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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

INCONFIDENCIA MINEIRA - 3

O TECER DE PENÉLOPE – A VISÃO DE JOÃO PINTO FURTADO - Cont...
Furtado nos esclarece que no século XVIII ocorreram inúmeros conflitos, onde se percebe que diferentes interesses, percepções e tentativas de apropriação política do espaço sócio-econômico das Minas Gerais, estiveram no centro dos acontecimentos.
E que o movimento de Inconfidência Mineira foi marcado com traços bastante heterogêneos, onde estavam em jogo não somente as questões mais gerais, uma emancipação de Portugal, mas também interesses individuais dos mais variados possíveis.
No capítulo intitulado “Monumentos”, o autor discute as formas simbólicas do movimento em diferentes épocas. Mostrando como as “imagens” moldam um discurso em determinadas fases da historiografia brasileira, para Furtado, “mais do que simples fatos históricos, portanto, o evento em questão transformou-se em importante ferramenta simbólica para pensar algumas questões em diferentes situações mais contemporâneas”. (p.32)
Na primeira metade do século XIX, anos 20 e 30, observa-se uma apropriação e exaltação da Inconfidência Mineira como uma tentativa de libertação nacional, como se constituísse em um “pré-Ipiranga”. 
A partir da década de 1870, o evento ganha novo formato, uma inspiração republicana original, transformando Tiradentes e a Inconfidência Mineira em modelo pedagógico e formador do cidadão por excelência.
Na Revolução de 1930, sobretudo no discurso, notadamente das elites urbanas, percebe-se o resgate da proposta industrializante dos inconfidentes e Tiradentes é colocado como precursor da luta anti-oligárquica. No período populista, a Inconfidência simboliza a conciliação entre a modernidade e a ordem.
Já nos precedentes do golpe de 1964, alguns políticos mineiros se auto-intitulavam “novos inconfidentes”. São essas, segundo o autor, as principais apropriações simbólicas, no campo político, do movimento de 1788-9.
Na esfera cultural o autor analisa a contribuição da obra cinematográfica Os Inconfidentes, de 1972, do diretor Joaquim Pedro de Andrade. Segundo Furtado:
O filme é uma sofisticação de linguagem, precisão técnica e certo pendor crítico quanto a ação dos intelectuais na conjuntura dos anos de 1970, além de alguma ironia e sarcasmo quanto a apropriação anacrônica do tema da Inconfidência Mineira. (p.33)
Outra contribuição na discussão acerca da apropriação simbólica da imagem de Tiradentes é colocada por Sérgio Buarque de Holanda, na qual Furtado faz referência.
O historiador levanta questionamentos acerca do aspecto representativo da aparência do inconfidente, mostrando o aspecto físico de um agente histórico e seu tratamento pela memória. Segundo Furtado, “ele não renega ou desqualifica o trabalho da memória, utiliza este como ponto de partida e ir mais além”. (p. 39)
Com o sub-tópico “Inconfidências dos Inconfidentes”, Furtado questiona a historiografia regional mineira, que mostra de forma quase romântica os membros do levante de 1788-9, principalmente a figura de Tiradentes, colocado como herói, sem apontar os “defeitos”, entre os quais estão incluídas práticas nada cristãs.
Segundo Furtado, o objetivo “é tentar mostrar uma face menos conhecida dos inconfidentes [...] homens e atos que fundaram nossa nacionalidade”. (p.40)
Continua...



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7FURTADO, João P. O manto de Penélope; História, mito e memória da Inconfidência Mineira de 1788-9. (1ª ed.) São Paulo: Cia das Letras, 2002

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