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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

CÉSAR ATRAVESSA O RUBICÃO


CÉSAR CRUZA O RUBICÃO
Em um dia 10/01 como hoje, no ano 49 a.C., Júlio César, acompanhado da XIII Legião, atravessou o Riacho Rubicão, em Ariminum (atual Rimini – Itália), cruzando assim a fronteira italiana da época e violando a lei do Senado que proibia o ingresso de Generais e Legiões armadas na Itália.
A República Romana vivia seus momentos finais, embora parecesse restaurada após a ditadura de Sila. Quando este morreu, o poder retornou a um Senado desconectado do povo e incapaz de reassumir, de fato, o comando do império que Roma já se tornara.1

Com isso, recorreu-se ao suporte de figuras aliadas de Sila, mas capazes de reunir apoio popular, apesar de oriundas das classes dominantes. O poder passou a se concentrar em Cneu Pompeu e Marco Crasso.2
O Triunvirato
Crasso, “...general enriquecido pela compra dos bens confiscados por Sila...”3 derrotara a rebelião de Spartacus, mas tivera seu triunfo (o mais pomposo desfile militar) negado pelo Senado.4

Pompeu conquistara fama e fortuna vencendo a rebelião de Sertório, na Hispania, também vencera o Rei Mitridates e eliminara os piratas do Mar Mediterrâneo.5 Contudo os senadores estavam receosos do poder acumulado pelo general, por eles mesmos conferido, e passaram a cerceá-lo.6
Uma vez terminadas as campanhas militares, Pompeu e Crasso deveriam devolver os postos de comando, o que não fizeram. E o Senado não tinha como forçá-los sem iniciar uma guerra civil.7
Para garantir o apoio do partido popular, ambos fizeram acordo com um dos sobrinhos de Mário que conseguira escapar da perseguição de Sila. Seu nome? Júlio César!8

O acordo político dos três garantia “assistência mútua entre si para dividir o poder” entre eles mesmos e seus aliados nascendo, assim, o sistema que ficou conhecido como Primeiro Triunvirato.9
Este sistema de alianças permitiu que César chegasse ao Consulado e conseguisse, depois, o mandato para atuar na Gália. Esta guerra, como se sabe, lhe garantiu imensa riqueza e fama, equiparando-o, e até superando, seus dois parceiros de poder.
Apesar dos imensos egos que suportava, o acordo correu bem até que a morte os separou. Em 54 a.C. a esposa de Pompeu, Júlia, morreu de parto. Ela era filha de César.10 E no ano seguinte, 53 a.C., quem morreu foi Crasso, quando seu exército foi massacrado na Partia.11
Com esta morte, o equilibrio do Triunvirato acabou pois “A graça do triunvirato residia na sua inerente estabilidade, pois nenhum dos seus membros podia contra os outros dois”.12

O iminente retorno de César vitorioso e super rico da Gália fez com que seus adversários do Senado instigassem Pompeu contra ele. A estratégia consistiu, segundo Sheppard, em fazê-lo voltar a Roma sem a imunidade do cargo de Cônsul, para poder acusá-lo e derrotá-lo, apesar de um acordo ter sido aprovado “...por ampla maioria: 370 votos contra 22.13
Os 22, porém, conseguiram vetar os votos dos 370 e “O fato de os poucos senadores poderem vetar uma medida com apoio tão amplo era apenas um dos sinais do estado de deterioração das instituições democráticas de Roma.14
Lissner compara Roma a uma nau sem piloto, entregue à anarquia: “O Senado era corruptível, a Constituição estalava por todos os lados e as tribunas dos oradores estavam muitas vezes manchadas de sangue...15
Quando Pompeu finalmente aderiu aos inimigos de César, o confronto direto deixou de ser apenas uma das opções, passando a ser a única.16
Os primeiros embates da Guerra Civil, porém, ocorreram não nos campos de batalha, mas no piso do Senado. Uma série de medidas legislativas, algumas apenas de fachada, outras aprovadas e depois vetadas, resultou, por fim, na declaração de César como fora da lei.17
Com suas conquistas e a própria vida em risco, César dirigiu-se a Ariminum, onde o Rio Rubicão marcava a fronteira da Itália, na qual pela lei ele não poderia entrar liderando tropas.18

Plutarco descreve assim o momento decisivo: “Havendo, pois, chegado ao Rio Rubicão, […] parou pensativo e esteve por algum tempo meditando sobre o atrevimento de suas ações. Depois […] sem articular mais palavras do que esta expressão […] - A sorte está lançada...- fez com que as tropas atravessassem o rio.”19
César estava voltando pra casa!
1  SHEPPARD, Si. Grandes Batalhas - Farsália 48 a.C. César contra Pompeu. Osprey – Espanha 2010. pg. 10
2   Idem
3   MENDES, Norma Musco. Roma Republicana. São Paulo: Ática, 1988. pg. 67
4  BRANDÃO, José Luís (coord.); OLIVEIRA, Francisco de (coord.). História de Roma Antiga volume I: das origens à morte de César. Coimbra-Portugal: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015. pg.373
5  GRIMAL, Pierre. História de Roma. Trad. Mª L. Loureiro. São Paulo: UNESP , 2011. pg. 106
6   (MENDES: 1988) pg. 67
7   (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.373
8   (MENDES: 1988) pg. 67
9   (GRIMAL: 2011) pg. 111
10  SUETONIUS. Roma Galante – pg. 16
11  (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.384
12  (SHEPPARD: 2010) pg. 11
13 BRUNS, Roger. Os Grandes Líderes – Júlio César. São Paulo: Nova Cultural, 1988. pg. 64
14  Idem
15 LISSNER, Ivar. Os Césares – Apogeu e Loucura: Tradução de Oscar Mendes. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. pg.79
16  (BRANDÃO; OLIVEIRA: 2015). pg.385
17  (SHEPPARD: 2010) pg. 12-16
18  Ibid. pg. 16
19 PLUTARCO. Vidas Paralelas - Tomo V - Pompeyo: LX
 

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