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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

A DERROTA PERSA EM MARATONA


Antecedentes

Entre os anos de 500 e 494 a.C., as cidades de Atenas e Erétria apoiaram Mileto, cidade de origem grega da Ásia Menor[1], em sua revolta contra os persas.

Essa e outras cidades de origem grega da Ásia Menor “...há muito submetidas à Pérsia, eram igualmente os celeiros tanto das cidades jônicas como das do território central grego.[2]

Mas as relações entre os gregos e persas eram relativamente pacíficas até então. Quando partiu para conquista da Trácia, por exemplo, Dario I contou com apoio de uma grande frota naval grega, que “...navegou da Jônia até a foz do Ister (atual Danúbio).[3]

O confronto aconteceu por causas variadas. Uma delas teria sido o ressentimento dos gregos pelo domínio persa, apesar de que “Os costumes, as crenças e as próprias instituições de cada cidade foram respeitadas. Havia mesmo liberdade intelectual...[4]

Quando a Pérsia conquistou o Estreito de Bósforo, passando a dominar o comércio na região, o fez em prejuízo dos gregos e benefício dos fenícios, o que constituiu uma causa econômica do conflito.[5]

A situação se deteriorou completamente quando a Pérsia tentou interferir na política interna de Atenas, apoiando a volta da tirania de Hípias, que fora expulso da cidade. Quando a revolta surgiu em Mileto, Atenas se uniu à Erétria, enviando tropas para atacar Sardes. Foram derrotados pelos persas.[6]

Dario I fez concessões aos derrotados, “...o estabelecimento de um cadastro parece ter permitido uma distribuição mais equitativa do imposto e certas cidades foram autorizadas a conservar a constituição democrática que tinham promulgado desde 498. [7]

Mas Dario I, que vira o potencial destrutivo de uma revolta na Ásia Menor, apesar da falta de unidade dos gregos, parece ter percebido que a região estaria sempre em perigo enquanto as cidades da Grécia peninsular se mantivessem livres de sua autoridade.[8]  Quatro anos depois da vitória, ele enviou um exército para punir aquelas cidades gregas, iniciando a I Guerra Médica (Os gregos chamavam os persas de Medos, daí Médicas).

A PRIMEIRA GUERRA MÉDICA

A quantidade de soldados e navios empregados pelos persas é variável como o número de historiadores a escrever sobre ela, de modo que não há como cravar um número exato de soldados.

Os primeiros alvos da ofensiva persa foram as cidades de Naxos e Erétria, que foram tomadas. Em seguida o exército invasor se dirigiu à Ática (território grego) e desembarcou em Maratona.[9]

O local, indicado por Hipias, era importante por conta das vantagens estratégicas que proporcionava: “Uma praia de areia, abrigada dos ventos do Norte e do Oriente, fornecia um abrigo seguro à frota persa; a planície de Maratona oferecia casualmente o campo livre a manobras de cavalaria, contra as quais a infantaria ateniense seria impotente.[10]

Uma frota bem protegida, apoiando um exército numeroso, que escolhera o lugar ideal para lutar com seus melhores recursos. Tudo pendia para o lado persa em Maratona. A célebre batalha estava prestes a começar.

A BATALHA DE MARATONA
A Baia de Maratona, vista a partir do lado oposto ao ancoradouro persa. No centro da imagem, ao fundo, o Cabo Cinosura. Google Street View

Sob o comando de Dátis, os persas atracaram seus navios na baia de Maratona, na qual o Cabo Cinosura protegeria os navios dos ventos. O local parece ter sido escolhido também pela proximidade de um lago, hoje seco, que serviria de fonte de água ao exército.[11]

Apesar da distância, a notícia do desembarque logo chegou a Atenas onde Milcíades, um dos líderes atenienses, clamou pelo ataque imediato.[12]

Um emissário foi enviado a Esparta para solicitar ajuda, mas estes responderam que “não podiam fazê-lo imediatamente, pois não queriam infringir a lei que os proibia de se porem em marcha antes da lua cheia...[13], de modo que as forças que Milcíades conseguiu reunir partiram sem os reforços pretendidos.
Os atenienses teriam se deslocado pela rota que “...passa através de Palene, contorna o monte Pentélico por sudeste e acede a planície de Maratona também por sudeste.[14] e, acampados no santuário de Héracles, receberam o reforço de tropas de Plateia. As forças gregas tomaram posição por entre as árvores do santuário de Héracles, impedindo o uso da cavalaria persa.[15]
A Praia Schinias, local onde ancorou a frota persa. No centro da imagem, ao fundo, o Cabo Cinosura. Google Street View
O Monte Agrieliki nas imediações da provável localização do Santuário de Héracles, onde teriam acampado os gregos. Google Street View

Sem poder usar sua força principal e premido pela iminente chegada dos espartanos, Dátis foi obrigado a confiar no maior número de sua infantaria.[16] Então os gregos saíram do bosque e a batalha começou.[17]

Há divergências quanto ao posicionamento das tropas para a batalha e as versões são duas. Na primeira os persas teriam se posicionado de costas para o mar, entre dois rios que desaguavam na baia.[18]

Na segunda os persas se alinharam com o mar à sua esquerda, e os gregos avançaram com as águas à direita, hipótese defendida por Sekunda, considerando a informação de que muitos persas fugiram para a área de vegetação chamada Grande Marisma, já próxima à praia onde estava ancorada a frota.[19]
As duas hipóteses: à esquerda os gregos atacam em direção ao mar. À direita os gregos atacam com o mar à sua direita.

Quando o ataque começou os gregos avançaram por cerca de 1200m e correram outros 300m quando os persas dispararam as flechas. No choque inicial houve equilíbrio e os combates corpo a corpo prolongaram-se.[20]

Depois as tropas persas do centro conseguiram fazer recuar os gregos. Heródoto afirma que os atenienses ocuparam a ala direita e os plateus a esquerda, mas na parte central “...as fileiras não eram muito compactas, tendo aí o exército o seu ponto fraco;[21] e foi justamente no centro que os persas levaram vantagem, fazendo recuar as forças gregas.

Os persas poderiam ter vencido se as laterais gregas não rompessem suas linhas à esquerda e à direita, fazendo-as fugir em direção aos navios.[22]

Na perseguição, os gregos chegaram à praia de Schinias, onde os fugitivos persas da ala esquerda tentavam embarcar em seus navios que recuavam para águas mais profundas.[23]. Segundo Heródoto:

A batalha de Maratona foi longa e cheia de peripécias. Os bárbaros conseguiram desbaratar as fileiras do centro do exército ateniense, pondo em fuga os remanescentes; mas as duas alas compostas de Atenienses e Plateus atacaram as forças persas que haviam rompido o centro do exército, impondo-lhes uma derrota irreparável. Vendo-as fugir, lançaram-se em sua perseguição, matando e esquartejando quantos encontraram pela frente, até a beira-mar, onde se apoderaram de alguns dos navios inimigos. [24]
Área próxima ao provável centro dos combates (desconsiderando eventuais avanços ou recuos do mar). Google Street View
A Praia Schinias, local do acampamento persa, para onde os soldados fugiram em busca de seus navios. Google Street View

Não é difícil imaginar que soldados desesperados tentando embarcar a qualquer custo tenham se tornado alvos fáceis para os perseguidores gregos ao mesmo tempo em que prejudicavam a partida dos barcos. Sekunda afirma que os gregos capturaram sete deles.[25]
Área do Grande Marisma, região pantanosa na época da batalha, nas imediações da Praia Schinias, para onde os soldados persas fugiram e de onde poucos sairam. Google Street View
Menos sorte ainda tiveram os fugitivos da ala esquerda persa, refugiados no Grande Marisma pois, quase impossibilitados de chegar aos navios, coisa que poucos lograram fazer, tornaram-se alvos ainda mais fáceis para os gregos.[26]


[1]     Atual Turquia.

[2]     (CULICAN;1968)pg. 77

[3]     Idem

[4]     GIORDANI, Mario Curtis. Historia da Grecia. 2. ed. RJ: Vozes, 1967. pg. 118

[5]     (CULICAN;1968) pg. 78
      (GIORDANI; 1967) pg. 118

[6]     (CULICAN;1968) pg. 78-79

[7]     HATZFELD, Jean. Historia da Grecia antiga. Lisboa, Europa-América, S.d. pg. 119

[8]     (HATZFELD;s.d.) pg. 119

[9]     Ibid. pg. 120-121

[10]    (HATZFELD;s.d.) pg. 121

[11]    SEKUNDA, Nicholas. Maratona 490 a.C. Desafio Helênico à Pérsia. Barcelona, Osprey 2010. pg. 35

[12]    (HATZFELD;s.d.) pg. 120-121

[13]    HERÓDOTO. História - Érato-CVI. Trad. Pierre Henri Larcher (1726–1812). pg.493.

[14]    (SEKUNDA;2010) pg.41

[15]    (SEKUNDA;2010)  pg. 42

[16]    Ibid. pg.52

[17]    Idem

[18]    CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em:
      http://it.wikipedia.org/wiki/Battaglia_di_Maratona. Acesso: 16/05/15

[19]    CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em:
      http://it.wikipedia.org/wiki/Battaglia_di_Maratona. Acesso: 16/05/15

[20]    (SEKUNDA;2010) pg. 64-65

[21]    HERÓDOTO. História - Érato-CXIpg.496

[22]    (SEKUNDA;2010) pg.70

[23]    Ibid. pg. 71

[24]    HERÓDOTO. História - Érato-CXIII. pg.497              

[25]    (SEKUNDA;2010) pg. 72


[26]    (SEKUNDA;2010)  pg. 70

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