A Religião no Egito Antigo estava
presente em todos os aspectos da vida das pessoas. De fato, nas crenças
egípcias não havia separação entre vida cotidiana e religião pois “...a
população encarava os fatos da natureza – como a cheia do Nilo, a seca, ou um
ataque de animais, por exemplo – como algo místico.”[1]
Os deuses eram os donos da terra,
haviam-na governado em passado remoto e cabia a eles a decisão sobre muita
coisa que ocorria no dia a dia das pessoas.
Reconstituição do Templo de Ramsés II em Luxor |
Contudo, não se pode afirmar uma
homogeneidade nessas práticas religiosas e nem sua imutabilidade no passar dos
séculos. Se a crença começou politeísta, ao longo dos milênios ela modificou-se
e uma divindade passou a figurar sobre as demais, como responsável pela criação
de tudo.
De qualquer forma, embora as casas
tivessem seus próprios altares, os Templos eram os espaços de interação mais
direta entre as divindades e os homens, pois eram as moradas dos deuses, local
onde os intermediários diretos, o Faraó e os sacerdotes, faziam os “contatos”
com os seres superiores.
Na prática, os Templos eram os locais
de poder da casta sacerdotal, um poder que só encontrava paralelo no Faraó, que
lhe sobrepujava mas não muito, havendo períodos em que foi maior do que o do
soberano.
Os Templos eram, igualmente, espaços
de glorificação de seus construtores. Os maiores Faraós do Egito construíram os
próprios edifícios, associando sua figura aos deuses. Alguns deles também os
ergueram em honra de suas esposas. Essa associação reforçava-lhes a autoridade,
transformando-os, a si mesmos, em deuses.
Geralmente os templos seguiam um
padrão construtivo que consistia de obeliscos ou estátuas gigantes na entrada,
os pilones (grandes paredes e forma de trapézio, ladeando a entrada), um amplo
pátio cercado de colunas, possuindo ou não um altar.
Até estes pátios as pessoas comuns
podiam entrar e era neles que a estátua da divindade seria exposta nas
festividades e onde podiam ser oferecidos sacrifícios. Depois do pátio viria
uma sala mais escura, cheia de colunas, chamada de hipostila, que precedia
outras salas e o santuário, acessível apenas aos altos iniciados.
Reconstituição de um templo egípcio, com suas estátuas e colorido. |
Os templos mais importantes podiam,
até mesmo, possuir lagos artificiais, eram centros de ensino e várias
construções gravitavam em seu redor, como mini cidades dedicadas ao seu
funcionamento.
O culto aos deuses era uma atribuição
do faraó, mas como este não podia estar presente diariamente em todos os
templos, a função era exercida por sacerdotes em nome do rei que, assim,
garantia o favor das divindades, mantendo a ordem, a Ma'at.
Procissão do Touro Sagrado de Apis |
O culto em si era um cerimonial
secreto, do qual apenas poucos e altos sacerdotes iniciados tomavam parte no
templo. Ao amanhecer o sacerdote se purificava, “Pegava o incensório,
acendia-o e avançava em direção ao santuário, purificando...”. [2]
No recinto mais sagrado, ele, então,
quebrava o selo que lacrava o receptáculo da imagem ajoelhando-se e espargindo
“...unguentos sobre a estátua, envolve-a com incenso e recita hinos de
adoração.”[3]
O sacerdote revivia a divindade
através da apresentação de um olho de Hórus e uma estátua de Maat. Só então a
estátua é retirada do receptáculo para... tomar banho, ser vestida, perfumada e
alimentada como uma pessoa comum! A comida era queimada e, então, depois de mais
uma purificação, a divindade voltada a seu receptáculo que era novamente
lacrado. Fim do culto.
Com algumas variações, este era o
início do dia nos templos egípcios e eram essas práticas, para nós tão
pitorescas, que mantinham, segundo acreditavam as pessoas da época, as coisas
funcionando e em equilíbrio.
Não é de estranhar que, com tal
responsabilidade, os templos tenham se tornado centros importantes de poder na
sociedade egípcia. Vamos, portanto, conhecer algumas destas maravilhosas
construções. Não perca a próxima publicação!
Continua...
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