A ROMA DO GLADIADOR –
FICÇÃO E HISTÓRIA - VI
PÃO E CIRCO!
Sabe-se da importância que
era dada aos jogos em Roma (como parte da política do pão e circo) pela
quantidade de arenas e anfiteatros espalhados por todo o império, cujas ruínas
até hoje dão testemunho.
Os jogos distraiam a atenção
do povo oprimido, enquanto o pão lhes matava a fome. Alimentado e bem
distraído, o povo não parava para avaliar sua situação social e política, amava
os governantes que lhes proporcionavam aquela vida e, indiretamente, davam-lhes
a popularidade que precisavam para manter o poder.
Distribuição de pães aos cidadãos no Coliseu |
Esta prática de legitimação
popular do poder é muito bem representada na obra de Ridley Scott. A
necessidade de dramatização, porém, faz com que logo a História saia de cena
novamente.
No filme, o Imperador se vê
num dilema ao descobrir que seu grande inimigo, Máximus, está vivo e se tornara
um gladiador vitorioso.
Como este conquistara o povo
com suas vitórias na arena, (e vivia desafiando o imperador, virando-lhe as
costas, desobedecendo suas ordens, etc), matá-lo não seria fácil. Como o
próprio filme mostra, seria preciso, primeiro, matar-lhe o nome. É o que
Comodus tenta fazer quando resolve enfrentar o general na arena.
É sabido que o verdadeiro Comodus venceu
torneios de gladiadores, todos arranjados, é claro, pois seus oponentes
portavam armas falsas. Há divergências quando a isso, pois se há quem acredite
que o imperador fazia apenas algumas apresentações restritas, por outro lado há
quem acredite que ele lutava no próprio Coliseu e que cada aparição do
imperador custava 1 milhão de sestércios de cachê, segundo as informações
extras do filme.
Fazendo jus às informações históricas de lutas
arranjadas, Ridley Scott mostra o Imperador ferindo Maximus antes do confronto,
para ficar em vantagem.
Como o povo não estaria ciente da situação, ele espera ganhar
a fama por derrotar o grande campeão na arena. Mas Maximus é tão melhor
guerreiro que, mesmo ferido e desarmado, consegue matar o Imperador com a
própria arma deste!
Contudo, o verdadeiro Comodus não morreu na
arena. Uma conspiração, que envolveu até mesmo sua amante preferida, logrou
introduzir um lutador chamado Narciso nos aposentos do Imperador onde o matou
estrangulado.
Esta foi a morte real do Imperador que, se por
um lado demonstrava pouco apreço pelo posto que ocupava e pela governança, por
outro nomeou administradores militares e políticos competentes, garantiu o
abastecimento alimentício de Roma e demonstrou inclinação pelos menos
favorecidos, a exemplo dos cristãos, a quem pouco perseguiu, agindo menos
contra estes do que seu pai, tão humanista.
Como se vê, uma personalidade bem diferente
daquela dicotomia “bem x mal” que o filme apresenta para deleitar os
expectadores.
Enfim, morto o vilão, o filme caminha
rapidamente para o final, prisioneiros livres, Roma livre, pronta para a
democracia. Maximus pode, então, seguir para a outra vida e reencontrar sua
família, pode, finalmente, “voltar para casa”.
Na verdade, após a morte de Comodus, Roma
atravessou um período de grande instabilidade que só terminou com a posse de
Septimo Severo em 193 d.C. Roma jamais voltou a ser uma República.
FIM
1 GIBBON, Edward. Declínio e queda do Império Romano. Tradução e notas suplementares de José Paulo Paes. Editora: COMPANHIA DAS LETRAS. São Paulo, 1980.
2 ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Rio de Janeiro; Zahar Editores, 1961.
3 LENDERING, Jona. Legio IIII Flavia Felix. Disp. em http://www.livius.org/le-lh/legio/iiii_flavia_felix.html - Cap. em 14/09/15
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