sânscrito que significa tanto "chão" quanto "feito aos pedaços". Desse modo, conota que a condição dos "dalits" é de oprimido e, portanto, não podem reverter essa situação. O termo, assim, é considerado preferível, pelos ativistas e intelectuais dalits, aos mais pejorativos "shudra" e "intocáveis".
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dalit

Churchill em Munique quando tentou se encontrar com Hitler.
Neste ambiente, Churchill era contra um acordo de desarmamento que igualasse as forças alemãs ao exército da França. Em viagem à Alemanha (entre fins de agosto e setembro) esteve em Munique onde tentou se encontrar com Hitler, que recusou.
De volta à Inglaterra Churchill adoeceu e aproveitou a convalescença para seguir viajando e enriquecendo com os contratos pelos livros que ia escrevendo. (<<<pg. 550-554)
Mas o ambiente político na Europa não relaxava e nem tirava férias. O novo Chanceler da Alemanha, Franz von Papen,[6] exigiu “igualdade de estatuto para os armamentos germânicos”, em outras palavras, poder armar o país ao mesmo nível da França.



[6]   Franz Joseph Hermann Michael Maria von Papen zu Köningen (Werl, 29/10/1879 — Sasbach, 02/05/1969) foi um político alemão. Ocupou o cargo de Reichskanzler (Chanceler da República de Weimar), de 1 de junho de 1932 a 17 de novembro de 1932. Foi um político erroneamente apresentado com um caráter dúbio. Lutou com unhas e dentes contra os nazistas. Durante a época em que ocupou a chancelaria, para poupar a própria vida e da sua família, em um governo ditatorial e assassino, se disfarçou como um dos seus aliados incondicionais. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_von_Papen  
Franz von Papen e o General Kurt von Schleicher
Sir John Simon, Ministro das Relações Exteriores britânico emitiu nota reafirmando os termos do Tratado de Versalhes de modo que, em protesto, Papen se retirou da Conferência Mundial para o Desarmamento.[7]
Churchill apoiou vigorosamente a declaração de Simon, pois significava um alerta em defesa da paz, considerando que o apaziguamento não adiantava já que O Ministro da Defesa alemão, General Kurt von Schleicher,[8] declarara que “o que quer que as potências decidam, a Alemanha fará o que considerar apropriado em relação ao armamento”.
A despeito disso, porém, o governo britânico estava disposto a satisfazer a Alemanha. Winston previu, então, o fracasso das negociações e já clamava por investimentos maciços na Força Aérea. 
Em discurso no Parlamento Churchill avisou que permitir o rearmamento alemão levaria, necessariamente à exigência da devolução de territórios. Segundo ele, as multidões de jovens que ele vira marchando na Alemanha “Querem armas, e, quando as tiverem, acreditem, exigirão a devolução de seus territórios perdidos.
Mas, a despeito de todos os avisos, o governo inglês seguiu apoiando o desarmamento chegando mesmo a reduzir a própria Força Aérea! Em 30/01/1933 Hitler foi escolhido Chanceler da Alemanha. (<<<<<pg. 554-558)
CONTINUA




[7]   A Conferência para o Desarmamento em Genebra foi uma conferencia da Liga das Nações em 1932 para a redução e limitação do armamento de todas as nações que nela participavam. Todas as grandes potências, Alemanha, Grã-Bretanha, França, e também os Estados Unidos e a URSS participaram, embora não fossem membros da Liga das Nações. Esta conferencia tomou lugar na cidade de Genebra, na Suiça, entre 1932 e 1934, mas terminando de facto apenas a Maio de 1937. Esta conferência provou que ainda era cedo para diversas nações trabalharem conjuntamente pela paz global, pois estavam todos demasiado preocupados com os seus próprios interesses. Em 1935 Hitler iniciou o rearmamento da Alemanha, construindo a partir do nada a Wehrmacht, a Kriegsmarine e a Luftwaffe. A conferência foi terminou oficialmente a Maio de 1937, quando o desarmamento na Europa já era um sonho do passado.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_para_o_Desarmamento_em_Genebra

[8]   Kurt Ferdinand Friedrich Hermann von Schleicher (07/04/1882 a 30/06/1934) era um general alemão e o último chanceler da Alemanha durante a República de Weimar. Um importante ator nos esforços do exército alemão para evitar as restrições do Tratado de Versalhes, Schleicher subiu ao poder como conselheiro próximo do presidente Paul von Hindenburg. Em 1930, ele foi fundamental na derrubada do governo de Hermann Müller e na nomeação de Heinrich Brüning como chanceler.
     https://en.wikipedia.org/wiki/Kurt_von_Schleicher

domingo, 17 de maio de 2020

CHURCHILL - Parte 18


CHURCHILL – Parte XVIII [1] [2]
Na sequência de missões espinhosas que caracterizaram sua carreira, Baldwin designou Churchill para mediar questões existentes entre o Estado Livre da Irlanda e o Ulster, notadamente os traçados da fronteira e o pagamento de uma dívida de quase 160 milhões de libras da Irlanda ao Ulster. Ele conseguiu evitar qualquer alteração fronteiriça e parcelar a dívida em 60 anos. Fez coisa semelhante com relação à dívida externa da Itália para com a Inglaterra, parcelando até 1988! (pg. 514-515)
Para o orçamento do ano seguinte, Churchill propôs aumentar as receitas criando impostos sobre os combustíveis, carros de luxo, artigos de luxo, caminhões pesados e as apostas. Neste período a questão dos mineiros voltou à tona com os empresários insistindo em redução de salários ou demissões.
Um aumento da carga de trabalho não foi aceita e logo todos os mineiros foram despedidos e as minas fechadas o que levou, em solidariedade, à chamada Greve Geral de 1926 [3] no país e a supressão da edição do jornal Daily Mail pelos impressores.
Essa censura à imprensa foi o pretexto para que o governo interrompesse as negociações e solicitasse os planos para criação de um jornal oficial, tarefa dada a Winston. O jornal foi denominado British Gazette [4] e foi distribuído com ajuda de voluntários.  




[1]    GILBERT, Martin. Churchill : uma vida, volume 1. tradução de Vernáculo Gabinete de tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

[2]    Em relação às referências das páginas, que fazemos ao final de alguns parágrafos, por uma questão estética e de não ficar sempre repetindo, criamos um código simples com o símbolo “<”. Sua quantidade antes da referência da página indica a quantos parágrafos anteriores elas se relacionam. Exemplo: A referência a seguir se refere ao parágrafo que ela finaliza e mais os dois anteriores  (<<pg.200-202).

[3]   A Greve Geral de 1926 no Reino Unido ocorreu entre os dias 3 a 12 de Maio, desencadeada pela secretaria-geral da Trades Union Congress, após negociações infrutíferas com o governo durante as discussões sobre os salários dos mineiros das minas de carvão.
     https://pt.wikipedia.org/wiki/Greve_geral_de_1926_no_Reino_Unido

[4]   O British Gazette (Gazeta Britânica) foi um jornal britânico de vida escassa, publicado pelo governo durante a greve geral de 1926. Um dos primeiros grupos de trabalhadores convocado pelo Congresso dos Sindicatos, quando a greve geral começou, em 3 de maio, foram os impressores e, conseqüentemente, os jornais apareceram apenas em breves fragmentos e de maneira truncada. O Governo decidiu substituí-los por uma publicação oficial que foi impressa no The Morning Post, uma publicação da direita tradicionalista que mais tarde foi fundida com o El Telégrafo Diario. Winston Churchill, então chanceler do Exchequer e ex-jornalista, tomou a iniciativa e orientou a linha editorial da British Gazette com o papel produzido em grande parte pela Organização para a Manutenção de Suprimentos. A Gazeta apareceu na manhã de 5 de maio. Com uma linha altamente patriótica e condenatória dos grevistas, tornando-se um meio eficaz de propaganda para o governo. O TUC produziu seu próprio jornal, o British Worker (com o subtítulo de Strike Official News Edition) para tentar contê-lo. A British Gazette vendeu com facilidade mais do que seu rival, com uma circulação que aumentou de 200.000 cópias para mais de 2.000.000. A Gazeta fez oito edições antes do desmoronamento da greve; a última edição tinha a manchete "General Strike Out".
https://es.wikipedia.org/wiki/British_Gazette
As forças armadas passaram a proteger desde as cargas de papel no Rio Tâmisa até o edifício onde funcionava a gráfica.
Churchill garantia que as edições dessem destaque aos aspectos da vida que seguiam normais e não mencionassem os setores e atividades prejudicadas pela greve. Um legítimo conservador, por assim dizer. E o jornal dos trabalhadores, o British Worker, nem de longe tinha tanto alcance.
Mas nas negociações ele tentou realmente conciliar os interesses de ambos os lados, porém as propostas de Winston não obtiveram apoio do governo conservador e ele abandonou as negociações (<<<<<pg. 517-521).
Com isso, a greve não terminou bem para os mineiros. A “Justiça” declarou a greve ilegal e impôs pesadas multas ao Congresso dos Sindicatos. E ainda:
Muitos trabalhadores que participaram da greve foram demitidos e colocados em uma lista negra por vários anos, e quem retomou nos últimos dias teve que aceitar salários mais baixos regulamentados por comissões oficiais. Em 1927, o governo promulgou a Trade Disputes and Trade Union Act, que proíbe apoio a greves, o financiamento ilegal dos partidos políticos incluídos com inscrições obrigatórias nas contribuições dos sindicatos e filiação de funcionários em sindicatos filiados à TUC e a multiplicação de piquetes. [5]




[5]   https://pt.wikipedia.org/wiki/Greve_geral_de_1926_no_Reino_Unido
Ao sair de férias, Churchill deu os últimos retoques no “terceiro volume de The World Crisis.” com “vívidas descrições das batalhas na Frente Ocidental.”  A obra foi descrita por Keynes como “um manifesto contra a guerra mais eficaz do que o trabalho de um pacifista”. (pg. 523)
Ao apresentar seu orçamento para 1927 ele se contentou em criar taxas apenas sobre “pneus de automóvel importados e vinhos e do aumento de impostos antigos sobre fósforos e tabaco.” Ele ainda planejava abolir tarifas locais, como forma de reduzir as despesas das empresas, para combater o desemprego, e criar taxas para compensar as cidades e os projetos do governo focando nos lucros e não nas propriedades, também tentava reduzir os gastos com a Marinha, no que sofria oposição de Neville Chamberlain. Apesar disso ele conseguiu aprovar 75% de suas propostas.
Neste período Churchill já era o político mais influente do país e até membros da realeza vinham assistir seus discursos, embora sua atuação tenha deixado de ser tão incisiva quanto no período liberal. (pg. 524-526) Neste momento era descrito, na comparação entre os dois períodos, assim:
Ninguém tinha menos capacidade para ‘aturar idiotas’, mas agora ele é amigável e acessível a todos, quer na Câmara quer nos lobbies, tornando-se muito popular no Parlamento — algo que nunca tinha sido antes da guerra e um grande acréscimo ao seu já formidável poder parlamentar. (<<pg. 524)
Em 1929 ocorreram eleições e o discurso de Churchill foi no sentido de evitar o retorno do Partido Trabalhista ao poder pois eles trariam “de volta os bolcheviques russos, que imediatamente cuidarão de planejar outra greve geral nas minas, nas fábricas e nas Forças Armadas”.

Poucas semanas depois foi lançado o quarto volume de sua série sobre a Grande Guerra, “The World Crisis : The Aftermath, fazendo um apelo eloquente a uma resolução das desigualdades e dos ressentimentos do pós-guerra.”
Como aquele período de campanha eleitoral coincidiu com a época de apresentar novo orçamento,  Winston lançou seu pacote de bondades na forma da extinção do imposto sobre o chá, em vigor desde o reinado de Elizabeth I. Mas isso não surtiu o efeito pretendido, Churchill foi eleito, mas os Conservadores perderam a chefia do governo. (<<pg. 531-533)
O resultado daquele pleito foi que os Trabalhistas subiram de 136 para 287 cadeiras e os Liberais de 19 para 59 cadeiras. Enquanto isso os Conservadores caíram de 260 para 152 vagas. [6]
CONTINUA




[6]   https://en.wikipedia.org/wiki/1929_United_Kingdom_general_election#Seats_summary